segunda-feira, 25 de setembro de 2017

Malta, o Escultor do Vento

Foto: Protásio de Morais/OEMT

Vocês conhecem a história do Flautista de Hamelin? Pois ontem ele - ou uma das reencarnações dele - tocou em Cuiabá, no Cine Teatro.

Brincadeiras à parte, não posso deixar de registrar a passagem pela capital mato-grossense do músico, compositor, arranjador e multi-instrumentista carioca Carlos Malta.
Eu sabia que ele era bom, mas não sabia o quanto era bom. Pense num concerto daqueles que você sai com a alma lavada!  
A apresentação de Malta com a Orquestra do Estado de Mato Grosso foi encantadora. A OEMT foi regida pelo maestro gaúcho Evandro Matté, da Orquestra Sinfônica de Porto Alegre (OSPA).
Os dois (maestro e músico convidado) foram extremamente simpáticos, cativantes, e os músicos da OEMT também pareciam muito à vontade, contagiados pelo som de vários instrumentos de sopro utilizados por Malta: flauta, sax, clarone (ou clarineta baixo), pífano.
O concerto começou com uma apresentação da OEMT sem o músico convidado: uma peça do compositor russo Anton Arensky sobre um tema de Tchaikovsky. A peça era longa, com sete variações em torno do tema, mas foi lindamente apresentada. Talvez a nossa familiaridade com Tchaikovsky tenha facilitado a compreensão e assimilação da composição de Arensky.
Em seguida, Malta veio ao palco e conduziu o concerto junto com o maestro, num clima de muita camaradagem. Apresentou composições de Pixinguinha em arranjos de tirar o fôlego e várias composições próprias, arrebatando público e músicos. Ao final, antes do grande bis, desceu na plateia para solar a belíssima "Beatriz", de Edu Lobo, na flauta transversa. 
O teatro estava cheio e o público foi sempre muito caloroso nos aplausos, mas percebi alguns lugares vazios e lamentei. Um espetáculo desse quilate merecia um teatro lotado, ser visto por mais pessoas.
A temporada 2017 da OEMT está incrível e, antes do final do ano, ainda teremos mais dois concertos: o primeiro nos dias 25 e 26 de novembro com o violinista, compositor e arranjador Ricardo Herz, que não perco por nada deste mundo, e o segundo em dezembro (em data não definida no programa) dedicado ao Natal, com a participação do Coro Experimental. Esse também eu não perco!!!
A propósito do Flautista de Hamelin, trata-se de um conto folclórico eternizado pelos Irmãos Grimm. Eu tinha um livro com essa história quando era criança e ficava impressionadíssima com a figura do flautista hipnotizando com o som de sua flauta os ratos que tinham invadido a cidade de Hamelin. 

segunda-feira, 4 de setembro de 2017

Silêncio, por favor!


Neste final de semana ouvi as queixas de uma amiga que assistiu ao Balé de Kiev no Teatro Zulmira Canavarros, em Cuiabá.
Segundo ela, um menino corria livremente pelo corredor durante o espetáculo. Mães com filhos no colo conversavam como se estivessem no parquinho ou num clube, fora o incômodo provocado pelas luzes dos celulares.
É uma pena, mas as pessoas não conseguem mais assistir a um show, a um balé, a uma peça de teatro, com seus próprios olhos e ouvidos. Elas só conseguem ver e ouvir através da tela de seus smarthphones e gravam, gravam vídeos, para assistir não sei quando, nem onde. Eu acho que é uma doença dos tempos modernos.
Eu me lembrei de recente experiência vivida no Cine Teatro Cuiabá por ocasião do último concerto da Orquestra do Estado de Mato Grosso. Sei que muitos vão discordar, mas não aprecio a presença de crianças na plateia e, se não houvesse lugar marcado, eu teria mudado de poltrona em várias ocasiões.
No concerto de domingo, 27 de agosto, uma família inteira - jovens pais, avós e um menino de uns três ou quatro anos - sentou-se na fileira da frente. O clima já foi ficando tenso porque a mãe colocou a criança no colo e lhe deu um celular para ela jogar, porém o menino insistia em falar com sua vozinha rouca, porém totalmente audível. Os pais e avós faziam gestos e sons pedindo silêncio e não deu outra: na primeira música, uma sinfonia de câmara do russo Dimitri Shostakovski, após um preâmbulo do maestro Leandro Carvalho sobre o clima denso, tenso da peça, o menino voltou a falar alto. A mãe se levantou de imediato e o pai a seguiu, levando a criança para fora. Não seria mais legal se um deles tivesse ficado em casa com o menino? Acho que ele nunca irá gostar de concertos na vida.
Depois disso, a impressão que tive é que o casal continuou se comunicando com os avós que ficaram, enviando mensagens e até ligando no celular.
Aliás, nessa noite, foi uma sinfonia de celulares tocando e, é claro, não faltou o aparelho ligado nas minhas costas com flash!
Em outro concerto recente, do Coral da UFMT cantando Beatles, um bebê chorou e resmungou o tempo todo e a mãe, uma jovem, ficava enfiando o filho no peito para ver se ele se aquietava. Em nenhum momento ela ameaçou deixar a plateia. Não sei se eu ficava com pena ou com raiva, mas torcia pelos números mais agitados porque, nesses momentos, pelo menos, o bebê incomodava menos.
Foi nessa noite que eu me dei conta de que a maioria das pessoas não consegue mais curtir um show ou um concerto sem estar com o celular nas mãos.
No teatro do Sesc Arsenal, há sempre a recomendação para que o público desligue seus celulares ou coloque os aparelhos no silencioso. Há também um alerta quanto à proibição de fotos com flash.
Isso não deveria ser necessário, mas é sempre bom lembrar certas regrinhas de educação.
O comportamento do público faz com que ir ao teatro e a outros locais públicos se torne mais um foco de tensão.
Nas salas de cinema, infelizmente, não é diferente. A solução? Enquanto as pessoas não respeitarem o direito do outro assistir a um espetáculo em paz, há de haver regras bem claras para que as salas de teatro e de cinema não se tornem locais tão desagradáveis.


