segunda-feira, 31 de março de 2008

Agenda cultural

Uma das pretensões deste blog é ser uma espécie de agenda cultural, divulgando as coisas interessantes (do meu ponto de vista, é claro) que acontecem em Cuiabá. Algumas pessoas se queixam de que não ficam sabendo da realização de alguns shows muito bacanas, por isso vou compartilhar com meus eventuais leitores as informações que eu tiver.
Bom, no próximo fim de semana temos um Tributo à Bossa Nova no teatro do Sesc Arsenal, a partir de 20h. O ingresso é um litro de leite Longa Vida (ou R$ 2). Não tenho aqui a programação completa, mas sei que o músico Ebinho Cardoso vai tocar. Só isso para mim já é garantia de qualidade.
Na segunda, dia 7, véspera do feriado municipal, tem apresentação da banda "Mandala Soul" no Clube da Esquina (perto do Cefet), com seu tributo a Tim Maia. Perdi o show realizado há 15 dias no teatro do Sesc Arsenal, mas tive a sorte de assistir a uma "palinha" da banda no último sábado no sarau promovido pelo Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso (aliás, muito divertido). A banda é ótima, tem um suingue fantástico e é uma delícia para quem curte os sucessos de Tim Maia. Impossível ficar parado.
Por enquanto é isso.

Ressaca

Hoje estou meio de ressaca. Depois de uma semana de ensaios diários para a apresentação do Coro Cantorum no teatro do Sesc Arsenal (sexta, sábado e domingo), a gente fica com uma sensação estranha. Dá um misto de alívio, alegria (pelo trabalho realizado e elogiado por todos) e tristeza porque não vai mais cantar a "Missa de Alcaçus" (que não sai da minha cabeça; acho que estou enlouquecendo com tantas notas e frases em latim na minha cabeça) e porque vai ficar uma semana sem ver o pessoal do coral. São novos amigos, novas pessoas (nem sei o nome de muitas delas) com as quais compartilhei um momento singular e altamente emocionante.
Mas hoje é segunda-feira, fim de mês, eu me dou conta das contas a pagar e das coisas chatas que tenho para fazer (Imposto de Renda, etc). Mesmo assim, fica uma energia boa da participação no coro. O nosso regente, André Vilani, disse no sábado antes da apresentação, que o cantor é como um "médico da alma". Não sei se tenho a capacidade de fazer tão bem a outras pessoas, porém tenho certeza de que cantar me faz um bem enorme. Me dá um gás, uma vontade de seguir em frente enorme, de enfrentar novos desafios.
Há pouco li algumas notícias que me deixaram triste: a morte de uma menina de 5 anos em São Paulo, que caiu ou foi atirada da janela do apartamento do pai: a morte de um menino num brinquedo num parque em São Paulo, a morte de um adolescente num toboágua também em São Paulo e o assassinato de três crianças pelo pai nos EUA (ele disputava a guarda dos filhos com a ex-mulher). Toda notícia de morte envolvendo criança me deixa especialmente triste porque acho muito injusto. Para mim, nada justifica uma violência contra uma criança ou mesmo uma morte acidental: ela ainda não viveu o suficiente; é totalmente indefesa diante de seus algozes.
Quando eu era menor, uma de minhas irmãs não conseguia ter filhos e perdia os bebês com semanas ou meses de gestação. Ela era louca para ter um filho (conseguiu no final ter uma filha maravilhosa) e eu não conseguia entender por que Deus (nessa época eu ainda era católica praticante) não era bondoso e não dava um bebê para aquela minha irmã tão amorosa. Minha maior preocupação, entretanto, era com aqueles bebês que morriam antes de poder viver. Minha mãe dizia que eles iriam para o limbo se não vivessem o tempo suficiente para serem batizados e eu achava aquilo extremamente injusto. Acho que foi por essa e outras razões que fui deixando aos poucos de seguir a religião católica, tão cheia de dogmas e "não-me-pergunte-por que". (obs.: ando em conflito com as regras dos porques, juntos e separados, com acento ou sem)
Com o tempo, tentei ser espírita (também não consegui acreditar na reencarnação, embora ache a idéia mais justa), budista. Tudo em vão. Não posso dizer que não seja espiritual, porém volta e meia sou levada a concordar com os versos de Shakeaspeare na peça "Macbeth" :
Life’s but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage,
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.
Após a morte da Lady Macbeth, Lord Macbeth, desesperado, diz que a vida é como um conto contado por um idiota, cheio de som e fúria, mas que nada significa.
É pesado, mas quem me garante que não é isso mesmo, enquanto nós ficamos tentando encontrar explicações para tudo?

sábado, 29 de março de 2008

Amor & liberdade

Acabei de editar (cortar os excessos) de uma entrevista que fiz para a edição de abril da revista Produtor Rural, onde trabalho desde 2004. Estou exausta! Mas, como não pretendo mais mexer com computador hoje (quero descansar), resolvi encarar logo o blog, no qual estou ficando viciada.
Hoje, de manhã, no supermercado, estava me lembrando das conversas de ontem à noite durante um chopinho básico no Sesc Arsenal, logo após a estréia do nosso coral, que foi muito legal. Em meio à chuva que caía, raios e trovões, falávamos sobre tudo - projetos e histórias pessoais- mas sempre retornávamos ao nosso ponto em comum: o Coro Cantorum. Acabei falando de mim - da vinda do Rio, a vida no interior de Mato Grosso, o casamento, a separação, o livro que escrevi.
Disse aos meus novos amigos que hoje meu sentimento em relação ao meu ex-marido é de muita gratidão por tudo que ele me deu: duas filhas lindas e grandes companheiras, a possibilidade de ter conhecido a fundo a realidade no Pantanal mato-grossense e ter revisto alguns dos meus conceitos de mulher criada no litoral e, at last but not at least (adoro essa expressão em inglês, que quer dizer mais ou menos "e por último, mas não menos importante"), a felicidade de ter amado e ter sido amada tão intensamente. Quantas pessoas tiveram essa felicidade por tantos anos?
Tem uma música do Sting, que é maravilhosa e diz: "If you love somebody, set them free". É o que penso: a liberdade é o maior bem que temos e é impossível ser feliz sem ser livre. Portanto, se você ama alguém, não o/a prenda. Deixe que seu amado (ou amada) viva livremente. É difícil, mas vale a pena tentar.

sexta-feira, 28 de março de 2008

No céu!

