terça-feira, 31 de março de 2009

Quanto vale a vida humana? (parte 3)

Acabei de ouvir no telejornal Hoje que um suspeito de ter atirado na moça baleada durante o assalto no Rio foi preso. Morador de rua, desdentado, o homem (quantos anos teria? 20? 30?) nega o crime. No noticiário de TV, o apresentador voltou a dizer que ela morreu porque pediu seu crachá de estagiária e a Bíblia. O jornal, do mesmo grupo, desmente isso: ela teria recebido seu crachá e a Bíblia do assaltante, mas morreu porque tentou pegar sua bolsa quando esta caiu no chão.
É só um detalhe? Sim, se pensarmos que ela morreu por um motivo fútil. Por que esse ladrão tinha que atirar na nuca da vítima? Por que não atirou no braço ou na perna? Provavelmente porque foi um gesto irracional ou então porque tanto fazia mesmo já que a vida humana não vale grande coisa mesmo. E quanto vale a vida desse morador de rua do Centro do Rio? Provavelmente, nada, vide casos de outros moradores de rua com final trágico como o do sequestrador do ônibus 174, aquele que foi morto pela polícia no camburão depois de matar sua refém.

segunda-feira, 30 de março de 2009

Quanto vale a vida humana? (parte 2)

Uma pequena correção no conteúdo do post anterior, que em nada altera a essência do texto. A moça que morreu, segundo o jornal O Globo, conseguiu receber do ladrão o crachá e a Bíblia (ela estava voltando de um culto evangélico com os pais), mas quando o assaltante rendia outra vítima, deixou cair a bolsa da primeira (a que acabou morrendo). Ela então resolveu pegar sua bolsa no chão e levou o tiro fatal na nuca.
Enfim, são apenas detalhes que tornam a história ainda mais triste. A moça tinha acabado de fazer 25 anos e ia se formar este ano em Administração numa faculdade particular, paga com muito esforço pelo pai com seu salário de porteiro. Será que esses pais vão encontrar na religião o conforto para tanta dor?

Quanto vale a vida humana?

Quanto vale a vida humana? Nada! Essa é a conclusão que chego depois de pinçar uma notícia entre outras tantas veiculadas no portal Terra. Uma moça, que estava acompanhada dos pais, foi morta com um tiro na cabeça durante um assalto no Rio de Janeiro, depois que pediu ao ladrão para ficar com seu crachá de estagiária da Caixa Econômica Federal.
A notícia é tão triste que fala por si própria, mesmo assim não consigo deixar de comentá-la. A moça já tinha entregado sua mochila e pertences, mas quis manter o crachá, item sem qualquer importância para o ladrão.
Eu me recuso a fazer eco aqueles que pregam a exterminação dos bandidos em geral. Vamos matar todos? Será uma exterminação em massa?
Nessa hora, embora não frequente a igreja, sigo a doutrina cristã: quem somos nós para julgar?
A dona da Daslu e seus companheiros, acusados de vários crimes, já estão soltos para responder a seus crimes em liberdade, assim como a maioria dos criminosos de colarinho branco.
Nossa sociedade é tremendamente injusta e cria um espiral de violência sem fim. As saídas são exaustivamente discutidas por especialistas, mas pouca coisa muda.
Continuo achando que violência gera violência.
Não sei se meu raciocínio está confuso, mas penso que a forma como lidamos com o crime - polícia truculenta e corrupta, justiça lenta que privilegia quem tem dinheiro para pagar advogados, educação falha, família desestruturada, recursos publicos para saúde, educação e saneamento básico jogados pelo ralo) só está gerando pessoas para quem a vida humana não vale absolutamente nada e isso é muito triste.