domingo, 27 de agosto de 2017

Traz pra cá pra Raspá

Foto de Gilberto Nasser
Num momento em que os mato-grossenses - especialmente, os cuiabanos - estão com autoestima tão baixa por conta dos últimos acontecimentos exibidos em rede nacional, é um bálsamo assistir ao show "Traz pra cá pra Raspá" do sexteto vocal Mesa pra seis.
O trabalho de vozes acappella apresentado na noite de sábado no palco do Teatro Zulmira Canavarros é fantástico. 
Embora conviva semanalmente com o regente, arranjador, barítono Jefferson Neves e três cantoras do grupo Mesa pra seis, não sabia muito o que iria encontrar.
Foi uma surpresa muito agradável assistir a um desfile de compositores que, se não são nativos da terra, viveram ou vivem aqui. A seleção musical foi absolutamente eclética: de Zulmira Canavarros à Vanguart, passando por Vera & Zuleika (presentes na plateia), a Habel dy Anjos e Anthony Brito (do saudoso Triêro).
Muita gente ficou de fora, o que demonstra a riqueza da música de Mato Grosso.
O toque especial da noite foi a finalização com o lambadão, produto da terra, com clássicos de Chico Gil, compositor poconeano. Senti falta de canções de Paulo Monarco e outros compositores locais, mas como disse Raul Fortes, integrante do grupo, foi difícil selecionar músicas entre tantas opções.
A proposta do Mesa pra seis de valorizar a música local é maravilhosa, sobretudo num momento em que o moço que responde pela Prefeitura de Cuiabá (aquele mesmo do paletó cheio de maços de dinheiro) se orgulha de ir buscar nos EUA um artista (brasileiro, porém não mato-grossense) para definir a cara visual das comemorações dos 300 anos de Cuiabá. É pra acabar!
Só posso dar meus parabéns a Jefferson, Raul, Klauber, Tuanny, Laís Epifânio e Thainá (que fez um solo acompanhada ao violão por André Coruja) pelo presente que nos deram.
E também lamentar pelos que não puderam assistir. E torcer para que esse "Traz pra cá pra Raspá" seja reapresentado muitas e muitas vezes.  Inclusive, nas comemorações dos 300 anos de Cuiabá!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O poder do canto



Foto Protásio de Morais

Há poucos dias, fiz um post bem triste, tão triste que nem tive coragem de compartilhar com muitas pessoas para não deixá-las mais tristes.
Desde esse dia, venho planejando um post falando sobre o que tenho feito para lidar com o baixo astral provocado pela situação geral do país (e do mundo).
Em meados de abril, embora não tivesse um problema em especial, eu estava muito desanimada e aí li um anúncio (acho que foi no Facebook) sobre um novo coral que estava se formando em Cuiabá: o Coro Experimental, ligado à Orquestra do Estado de Mato Grosso. 
O dia e horário de ensaios eram perfeitos e o regente, Jefferson Neves, não poderia ser melhor. 
Fiz minha inscrição e no dia 27 de abril, numa quinta-feira de muito frio, fui até o Palácio da Instrução, no Centro de Cuiabá, para um primeiro encontro do coro. Nesse mesmo dia, quase caí para trás quando soube que faríamos nossa estreia oficial no dia 9 de junho num concerto em homenagem a Villa-Lobos com a OEMT. 
Ensaiamos arduamente duas peças - "Trenzinho do Caipira" e "Melodia Sentimental" - e nos apresentamos com êxito total nos dias 9, 10 e 11 no Cine Teatro Cuiabá. 
O grupo numeroso e heterogêneo se entrosou e, na semana seguinte, já estávamos nos confraternizando num churrasco na casa da soprano Vera Capilé.  Um mês depois, novo encontro social numa festa "julina" no mesmo local.
Estamos novamente ensaiando arduamente para uma apresentação marcada para o dia 9 de outubro, quando subiremos ao palco do Cine Teatro, sem a OEMT, num espetáculo que vai misturar canções de diversos estilos e épocas, unidas por um tema que será o fio condutor e sobre o qual prefiro manter segredo (segredo este compartilhado com aproximadamente 60 pessoas, hahaha). Será um tremendo desafio para o grupo, que fará jus ao seu nome de batismo: Experimental, não no sentido de algo que está em experiência e sim de algo aberto a experiências.
Acabei fazendo um resumão de tudo que aconteceu em pouco mais de três meses e ainda não falei o essencial.
Sempre soube que cantar me faz muito bem (para falar a verdade, quando eu era criança meu primeiro desejo foi ser cantora). Dizem que ativa o chacra do coração. 
Para mim, cantar funciona como uma espécie de terapia: me ajuda a soltar as emoções que ficam engasgadas. Fora que o tempo do ensaio representa um desligamento total da realidade, já que não consigo pensar em mais nada a não ser nas notinhas e nas letras que preciso cantar. 
Mas existe um aspecto muito interessante do qual somente me dei conta na semana passada: à medida em que a gente vai ficando mais velha vai crescendo uma sensação de invisibilidade, de desimportância. Mesmo que a gente seja economicamente ativa e saudável, percebe que as oportunidades vão diminuindo. É uma sensação difícil de explicar e que é confirmada em estudos sobre a fase que se convencionou chamar de "melhor idade" (melhor para quem, cara pálida?) 
Pois cantar no Coro Experimental também contribuiu para melhorar minha autoestima. Eu me sinto valorizada pelo grupo, pelo regente e até pelo público (amigos ou apenas conhecidos) que me assistiram no palco. 
E tem mais um aspecto: adoro cantar em grupo. Acho que não tenho perfil (nem qualidades vocais suficientes) para ser solista, por isso eu me sinto tão realizada cantando em corais. 
Por isso, neste momento, o maior poder que existe para mim é o do canto, que me faz sentir viva, me emociona e me dá muita esperança. Vontade de resistir, de viver, de estar presente.
No próximo post, que virá em breve, falarei sobre outra experiência redentora: praticar Yôga.






quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O poder da palavra

Faz muito tempo que não frequento este espaço, mas hoje acordei chateada, triste, deprimida, e resolvi que precisava botar um pouco do que sinto para fora num espaço que é quase só meu.
Ontem à noite, assisti alguns minutos ao triste espetáculo que se desenrolou no Congresso, que livrou a cara de Temer.  Eu revivi sentimentos horríveis do dia 17 de abril de 2016, quando praticamente a mesma corja votou a favor do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff.
Nunca acreditei naquela conversa pra boi dormir de que o que estava em jogo era combater a corrupção no país e me admiro cada vez mais que tanta gente (de boa índole) tenha acreditado nessa lorota. 
Várias pessoas indagaram após a votação: você realmente acreditava que esse Congresso iria votar a favor de que Temer fosse investigado? Não devia, né? Mas, no fundo a gente sempre tem esperança num "final feliz", acreditando que boa parte dos deputados pudesse seguir a vontade da maioria da população. Tá bom, tirar Temer não seria um final e, tampouco, feliz, mas, pelo menos seria mais coerente com "a cruzada contra os corruptos" iniciada no momento em que Dilma foi reeleita. Como conviver com um presidente que recebe empresários na calada da noite para tratar de assuntos que estão longe de serem lícitos?
Estou tão desolada que preciso me segurar em alguma coisa para não desabar. 
Assisto quando posso à série "Os dias eram assim" na TV e fico me lembrando de tudo que nosso país passou nas últimas décadas. Choro diante da esperança que nos alimentou no período pós-ditadura em torno do sonho da democracia, de um governo justo em que não houvesse corrupção, discriminação, violência, tortura. 
Realmente tudo isso parece utopia num país marcado pela exuberância, mas também pela desigualdade, uma nação de coronéis, de puxa-sacos e de pessoas que sonham subir na vida sem esforço. 
Alguém há de dizer que estou sendo muito negativa e que há muita gente boa, batalhando honestamente por seu ganha-pão. Ok, mas então por que temos tantos parlamentares (em todos os níveis de representação) tão desonestos, tão venais? 
Outros irão dizer que tudo é uma questão de evolução, de educação, que nossa democracia é muito jovem. Tá, mas como ter educação e cultura se são essas as maiores e primeiras vítimas dos cortes orçamentários?
Enfim, hoje não tenho boas notícias para dar. Lamento. 
Assisti esta semana ao documentário "O Poder da Palavra", do diretor João Manteufel, que traz vários depoimentos de escritores, letristas, jornalistas, editores acerca do poder da palavra. Eu gostei do filme, me emocionei bastante com alguns depoimentos, principalmente com o do jornalista Lorenzo Falcão, que disse acreditar no poder da palavra. Ele contou uma linda história sobre uma reportagem que fez sobre um orfanato e um menino negro com poucas chances de ser adotado. Sua matéria motivou um colega jornalista a adotar esse menino e, anos depois, o pai adotivo pediu ao Lorenzo para contar a história ao filho adotado. 
"Minha palavra mudou a vida de uma pessoa, pelo menos", disse Lorenzo no filme.
Após a exibição, ele me disse ter certeza de que minha palavra, através do jornalismo, já mudou a vida de outras pessoas. Será? Quantas palavras já escrevi em livros, sites, reportagens publicadas em jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e, mais recentemente, de Mato Grosso? Será que elas mudaram a vida de alguém como sonhei na minha infância?
Sei que a palavra fere, traumatiza, machuca; ela tem o poder de manchar reputações, criar inimizades, mas hoje, sinceramente, estou acreditando mais no poder das atitudes. 
Um abraço diz muito mais que qualquer palavra. 
Um olhar pode transmitir mais reprovação, ódio ou desprezo do que uma palavra. 
Para mim, é mais fácil mentir (ou no mínimo, faltar com a verdade) quando escrevo do que quando olho no olho de meu interlocutor. 
E o que falar do dinheiro, o grande poder dessa nossa sociedade onde a aparência e o poder da compra estão acima de quaisquer valores?
Digo tudo isso para mim mesma para entender o que espero de mim e da minha vida aos 61 anos. É hora de continuar mentindo para mim mesma, me agarrando às pequenas mentiras do cotidiano ou será o momento de fazer algo em que acredito, por menor que seja?