Hoje, apesar das dívidas, apesar do calor, apesar dos políticos, apesar da entrevista que ainda tenho para tirar do gravador, estou no céu! Acabei de chegar do último ensaio geral do coro com a orquestra. O regente, André Muniz, fez uma preleção muito legal, agradecendo o esforço de todos: músicos, cantores, etc. É claro que houve muitos erros (e ele ressaltou alguns deles), mas ele falou coisas muito bacanas. Disse, por exemplo, que anda meio niilista (que coincidência?), mas que ver pessoas dispostas a fazer um bom trabalho com música em Cuiabá fez com que ele se sentisse melhor.
É exatamente assim que me sinto quando ouço música (ou canto): dá vontade de viver, meu coração se enche de coragem, amor, boa vontade! Ontem minha professora de inglês (olha ela aí de novo), Delvânia, contou que adora os vídeos do YouTube de um grupo de pessoas da Inglaterra que resolveu protestar contra tudo através da música. Elas se reúnem e, em vez de reclamar do atraso do ônibus, por exemplo, com cartazes ou palavras de ordem, cantam uma música inventada por elas. Ainda não tive tempo de olhar, mas é uma idéia original e ótima.
Mas, hoje não estou a fim de reclamar, nem protestar, quero apenas curtir esse momento único.

quinta-feira, 27 de março de 2008

A mil!

Hoje estou tão a mil que nem estou com cabeça para escrever. O motivo? A apresentação do coral amanhá, sábado e domingo no teatro do Sesc Arsenal. Tivemos ensaios todos os dias desde segunda-feira, mas o de hoje foi especial. Ensaiamos com a Orquestra de Câmera do Estado de MT,tendo o compositor da "Missa de Alcaçus" (a peça que vamos apresentar), Danilo Guanais, como solista no violão, sob a regência de outro convidado, o maestro pernambucano André Muniz.
Foi muita emoção! Teve uma hora que fiquei arrepiada. É claro que ainda há muito a melhorar, mas o que tiver que ser será. Não dá pra sair correndo na hora H. Eu estou extremamente feliz com essa experiência e prometo escrever mais sobre ela. Neste momento, estou com calor demais!
Outro dia, uma nova amiga, minha professora de inglês, estava falando que o clima de Cuiabá não convida à introspecção. Ela comparou com o clima da Inglaterra. Realmente, aqui a gente não tem muita vontade de se juntar com outras pessoas para estudar, conversar sobre poesia, coisas do gênero, a menos que tenha um ótimo ar condicionado por perto. E, sabe de uma coisa? Cansa ficar no ar condicionado. A maioria das pessoas se junta para beber, jogar conversa fora. Isso ocorre no Rio também. O apelo da praia, do mar, do sol é muito forte. Mas esse também é um tema que merece mais aprofundamento.
No momento, o que importa é o suor! Fui.
PS. Acabei de falar com meu amigo, Glauco, que está na Itália, e lá estava 12º, se não me falha a memória. Hoje recebi o email de um jornalista norueguês, Thomas, um novo amigo, ele disse que lá estava 5º abaixo de zero embora já seja primavera. Ele até me mandou uma fota da casa dele cheia de neve. Que contraste!

quarta-feira, 26 de março de 2008

Perplexidade

Enquanto esperava a chuva passar no piscinão do TRT, toda hora me voltava à memória a reportagem da revista "Veja" que tinha acabado de ler e que abordava o caso da menor torturada em Goiânia. O assunto mereceu duas páginas (uma de foto e outra de texto). Hoje também saiu uma matéria no jornal "O Globo" dizendo que o marido, o filho e a mãe adotiva da empresária também serão indiciados por omissão de socorro e prática de trabalho escravo. A mãe da menina também deverá ser indiciada.
Quanto mais leio e penso, menos consigo entender o assunto. Cada vez aparecem mais pessoas dizendo que passaram pelas mãos da empresária e que também foram torturadas por ela. Eu tinha entendido que ela só tinha um filho, mas agora li que ela tinha três, sendo dois crescidos. Li também que ela já teria sido denunciada ao Conselho Tutelar, que não apurou a denúncia.
É incrível: primeiro, para quem servem esses Conselhos Tutelares se sempre que surgem casos de violência a gente fica sabendo que já tinha havido uma denúncia anterior, porém o caso não foi devidamente investigado. Segundo, o que fazia essa "empresária" quando não torturava as pessoas? Que tipo de marido, filho convive com uma situação dessas: ter uma pessoa (uma criança) sendo tão judiada e não tomar qualquer atitude? Terceiro, quantas outras meninas como L. devem existir por aí em maior ou menor grau de sofrimento? Quarto, quantas pessoas como essa "empresária" não existem por aí, posando de pessoas normais, mas torturando suas empregadas, filhos, enfim todo tipo de pessoa indefesa? Quinto: que tipo de mãe entrega a filha para uma estranha e nunca mais aparece para saber como a filha está?
Enfim, é uma história macabra, estranha e muito triste.

Piscinão do TRT

Acabei de passar quase uma hora no "piscinão do TRT". A criatividade do nome não é minha, apenas entreouvi a expressão enquanto aguardava as águas baixarem após almoçar no restaurante do TRT. Para quem não conhece, o prédio do TRT fica no Centro Político Administrativo (CPA) em Cuiabá, quase em frente ao Shopping Pantanal. Ocupa uma área enorme e sua arquitetura sempre me despertou muito mais antipatia do que simpatia.
Quando faz sol (ou seja, na maioria do tempo) quem passa na rua (a pé ou de carro) sente nos olhos o efeito dos raios refletidos nos vidros espelhados. Quando chove, os ralos (que ralos?) são insuficientes para absorver a água da chuva que se acumula por toda área externa.
Hoje, por exemplo, eu me abriguei na lanchonete que fica num vão e por alguns momentos tive que levantar os pés para não molhar, o que justifica o apelido que intitula esta nota. Até que teve um lado engraçado de ficar lá esperando a chuva passar e água baixar: assim que a chuva começou uma tropa começou a empurrar a água de rodo na mão, sob os olhares atentos de um supervisor. Só que a tarefa do pessoal era meio inglória: quanto mais o povo empurrava, mais água juntava. De vez em quando os funcionários paravam e davam um tempo.
Fiquei pensando como gostaria que o arquiteto (ou arquitetos) que projetaram esse "monumento" à falta de bom senso passasse por lá numa hora de chuva para admirar sua obra, que provavelmente deve ter custado os olhos da cara. Coisas do Brasil ...

Ops, erramos!

