Sou uma pessoa muito sortuda. A vida me deu muitos irmãos e, com a maioria deles, tive (e ainda tenho) uma relação de quase filha por ser temporã.
O lado ruim disso é que, aos poucos, eles se vão. Em 1987, perdemos Zezinho, o único homem de uma prole de mulheres. Em 2013 (no dia 26 de março), perdemos July; em 2014, Jandira; em 2015, Anna Maria.
Tivemos três anos sem perdas e ontem Lila se foi. "Ela descansou" - foi o mantra repetido por todos na família como consolo. Aos 95 anos muito bem vividos, ela sofria nos últimos meses com dores e muita falta de ar.
A gente sentia que ela estava se apagando e eu queria, neste momento, ter a fé de muitos de meus sobrinhos e poder dizer que Lila está melhor agora, por ter reencontrado as pessoas que amou durante a vida e que se foram antes dela.
Longe de mim questionar a fé dos demais. Só quero neste momento prestar minha homenagem pública a essa irmã, cuja história sempre me intrigou quando eu era pequena. Era minha irmã, mas chamava minha mãe pelo nome? Aos poucos, pude compreender melhor, já que Lila tinha 10 anos quando minha mãe, uma jovem de 16 anos, se casou com meu pai, um homem experiente, de mais de 30 anos.
Na minha infância, Lila morava com a família em Campo Grande e nossos contatos não eram frequentes, já que mudei com meus pais e irmãs solteiras para o Rio de Janeiro quando eu tinha dois anos.
Posso dizer que conheci Lila realmente quando eu já estava moça e passei alguns dias com ela e Norberto, seu querido marido, em Campo Grande e na fazenda, nos anos 80. Foi tão gostoso! O casal me acolheu com tanto carinho, apesar de ser muito católico e conservador, e eu estar com o meu companheiro sem ser casada no papel ou na igreja.
Nessa oportunidade, pude conhecer melhor a história de Lila e me apaixonei perdidamente por ela.
Depois disso foram muitos os nossos encontros. Ela era alegre, elegante, muito gentil, uma verdadeira lady.
Após a morte de Norberto, a gente ainda se encontrou várias vezes, no saudoso encontro da família Baptista realizado em Campo Grande, em 2011, e em outras ocasiões festivas, em que ela nos brindava com sua alegria, a vontade de dançar e celebrar a vida, a família, a nossa união.
A palavra que mais me vem à mente enquanto falo dela é "querida". Era como Norberto se referia a ela, num amor infinito e incondicional.
No final de janeiro, fui visitá-la em Campo Grande e saí da casa de sua filha Maria do Carmo com a sensação de que não a veria mais. Eu me senti extremamente honrada por ter sido recebida por ela com tanta alegria.
"Diz que tem alguém que veio de Cuiabá me visitar" - disse-me, faceira, por telefone antes de nos encontrarmos.
Embora ela já estivesse adoentada, conversamos muito, demos risadas e eu me atrevi a gravar alguns trechos de nossa conversa coletiva. Algumas passagens me comoveram muito. Ela me contou que não sabia como iria chamar a esposa de seu pai e nossa avó Maria do Carmo, que a criava, sugeriu que chamasse pelo nome (Nilzalina), já que era muito jovem para ser sua mãe.
Muitas décadas me separam dessa irmã mais velha e longeva, que viveu em outros tempos, enfrentou outros desafios, e que era uma referência para todos nós, Baptistas mais jovens. Lila deixa muitas saudades como Zezinho, July, Jandira e Anna Maria.
Agora somos apenas três de uma irmandade em que, apesar das diferenças de idade, pensamento, crença, sempre houve - e haverá - muito amor.
Obrigada, Lila, por fazer parte de nossa história e por tudo que você nos ensinou.
PS. Peço licença à Maria do Carmo, Mônica e Consuelo para publicar esta minha última foto com Lila, tirada em 28 de janeiro de 2018. No sábado, dia de nosso primeiro encontro, ela foi ao salão para lavar o cabelo e fazer escova.