domingo, 5 de março de 2017

Todas as cores do Duo Taufic

Foto de Marta Regina Torezam

Acabo de voltar do Sesc Arsenal, onde assisti pela segunda noite seguida ao show do Duo Taufic. Fui no sábado e, como levei o CD "Todas as cores" para casa sem pagar (estava sem dinheiro vivo), atendi à proposta do músico Roberto Taufic para ir hoje novamente e fazer o acerto.
Valeu! Nesses dias tão conturbados e desesperançosos, realmente é um bálsamo para meus ouvidos e meu coração ouvir música instrumental de tão alta qualidade, promovendo - segundo palavras do próprio Roberto - essa troca de emoções entre músicos e plateia.
A boa música instrumental não se faz apenas com virtuosismo e sim com muito sentimento, generosidade e disposição para compartilhar emoções e memórias - aquelas que nos trazem, de repente, um sorriso aos lábios ou uma lágrima aos olhos.
Conheci o Duo Taufic há uns sete anos num festival de jazz na Chapada dos Guimarães, organizado pelo músico Ebinho Cardoso. Os dois irmãos - Roberto e Eduardo - já estiveram em Cuiabá outras vezes, inclusive dando oficinas no próprio Sesc Arsenal.
Mas agora posso dizer que realmente me apaixonei pelo Duo Taufic. 
Roberto, ao violão, e Eduardo, ao piano, são dois músicos extremamente talentosos. Eduardo, mais explosivo, até pela força do instrumento, que nos remete aos grandes pianistas brasileiros dos anos 60/70 e 80. Roberto, mais discreto, me lembrou um pouco o estilo de Hélio Delmiro, porém com personalidade própria, muito criativo, competente, brilhante.
Num show de uma hora e meia recheado de composições próprias, está implícito o convite à viagem particular que cada pessoa da plateia faz em meio a acordes, improvisos, harmonias, ao "bate e rebate" que dá título ao primeiro CD do duo.
Após o show de hoje, descobri que os dois têm uma diferença de idade de 10 anos e que Eduardo era um menino quando Roberto já tinha uma banda de rock em Natal (RN). O irmão mais velho viajou para o Velho Continente e, em seu regresso, encontrou o caçula pronto para formar o duo. Acredito que ambos têm seus caminhos e trabalhos paralelos, mas quando se encontram para tocar ou compor é uma explosão de sensibilidade e muita sintonia.
O show contou com poucos temas conhecidos, como "Chega de saudade", de Tom & Vinícius, "Apanhei-te cavaquinho", de Ernesto Nazareth  e um arrebatador "Upa Neguinho" de Edu Lobo (só apresentado no show de sábado). Teve lugar também para  participações especialíssimas de duas cantoras da terra: Ana Rafaela e Deize Águena.
Sábado foi lindo; domingo, maravilhoso.
Roberto disse que vou ficar um tempo sem ouvir o Duo Taufic depois dessa overdose de shows. Claro que não! Comprei o CD "Todas as cores", que já vim ouvindo no caminho para casa. 
Sou assim mesmo, meio obsessiva quando gosto de alguma coisa. Agora vou ler os textos do encarte, que são de autoria de ninguém mais ninguém menos que Egberto Gismonti - minha grande paixão que espero um dia poder ouvir novamente numa apresentação ao vivo.
Cuiabá é uma cidade surpreendente e sempre oferece grandes atrações - principalmente através do Sesc Arsenal - para quem gosta daquele tipo de música que não se ouve nas rádios convencionais, nem na TV.  

PS. - Li os textos de Gismonti antes de dormir e cheguei à conclusão que sou mais sortuda que ele. O grande compositor e multi-instrumentista.diz no encarte do CD como gostaria de ouvir o Duo Taufic ao vivo. Pois eu tive essa oportunidade duas vezes num mesmo final de semana!

domingo, 5 de fevereiro de 2017

Diferenças entre Brasil e Austrália

Já falei sobre árvores, parques, a beleza e a segurança de Brisbane e outras pequenas cidades da Austrália que visitei há menos de um mês. Falta falar sobre pessoas.
A "City" em Brisbane
Gold Coast

Mas que pessoas? Australianos? Conheci poucos australianos. A Austrália é provavelmente um dos países que mais acolhe imigrantes e não é difícil esbarrar em brasileiros por lá.
A maioria são jovens na faixa de 25 a 35 anos. Embora muitos tenham visto de estudante, fica claro que a maior parte desses brasileiros (pelo menos, o povo com quem conversei) vai para lá sabendo que é possível conciliar o curso de inglês (ou qualquer outro) com trabalho. 
Alguns voltam para o Brasil depois de um tempo porque não se habituaram à nova vida, onde é preciso cuidar de casa, preparar sua comida, lavar roupa, estudar e trabalhar; ou porque sentiram muitas saudades da família ou porque têm certeza de que terão trabalho garantido no país natal (é o caso, por exemplo, de gente que tem pais ricos ou com negócio próprio). Mas muitos batalham para ficar por lá porque simplesmente se apaixonam pela cidade onde vivem ou pelo estilo de vida que a Austrália oferece. 
Uma das coisas que mais encanta na Austrália é que não existe um fosso social tão grande como no Brasil. Aqui trabalhadores braçais moram na periferia, enfrentam horas em ônibus ou trens lotados. Lá é possível para um brasileiro que trabalha como lavador de pratos, faxineiro, camareiro, entregador de pizza, garçom ou descarregador de containers compartilhar um apê legal com outros imigrantes, perto da praia ou num bairro bem gostoso. Dependendo do local onde trabalha, ele pode ir a pé ou de bike para o serviço.
Mas existe muitos outros imigrantes na Austrália: indianos, árabes, chineses, colombianos, argentinos, africanos, asiáticos e europeus de origens diversas.
Aparentemente os australianos lidam bem com isso. Por enquanto, parece não faltar trabalho para todos. Alguém do círculo de amigos de minha filha Diana comentou que talvez a realidade será outra daqui a uns 10 anos. É possível, mas por enquanto todos parecem conviver bem, embora os australianos sejam bem na deles. Minha filha está lá há quase três anos e não tem amigos australianos.
Fiquei amiga de um australiano enquanto estava lá e ele me pareceu um cara bem legal, mas, ao mesmo tempo, na dele. Tranquilo. A sensação que tenho é que realmente ainda há lugar ao sol (e que sol!) para todos, desde que se sigam as regras de lá. 
Não se pode ingerir bebida alcoólica nas ruas, esse tipo de bebida não é vendido em supermercados e sim apenas em lojas especializadas, não são todos os restaurantes que vendem bebidas alcoólicas, a tolerância quanto a pessoas alcoolizadas ao volante é zero. Isso não impede que os australianos bebam bastante, mas há regras a serem seguidas e os policiais estão por perto para agir quando elas são quebradas.
Surfers Paradise - a "Copacabana" ou "Ipanema" de Gold Coast
É possível se atravessar as ruas (quando o sinal está aberto para os pedestres) sem medo de ser atropelado, mas, segundo minha filha, os pedestres também podem ser multados (principalmente, na City) se transgredirem as leis. Quase não ouvi buzinas em Brisbane e nas estradas onde andamos e não vi um acidente de trânsito. Tampouco, buracos nas ruas.
Há multas pesadas para quem excede o limite de velocidade ou estaciona sem pagar, mas a diferença é que lá parece que os recursos arrecadados são realmente investidos em benfeitorias e infraestrutura. 
De volta ao meu país e à cidade onde moro (Cuiabá), a gente não pode deixar de se indagar: por que aqui tem que ser tão diferente? Será que o problema é cultural ou individual? Uma coisa é certa: temo não viver o suficiente para ver uma sociedade mais justa, mais segura e menos desigual no Brasil. Infelizmente.
Enquanto isso, veremos jovens graduados, operários qualificados trocando seu país para lavar pratos, descarregar containers, entregar pizzas, arrumar camas, limpar banhos e escritórios em países como a Austrália. 

segunda-feira, 30 de janeiro de 2017

Lembranças de parques e árvores

Os parques de Brisbane e de outras cidades que visitei durante minha temporada na Austrália são um capítulo à parte. 
No meu primeiro em Brisbane eu me apaixonei por New Farm Park - um parque situado a oito ou 10 quarteirões do prédio onde minha filha Diana mora. 