Meu blog é tão jovem, mas já tenho que fazer uma correção: na última nota postada comentei os resultados do estudo "Rede de aprendizagem, boas práticas de boa educação no Brasil", realizado pelo MEC em parceria com a Unicef. Lamentei que não tivesse um município mato-grossense incluído na lista dos 37 que, apesar de todas as dificuldades enfrentadas, têm feito o que se espera de uma escola: oferecer educação de qualidade (acho até errado dizer "educação de qualidade", na minha opinião, não existe educação de má qualidade, ou tem educação ou não tem).
Como diz o ditado, o apressado come cru. Eu me baseei apenas numa notícia nacional e, hoje, lendo a matéria do jornal "Diário de Cuiabá", vi que três municípios de MT foram incluídos na lista (nem só de "listas negras" vive meu Estado): Rondonópolis, Apiacás e Comodoro, um da região sul, outro no Nortão e o terceiro situado a noroeste de Cuiabá. Parabéns aos responsáveis por esse feito.
Quanto ao resto da nota de ontem, mantenho o que disse.
PS. Adoraria poder fazer uma reportagem em um desses três municípios. Adoro esse tipo de matéria.

terça-feira, 25 de março de 2008

Boas notícias

Quem disse que jornalista não gosta de dar boas notícias? Eu adoro! Por isso incluo aqui o link para o site http://ofiltro.com.br onde o jornalista Thomas Traumann comenta as principais notícias do dia (dos principais jornais brasileiros e alguns internacionais). Adoro esse serviço! Hoje, por exemplo, ele comenta sobre 37 municípios brasileiros que, apesar de pobres, oferecem boa educação para suas crianças, de acordo com pesquisa do Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) e do Ministério da Educação.
Infelizmente não tem qualquer município mato-grossense na lista. A receita, relata Traumann a partir de reportagem publicada no jornal "Valor", envolve "prioridade ao aluno, gestão municipal atenta, avaliação periódica, formação de professores, prioridade para leitura, atendimento individual e parceria com universidades, empresas ou organizações não governamentais". Ou seja, não é um bicho-de-sete-cabeças.
A verdade é que se fala muito sobre educação, os políticos adoram dizer que vão dar prioridade total à educação, que ela é fundamental para melhorar a qualidade de vida da população e blá-blá-blá, mas pouquíssimo se faz de concreto. E quando se descobrem bons exemplos de escolas, e professores ou alunos conseguem algum destaque na mídia nacional, vem sempre um secretário de Educação, um prefeito ou um político qualquer querer tirar casquinha.
Mas, por enquanto, vamos apenas ficar com a boa notícia e aprender com os bons exemplos.

Política e BBB (ou blá-blá-blá)

(Suspiro) Detesto ter que reconhecer isso, mas ultimamente tenho encarado a política (seja ela municipal, estadual ou federal) da mesma forma como vejo o programa global BBB. Não resisto a dar uma espiada, me irrito, eventualmente até me divirto com alguma passagem, e quanto me vejo querendo tomar partido ou buscando coerência em algum personagem (seja ele político ou participante do BBB), eu me dou conta de que não vale a pena.

De repente, estamos sendo todos manipulados diante de uma "comédia" (na verdade, está mais para tragicomédia) em que os personagens apenas encarnam os papéis que lhe foram destinados. Alguns conseguem ser mais verossímeis, outros não.

Por que estou falando isso? Porque li há pouco o noticiário da manhã e tanto vi notícias sobre a final do BBB8, quanto sobre a política estadual. Entre outras coisas, li que o governador de MT, Blairo Maggi, anda muito próximo do deputado federal Pedro Henry que, por sua vez, está interessado em reeleger seu irmão Ricardo Henry para a Prefeitura de Cáceres. O noticiário fala de um forte índice de rejeição ao atual prefeito, mas apesar disso o governador dá sinais de que vai apoiá-lo em troca sabe-se lá do quê.

Eu tinha jurado para mim mesma que não ia mais me importar com Cáceres, cidade onde morei por quase 15 anos e tenho muitos amigos, mas não consigo! Fico tão irritada de ver o poder dos Henry, alimentado pelos mandatos sucessivos do irmão mais velho, citado em 9 entre 10 dos últimos escândalos políticos. Dá para ser feliz com uma política dessas?

segunda-feira, 24 de março de 2008

Escolhas

Caminhando no Parque Mãe Bonifácia hoje, pela manhã (a melhor maneira possível de começar a semana), eu me lembrei mais uma vez de um poema que descobri graças à minha temporada como professora de Literatura norte-americana no curso de Letras da Unemat (Universidade do Estado de Mato Grosso) em Cáceres. Como em terra de cego, quem tem um olho é rei, o simples fato de saber inglês e ter um curso superior me permitiu dar aulas de literatura inglesa e norte-americana num curso superior nos idos de 1993 (há 15 anos, caramba!) Loucos foram eles que me convidaram ou eu que aceitei a incumbência? Discussão inócua nessa altura do campeonato. Só sei que aprendi muito e, eventualmente, ensinei também ("Mestre é aquele que de repente aprende", ensina Guimarães Rosa em seu "Grande Sertão Veredas", obra que, diga-se de passagem, nunca li, mas só apaixonada por essa frase).
Entre muitas descobertas, encontrei o poeta norte-americano Robert Frost (1874-1963) e fiquei encantada com alguns de seus poemas. Mas o que mais me atrai é "The road not taken". Acho que nunca fui atrás de uma tradução para o português porque sou totalmente fascinada pelos versos em inglês mesmo que alguns sejam de difícil compreensão.
Posto aqui o poema na íntegra para quem quiser conhecê-lo:

TWO roads diverged in a yellow wood,

And sorry I could not travel both

And be one traveler, long I stood

And looked down one as far as I could

To where it bent in the undergrowth;


Then took the other, as just as fair,

And having perhaps the better claim,

Because it was grassy and wanted wear;

Though as for that the passing there

Had worn them really about the same,


And both that morning equally lay

In leaves no step had trodden black.

Oh, I kept the first for another day!

Yet knowing how way leads on to way,

I doubted if I should ever come back.


I shall be telling this with a sigh

Somewhere ages and ages hence:

Two roads diverged in a wood, and I—

I took the one less traveled by,

And that has made all the difference.
Mas o que, afinal, têm a ver o poema de Frost e o Parque Mãe Bonifácia? Toda vez que caminho no parque sozinha, eu me lembro desse poema e me sinto envolvida por sua atmosfera, principalmente num entroncamento onde sempre prefiro o caminho sombreado. A caminhada me traz lembranças também de uma viagem aos EUA em 2007, como integrante de um Grupo do Rotary (IGE), quando permaneci por alguns dias na casa de quatro famílias norte-americanas. Uma delas morava numa fazenda perto da cidadezinha de Fort Wayne, no estado de Indiana, e eu acordava muito cedo para caminhar na estrada, tendo como companhia uma cadela preta enorme do casal, cujo nome não me recordo. Era tão fascinante caminhar naquele frio (era abril) por caminhos quase desertos, meio assustada e, ao mesmo tempo, me sentindo protegida por aquele cão quase desconhecido. Na fazenda tinha um bosque também e no domingo que passei com o casal a gente compartilhou nossa admiração pelo poema "The road not taken".
Não tenho a menor pretensão de traduzi-lo, mas ouso fazer uma tradução livre da última estrofe que resume tudo: duas estradas se bifurcavam num bosque; eu escolhi a que me pareceu menos trilhada e isso fez toda a diferença. Essa idéia conduz a minha vida: em geral prefiro tomar o caminho menos usual, o que me parece mais atraente. Às vezes, quebro a cara, mas essa escolha sempre faz a diferença. É claro que essa escolha me assusta e muitas vezes eu me pergunto se não teria sido melhor ter escolhido a outra. Como saber? Impossível, a menos que eu recorra à fantasia. É uma possibilidade a ser considerada.