sexta-feira, 27 de março de 2009

Cena corriqueira

Hoje cedo, logo depois de deixar minha filha caçula na escola, eu me deparei com uma cena corriqueira em Cuiabá: o veículo do Samu prestando socorro a um motociclista num dos inúmeros cruzamentos perigosíssimos da capital mato-grossense. A moto estava no chão e logo atrás do carro de socorro estava um fusca com todo jeito de ter sido envolvido no acidente.
Fiquei por alguns instantes me perguntando o que aconteceria com o motociclista - que vi de longe sendo erguido na maca - quando chegasse ao Pronto Socorro que todos dizem ser um caos. Teria que esperar horas por socorro em meio a outras tantas vítimas de acidentes de trânsito ou, por algum milagre, seria atendido imediatamente e ainda de forma satisfatória?
Enfim, pouca coisa mudou - e se mudou foi pra pior - desde as últimas eleições que deram vitória ao prefeito Wilson Santos. Há alguns dias, numa conversa informal, uma pessoa do gabinete do prefeito me disse que, em função dos problemas de caixa, tudo parou na cidade: serviço de limpeza de praças, tapa-buraco. Mas tudo será retomado, segundo ele, após o fim do período das chuvas. Ah bão, como diria um colega jornalista de Cáceres. Disse para meu interlocutor que vou receber visita na Semana Santa e estou com vergonha da cidade onde moro.
Dizem que a cidade é forte candidata a ser subsede na Copa de 2014. Alguns poucos são contra, alegando a falta de infraestrutura de Cuiabá. Posso ser ingênua, mas eu acho bom. Alguma coisa haverá de ser feita na cidade para estruturá-la melhor de modo a abrigar um evento internacional.
Do jeito que está tem horas que dá vontade de sair correndo. Pra onde? Esse é a questão num país com enormes dificuldades para administrar os problemas urbanos mais corriqueiros e que costuma jogar no ralo da corrupção boa parte dos recursos existentes.

quinta-feira, 26 de março de 2009

Fluxo de consciência

Andei afastada do blog por falta de tempo. Mas, sempre se arranja tempo quando se quer ... Isso é verdade, em parte, mas, às vezes, à escassez de tempo somam-se outros fatores, como cansaço físico e mental, principalmente, mental.
Hoje, no caminho para o trabalho, pensei em várias coisas que gostaria de comentar. Como estou sem rádio no carro há tempos, quando dirijo eu canto ou então penso, nos problemas, nos posts que quero escrever ... Ah, também costumo pensar (ou cantar) durante o banho. São os momentos em que fico mais concentrada.
É curioso, há quase 53 anos convivo comigo mesma. Tirando os anos dos quais não guardo praticamente qualquer memória consciente, são praticamente 48 anos de convivência. Já era tempo da "gente" se conhecer melhor. Mesmo assim, de vez em quando, eu me surpreendo comigo mesma, como no dia em que assistia a uma sessão de cinema no Sesc Arsenal e interrompi meu amigo Diego Baraldi (o coordenador da mostra) para corrigi-lo. E o pior é que ele estava certo ... Estava vendo exibido "Todas as mulheres do mundo" de Domingos Oliveira, o filme que mais marcou a carreira da atriz Leila Diniz, e Diego disse que ela teve uma filha com o também cineasta Rui Guerra. Eu disse subitamente: "Não foi com Cacá Diegues?". Não, Martha, Cacá Diegues teve uma filha, Isabel, com a cantora Nara Leão, Rui Guerra foi casado com Leila antes de ter uma filha com a também atriz Cláudia Ohana. Justifiquei minha confusão dizendo que gosto muito das duas (Leila e Nara), mas morri de vergonha.
Acabei falando de um assunto que não estava no script. Será isso o tal fluxo da consciência? Enfim, o que eu queria dizer mesmo hoje é que cada vez sinto mais desprezo pelo noticiário político. Me desculpem os coleguinhas que cobrem o tal do jornalismo político, mas aqui em Mato Grosso o noticiário político é cheio de balões de ensaio, picuinhas, etc. Para mim, é o mesmo que ler "Caras" ou qualquer outra revista de Celebridades. A gente vê aquelas atrizes todas lindas e turbinadas jurando amor eterno a algum fulano da vez ou então dizendo que vão muito bem, obrigada, sozinhas e na revista seguinte ou já rolou o maior barraco ou elas estão saindo com um sicrano novo. Não faz a menor diferença ler ou não ler. É apenas um passatempo ao qual me dedico quando vou ao salão de beleza fazer as unhas ou na sala de espera de algum consultório médico.