Situado às margens do rio Brisbane, New Farm Park é um lugar inesquecível por suas árvores, especialmente os flamboyants, cujo nome em inglês aprendi: Poinciana Tree. Tenho uma longa história de amor com os flamboyants, iniciada na infância em Corumbá. Quando vi os primeiros flamboyants no New Farm Park e nas ruas adjacentes eu me senti em casa.

Foi em New Farm Park que celebramos a véspera do Natal, num coreto, onde a ceia era composta por comidinhas diversas que cada grupo de convidados levou. 

Foi nesse parque que passeei com um amigo australiano, que me apresentou às diferentes rosas do jardim - cada uma com seu perfume peculiar.

Foi lá também que acompanhei a aula de boot camp de minha filha Diana. E durante um passeio, num sábado de manhã, descobri uma feirinha, onde provei um milho que me foi ofertado por um feirante muito charmoso. 
Esse era o parque da vizinhança, mas conheci também em Brisbane o Jardim Botânico durante uma caminhada no final da tarde onde abracei uma árvore, de tão linda que era (vou ficar devendo a foto, que está no celular de Diana; assim que ela me mandar eu publico).
No meu último dia em Brisbane, conheci Roma Parkland, onde me encantei com jardins floridos e os cuidados com que os parques são tratados.


Apesar da iminente despedida de minha filha, acredito que minha felicidade está estampada no meu rosto. 


Em várias cidades que visitamos, como Gold Coast e Noosa Heads (Sunshine Coast), conhecemos parques lindos junto às praias. Fizemos um passeio em Noosa Heads que foi simplesmente incrível! 
Caminhando por uma trilha à beira-mar, tínhamos de um lado a beleza estonteante do Pacífico e do outro a floresta. E o mais incrível é que todos esses parques têm uma estrutura fantástica, com banheiros limpos (e com papel higiênico), chuveiros, bebedouros e alguns com churrasqueiras para piquenique.
Já ia me esquecendo de citar outro parque que conheci: Walkabout Creek, em Brisbane, onde nadamos numa represa, repleta de pessoas de todas as idades.

É impossível não se apaixonar!

sexta-feira, 27 de janeiro de 2017

Aventuras em Joanesburgo

Este post é uma continuação do anterior, narrando (com detalhes) minhas peripécias na viagem de volta da Austrália, que demorou bem mais do que o esperado - e olha que o esperado já era muita coisa.
Mais do que alertar pessoas que eventualmente queiram fazer o caminho entre o Brasil e a Austrália, quero mostrar que, no final das contas, tudo vale a pena "quando a alma não é pequena" (como diz o poeta Fernando Pessoa).
Quando chegamos ao Aeroporto Internacional Oliver Tambo (passei muitas horas lá, por isso ele será para sempre inesquecível), ainda tínhamos a esperança de embarcar direto para São Paulo e eu me esforçava para afastar os pensamentos negativos. 
Ou nosso pensamento (meu e de uma galera que estava no mesmo voo) não foi suficientemente forte ou não há pensamento positivo que resista à lógica das companhias aéreas. O único voo da South African Airways (SAA) de Joanesburgo para São Paulo tinha saído às 11h15 e chegamos na África do Sul por volta de 21h.  Passamos pela imigração e presenciamos uma cena tensa: um senhor dizia em alto tom e de forma veemente para o funcionário "Você não pode fazer isso comigo!". Não sei exatamente o que aconteceu com ele, mas uma das pessoas do meu grupo acredita que ele seria deportado.
Fomos levados a um balcão da SAA onde uma funcionária seca só nos informou o nome do hotel onde dormiríamos (da rede Southern Sun) e onde deveríamos pegar o transfer. Confesso que nesse momento baqueei. Me bateram um cansaço e um desânimo imenso. A sorte é que já formávamos um grupo coeso de brasileiros-oriundos da Austrália-tentando chegar ao Brasil. 
Pegamos nossas malas novamente (eu só tinha uma pequena de mão e uma grande, mas havia gente com muitas malas enormes) e encontramos o transfer do lado de fora. Perguntei ao motorista se o hotel era longe e ele respondeu que sim, mas logo percebi um risinho e desconfiei que o sul-africano estava brincando comigo. 
O hotel ficava bem próximo do aeroporto. Por um lado foi bom porque estávamos exaustos e tínhamos que pegar o transfer de volta às 8h do dia seguinte; por outro, foi ruim porque nada conheci de Joanesburgo a não ser o aeroporto e o hotel.
Quando chegamos ao hotel, um funcionário muito antipático nos fez ficar uns 40 minutos na fila porque não havia apartamentos disponíveis em quantidade suficiente para todo o grupo. Uma vez resolvido esse problema, fomos encaminhados para nossos apartamentos. Pelo menos, o nosso grupo mais próximo (eu, Ana Paula, Camila, Felipe e Ruth) ficou no mesmo andar.
Mais esperta, pedi um adaptador e outro funcionário me explicou que poderia carregar meu celular na TV (demorei a encontrar o local, mas consegui). Também conseguimos senha para o wi-fi gratuito e combinamos de nos encontrar imediatamente para jantar.
Detalhe: o funcionário da recepção respondeu mal-humorado quando Camila perguntou até que horas era servido o jantar.
- Isso aqui é um hotel - disse.
Quando chegamos para jantar, havia poucas opções de comida. Perguntamos se haveria mais peixe e alguém respondeu que não. Enfim, comemos o que deu para comer e fomos dormir.
No dia seguinte, para nossa surpresa, o café da manhã foi maravilhoso. Farto, gostoso e, ainda por cima, gratuito. Na verdade, o sistema em Joanesburgo foi diferente: nós tínhamos direito à hospedagem, jantar e café da manhã e não a uma quantia X de dinheiro.