domingo, 23 de março de 2008

À toa

Hoje passei o domingo à toa à toa, que nem a andorinha do poema de Manuel Bandeira, que ainda é meu poeta preferido. Há muito tempo eu não passava um domingo tão à toa, sem trabalhar, sem ir ao supermercado, sem sequer caminhar (coisa que adoro). Nem peguei no carro (odeio dirigir em Cuiabá!)
Combinamos um churrasco no prédio e passei o dia tomando sol, comendo carne, tomando cerveja e jogando conversa fora, aliás ouvindo mais do que falando. Não sou muito boa pra falar em grupo. Só consigo conversa tête-à-tête, no máximo com duas pessoas ao mesmo tempo. Não sei se é timidez ou preguiça de disputar a palavra com outras pessoas (sempre tem alguém na roda que domina a palavra).
Hoje, por incrível que pareça, quem mais falou foi uma senhora de 81 anos, uma gracinha! Acho fantástico que uma pessoa tão idosa tenha tanta vivacidade e tanto desejo de compartilhar suas histórias e opiniões. Num determinado momento da conversa, ela disse:"Por favor tire a Gisela da casa". Foi muito engraçado porque a moça que estava seu lado achou que tinha alguém na casa dela que precisava ser expulsa. Eu, como já confessei neste espaço, dou minhas peruadas no BBB e, portanto, logo entendi do que ela estava falando. Mas não deixo de ficar espantada como pessoas tão comuns e superficiais (como os "heróis" do BBB, nas palavras do apresentador Pedro Bial) conseguem mobilizar tanto outras pessoas como a minha velhinha que, provavelmente, foi dormir muito fula da vida porque a Gisele não foi expulsa da casa.
Apesar de ter passado meu dia tão à toa terminei o domingo desejando que amanhã fosse domingo de novo porque não cheguei a descansar. Como trabalhei na quinta, na sexta e ontem, ainda estou meio cansada. O momento mais gostoso do churrasco hoje foi quando fiquei na piscina deitada num colchão de ar. Que delícia! Que soneca gostosa tirei sentindo a água se agitando sob o colchão. Não sei o que faria se vivesse num deserto.. Sou absolutamente fascinada por água e não consigo entender como algumas pessoas conseguem encarar um churrasco à beira da piscina sem entrar na piscina. E o mais estranho é que elas ficam reclamando do calor.
Enfim, a semana vai ser puxada porque vai ter fechamento da revista e também porque terei ensaios do coral todos os dias, já que nossas apresentações acontecerão na sexta, sábado e domingo. Dá um frio na barriga!
Começo mais uma semana mantendo o coração solitário, porém um pouco mais feliz.
PS. Blog também é cultura! Para não escrever "à toa" errado, escrevi a expressão no google e encontrei várias entradas sobre a grafia correta de "à toa" com explicações sobre as diferenças entre essa expresão, uma locução adverbial, segundo o prof. Paulo Fernandes, e "à-toa", uma locução adjetiva, que significa "desprezível, sem importância, inútil". Como meu dia foi "à toa" e não "à-toa", optei pela primeira grafia.

sábado, 22 de março de 2008

O resto é detalhe

Hoje, quando tomava banho, pensei em tanta coisa que queria escrever aqui, mas aí fui fazer depilação, almocei e fui me esquecendo. É duro ir perdendo a memória ... Basicamente eu queria falar sobre a minha enorme perplexidade diante dos fatos e mistérios da vida. Quem disse que a idade traz sabedoria? Eu me sinto cada vez mais ignorante e com menos certezas. Isso me angustia porque não sei o que dizer as minhas filhas sobre Deus, vida pós-morte, Justiça divina, etc. O que explica, por exemplo, o fato de uma menina de 12 anos ser torturada por uma mulher de classe média e sua empregada em pleno século XXI?
A única coisa que digo para elas é que devem se esforçar para tirar qualquer forma de preconceito de dentro de si (também luto por isso dentro de mim) e que é justo querer ser feliz, mas é preciso sempre pensar no outro. Não dá pra ser feliz ferindo as pessoas, mentindo, passando por cima, enganando. Essa talvez seja a minha única certeza e é por isso que busco tanto a autenticidade, embora esteja longe de alcança-la. É difícil ser sincera, ser verdadeira! A gente finge que não liga, quando está se roendo por dentro; procura sorrir (aquele sorrisinho amarelo) quando está chorando por dentro e quase sempre esconde ou pelo menos disfarça os sentimentos.
Crianças, em geral, são espontâneas. Por isso tenho muita pena quando vejo adultos tentando falar pelas crianças, induzi-las a gestos ou palavras, sob o pretexto da educação. Sei que é difícil educar. Já passei e continuo passando por isso e sinto muitas vezes que falhei. Porém estamos querendo sempre policiar nossas crianças com bobagens e às vezes deixamos de colocar limites realmente importantes.
Mudando um pouco de assunto, outro dia um colega meu condenou o fato de as novelas de hoje sempre terem um casal homossexual. Ele acha que isso é imoral e as telenovelas acabam estimulando o homossexualismo. Discordei delicadamente: disse a ele que acho que o homossexualismo não é uma opção (o que explica aqueles gays enrustidos que passam a vida inteira dentro do armário? Conheço muitos casos assim) e que imoral para mim é ver o esgoto que passa a céu aberto em frente às casas das pessoas, a epidemia de dengue no Rio e tantos outros problemas que poderiam ser superados se os recursos públicos fossem bem aplicados. O resto é detalhe.

sexta-feira, 21 de março de 2008

Dança da solidão II

É, realmente, isso aqui vai viciando a gente. É como uma conversa com si própria. Uma nova forma de se conhecer.
Hoje foi um dia estranho. Meio solitário. Estudei para a minha apresentação no Coro Cantorum, que vai acontecer no próximo fim de semana. Almocei sozinha, trabalhei numa matéria sobre aumento nos preços de fertilizantes e suplementos minerais (fez até fumacinha na minha cabeça) e voltei para casa. Tive um encontro que aparentemente não deu muito certo, voltei pra casa, assisti ao Big Brother (tenho até vergonha de dizer) e depois à minissérie "Queridos amigos", que adoro. Quando ia começar a escrever neste espaço, minha irmã me ligou do Rio e acho que ficamos mais de uma hora no telefone. Que delícia! Não sei o que seria de mim sem ela.
Tínhamos muito assunto para conversar. É estranha essa nossa vida, a gente fica tão distante fisicamente das pessoas que mais ama! Tem telefone, internet, mas nada como sentar junto com outra pessoa em volta de uma mesa ou poder caminhar ao lado do outro. Tenho "perdido" muitos amigos nos últimos tempos - pessoas que se foram de Cuiabá por motivos pessoais, profissionais.
A gente busca fazer novos amigos, mas parece que não fica tão fácil na medida em que vamos ficando mais velhos. Sabe aquela coisa de companheirismo, de não ter que explicar muita coisa, de achar graça das mesmas coisas, se indignar com outras? É tão gostoso. É cumplicidade. Tenho um pouco disso com minhas filhas. Às vezes a gente se diverte muito, mas elas têm outros interesses, outros círculos de amigos.
Sinto saudades das pessoas que ficaram para trás: Lúcia(s), Vera(s), Cristina(s), Cynthia, Mila, Augusto, Saboya, Ventura, Capi, Eugênio, Cláudia, Jael, Luís Carlos, Álvaro, Fabinho, Dete, Bel e tantos outros amigos queridos. Yêda, Elaine, Glauco, Camila, Ana são alguns dos amigos que me deixaram há pouco tempo. Eles estão por aí (alguns a milhares de quilômetros de distância), mas sinto falta de tê-los bem perto de mim.