sexta-feira, 20 de março de 2009

Viajando por Mato Grosso

Não sei se estou muito contaminada pelo mundo do agronegócio que cubro como repórter da revista Produtor Rural. Tem um lado do agronegócio que detesto, mas o que quero comentar agora é a viagem que fiz ontem e anteontem à região do médio-norte de Mato Grosso. Fomos (eu e o fotógrafo José Medeiros, velho conhecido, dos tempos de Cáceres) até Lucas do Rio Verde. Foi uma viagem a trabalho, mas muito gostosa, apesar dos buracos, do estresse da estrada e do carro desconfortável.
A paisagem é linda! Verde, muito verde! O céu, nessa época do ano, nunca está igual. Ora está azul, ora cheio de nuvens. Tem hora que chove, tem hora que faz sol. Muito gostoso! Aquela sensação de amplitude, estilo "Thelma e Louise". Fora isso, ótimas refeições (comemos peixe numa cidadezinha chamada Acorizal) e encontros com pessoas muito gentis. A recepcionista do hotel (o segundo que ficamos, depois de deixar o primeiro, que era muito ruim) deixou a gente ir embora com bagagem e tudo, com a promessa de retirarmos o dinheiro do banco, já que ela não passava o cartão. Saímos às 7h30m e só retornamos depois do almoço. Perguntei a ela se não ficou com medo da gente se mandar já que não fizemos qualquer tipo de registro. Ela disse que achou que eu não tinha cara de passar a perna. É gostoso ser reconhecida como uma pessoa honesta. A dona do restaurante (a churrascaria Picanha's, a melhor da cidade), uma carioca chamada Luísa, me beija quando chego lá (uma vez a cada seis meses). Ela me reconhece e ontem até nos ofereceu a refeição de graça.
Simpático, não? Enfim, Lucas é uma cidade muito jovem, fruto do crescimento do agronegócio e, sinceramente, me encanta. Não gostaria de morar lá (o que fazer nos finais de semana, além de comer e beber?), mas adoro visitá-la e reencontrar meus "amigos".

Por que?

Não consigo deixar de falar da história do bebê de pouco mais de um ano espancado pela patroa/ amiga (que amiga!) da mãe em São Paulo. Li a notícia no início da tarde e toda hora revejo a foto do bebê, veiculada em O Globo e em outras mídias. Fico pensando no sofrimento dessa criança. Como uma pessoa pode ser tão sórdida a ponto de machucar daquela forma uma criatura indefesa? Que tipo de pessoa é capaz de tamanha barbaridade? Eu não consigo entender.
Nessas horas tenho muita vontade de conversar com alguém que tenha muita fé em Deus, não para confrontar essa pessoa, mas para que me convença de que existe algum tipo de justiça no mundo. Não se trata de alguém fazer o mesmo com essa mulher porque o sofrimento dessa criança já está acontecendo. Por que ela teve que sofrer - e ainda está sofrendo - tanto? Cadê o anjo da guarda dela, para usar um chavão (quando alguma coisa boa acontece ou alguma coisa muito ruim deixa de acontecer, as pessoas sempre dizem "foi o anjo da guarda" dele ou dela)?
Não tenho mais o que dizer sobre isso. Queria apenas desabafar e compartilhar minha incompreensão.