Antes das 8h fizemos o check-out e esperamos o transfer para o aeroporto. O check-in foi rápido e nossa alegria diante da ida iminente para São Paulo foi imensa. Além disso, tínhamos praticamente duas horas para passear pelo Aeroporto Oliver Tambo, com suas lojas incrivelmente atrativas. Fiquei maravilhada com a variedade e a beleza das bijuterias nas lojas, mas era preciso converter a moeda local (rand) para dólares norte-americanos (trouxe US$ 50 comigo por garantia).

Aos poucos, fui me cansando e só comprei algumas peças mais baratas (brincos e uma pulseira). Preferi me sentar com outras pessoas do grupo brasileiro e fiquei ouvindo histórias sobre suas experiências na Austrália. Estava cansada demais até para abrir a boca.
A viagem para São Paulo foi muito tranquila. Viajei ao lado de uma carioca que estava vindo de uma viagem na África do Sul e não tinha compartilhado nossas aventuras. Assisti a três filmes (não consegui terminar de ver o último - um filme espanhol incrível e inquietante, cujo nome não sei, infelizmente). Dormi um pouco, comi tudo que me foi oferecido (ou melhor, me esforcei para comer já que a comida estava horrível). Tomei uma garrafinha de vinho para tentar relaxar.
Quando chegamos a São Paulo, meu pensamento era um só: tentar falar com Carol, minha colega de trabalho, a quem pedi para tentar resolver o problema de minha passagem de Cuiabá para São Paulo, que não fazia parte do pacote SAA.  Sem bateria no celular, o jeito foi apelar para o velho telefone público (bendito seja!) até atravessar a imigração. 
Meu voo para Cuiabá saiu às 23h35 de São Paulo e encarei mais seis horas de aeroporto. Empurrei carrinho até o check-in doméstico da Gol, comi, carreguei o celular, falei ou troquei mensagens via whatsapp com algumas pessoas da família e me neguei a conversar com unas cinco pessoas que vieram me oferecer um livro de auto-ajuda sob o argumento de que aquilo os ajudaria a pagar a faculdade.  
Assim que entrei no voo para Cuiabá, desmaiei de sono, mas fui acordada por uma moça que estava do meu lado que, apavorada, me disse que estava tudo escuro lá fora e que sua irmã tinha lhe enviado mensagem dizendo que as luzes do aeroporto de Várzea Grande estavam apagadas. Apesar da minha letargia, sugeri a ela que conversasse com a comissária. Achei que já estávamos voando e que, portanto, era natural não ver luzes, mas vai que ainda estávamos no chão. Ou então, tivemos que voltar por conta de algum temporal ou imprevisto no aeroporto de Mato Grosso. Já estava me imaginando dormindo num hotel de Guarulhos.
Ela chamou a comissária e esta lhe explicou pacientemente que era normal as luzes não serem vistas quando o avião estava no ar, à noite. Disse que estava tudo bem e que já estávamos quase chegando ao nosso destino. Tive que me conter para não rir.
Cheguei em casa por volta de uma hora da madrugada. Fiquei feliz de encontrar meu apê, minha caminha, limpinhos e perfumados à minha espera, mas custei a pegar no sonho. No dia seguinte, tinha trabalho àx 7h30. Quem disse que acordei? Ainda sofro com os efeitos do jet lag.

quinta-feira, 26 de janeiro de 2017

O tal do jet lag ...

Há uma semana retornei a Cuiabá e desde então estou ensaiando escrever sobre minha recente viagem à Austrália, repetindo o que fiz há três anos, após breve viagem à Europa (Holanda, Alemanha e República Tcheca). É uma forma de registrar os acontecimentos mais marcantes da viagem e compartilhar minha experiência com quem estiver a fim.
O tal do jet lag, entretanto, me pegou de jeito. Todo mundo me falou que é normal e, segundo pessoas que fizeram viagens equivalentes, leva-se de três a sete dias para readaptar seu organismo ao novo fuso horário. Sabe o que é estar exausto e não conseguir dormir? Acordar de madrugada e não conseguir fechar mais os olhos, vendo o relógio se aproximar da hora de levantar para o trabalho? Pessoas que sofrem com insônia conhecem bem esses sintomas, mas não é o meu caso, felizmente.
Fiquei praticamente um mês indo para a cama no horário em que costumo acordar no Brasil, sendo que a diferença de fuso entre a região da Austrália que visitei e Cuiabá é de 13 horas.
Na ida, os meus voos mais longos foram no período noturno e, como cheguei a Brisbane, por volta de 23h30, o cansaço da viagem permitiu que eu dormisse, apesar da excitação do reencontro com minha filha Diana. 
Acordei cedo no primeiro dia, cansada, porém, excitadíssima com tudo que o dia me oferecia: passeio à City, almoço num restaurante grego no riverside  (em companhia de Bárbara, amiga de Diana) e uma caminhada até New Farm Park no final do dia, com direito a uma aula de Boot Camp com um professor neozelandês. Obviamente, abandonei a aula na quarta sequência de exercícios, com medo de ter uma lesão ou um ataque de coração no meu primeiro dia na Austrália. 

Esqueci de contar que tive a grande sorte de ter um upgrade no voo de São Paulo para Joanesburgo pela South African Airways (SAA): viajei na primeira classe. Foi um sonho: dormi divinamente numa poltrona que se transformava numa cama perfeita. E ainda tive o prazer de conhecer uma família brasileira no banheiro do aeroporto em Joanesburgo.  As três pessoas (mãe, filha e namorado da mãe) estavam viajando para Perth e a companhia delas amenizou bastante as horas de espera (cerca de 7h) no aeroporto O.R. Tambo, em Joanesburgo.