quinta-feira, 20 de março de 2008

Sina

Esquizofrenia total! Hoje assistindo à minissérie "Queridos amigos", que estou adorando, descobri que tenho um problema de fragmentação de personalidade. Tem uma Martha que foi criada no Rio, foi leitora da revista "Realidade", sonhou ser jornalista para sair do seu pequeno mundinho pequeno burguês, participou do movimento estudantil, foi militante sindical, meio que desbundou, fez biodança, e uma outra que se apaixonou durante uma viagem de férias em Mato Grosso, se casou, encaretou, teve duas filhas, escreveu um livro sobre Cáceres, virou professora de literatura, de inglês, francês e jornalismo e trabalha numa revista de agronegócio.
As duas, obviamente, têm muito em comum, mas eu gostava bem mais da antiga Martha, idealista, sonhadora. A Martha atual é muita vezes amarga, deixou de acreditar nas pessoas e tem dias em que só consegue enxergar o lado feio e medíocre da vida. É cética, não crê em Deus, nem nos homens e morre de medo de envelhecer sozinha.
Mas tem alguma coisa da velha (ou seria nova?) Martha nesta que está aqui e que se aborrece com o cotidiano. Mais do que nunca ela percebe que não conseguiu fugir à sua sina de Marta, aquela que reclamou com Jesus de sua irmã Maria, que tinha escolhido a melhor parte (Marta e Maria eram irmãs de Lázaro, aquele que Jesus ressuscitou, segundo a Bíblia).
E essa Martha velha/nova que se emociona ao ouvir a trilha sonora de "Meus queridos amigos" e se ressente tanto de não ter com quem compartilhar suas lembranças, suas músicas preferidas, tudo que aconteceu nos anos 60/70 e 80, antes de vir para Mato Grosso.
Aqui, a maioria dos meus amigos ou tem menos de 50 anos ou então não viveu a mesma coisa que eu por morar no interior do Brasil. E sigo carregando essa solidão, não tendo com que compartilhar minhas emoções e me sentindo cada vez mais sozinha.

quarta-feira, 19 de março de 2008

Por um instante

Hoje, por um instante, questionei o sentido de manter este blog. Ninguém o lê. Até falei pra três ou quatro amigos que criei um blog e alguns deles me parabenizaram pela iniciativa. Um deles até começou a fazer o seu. Mas imagino que ninguém esteja se dando ao trabalho de ler o meu blog, assim como não tenho tempo pra ler os deles. Portanto, pra quê? Não sou nenhuma celebridade e nem sou tão original assim.
De qualquer ainda vou mantê-lo por um tempo nem que seja pra me obrigar a escrever. Estou gostando de escrever. É claro que escrevo muito no meu trabalho, mas não são coisas minhas.
Preciso me dar um tempo maior pra escrever. Geralmente escrevo à noite quando estou cansada demais (como agora) pra fixar meus olhos na tela do computador. Ou então estou doida (como agora) pra ver a minissérie "Queridos amigos". Fui ...

terça-feira, 18 de março de 2008

Contrastes

Acabo de ler duas notícias tão contrastantes no jornal "Diário de Cuiabá": uma delas fala sobre um aposentado de 80 anos, Gastão Riztal, que ensina o ofício de eletricista em sua casa, de graça; a outra fala sobre um soldador que queimou a perna da mulher com ferro quente no bairro Pedra 90. Segundo ela, o marido chegou em casa embriagado, pediu r que esquentasse sua comida e, diante da resposta dela de que a comida estava na geladeira e ele poderia pegá-la, o homem partiu para a agressão.
Sei que o mundo é assim mesmo, cheio de contrates e de pessoas tão diferentes, mas, não sei por que a matéria negativa acaba me impressionando mais. Fico sempre imaginando quando leio essas notícias que essa agressão não é um fato isolado, é apenas um episódio que veio a público de uma vida miserável, sem respeito, sem amor. Penso também quanto casos semelhantes nem chegam ao nosso conhecimento? Quantas mulheres, crianças e mesmo homens sofrem agressões e ameaças diárias em suas casas, um lugar onde deveriam estar protegidos?
Sinceramente, não sei como lidar com isso. De qualquer maneira, fico feliz de ver uma pessoa como Sr. Gastão, um homem de grande conhecimento (de acordo com a repórter Alecy Alves) que poderia estar parado, apenas assistindo à TV ou reclamando da vida, mas prefere repassar seus conhecimentos de forma gratuita a quem não pode pagar por um curso. Um exemplo bacana e que serve de alento em dias de tanta violência e falta de amor.

segunda-feira, 17 de março de 2008

De volta

Lar doce lar? Consegui chegar em casa hoje depois de cerca de seis horas de viagem, sendo uma hora e meia de avião (de Matupá a Lucas do Rio Verde) e o resto de carro, numa estrada cheia de buracos e carretas, daquelas que vivem sendo mostradas em reportagens sobre o mau estado das rodovias brasileiras. É engraçado que nada muda. É mais ou menos como aquelas matérias sobre superlotação das cadeias públicas: a TV mostra, mas tudo continua na mesma até a próxima rebelião, quando especialistas e autoridades comentam o assunto, blábláblá.
Mas voltando à minha viagem, cheguei a Cuiabá, fui ao banco pagar contas, ao trabalho, ao Grupo de Postura na Unimed (uma espécie de RPG pra botar a coluna no lugar), pegar filha na aula de inglês e ao ensaio do coral. Cheguei em casa exausta e fico mais exausta ainda pensando em tudo que vou encarar amanhã. Não sei se estou ficando frouxa, mas ando muito cansada e sempre com a sensação de que não vou dar conta de fazer tudo que preciso: cuidar da casa e das "meninas" (duas moças, na verdade), pagar contas, fazer meu trabalho na revista, aulas de inglês, etc, etc. São escolhas que a gente faz, mas tem dia que dá uma canseira, vontade de jogar tudo pro alto e ... fazer o quê?
Na verdade, o que eu mais queria no momento, me desculpem a franqueza, era namorar. Estou com uma saudade de namorar algúem, gostar de alguém e ter alguém que goste de mim. Dizem que primeiro a gente tem gostar da gente mesma, sei não ... O tempo está passando e eu queria mesmo era sentir as emoções de um namoro bem gostoso. Isso sim ia me dar um alento legal para encarar o trampo do dia-a-dia.

domingo, 16 de março de 2008

Nortão 2


Viajar é bom, mas tem suas surpresas. Por exemplo, saí de Cuiabá na sexta-feira de manhã, pensando que ir voltar para casa no sábado. Hoje, é domingo, e ainda estou a cerca de 740 km de casa! O tempo (esse senhor implacável) não permitiu que voltássemos para Lucas do Rio Verde de avião, como planejado. Tivemos que retornar para o hotel (muito bom, por sinal) e cá estou eu atualizando meu blog diretamente de Guarantã do Norte.

