sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Chorinho: 22 anos de música e amizade

 
Marinho Sete Cordas em foto de Marcos Lopes

Compartilho neste espaço o texto que fiz para a divulgação do 22º aniversário do Chorinho. Aqui eu resgato um pouco da história deste espaço que aprendi a amar. Hoje, posso dizer que faço parte da história do Chorinho.
Há 22 anos, um grupo de moradores de Cuiabá, que gostava muito de choro, seresta e samba de raiz, começou a se encontrar em alguns locais da capital. Eram encontros regados à cerveja e música da melhor qualidade, que reuniam pessoas de várias profissões – médicos, professores, jornalistas – e no qual despontava um cearense, mestre na arte do violão de sete cordas. Esse foi o berço do bar Choros & Serestas e essa história merece ser contada esta semana, quando Antônio Marinho de Souza Fortaleza, o Marinho Sete Cordas, vai comandar as comemorações do 22º aniversário do popular Chorinho.
Mais do que um bar, o Chorinho continua sendo ponto de encontro de vários músicos, cantores e amantes da boa música popular brasileira. Hoje, estabelecido na Rua Estevão de Mendonça, nº 869, no bairro Quilombo, o Chorinho é um patrimônio cultural e artístico de Cuiabá e, como todo bom patrimônio, independe de sua localização. O Chorinho é Marinho e todos os músicos – profissionais e amadores – que se dedicam à casa e têm nela um local de diversão e confraternização.
“Fico muito feliz de conseguir levar esse movimento à frente em meio a todos os modismos”, comenta Marinho, numa referência aos momentos de altos e baixos enfrentados ao longo de mais de duas décadas.
No dia 21 de novembro de 1992, o bar Choros & Serestas nasceu no bairro Jardim Tropical, onde permaneceu até 2012.  Durante anos, o bar instalado no sobrado do Jardim Tropical, que ganhou o apelido carinhoso de Chorinho, manteve um público fiel, formado pelos integrantes do grupo fundador – a chamada Velha Guarda.
Aos poucos, uma nova geração foi chegando e, no final dos anos 2000, o Chorinho virou point da moçada, que fazia fila às quintas-feiras e aos sábados. Na roda de samba tradicional do sábado, novos grupos – como Conversa de Botequim e Orquestra de Boteco – foram gerados e muitos novos talentos aperfeiçoaram seus dotes artísticos.
O movimento no bar Choros & Serestas foi tão intenso que acabou incomodando algumas pessoas e os proprietários foram forçados a se mudar. Encontraram a melhor opção num restaurante da rua Estevão de Mendonça (perto do Choppão) que não chegou a ser inaugurado. Desde 24 de abril de 2012, o Chorinho funciona ali.
No início, houve um certo estranhamento por parte do pessoal da Velha Guarda, mas, aos poucos, o samba de qualidade e o talento de Marinho Sete Cordas, além de seu dom para atrair e cativar novos músicos e cantores, levaram muita gente a frequentar o bar novamente.
“Para nós, é um motivo de orgulho levar essa bandeira do samba de raiz, do choro e da seresta na capital mato-grossense, embora sempre estejamos abertos ao novo”, comenta Fátima Campos, que está à frente da administração do bar e restaurante junto com Marinho.
Eles lembram que o Chorinho já trouxe artistas de renome nacional a Cuiabá – gente do quilate de Monarco, Elton Medeiros, Délcio Carvalho, José Renato – e vários sambistas que vêm à capital fazem questão de curtir o ambiente do bar, como o veterano Nélson Sargento, que visitou o Chorinho após sua apresentação no Projeto Pixinguinha.
Toda essa energia estará no ar na próxima sexta-feira, quando os proprietários do bar Choros & Serestas vão comemorar os 22 anos da casa cercados pelos amigos cultivados ao longo do tempo.
“Será uma noite memorável e não poderíamos celebrar de outra forma, a não ser com uma roda de samba especial onde não faltará lugar para todos os amigos conquistados nesses 22 anos”, conta Marinho.