Mas a volta foi longa e complicada. Saí de Brisbane no final da tarde de uma segunda-feira (16 de janeiro), com a previsão de reaver minha mala somente no Aeroporto de Guarulhos, onde chegaria por volta de 17h do dia 17 (que já seriam 5 de madrugada do dia 18 na Austrália).
Ao chegarmos no aeroporto de Perth, depois de seis horas de voo e uma diferença de duas horas no fuso horário, fomos informados ainda dentro da aeronave da Virgin Airlines (parceira da SAA) de que teríamos que pegar nossa mala e nos apresentar no balcão da SAA. Achei estranho, mas não imaginava o que estava por acontecer. Até então não tinha encontrado brasileiros no voo e viajei entre um asiático e uma moça com traços maoris (população nativa da Nova Zelândia) com um bebê no colo. Nenhum dos dois demonstrou disposição para conversa.
Na fila do check-in conheci um jovem casal brasileiro, que retornava ao Brasil depois de um ano em Gold Coast, na Austrália. Ana e Gabriel me contaram que nosso voo para Joanesburgo, que deveria partir por volta de 23h, tinha sido cancelado por "problemas mecânicos".
Ali começou nosso calvário: depois de aproximadamente duas horas, em que enfrentamos a fila do check-in em meio a rumores de que tinha gente que já estava aguardando o voo para Joanesburgo desde a noite anterior (essas informações foram confirmadas), pegamos um transfer (um ônibus que parecia aqueles usados em transporte escolar) para o hotel onde passaríamos à noite.
A informação da SAA era de que teríamos um transfer de retorno ao Aeroporto de Perth a partir de 10h da manhã. Também fomos informados de que cada passageiro teria 50 dólares australianos para despesas no hotel. Na hora, me pareceu uma fortuna. 
No hotel Pan Pacific, após fazer o check-in com um funcionário indiano, fui encaminhada ao meu apartamento - confortável, bem no estilo executivo em trânsito. Fiquei morrendo de medo de perder a hora no dia seguinte já que meu celular estava totalmente apagado. No meu aparvalhamento causado pelo transtorno do cancelamento, nem me lembrei de pedir um adaptador para o meu carregador. Consegui pedir à moça do room service que me acordasse às 8h e depois também consegui programar o rádio-relógio. Já tive um em casa, mas quem garante que a programação vai funcionar? 


Depois de um bom banho e uma pizza marguerita no quarto, tentei dormir,  mas estava muito tensa, tentando imaginar as consequências do cancelamento do voo. 
Acordei por volta de 6h e não consegui dormir mais. Aproveitei para tomar um banho caprichado e me lembrei de solicitar um adaptador (ou um carregador) à telefonista. Deixei o celular carregando e desci para tomar café. Ainda bem que tive a ideia de ver com a moça da recepção qual era o meu saldo quando percebi que o café da manhã era pago. Para minha decepção, só tinha 15 dólares de saldo (a pizza custou 25, paguei mais 5 de serviço de quarto e 5 pela água mineral - eu me esqueci de que estava na Austrália e poderia beber água da torneira). Por sorte os funcionários do hotel eram todos muito simpáticos. 
O rapaz que recebia os hóspedes para o breakfast foi muito gentil quando perguntei o que poderia comer com 15 dólares. Ele me mostrou algumas opções do menu (o café completo custava 27 ou 37 dólares, não me recordo) e optei por uma que me permitia comer vários tipos de pães (com direito a manteiga, geleia), porém não incluía o café. O moço disse que me daria o café de brinde. 
Depois desse café da manhã meio tenso em que procurei em vão por caras conhecidas, subi ao meu quarto e finalmente consegui me comunicar com minha filha Marina, no Brasil. Pedi ajuda a ela para cancelar o hotel que tinha reservado para pernoite em Guarulhos no dia 17. Quando já estava quase descendo, Ana - a paulista que conheci na véspera - me ligou, atendendo a um pedido feito na noite anterior. Com medo de perder a hora e ficar esquecida em Perth, pedi a ela para me ligar caso não me visse na recepção do hotel de manhã.
Quando desci, o casal já tinha pego o transfer, mas logo conheci outros brasileiros que também esperavam um lugar no pequeno ônibus junto com vários estrangeiros, todos passageiros do voo cancelado. Foram várias viagens até o aeroporto. Eu estava muito ansiosa para saber se conseguiríamos pegar o voo para a África do Sul e, no percurso até o aeroporto, conversei com uma sul-africana muito simpática, que tinha ido visitar o filho (ou a filha) na Austrália. Como a invejei por estar tão perto de casa, já que eu ainda teria que enfrentar o voo até São Paulo e depois mais um voo até Cuiabá! No caminho, foi possível ver como Perth é uma cidade bonita.

No aeroporto de Perth, sem exagero, cerca de três horas na fila do check-in. Todo mundo junto: vários idosos, uma senhora de cadeira de rodas, um senhor com problemas visíveis de locomoção, crianças de todas as idades ... 
Mas conseguimos nosso cartão para embarcar num voo que saiu por volta de 15h de Perth. Uma vez dentro da aeronave, tive o prazer de descobrir que Ana Paula, a amiga que fiz no hotel pela manhã, estava no banco da frente. Conversamos sobre a possibilidade de pedirmos para meu companheiro de assento trocar de lugar com ela, mas ficamos com vergonha de pedir. O homem era brasileiro (não parecia) e se ofereceu para trocar de lugar com Ana Paula. Ficamos tão felizes! Conversamos por cerca de três horas (quando cada uma contou boa parte de sua vida) e iniciamos o longo voo (de 10 horas) até Joanesburgo, que foi muito tranquilo e agradável. 
Chegando a Joanesburgo ... Vamos deixar esse capítulo para um segundo post. 

domingo, 8 de janeiro de 2017

Domingo no parque

Domingo em Brisbane é especial. Estou há três semanas aqui, mas este foi verdadeiramente o meu primeiro domingo em Brisbane, já que no primeiro (25 de dezembro) ficamos em casa comemorando o Natal e no outro estava em Mooloolaba (a alguns quilômetros de Brisbane).
Por volta de 13h30 seguimos de ônibus para South Bank. Detalhe: o cartão da minha filha estava sem crédito (ela não sabia) e o motorista permitiu que fôssemos de graça.
Como descrever South Bank? É uma imensa área de lazer com piscinas públicas, áreas verdes, bares, lanchonetes e restaurantes, às margens de Brisbane River.