Nunca pensei passar uma noite de domingo em Guarantã. Daqui a alguns minutos vou sair com quatro homens para comer alguma coisa. Não imaginem coisas! Ninguém especial, apenas relações de trabalho. Fiquei triste porque queria estar presente no primeiro dia de aula na UFMT de minha filha mais velha. Ainda bem que ela é super safa e já tinha descolado carona com amigos que também estarão passando pela mesma experiência amanhã.

Enfim, fiz uma ótima matéria aqui, mas agora confesso que estou bem cansada. Acordamos às 6h, andamos bastante em estradas de terra vistoriando as lavouras do "seu" Orcival, meu "anfitrião".

Amanhã, se tudo correr bem, uma hora e pouco de vôo até Lucas do Rio Verde e de lá mais umas três horas e meia de carro até Cuiabá. Êta Mato Grosso danado de grande!

sábado, 15 de março de 2008

No Nortão




Estou fazendo o que mais amo na minha profissão: viajar, conhecer novos lugares e pessoas. Saí ontem de Cuiabá, viajei mais de 300 km de carro e cheguei a Lucas do Rio Verde, na região médio-norte de Mato Grosso. Andei mais uma hora de carro e cheguei na fazenda onde iniciei a minha reportagem. Lavouras de algodão, milho, confinamento de gado (agora praticamente vazio), soja sendo colhida, uma coisa de encher os olhos. Acho que se as pessoas dos grandes centros urbanos vissem uma fazenda desse porte reveriam alguns de seus conceitos sobre a produção rural.


Hoje, de manhã, viemos de avião para a outra fazenda do nosso "anfitrião", um produtor rural de 50 anos, natural de Goiás. A propriedade fica no extremo norte de Mato Grosso, onde ele está fazendo a recuperação de pastagens degradadas com o plantio de arroz.


Quase no fim da tarde pegamos o avião novamente (um Sêneca com seis lugares) para pousar na cidade de Guarantã do Norte, mas tivemos que descer em Matupá (elas distam 28 km), porque o tempo estava muito ruim. A gente olhava para todo lado e só via nuvens carregadas e muita chuva! Deu medo, mas por incrível que pareça, não fiquei tão nervosa quanto supus que ficaria.


Amanhã retornamos para Lucas de avião (cerca de uma hora e meia de vôo) e pegamos o carro para retornar a Cuiabá, onde deveremos chegar de noitinha, se tudo correr bem. Eta Mato Grosso grande! Muitas pessoas levariam o mesmo tempo para ir de um país a outro.

quarta-feira, 12 de março de 2008

Salve poeta!

Guardei esse texto há muito tempo e de vez em quando dou uma olhada para ver se aprendo ...

Poética - texto do poeta mato-grossense Manoel de Barros, publicado em "Caros amigos", nº 96, de março de 2005
Uma palavra há de ser poética desde que você a coloque em lugar imprevisto, desde que ela dê alarme, desde que ela quebre o muro da velha ordem. É preciso sempre escrever a primeira vez de uma frase. Se possível botar roupa rasgada nas idéias. Toda frase que se faz é preciso gozar nela. E é preciso fazer o serviço com paciência para que o gozo dê frutos.

Amor e ódio

Volto minhas baterias para a cidade onde moro e com a qual mantenho uma relação de amor e ódio. Cuiabá é uma cidade estranha: tem horas em que a acho charmosa e cativante; em outras, acho-a pavorosa. Não é só o calor (quando meus amigos do Rio reclamam de calor, digo vocês não sabem o que é isso), mas, sobretudo, a quase impossibilidade de caminhar nas ruas. As sombras são poucas e as calçadas (quando há) extremamente irregulares, cheias de armadilhas para pedestres menos atentos. Além disso, tem a questão da (in) segurança, que torna complicado caminhar à noite, quando não temos o castigo do sol.
Na noite de domingo passado, por exemplo, caminhei coisa de três quarteirões com um jornalista norueguês recém chegado à cidade. Eu ia toda animada conversando quando ele mencionou que o pessoal do Hotel Deville tinha dito que não era aconselhável caminhar nas vizinhanças. Disse a ele que poderia ficar tranqüilo por estar em minha companhia (afinal, sou quase uma nativa), mas por dentro fiquei morrendo de medo de acontecer alguma coisa com aquele europeu que veio ao Brasil para fazer uma reportagem sobre agronegócio.
Tem outras coisas em Cuiabá que me intrigam e que serão alvo de comentários em outras postagens, sempre com intuito de colaborar para construir uma vida melhor na cidade que escolhi para morar (pelo menos temporariamente).

terça-feira, 11 de março de 2008

Desesperança

Hoje de manhã li um artigo muito triste do jornalista e professor Carlos Chaparro no site Comunique-se: "O apagão ético que assola o país". O autor fala das ameaças de Paulinho da Força Sindical a jornais que insistirem em investigar supostas falcatruas envolvendo a entidade. Chaparro fala de sua desesperança diante da falta de ética dos políticos brasileiros e cita dom Helder Câmara: 'Sem esperança não haverá luta nem razões para lutar".
Todos os dias tento me agarrar em algum fio de esperança: na humanidade, na capacidade de ser humano, nas minhas filhas, na minha capacidade de renovação. Mas há momentos em que também perco a esperança. Dá uma sensação de inutilidade da vida e, ao mesmo tempo, eu me pergunto: "por que? pra que?" É como se de repente os sonhos, as ilusões que tive um dia fossem aos poucos desmoronando.
Aos 11 anos, eu via estudantes e outros jovens enfrentando a polícia nas ruas e admirava a coragem deles. Aos 17, 18, eu continuava acompanhando os acontecimentos e admirando a coragem daqueles que lutavam contra as ditaduras na América Latina. Aos 21, já trabalhando como jornalista, cobri alguns momentos marcantes da luta pela redemocratização do Brasil: passeatas, volta de anistiados, visita aos presos políticos e já tinha alguma forma de militância na universidade, no sindicato. Eu vibrava a cada eleição e escolhia com cuidado os candidatos de oposição.
Alguns anos depois perdi a esperança na política ao perceber a manipulação e o jogo que se escondia por trás de aparentes boas intenções. No fundo, todos queriam o poder. Mas ainda restava a esperança: no amor, na amizade, na capacidade de algumas pessoas se manterem fiéis a alguma forma de ética.
Hoje, sinceramente, não sei em que acreditar. Continuo tentando me manter fiel aos meus princípios, porém sei que isso não é suficiente. Fico assustada com a violência, quero proteger minhas crias, mas sei que isso é impossível: a gente cria os filhos para o mundo, já ensinava "o profeta" Khalil Gibran. Vejo que pessoas do meu círculo mais íntimo podem me mentir, me trair e isso me dilacera a alma. Tenho muita vontade de chorar .
Mas ainda tenho alguma coisa dentro de mim que me faz ir em frente. Às vezes é um sorriso de alguém, uma música bonita, uma bela paisagem, um gesto delicado, o amor da minha família e de alguns poucos amigos. Vou sobrevivendo em busca de um sentido para a vida.