terça-feira, 17 de março de 2009

Dicas de fillmes

Hoje não vou falar de coisas tão pessoais. Gostaria apenas de dar a dica de dois filmes que vi no fim de semana. Um deles é uma dica meio óbvia: "Quem quer ser milionário?", o filme de David Boyle vencedor do Oscar. Eu - e minhas filhas - adoramos. É um filme imperdível: roteiro bem bolado, ótimas interpretações, trilha sonora fantástica, momentos de grande tensão, de tristeza (é incrível pensar que existe gente que mutila uma criança para ganhar mais dinheiro com ela), de humor e ... de esperança. No final das contas, o filme é uma bela história de amor, daquelas que a gente quase não acredita que exista mais (será que existe?).
A outra dica é um filme bem menos conhecido, que não recebeu críticas muito favoráveis, mas que é simplesmente adorável. Chama-se "O som do coração" (August Rush no original) e conta uma história meio piegas, mas que toca o coração. Também tem atores muito bons, como o menino que vive o protagonista, e uma trilha sonora muito legal, além de imagens belíssimas.
O que mais curti no filme é a abordagem que faz da importância da música, da possibilidade de alguém ter a música dentro de si e realmente ouvir a música que está em todas as coisas. O filme me fez pensar sobre minha relação com a música (que pretendo abordar num outro post) e com o mundo em geral.
Os dois filmes reafirmaram em mim a necessidade de repensar meus valores e minha postura na vida. Ou melhor, me fizeram pensar sobre o que quero da minha vida aos 52 anos!

segunda-feira, 16 de março de 2009

As três Marthas

Até hoje não consegui conciliar – ou melhor, consegui em raras ocasiões – todas as facetas de minha personalidade como mulher.
Tenho dentro de mim uma Martha séria, fechada, até carrancuda, inflexível, porém responsável ao extremo e leal. Tenho outra Martha alegre, bem humorada, que adora dançar e cantar, e gosta de rir, de aventura. Geralmente, quando me envolvo com alguém, é essa Martha (a segunda) que aparece. Mas, como seu aparecimento é meio efêmero, as relações que tive ultimamente também foram efêmeras, porque acho que ninguém vai se interessar (ou melhor, nenhum homem) pela primeira Martha.
No meu primeiro casamento, prevaleceu quase o tempo todo a primeira Martha. No segundo casamento, prevaleceu a segunda (e a terceira), até nascerem as meninas e a primeira, aos poucos, ir tomando conta no cotidiano.
Mas, existe também uma terceira Martha, que é a que gosto mais: espontânea, livre, naturalmente alegre, que aparece só de vez em quando, geralmente quando estou em contato com a natureza ou em viagem. Como fazer para conciliar todas elas dentro de mim? Como não permitir que a Martha séria demais tome conta de tudo?
Uma última constatação: essa primeira Martha tem tudo a ver com o que, eu acho, que minha mãe – e parte da minha família - esperava de mim. Não se trata aqui de culpá-la, afinal ela também foi uma vítima do seu tempo, dos preconceitos que guiam a vida da mulher. Eu já nasci tia, predestinada a uma vida de solteira ou a ser aquela que cuidaria da mãe quando ficasse velhinha. Aprenderia a fazer tricô, crochê e passaria as tardes e noites fazendo companhia à mãe viúva.
Mas eu me insurgi contra esse destino: fiz uma faculdade de jornalismo, que tinha tudo a ver com o meu desejo de romper com as amarras do meu mundinho pequeno burguês. Transgredi outras regras sociais com muito sofrimento interno e sentimento de culpa, porém, nunca consegui me libertar totalmente.
Acabei me casando, tendo filhas e retomando a vida que tinha me sido predestinada. Só que não deu certo. Voltei a trabalhar, transgredi as regras do meu ex-marido (que substituia em alguns aspectos a minha mãe na minha vida) e o casamento terminou.
Hoje, me vejo aqui, volta e meia triste por não ter um companheiro e assoberbada pelas responsabilidades (cuidar da casa, das filhas, pagar contas, etc); volta e meia feliz por poder dançar, cantar, viajar, paquerar, ver os filmes que gosto, ter minhas filhas lindas e poder ainda sonhar com o companheiro dos meus sonhos. Como ele é? Ele é o homem que vai conseguir me amar como sou, e ter a capacidade de perceber as três Marthas e tirar o melhor de cada uma delas.