domingo, 9 de novembro de 2014

Domingo no parque




Há alguns anos minha "eterna vizinha" Camila Caetano me falou pela primeira vez sobre a dança circular. No início deste ano, ciente de que ficaria sem minhas filhas por um tempo, estava em busca de novas experiências e, quando a jornalista Liana Menezes me falou da dança, não pensei duas vezes.
Cheguei a frequentar o grupo de dança circular durante um mês numa academia, mas como o dia das aulas coincidia com o do meu curso de técnica vocal, acabei deixando o grupo, porém comecei a participar da roda que acontece um domingo por mês no Parque Mãe Bonifácia.
Confesso que no primeiro domingo fiquei meio envergonhada no início, já que dançamos sob os olhares de dezenas de pessoas que caminham na ampla área de lazer da entrada principal do parque. Mas, aos poucos, fui me esquecendo das pessoas e me entregando ao prazer da dança e da música.
Muita gente ainda desconhece a dança circular. Tenho um  pouco de dificuldade para explicar o que é e nem é meu objetivo aqui, mas posso garantir que é uma experiência mágica!
As pessoas sempre dançaram ao longo da história da humanidade e eu sempre invejei quem conseguia dançar apesar das dores, da tristeza, das incertezas do mundo, da escravidão, do apartheid e todas as formas de opressão.
A dança circular resgata essa capacidade do ser humano de dançar como um ritual, uma forma de comunhão, de união - com sua tribo, a natureza, o mundo, o seu self ... 
As músicas e os ritmos dançados são variados e de várias origens. As coreografias variam também, mas não há passos rebuscados e, tampouco, uma preocupação em se exibir ou dançar certo. 
Em geral, aos domingos, a roda é eclética e não raro abriga pessoas que nunca participaram da dança circular. Sol, nossa mentora, professora, sei lá o quê, explica pacientemente os passos e geralmente termina o "ensaio" dizendo que quando tocar a música tudo se encaixa.
Neste domingo, ela estava especialmente inspirada e até as coreografias que dizia serem simples pareceram mais complicadas. Às vezes a gente trombava com  o companheiro - ambos indo na direção errada ... Porém, tudo ficava divertido, intenso, a ponto de nos esquecermos totalmente de quem passava em volta e estranhava aquelas mulheres malucas (há homens no grupo, mas são sempre minoria, é claro) dançando uma dança maluca.
É uma dança solidária em que quem tem alguma dificuldade especial (como a adolescente deficiente visual, que está sempre sorrindo) é amparada por alguém mais seguro, experiente e paciente. 
É uma dança receptiva em que quem está de fora é bem-vindo, seja de qualquer idade.
É uma dança revigorante, que não cansa e estimula os sentidos do tato, visão e audição, e, nossa capacidade de percepção de espaço, do outro, de si próprio.
Hoje fiquei especialmente tocada porque Sol se lembrou de minha paixão por uma dança celta e nos convidou a executá-la citando meu nome. Uma honra muito grande para mim. É uma dança linda, com uma simbologia fantástica em que buscamos uma água imaginária numa fonte e depois nos banhamos com ela diversas vezes. Quando danço essa música eu me sinto como se estivesse numa montanha ou na clareira de uma floresta, num tempo muito remoto, fazendo alguma dança ritual. É muito comovente e fico louca para fazer essa coreografia novamente.
Em dezembro, não estarei aqui no segundo domingo do mês para reencontrar meus companheiros de roda, mas em janeiro estarei de volta e, se depender de mim, não perderei um só encontro, mesmo que ainda me custe um pouco acordar antes das oito no domingo de manhã. 
Mas vale a pena ... ah, como vale.
Dedico este texto à Liana, que me chamou para a roda, à Sol e as outras meninas responsáveis pelo nosso encontro e a todas as pessoas que atendem ao convite para alimentar a dança circular no Parque Mãe Bonifácia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ame-o ou deixe-o

