terça-feira, 28 de julho de 2020

Minha amiga esteve aqui

Cristina e eu no Pantanal mato-grossense, em 1989, em foto linda de Custódio Coimbra
Ah, Cristina, vai ser tão difícil ir ao Rio agora e saber que não poderei mais vê-la! Cada vez que retorno ao Rio de Janeiro, faço questão de rever alguns amigos que amealhei na primeira metade da minha vida. Como costumo ir no período do final de ano, nem sempre consigo ver todos já que é uma época meio conturbada para todo mundo. 
Desde  o dia 28 de julho, minha lista ficou menor. 
Não poderemos mais "tricotar" à beira da piscina do Gurilândia. Não podemos mais trocar confidências diante da bela e comovente vista do Morro do Santa Marta. 
Ah, Cristina, quantas aventuras vivemos antes de eu voltar para este Mato Grosso!
Acabei de me lembrar de uma revista de Domingo (que tenho guardada, pasme!) em que fomos flagradas pelas lentes de Ari Gomes na calçada de um bar do Baixo Gávea, em 1984.
Quantos apartamentos seus visitei! Como você - ao contrário de mim - não tinha preguiça de mudar de casa!
Mas o momento mais especial que vivemos juntas talvez tenha sido a sua vinda a Mato Grosso, em meados de 1989. Tenho fotos belíssimas feitas por Custódio no Iate Clube de Cáceres, na Fazenda Recreio (no Pantanal) e em Chapada dos Guimarães.  Você diz que engravidou de sua filha Bárbara nessa viagem e eu fico feliz que tenha sido assim. 
Depois desse encontro, a gente ficou meio afastada durante um tempo. Minhas viagens ao Rio se tornaram mais espaçadas e concentradas nos encontros com a família. 
Só, a partir dos anos 2000, após a minha separação, voltamos a nos ver mais. A boa amizade tem dessas coisas, de repente, por conta de marido, trabalho, distância, filhos, a gente se afasta, mas quando reencontra parece que nunca se afastou.
A velha intimidade volta e a gente percebe que o carinho, aquela ligação especial, sempre estiveram ali. 
Na nossa última conversa por telefone, por ocasião de seu aniversário, você me contou uma história bonita envolvendo sua mãe Mag, minha astróloga preferida. Disse que ela estava praticamente partindo, por conta de um câncer (como você), e era festa de aniversário de um de seus netinhos. Sua mãe disse para você ir, que era importante festejar. Você foi, por mais que quisesse ficar ali com ela, e voltou a tempo de se despedir.
Nesse dia, você estava tão serena, esperançosa ... Por isso foi tão chocante saber que tudo tinha mudado e que você tinha decidido partir.
Você era especial, Cristina! Às vezes, até me assustava um pouco com sua maneira feroz de reagir às injustiças, ao mundo desigual e violento onde vivemos. Um segundo depois, se derretia em ternura. 
Como disse nosso amigo Romildo Guerrante, sua risada é inesquecível. Quisera eu saber rir assim e ser lembrada um dia por conta de minha gargalhada.
Suas lições de amor e generosidade sempre reverberarão nos corações de seus filhos (Bárbara, Júlia, Joana e Quim) e de seus netinhos, cujos nomes não aprendi. E, sobretudo, no coração de Custódio, o companheiro de tantas andanças, lutas e aventuras.
Parodiando o título de seu livro tão maravilhoso: "Sua amiga esteve aqui". Sim, minha amiga esteve aqui e sempre estará entre nós. 
Agradeço muito a sua amizade, o seu carinho, a sua torcida. Jamais te esquecerei. 

Dezembro de 2014
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