sábado, 14 de março de 2009

Sobre corrupção, amizade, etc

Ontem tive uma consulta com uma médica fantástica. Há muito tempo não ficava tão impressionada com uma pessoa. Além de eu ter gostado muito da postura profissional dela e da esperança que ela me deu de encontrar resposta para problemas que me acompanham há tempos, por alguns instantes ela se abriu comigo. Ela recebeu um telefonema (acredito que da filha de uma paciente) e ficou dando instruções para a pessoa. Quando terminou o telefonema, acabou dizendo como é difícil lidar com a questão da doença associada à pobreza. E acrescentou que é uma questão que enfrenta diariamente como médica do SUS. E complementou: o problema não é falta de dinheiro e sim a corrupção. Segundo ela, o SUS, o Detran e tantos outros órgãos públicos têm muito dinheiro, mas essa grana acaba sendo mal aplicada por causa da corrupção. Até aí, morreu Neves. O mais surpreendente foi o que ela disse depois: contou que se questionou e percebeu que também é corrupta. Deu um exemplo concreto: ela não é 100% correta na sua declaração de renda e ainda comentou "tem gente que se orgulha de burlar a faixa verde" (um sistema de estacionamento cobrado pela Prefeitura).
Ou seja, que atire a primeira pedra quem não cometeu alguma forma de corrupção.
Isso me fez pensar muito e, somado à notícia da perda do emprego de uma pessoa amiga, me deixou melancólica. O que ando fazendo da minha vida? O que quero fazer do que resta da minha vida? Não venham me dizer "você é ainda muito jovem" porque não sou. Na melhor das hipóteses, vou viver mais 30 anos com alguma saúde, mas com certeza já passei da metade da minha vida. E então?
Me deu uma vontade enorme de jogar tudo pro alto hoje, pegar minhas filhas pelas mãos, abraçá-las e beijá-las muito, e abrir meu coração com elas. Mas eu preciso me dedicar ao livro que estou escrevendo e que tenho um prazo para entregar. Mesmo assim, vou tirar algumas horinhas pra ficar com elas porque, no final das contas, elas são o que eu tenho de melhor, além da minha família e dos amigos mais queridos.
Aliás, hoje me lembrei com carinho de Lúcia Rito, uma amiga muito querida, cheia de vida, que me ensinou muito numa fase delicada da minha vida, e que já partiu, muito cedo pro meu gosto ... Ainda bem que conseguimos cultivar nossa amizade com muito carinho enquanto foi possível.

quinta-feira, 12 de março de 2009

Amor a dois

Desde ontem estou pensando no amor. Não que ele tenha acontecido para mim de uma forma especial. Ou melhor, venho diariamente querendo ampliar meu potencial de amor: às minhas filhas, aos amigos, família, casa, atividades, por andar meio descrente (embora não totalmente convencida) da dificuldade do amor entre duas pessoas (no meu caso, homem e mulher).
Dizem que a capacidade de amar não gasta, mas às vezes, vendo tantas pessoas que não tiveram a felicidade de um amor a dois, acho que já tive sorte bastante e que não posso esperar novas oportunidades. Outras vezes, penso que a vida fica muito sem graça se eu não acreditar nessa possibilidade e quero acreditar que ela pode chegar, assim de repente, desavisada, desde que eu esteja realmente aberta para essa eventualidade.
É aí que as coisas se complicam. Quando você amadurece ao lado de alguém, conserva geralmente a imagem da pessoa jovem, enxerga além da aparência, bota na balança pós e contras e, quase sempre, acaba mantendo a relação. E quando você tem que iniciar uma nova relação na maturidade? Fica bem mais complicado. Você enxerga seus defeitos (com lentes de aumento) e também os do outro. Compara-se com outras mulheres e se sente em desvantagem. Um comentário mal colocado, um olhar meio enviesado, qualquer coisa é suficiente para derrubar sua autoestima. E tem outro aspecto: os problemas de saúde vão aparecendo e você sabe que com o outro não é diferente. Conheço duas mulheres da minha geração que estão enfrentando problemas de saúde graves de seus namorados.
Uma outra pessoa do meu círculo de amizade, muito perspicaz, diz que não namora porque não quer ficar como suas amigas reclamando das "dores" dos namorados sessentões ou setentões.
Sem falar que os homens mais maduros andam imaturos demais, ou então estão cheios de problemas financeiros, com ex-mulheres, filhos, etc. Ou ainda, preferiram passar para o outro lado ou, se não passaram, exageram no seu lado feminino.
Se a gente pensar muito, fecha definitivamente para balanço. Mas, de vez em quando, a gente se distrai e acaba se envolvendo com alguém. Ainda bem.