segunda-feira, 10 de março de 2008

Violência

A violência é uma coisa que me confunde. Desde pequena tenho verdadeiro horror a sangue. Odeio filmes excessivamente violentos e tudo que diz respeito ao assunto, mas ao mesmo tempo sinto um certo fascínio pelo tema. Saber que pessoas se mutilam, autoflagelam ou mesmo gostam de se envolver em brigas, seja por motivos religiosos ou por absoluta falta de motivos, é uma coisa que me intriga. Não consigo entender como alguém pode pagar para assistir a lutas de qualquer tipo.
Uma vez, um lutador de jiu-jitsu que conheci, tentou me convencer que havia um certo propósito (ou beleza) naquilo. Não fiquei convencida. Entendo que o ser humano tenha um instinto primitivo básico que faz com reaja de uma forma irracional a certos estímulos, mas na minha visão ceder a esse instinto (o desejo de machucar o outro pura e simplesmente, sem outro objetivo que não seja a sobrevivência) é uma confissão de que não evoluímos tanto como raça. Em outras palavras, quando reagimos com violência ou partimos para a violência, estamos nos igualando a qualquer animal. Talvez seja isso mesmo: não somos melhores do que a maioria dos animais, já que nem sempre usamos a razão e outros atributos ditos humanos, como a compaixão.
Esse assunto me veio à mente hoje por causa de uma notícia que vi na internet: um cara em São Paulo espancou um zelador com uma barra de ferro por causa de um problema qualquer com carro. Vi as imagens do agressor sendo preso, dizendo com a cara mais cínica do mundo "que estava arrependido" e que era "um cara do bem". O agredido estava no hospital com traumatismo craniano. Se "um cara do bem" agride outro com uma barra de ferro por motivos fúteis, o que sobra para "um cara do mal" fazer?

sexta-feira, 7 de março de 2008

8 de março

Acho engraçada essa história de Dia Internacional da Mulher. Ok, acho a data bonita, conheço o episódio que a inspirou (a invasão da fábrica nos EUA e a conseqüente morte de operárias grevistas) e acho bom que o dia 8 sirva de pretexto para mil artigos, entrevistas, ou seja, para uma reflexão sobre a situação da mulher no mundo atual. Porém acho estranho todo mundo ficar falando "Parabéns pelo dia 8". Como assim? Mais da metade das pessoas que conheço (infelizmente) são mulheres. Devemos ser parabenizadas pelo simples fato de ser mulheres?
Adoro ser mulher, mas não acho que deva ser cumprimentada num dia especial simplesmente pela minha condição feminina. Enfim, tem aquela história de dar rosa, presentinho, mas poucas pessoas pensam realmente sobre a condição feminina. Embora estejamos a anos luz de situações como as que mulheres enfrentam no Oriente e na África (mutilações, submissão, etc), ainda vivemos num país e, principalmente num estado muito machista, onde mulheres independentes e não submissas ainda representam uma ameaça, onde mulheres ainda são avaliadas por seus atributos físicos.
Muitas de nós trabalham duro, tem que resolver pepinos no trabalho, em casa e em outros espaços sociais e ainda ficamos com a sensação de que não somos bastante competentes. A gente tem que ser enérgica, dar limite aos filhos, fazer milagres no orçamento, se impor no trabalho e ainda manter o bom humor, a sensibilidade aguçada, o corpinho em forma, a graça, o charme. É barra, mas mesmo assim é uma conquista. Se conseguir ter um companheiro nessa empreitada, melhor ainda. Talvez seja isso que o Dia Internacional da Mulher sirva: para que pensamos por alguns minutos no que representa ser "feminina". "O mãe, então me ilumina/ Me diz o que é feminina/ Não é no cabelo, no jeito, no olhar/ É ser menina em todo lugar". Os versos cantados por Joyce talvez sirvam de inspiração nessa busca.

Alegria

Hoje, estou feliz (quase me sinto culpada por isso). Ontem assisti a um show muito legal, do Paulo Monarco, um cara muito jovem (uns 21 anos) que cresceu ouvindo música boa no bar do pai (o Cantoria) e agora se apresenta aos fins de semana num bar da Chapada (foi o que ele me falou). Nessa quinta-feira, ele fez uma apresentação única no Choros & Serestas, acompanhado do baixista Samuel Smith (fantástico!) e um baterista cujo nome não me recordo (falha braba).
O público - muito jovem - dançou, cantou canções de Chico Buarque de Hollanda e João Bosco, entre outros caras das antigas (Monarco abriu o show com "Diz que fui por aí" de Zé Keti).
É sempre comovente ouvir pessoas tão jovens embaladas ao som de veteranos como Chico e João Bosco, mas ao mesmo tempo bate aquele pensamento: será que não pintou gente suficientemente boa depois?
Mas Monarco também apresentou músicas de compositores locais, como uma surpreendente "Pior", composta por seu primeiro professor de violão (ele mencionou o nome, mas eu não estava com caneta e papel para anotar; segunda falha braba). A música foi cantada pelo público entusiasticamente, o que deixou pessoas (como eu) que não conheciam com aquela sensação: opa, como é que todo mundo sabe a letra? Enfim, uma noite muito gostosa e estimulante porque é sempre muito bom ouvir novos e antigos talentos.

