domingo, 17 de novembro de 2013

Um mundo sem livros



Aproveitei a noite de domingo para assistir novamente a um filme que marcou minha infância (ou início da adolescência), driblando assim o "Fantástico" e a cobertura da prisão dos mensaleiros.
O filme, de 1966, se chama "Fahrenheit 451", adaptação de François Truffaut do livro homônimo de Ray Bradbury.  Encontrei há algumas semanas nas prateleiras da locadora Casablanca e fiquei esperando o momento certo para revê-lo morrendo de medo de me decepcionar.
Isso não aconteceu. Apesar de algumas cenas meio engraçadas - como a dos policiais "voadores" que  procuram o protagonista Montag, que me lembrou um pouco o seriado japonês National Kid -, o filme é muito interessante e envolvente.
A história se passa num tempo futuro em que o trabalho dos bombeiros não é mais proteger as pessoas dos incêndios (já que as casas são protegidas contra incêndio) e sim queimar livros. Todos os livros - sem exceção - são considerados perigosos por tornarem as pessoas "infelizes",
O filme tem diálogos fantásticos, seja entre o chefe dos bombeiros e Montag, o bombeiro que se revolta contra o sistema que lhe acenava com uma promoção, seja entre Montag (o ator Oskar Werner) e a professora revolucionária interpretada pela atriz Julie Christie, que também interpreta a conformada mulher de Montag.
O filme é uma fábula sobre um mundo em que as pessoas são proibidas de ler e algumas, que se rebelam e conseguem fugir ao cerco da repressão, tornam-se pessoas-livro à espera que aquela "idade das trevas" termine e os livros possam ser novamente impressos.
Cada uma decorou um livro e passa os dias repetindo o texto para que ele não se perca ... A cena do avô moribundo que recita o livro para que seu neto o decore é antológica.
Fiquei pensando que livro eu seria se vivesse numa época assim ...
São tantos os livros que amo ...
Eu nem ia escrever este post, mas aí li sobre a morte da escritora Doris Lessing, aos 94 anos. Prêmio Nobel de Literatura, ela é autora de um dos meus livros preferidos: "A canção da relva" que li e reli, e talvez releia novamente. Para ser sincera, não li outros livros de Doris, mas gostaria de lê-los. 
"A canção da relva" fala sobre preconceito, amor, atração, desespero, solidão. Ele tem uma frase no início que me marcou muito a ponto de eu tê-la anotado num caderno: 
"Solidão, pensava ela (a protagonista do romance, Mary Turner), é o desejo da companhia de outras pessoas. Mas não sabia que solidão podia ser um despercebido atrofiamento do espírito por falta de contato humano". 
Não consigo imaginar meu mundo sem livros.