quarta-feira, 11 de março de 2009

Ritos de sobrevivência

Por que é tão difícil expressar nossos sentimentos? E por que, quando expresso meus sentimentos, eu me sinto não raro inadequada? Deixe-me explicar melhor: sentimentos, emoções vêm em geral num turbilhão e nem sempre são positivos. Eu acho que, no fundo, eu queria - ou melhor, eu acho que deveria - ser como Madre Teresa de Calcutá. Não a conheço pessoalmente, é claro, mas admiro sua obra, sua dedicação aos pobres e desprotegidos. Porém, não sou. Ponto. Isso não me torna uma pessoa má, porém não sou tão boa, generosa, altruísta quanto gostaria de ser (ou deveria ser).
Por que estou falando tudo isso? Hoje, estou com a cabeça e o coração um pouco confusos e com emoções conflitantes. Sei que preciso focar no que é importante: o trabalho, o cumprimento de minhas obrigações como mãe, cidadã, funcionária de uma empresa, etc. Mas isso quem manda é a razão. E os meus sentimentos, minhas emoções, onde ficam? A mãe de uma amiga próxima está no hospital entre a vida e a morte. O sofrimento da minha amiga me comove e fico me sentindo mal por estar me dedicando tão pouco a ela.
Nos ensaios do Cantorum, o encerramento sempre é feito com uma oração e um Pai Nosso. Dou as mãos às pessoas do meu lado porque faço parte do grupo, mas eu me sinto meio mal de ficar ali quieta e, ao mesmo tempo, não consigo rezar com eles porque as palavras do Pai Nosso me parecem sem sentido. Eu me sinto uma impostora por não dizer isso a meus colegas de coral.
Enfim, para viver em sociedade a gente acaba se omitindo, seguindo alguns ritos de sobrevivência. Estar ali com meus colegas de coral é um desses ritos de autoproteção.
Talvez, hoje eu tenha escrito um dos posts mais confusos da minha breve vida como blogueira, mas se eu não postá-lo não estarei sendo sincera comigo mesma, que é uma das propostas deste espaço, cá entre nós.

terça-feira, 10 de março de 2009

Uniforme

Andei meio sem tempo (e vontade) de escrever. Uma mistura de cansaço físico e falta de tempo. Foi aniversário da minha filha mais moça e tive que correr atrás de um monte de coisas. É muito gostoso ver minha filha fazendo 17 anos. Foi uma das idades mais felizes da minha vida.
Mas eu quero falar sobre outro assunto que me incomodou bastante ontem. Trabalho numa empresa e agora vou ter que usar uniforme. Muita gente diz: "é uma boa, você vai economizar suas roupas'. Pode ser, mas eu detesto uniforme! Desde pequena. Detesto a palavra "uniforme", ou seja, o que é igual, que tem uma única forma.
Eu acho que a roupa, assim como acessórios são uma expressão da nossa individualidade e, decididamente, não gosto da ideia de ter que usar uma roupa igual a de todos os meus colegas nesta altura do campeonato. É uma coisa meio orwelliana, ou seria meio huxleiana (será que é assim que se escreve?).
Porém, com a idade, ás vezes, vem a sensatez e a consciência das contas a pagar e a dificuldade de se conseguir um bom emprego depois dos 50 anos. Mas que tem um lado meu meio adolescente que fica injuriado tem ...
Por falar em adolescência, eu me lembrei da minha época de colegial no Santo Inácio no Rio. Tínhamos uma blusa de uniforme (branca e com escudo) que podia ser usada com qualquer calça. Embora fosse um colégio de alta classe média, era uma época em que usávamos calças jeans surradíssimas, com as barras desfeitas e muitos meninos iam de sandálias havaianas. Mas não eram sandálias pop, na época a gente usava aqueles bem tradicionais, de solados brancos e tiras de cor (azul, amarela, preta).
Uma vez proibiram a gente de ir de sandálias e eu pedi à minha mãe para escrever na minha caderneta que eu tinha uma espécie de alergia e precisava ficar com os dedos dos pés livres. Nem me lembro se a desculpa colou ...
Enfim, não ando muito feliz com minhas roupas, já que nem sempre tenho tempo (e grana) para investir numa vestimenta mais personalizada, mas mesmo que minhas roupas estejam velhas e batidas ainda prefiro usá-las a ter que ficar uniforme.