Este ano descobri o tal do WhatsApp. É uma beleza! A gente troca mensagens rápidas, instantâneas e gratuitas com filhas e outros membros da família, amigos e colegas de trabalho.
Só que junto com a facilidade do aplicativo vêm os grupos. Não faço parte de muitos, mas os poucos dos quais faço parte já me causam irritação. 
Decididamente não sou uma pessoa de grupos. Acho que nunca fui. Não tenho a menor paciência para os KKKs, bom dias, vídeos e mensagens diárias de autoajuda. 
Para piorar as coisas, grupos criados com propósitos específicos - e aos quais aderi ou fui incluída - transformaram-se nos últimos tempos em pontos de difusão de propaganda política. Por esse motivo, estou quase abandonando alguns deles. 
Alguém pode argumentar que é bacana essa troca de ideias acerca de situação política do País. O problema é que os grupos se tornam microcosmos do Facebook. Se o Face já anda um pé no saco, imagine alguns grupos publicando os mesmos vídeos e mensagens como se fossem a última novidade do pedaço.
Na minha opinião, as pessoas não estão se informando e sim reforçando suas crenças, seus preconceitos e medos, numa repetição do que acontece na chamada grande mídia (leia-se revista Veja) e no Face. 
No Face, pelo menos, você pode excluir os "amigos" com posições muito extremadas e que nada acrescentam em termos de entretenimento ou informação, mas no grupo isso é impossível. É meio na base do "ame-o ou deixe-o".
De alguma forma, o acompanhamento dos grupos no WhatsApp está me fazendo acreditar cada dia menos na humanidade. As pessoas retransmitem informações infundadas (como, por exemplo, mensagens oferecendo serviços de utilidade pública, que são desmentidas depois) e replicam vídeos que fazem apologia da violência e de baixaria.
E por falar em baixaria, ontem desliguei a TV imediatamente quando ouvi as chamadas para o programa "Fantástico". Uma delas era a respeito de reportagem sobre o amor-bandido da Suzane - aquela ex-milionária que armou para que seus pais fossem assassinados. Que falta de assunto e que curiosidade mórbida em torno do romance de duas criminosas que se encontraram na cadeia! 
E assim a humanidade segue: com pouco tempo e oportunidade para assistir a espetáculos bacanas ou ler livros que façam alguma diferença em sua vida, mas com tempo sobrando para se entreter com bobagens (como as videocassetadas do "Domingão do Faustão") e toda a sorte de vídeos e reportagens bizarros.
Sei que estou parecendo uma velha rabugenta reclamando de tudo e de todos ... 
A propósito, parei de assistir à novela "Império" pelo excesso de violência e de personagens que abusam do direito de serem chatos, porém continuo resistindo a seguir os conselhos de amigos para dizer um adeus definitivo à TV aberta...