O lado ruim disso é que, aos poucos, eles se vão. Em 1987, perdemos Zezinho, o único homem de uma prole de mulheres. Em 2013 (no dia 26 de março), perdemos July; em 2014, Jandira; em 2015, Anna Maria.
Tivemos três anos sem perdas e ontem Lila se foi. "Ela descansou" - foi o mantra repetido por todos na família como consolo. Aos 95 anos muito bem vividos, ela sofria nos últimos meses com dores e muita falta de ar.
A gente sentia que ela estava se apagando e eu queria, neste momento, ter a fé de muitos de meus sobrinhos e poder dizer que Lila está melhor agora, por ter reencontrado as pessoas que amou durante a vida e que se foram antes dela.
Longe de mim questionar a fé dos demais. Só quero neste momento prestar minha homenagem pública a essa irmã, cuja história sempre me intrigou quando eu era pequena. Era minha irmã, mas chamava minha mãe pelo nome? Aos poucos, pude compreender melhor, já que Lila tinha 10 anos quando minha mãe, uma jovem de 16 anos, se casou com meu pai, um homem experiente, de mais de 30 anos.
Na minha infância, Lila morava com a família em Campo Grande e nossos contatos não eram frequentes, já que mudei com meus pais e irmãs solteiras para o Rio de Janeiro quando eu tinha dois anos.
Posso dizer que conheci Lila realmente quando eu já estava moça e passei alguns dias com ela e Norberto, seu querido marido, em Campo Grande e na fazenda, nos anos 80. Foi tão gostoso! O casal me acolheu com tanto carinho, apesar de ser muito católico e conservador, e eu estar com o meu companheiro sem ser casada no papel ou na igreja.
Nessa oportunidade, pude conhecer melhor a história de Lila e me apaixonei perdidamente por ela.
Depois disso foram muitos os nossos encontros. Ela era alegre, elegante, muito gentil, uma verdadeira lady.
Após a morte de Norberto, a gente ainda se encontrou várias vezes, no saudoso encontro da família Baptista realizado em Campo Grande, em 2011, e em outras ocasiões festivas, em que ela nos brindava com sua alegria, a vontade de dançar e celebrar a vida, a família, a nossa união.
A palavra que mais me vem à mente enquanto falo dela é "querida". Era como Norberto se referia a ela, num amor infinito e incondicional.
No final de janeiro, fui visitá-la em Campo Grande e saí da casa de sua filha Maria do Carmo com a sensação de que não a veria mais. Eu me senti extremamente honrada por ter sido recebida por ela com tanta alegria.
"Diz que tem alguém que veio de Cuiabá me visitar" - disse-me, faceira, por telefone antes de nos encontrarmos.
Embora ela já estivesse adoentada, conversamos muito, demos risadas e eu me atrevi a gravar alguns trechos de nossa conversa coletiva. Algumas passagens me comoveram muito. Ela me contou que não sabia como iria chamar a esposa de seu pai e nossa avó Maria do Carmo, que a criava, sugeriu que chamasse pelo nome (Nilzalina), já que era muito jovem para ser sua mãe.
Muitas décadas me separam dessa irmã mais velha e longeva, que viveu em outros tempos, enfrentou outros desafios, e que era uma referência para todos nós, Baptistas mais jovens. Lila deixa muitas saudades como Zezinho, July, Jandira e Anna Maria.
Agora somos apenas três de uma irmandade em que, apesar das diferenças de idade, pensamento, crença, sempre houve - e haverá - muito amor.
Obrigada, Lila, por fazer parte de nossa história e por tudo que você nos ensinou.
PS. Peço licença à Maria do Carmo, Mônica e Consuelo para publicar esta minha última foto com Lila, tirada em 28 de janeiro de 2018. No sábado, dia de nosso primeiro encontro, ela foi ao salão para lavar o cabelo e fazer escova.