Não vi um policial em todo meu passeio, mas prevalece ali uma sensação de segurança. Enquanto tirávamos fotos, minha filha deixou sua bolsa e as cervejas que tínhamos comprado num banco. Dá para acreditar?
Seguimos andando e curtindo as pessoas com quem cruzávamos no caminho. Gente de bicicleta, a pé, famílias enormes passeando, tirando fotos. Chineses, indianos, brasileiros (em geral, casais ou um pequeno grupo de amigos) e australianos, é claro.

A gente se sentou numa área onde estava rolando uma música ao vivo. O som não estava muito alto, mas me encantei ao ouvir uma música de que gosto muito "Enchanted boy" - que conheci através da gravação de Caetano Veloso, mas soube que é uma das músicas mais gravadas do mundo.
Após tomarmos nossas cervejas, decidimos (minha filha Diana, Rogério, seu amigo brasileiro e eu) ir a um bar, onde também estava tocando música ao vivo. O bar estava cheio e, como a maioria dos lugares aos quais fomos até agora, é preciso pagar e pedir o se quer comer e beber. Os garçons apenas retiram as coisas da mesa depois que você comeu e bebeu.

O tempo estava ensolarado, mas agradável na sombra.
Muitas opções de lazer para crianças e adultos de graça. Saímos de lá por volta das 19h e me senti tentada a andar na imensa roda-gigante (20 dólares australianos por 10 minutos de passeio), mas fiquei com medo de não me sentir bem depois de tanta cerveja.



Atravessamos uma ponte a pé e entramos no cassino. Só para conhecer. Muitas pessoas jogando num espaço que lembra aqueles filmes passados em Las Vegas. Muitos asiáticos. O cassino é um espaço luxuoso, com música ao vivo. Coincidentemente, o cantor estava cantando uma música fofa, cujo nome não sei, mas que deve ser muito popular, porque foi interpretada por dois meninos que vimos tocando na rua em Mooloolaba. Mas decididamente jogar a dinheiro não é nossa praia ... Ganhamos 0,25 centavos numa máquina caça-níqueis e seguimos para casa.

quinta-feira, 5 de janeiro de 2017

Miscelânea

Tenho tanto a contar sobre minha temporada na Austrália! Quando voltar ao Brasil pretendo descrever com mais detalhes minhas andanças por aqui. Por enquanto, só quero aproveitar o notebook de um dos "mates" de minha filha Diana (obrigada, Diego!) para registrar um pouco das emoções dos últimos dias. Vício de quem gosta de escrever.
Estou cada dia mais apaixonada por Brisbane. 
Após o Natal, comemorado em casa com uma ceia brasileira/britânica, passamos alguns dias passeando por praias não muito distantes. Fomos a Byron Bay, uma cidadezinha charmosa que me lembrou um pouco Búzios por seu ar pitoresco, charmoso e, ao mesmo tempo, meio overcrowded. Em outras palavras, superlotada. Tinha engarrafamento na véspera do Ano Novo! As praias são simplesmente deslumbrantes.

Depois de Byron Bay, conhecemos Coolangatta - outra praia, onde passamos uma tarde depois de uma noite num hostel em Nimbi, que merece um post à parte. Não fiquei especialmente encantada com Coolangatta, embora seja um lugar bonito com belas praias. 
Após uma noite em Brisbane, partimos em direção a Sunshine Coast (ao Norte de Brisbane), onde conhecemos várias cidades e lugares: Noosa, Mooloolaba, Marrochydore, Brisbie Island e Redcliff. Muitos mergulhos, muitos deslumbramentos ... 

O melhor de tudo foi a caminhada em Noosa numa trilha que mesclava a beleza de um parque com o magnífico azul do mar, com direito a algumas praias pelo caminho. Inesquecível! 

Ano Novo em Mooloolaba num hostel não muito agradável. Muito barulhento e um pouco sujo, mas pelo menos tivemos sorte de ter um quarto só para nós três (Diana, o namorado e eu), já que a cama de cima do meu beliche permaneceu desocupada.

De volta a Brisbane, eu me senti em casa. Home sweet home. Logo depois de nossa chegada, um temporal desabou e o dia seguinte foi de tempo nublado e fresco - um alívio depois de vários dias de sol inclemente. 
Nos últimos dias, curti muito minha filha, principal razão de minha viagem. Fomos ao cinema (assistimos ao musical "La la Land" e ao desenho animado "Sing", ambos maravilhosos), cuidamos das roupas e outros afazeres domésticos. Assistimos a dois filmes em casa.

Fizemos algumas compras na City (o Centro de Brisbane) e hoje tivemos um dia perfeito: fomos a uma livraria onde todos os livros custavam 6 dólares (deu vontade de comprar um monte, mas só comprei um para mim). 

Visitamos museus em South Bank (o museu da Ciência, de Arte Contemporânea e de Arte Moderna). Nos divertimos muito nesse último. Vimos muita gente passeando. Até parece que todo mundo também está curtindo férias. 



Corremos para o cinema em South Bank, com direito a um saco de pipoca enorme e meia-entrada por ter 60 anos, depois acabamos almoçando/jantando num restaurante grego em South Bank.
Andamos de trem (na ida) e voltamos de ferry (na volta). Tivemos que caminhar um pouco até chegar em casa e acabei vendo as primeiras baratas nas ruas de Brisbane (meu grande temor). Diana morreu de rir das minhas corridas e pulos, e tentou em vão me convencer de que sou maior e mais forte do que elas (as baratas). Sugeriu que eu inclua isso nos meus propósitos para 2017: vencer meu medo de baratas. Será que consigo?