segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Malta, o Escultor do Vento

Foto: Protásio de Morais/OEMT

Vocês conhecem a história do Flautista de Hamelin? Pois ontem ele - ou uma das reencarnações dele - tocou em Cuiabá, no Cine Teatro.

Brincadeiras à parte, não posso deixar de registrar a passagem pela capital mato-grossense do músico, compositor, arranjador e multi-instrumentista carioca Carlos Malta.
Eu sabia que ele era bom, mas não sabia o quanto era bom. Pense num concerto daqueles que você sai com a alma lavada!  
A apresentação de Malta com a Orquestra do Estado de Mato Grosso foi encantadora. A OEMT foi regida pelo maestro gaúcho Evandro Matté, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA).
Os dois (maestro e músico convidado) foram extremamente simpáticos, cativantes, e os músicos da OEMT também pareciam muito à vontade, contagiados pelo som de vários instrumentos de sopro utilizados por Malta: flauta, sax, clarone (ou clarineta baixo), pífano.
O concerto começou com uma apresentação da OEMT sem o músico convidado: uma peça do compositor russo Anton Arensky sobre um tema de Tchaikovsky. A peça era longa, com sete variações em torno do tema, mas foi lindamente apresentada. Talvez a nossa familiaridade com Tchaikovsky tenha facilitado a compreensão e assimilação da composição de Arensky.
Em seguida, Malta veio ao palco e conduziu o concerto junto com o maestro, num clima de muita camaradagem. Apresentou composições de Pixinguinha em arranjos de tirar o fôlego e várias composições próprias, arrebatando público e músicos. Ao final, antes do grande bis, desceu na plateia para solar a belíssima "Beatriz", de Edu Lobo, na flauta transversa. 
O teatro estava cheio e o público foi sempre muito caloroso nos aplausos, mas percebi alguns lugares vazios e lamentei. Um espetáculo desse quilate merecia um teatro lotado, ser visto por mais pessoas.
A temporada 2017 da OEMT está incrível e, antes do final do ano, ainda teremos mais dois concertos: o primeiro nos dias 25 e 26 de novembro com o violinista, compositor e arranjador Ricardo Herz, que não perco por nada deste mundo, e o segundo em dezembro (em data não definida no programa) dedicado ao Natal, com a participação do Coro Experimental. Esse também eu não perco!!!
A propósito do Flautista de Hamelin, trata-se de um conto folclórico eternizado pelos Irmãos Grimm. Eu tinha um livro com essa história quando era criança e ficava impressionadíssima com a figura do flautista hipnotizando com o som de sua flauta os ratos que tinham invadido a cidade de Hamelin. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Silêncio, por favor!


Neste final de semana ouvi as queixas de uma amiga que assistiu ao Balé de Kiev no Teatro Zulmira Canavarros, em Cuiabá.
Segundo ela, um menino corria livremente pelo corredor durante o espetáculo. Mães com filhos no colo conversavam como se estivessem no parquinho ou num clube, fora o incômodo provocado pelas luzes dos celulares.
É uma pena, mas as pessoas não conseguem mais assistir a um show, a um balé, a uma peça de teatro, com seus próprios olhos e ouvidos. Elas só conseguem ver e ouvir através da tela de seus smarthphones e gravam, gravam vídeos, para assistir não sei quando, nem onde. Eu acho que é uma doença dos tempos modernos.
Eu me lembrei de recente experiência vivida no Cine Teatro Cuiabá por ocasião do último concerto da Orquestra do Estado de Mato Grosso. Sei que muitos vão discordar, mas não aprecio a presença de crianças na plateia e, se não houvesse lugar marcado, eu teria mudado de poltrona em várias ocasiões.
No concerto de domingo, 27 de agosto, uma família inteira - jovens pais, avós e um menino de uns três ou quatro anos - sentou-se na fileira da frente. O clima já foi ficando tenso porque a mãe colocou a criança no colo e lhe deu um celular para ela jogar, porém o menino insistia em falar com sua vozinha rouca, porém totalmente audível. Os pais e avós faziam gestos e sons pedindo silêncio e não deu outra: na primeira música, uma sinfonia de câmara do russo Dimitri Shostakovski, após um preâmbulo do maestro Leandro Carvalho sobre o clima denso, tenso da peça, o menino voltou a falar alto. A mãe se levantou de imediato e o pai a seguiu, levando a criança para fora. Não seria mais legal se um deles tivesse ficado em casa com o menino? Acho que ele nunca irá gostar de concertos na vida.
Depois disso, a impressão que tive é que o casal continuou se comunicando com os avós que ficaram, enviando mensagens e até ligando no celular.
Aliás, nessa noite, foi uma sinfonia de celulares tocando e, é claro, não faltou o aparelho ligado nas minhas costas com flash!
Em outro concerto recente, do Coral da UFMT cantando Beatles, um bebê chorou e resmungou o tempo todo e a mãe, uma jovem, ficava enfiando o filho no peito para ver se ele se aquietava. Em nenhum momento ela ameaçou deixar a plateia. Não sei se eu ficava com pena ou com raiva, mas torcia pelos números mais agitados porque, nesses momentos, pelo menos, o bebê incomodava menos.
Foi nessa noite que eu me dei conta de que a maioria das pessoas não consegue mais curtir um show ou um concerto sem estar com o celular nas mãos.
No teatro do Sesc Arsenal, há sempre a recomendação para que o público desligue seus celulares ou coloque os aparelhos no silencioso. Há também um alerta quanto à proibição de fotos com flash.
Isso não deveria ser necessário, mas é sempre bom lembrar certas regrinhas de educação.
O comportamento do público faz com que ir ao teatro e a outros locais públicos se torne mais um foco de tensão.
Nas salas de cinema, infelizmente, não é diferente. A solução? Enquanto as pessoas não respeitarem o direito do outro assistir a um espetáculo em paz, há de haver regras bem claras para que as salas de teatro e de cinema não se tornem locais tão desagradáveis.