sexta-feira, 6 de março de 2009

Sobre meninas e lobos 2

Só para concluir a história do post anterior. A menina conseguiu abortar com apoio de médicos e de uma ong que trabalha com menores nesse tipo de situação de risco e a Igreja excomungou médicos e a família da menina. A discussão ganhou contornos internacionais, com declarações de apoio e condenação a uns e outros.
Hoje, fiquei com mais raiva dessa parcela da Igreja Católica que considera mais grave o crime do aborto mesmo num caso como esse do que o estupro. Isso me lembra aqueles filmes e minisséries que se passam na Idade Média ou na época da Inquisição. É, por essas e outras, que eu me sinto cada vez mais afastada da Igreja Católica.
Permanece as minhas questões: qual será o futuro dessa menina já tão machucada? Quantos meninos e meninas nessa situação existem por aí? Ainda bem que existem organizações, médicos e hospitais como esses que ajudaram a menina de Recife.

quarta-feira, 4 de março de 2009

Sobre meninas e lobos

Depois de um post tão alto astral, volto às minhas elocubrações. Juro que não quero ficar de baixo astral, mas tem umas coisas que me assustam muito e juro que me sinto totalmente impotente para lidar com elas. Por exemplo, li num site noticioso hoje que a Igreja Católica de Recife quer convencer a família de uma menor de 9 anos a não abortar os gêmeos que está esperando. As crianças são frutos do abuso sexual do padastro da menina, que a violentava desde que ela tinha 6 anos e ainda abusa da irmã de 14 anos. Os médicos dizem que essa gravidez é de alto risco. Uma menina grávida aos 9 anos já é um absurdo, imagine de gêmeos.
É uma situação tão triste que a gente nem sabe o que pensar. A primeira coisa que me vem à cabeça é que direito tem a Igreja de opinar? Essa igreja que, como grande parte da sociedade, tem sido omissa diante desse tipo de violência. E é essa mãe (a futura avó), o que tem na cabeça? Será que não viu o que acontecia diante de seus olhos? Que futuro tem essa menina e seus filhos se vierem a nascer? Quantas meninas vivem situações semelhantes todo dia?
Enfim, diante da proximidade do Dia Internacional da Mulher, começo a ficar indignada com aqueles comerciais idiotas (como um da Assembléia Legislativa de MT) que colocam um monte de mulher pra dizer que "ser mulher é tudo de bom" e babaquices do gênero.
Ser mulher é ter que aguentar essa violência masculina e as mil desculpas para o estupro, a violência sexual em pleno século XXI. Deviam perguntar a essa menina o que significa ser mulher.

segunda-feira, 2 de março de 2009

Conceito de felicidade

Hoje, quando chegava ao trabalho depois de um fim de semana absolutamente normal, pensei: felicidade é conseguir ter projetos e sentir que a gente tem condições físicas (leia-se saúde) e financeiras para realizá-los.
Nesse momento eu me senti bastante feliz e animada.
Registro aqui este momento para compartilhar esse breve instante de felicidade.

domingo, 1 de março de 2009

Dois lados

Sempre confundo sexo e amor. Não tenho a sapiência e a modernidade de Rita Lee. Estive pensando nisso (e outras coisas) enquanto caminhava no parque Mãe Bonifácia (sempre tão lindo!). Houve situações em que levei tudo pro sexo e de repente estava rolando uma relação afetiva, que não levei muito em conta. Em outras, achei que a coisa ia além do sexo e não ia.
Sem descer a muitos detalhes acho que sou muito contraditória. Tem um lado meu que é caxias, cdf mesmo; tem outro que adora cair na gandaia. Tem um que é casto, sério; tem outro que é bem desinibido.
Entre esses dois lados, eu procuro me equilibrar, embora em vários momentos tenha saudades do mais louco.