quinta-feira, 6 de março de 2008

Interiorização da violência

Hoje de manhã, no carro, escrevi mentalmente um monte de coisas para colocar no blog, mas aí cheguei no trabalho, me ocupei com outras e o tempo foi passando. assim como a inspiração.
Vou priorizar um fato que fiquei sabendo ontem à noite. O filho de uma amiga, que tem uns 20 anos (o filho, não a amiga) foi assaltado quando voltava da faculdade à noite numa cidade do interior de Mato Grosso, Cáceres. Morei lá 15 anos e sou apaixonada pela cidade, que tem cerca de 85 mil habitantes e fica às margens do rio Paraguai.
Cidade aprazível, que responde pela alcunha de Princesinha do Paraguai. Mas, desde que cheguei lá, no final dos anos 80, já dava para perceber um triste fenômeno que agora já aparece nas pesquisas em nível nacional: a interiorização da violência. Ou seja, não dá para dizer que você está mais seguro em Cáceres do que no Rio de Janeiro, embora as pessoas de Cáceres (algumas, é claro) morram de medo do Rio.
Esse assunto dá margem para mil elocubrações. Penso na minha amiga, no filho que levou um tiro (de raspão, por sorte), mas penso também nas pessoas que estão do outro lado da violência e que são fruto também da violência da falta de oportunidades, da facilidade do acesso às drogas, da banalização das drogas (inclusive do álcool), da brutalidade da polícia, da corrupção, dos políticos que não promovem políticas visando melhorar as condições de vida da população.
Imagino que algumas pessoas vão dizer que penso assim porque não foi o meu filho a vítima. Talvez. Mas, não posso deixar de pensar em meninos como o filho de um casal que trabalhava com a minha família na fazenda e que caiu no crime. Dizem (não tenho mais contato com eles) que roubou, matou, e fiquei sabendo também de fonte segura que apanhou tanto na cadeia que perdeu um olho. Era um menino bom quando o conheci. Os pais também eram pessoas boas, sem maldade, pantaneiros, gente criada no meio do "pantano" como eles dizem e que vem para a cidade na ilusão de que seus filhos vão ter uma vida melhor graças aos estudos. Tomara que alguns consigam, mas a maioria dos que conheci virou bandido, prostituta, entrou pra gangue, e alguns continuam peões.
Por isso lamento que cidades como Cáceres fiquem assim: à margem do desenvolvimento (seu IDH é baixíssimo), sem muitas perspectivas, embora seja sede de uma universidade estadual. De um lado, remanescentes das famílias tradicionais, muitos depauperados; de outro, uma classe emergente, que tem sempre questionada a origem do dinheiro e que parece (alguns representantes) não ter muitos escrúpulos. De modo geral, todos acuados (alguns beneficiados, talvez) pela miséria. Retrato do Brasil.

quarta-feira, 5 de março de 2008

Ainda não cheguei à conclusão sobre qual estilo adotar neste blog. Ainda bem que ninguém está lendo, portanto tenho tempo para pensar melhor.
Na verdade, meu objetivo era ter um canal para comentar notícias, fazer observações sobre Cuiabá e outros temas de interesse público, mas também registar as angústias de uma mulher de 50 anos (caminhando para 52) que trocou uma cidade grande, quase cosmopolita como o Rio de Janeiro pelo interior do Brasil, numa viagem de volta às origens.
(suspiro)
Tem dias que é tão difícil e fico morrendo de vontade de sair correndo daqui. Para aonde? Confesso que não sei. Em outros momentos, acho que aqui ainda é um mundo novo, a ser desbravado e que posso sim tentar uma vida interessante e coerente.
Hoje, por exemplo, já alternei esses dois estados de espíritos. De manhã, estava um caco. Fui à Unic tratar do meu afastamento do curso de jornalismo e fiquei meio triste, imaginando se tomei a melhor decisão. Na verdade, ganhava pouco, mas pela primeira vez em quase 15 anos tive minha carteira de trabalho assinada. Fiquei com tanta saudades de ter essa segurança.
Onde trabalho, tenho apenas um contrato e se amanhã ou depois deixar a revista (ou me dispensarem) saio com uma mão atrás e outra na frente.
Tenho consciência de que o mundo mudou e que hoje "temos que ser empreendedores". Não posso, aos 50 anos, ficar esperando que um emprego caia do céu. Mas esbarro nas minhas dificuldades para mudar o perfil e sofro tanto com isso! O fato de não ter um companheiro me deixa ainda mais pra baixo e insegura...
Caramba! Por outro lado, chego no trabalho, curto o que faço (reportagens), estar em contato com pessoas diferentes e isso acaba levantando meu astral.
Enfim, preciso resolver esse nó na minha cabeça.

segunda-feira, 3 de março de 2008

Cantorum

Acabei de receber por email a programação do Sesc Arsenal para março. Fiquei muito feliz por dois motivos. Nos dias 14 e 15 vai ter um tributo a Tim Maia com o grupo Mandala Soul. Pena que o teatro do Sesc tem poltronas fixas porque é o tipo da apresentação feita pra dançar. Não dá pra imaginar ouvir soul brasileiro - o balanço do louco Tim Maia - sem balançar o esqueleto.
Mas, tchan, tchan, tchan... o motivo maior da minha alegria é ver o nome do Cantorum ao lado da Orquestra de Câmara num concerto marcado para os dias 28, 29 e 30. Será a estréia do Cantorum, um coro novo que está sendo criado em Cuiabá sob a regência de André Vilani. O repertório é inédito e o mais significativo para mim: eu faço parte desse coro !!!
Ninguém faz idéia da alegria que é para mim voltar a cantar num coro. É um sonho que acalento há 20 anos e voltar com uma responsa dessas só me faz tremer nas bases. Um pouco de emoção boa nessa vida!

domingo, 2 de março de 2008

Final de domingo

Fim de domingo. A perspectiva de início de mais uma semana - com toda rotina que representa - me traz um certo alívio. Não sei dizer se isso é bom ou ruim, mas de qualquer maneira é um sinal de que os fins de semana não têm sido tão bons ou será que apenas significa que faço muitas coisas de que gosto ao longo da semana?

De qualquer maneira, queria registrar que assisti a um filme bem legal: "Antes de partir" com Jack Nicholson e Morgan Freeman, ótimos em papéis parecidos com os que sempre fazem. O primeiro, meio amalucado, mas no fundo um bom sujeito: o segundo, o cara ético, confiável, bom pai, bom marido, bom conselheiro. Mas o filme consegue divertir e tirar algumas lágrimas ao colocar o dilema do que fazer quando se sabe que se tem pouco tempo de vida. Os dois protagonistas resolvem fazer uma lista de coisas, que mistura um pouco de aventura (pular de pára-quedas, etc) com outras um pouco mais profundas (como fazer o bem para alguém de uma forma desinteressada). Num dado momento o personagem de Morgan Freeman pergunta ao amigo se ele já deu alegria para alguém na vida (seria uma pergunta dos deuses aos egípcios para decidir o destino pós-morte). É meio bobo, mas isso mexeu comigo porque me deu a dimensão de quão pouco estou dando às pessoas na minha vida, seja em alegria, seja em qualquer outro tipo de emoção. Uma boa coisa para se pensar ao longo da semana.

Estréia

Como milhares de pessoas em todo Planeta, resolvi fazer o meu blog. Por quê?
Modismo? Falta do que fazer? Não exatamente. Acho que é mais uma necessidade de compartilhar, um esforço para me sentir menos sozinha, deixar mais uma marca nesta vida. Uau! Parece mais um epitáfio. Enfim, não sou melhor do que os outros, apenas preciso de mais um canal de comunicação.