sexta-feira, 24 de outubro de 2014

Em busca da mocidade perdida

Parece que foi um sonho ... Foi tudo tão rápido. 
No último domingo, estive no Rio de Janeiro com a finalidade de participar de um encontro de colegas do Colégio Santo Inácio, em comemoração aos 40 anos da Turma de 1974.
Encontrei casualmente um colega dessa turma durante uma caminhada pela Praia de Ipanema na manhã desse domingo. Perguntei a ele se pretendia ir ao encontro e ele respondeu: "Boa lembrança". Mas não apareceu.
Meu colega deve ter suas razões para não ter ido ao encontro, como muitos não foram. 
Mas houve outros que vieram de fora - de Brasília, São Paulo, Santa Catarina. É claro que todos têm parentes no Rio como eu e aproveitaram a viagem para rever a família e outros amigos. 
Para mim, o encontro foi muito significativo, embora frustrado pela impossibilidade de ficar mais tempo já que precisava pegar o avião de volta a Cuiabá para trabalhar no dia seguinte (tentei uma folga na segunda, mas não consegui). 
Embora tenha aproveitado o encontro para um papo mais longo e privado com uma de minhas melhores amigas, eu precisava de mais tempo para poder saborear melhor o reencontro com os colegas do CSI.
Mesmo que eu fique mais 40 anos sem rever aquelas pessoas, gostaria de poder sentir melhor em que se transformaram aqueles jovens cabeludos, de uma época em que muitos de nós insistiam em ir à escola (uma das mais tradicionais do Rio) de Havaianas (daquelas antigas, de solado branco) e calças jeans surradas. E os cabelos? A maioria dos meus melhores amigos  se escondia atrás de vastas cabeleiras que lhes davam um ar rebelde e charmoso, no meu ponto de vista.
Fico me perguntando em que se transformaram aqueles jovens. Quantos realmente realizaram seus sonhos de juventude? Sei que alguns já nos deixaram e muitos deles foram lembrados no breve discurso de um colega, que não tive o prazer de escutar pessoalmente.
Para muitos desses meninos, que estudaram no Santo Inácio desde crianças, aquele prédio, aqueles pátios e corredores guardam muitas lembranças. Talvez alguns deles não guardem tão boas lembranças daqueles tempos e por isso sequer tenham vontade de rever os colegas. Talvez.
Para mim, mesmo que eu só tenha passado três anos lá, o Santo Inácio representou muito. Foi lá que consegui pela primeira vez me aproximar de meninos - seres que me pareciam extremamente assustadores. É claro que aos 16 anos eu já tinha tido alguns namoricos e, na verdade, não namorei ninguém no Santo Inácio, mas fiz muitos amigos, tive algumas paixões e sei que, modéstia à parte, também despertei paixões.
Foi um tempo de muitas descobertas e guardarei para sempre o prazer de tudo que aprendi, em sala de aula, nos corredores, no pátio e nos encontros na casa de Correias. 
Realmente gostaria de ter ficado mais, talvez até para reencontrar nos olhos e nas lembranças de meus colegas a adolescente tímida e sonhadora que fui nos anos 70. 
É mais talvez eu precise reencontrar essa menina sozinha ... Talvez eu nem a reencontre mais.

sexta-feira, 26 de setembro de 2014

Paulo Monarco - Inteiro



Em meio a tantas notícias ruins, encontrei meu oásis desta semana no show do compositor Paulo Monarco, no Teatro do Sesc Arsenal, na última terça-feira.
Há muitos artistas sensacionais em Mato Grosso, mas tenho um carinho especial por dois jovens talentos: Estela Ceregatti e Paulo Monarco, que já foram personagens de alguns posts neste espaço.
Estela ainda mora em Cuiabá, embora viaje cada vez mais para fazer shows fora de Mato Grosso com seu grupo Monofoliar.
Já Paulo bateu asas há uns dois anos e hoje mora no Estado de São Paulo. Continua viajando muito, encontrando novos parceiros, levando sua arte a outros rincões.
Quando ele volta aqui sempre procuro assistir à apresentação para conferir como está evoluindo seu trabalho e se continua o Paulo de sempre. Confesso que não fiquei tão entusiasmada nas duas últimas apresentações às quais assisti, mas na semana passada a chuva que caiu em Cuiabá acabou "atrapalhando" o show marcado para sábado no Jardim do Sesc Arsenal, mas, por outro lado, acabou nos brindando com uma apresentação bem intimista, que aconteceu na terça, no teatro, só para "iniciados".
A plateia era praticamente formada por velhos fãs de Paulo - gente como eu que vai atrás dele faça chuva ou faça sol. Não sei o quanto o show foi diferente da apresentação que aconteceria no jardim (não tive tempo de perguntar), mas durante quase duas horas (coisa inédita para os padrões do Sesc Arsenal) assistimos a um "pocket show", em que Monarco conversou muito com a plateia, embora sempre repetisse o bordão "Chega de conversa".
Apresentou suas composições, cada parceiro, contou histórias de bastidores, falou sobre seu processo de compor, interpretou antigos sucessos (cujas letras a maioria do público sabia de cor), apresentou novas canções, negociou os pedidos de bis e se mostrou um artista inteiro e de grande personalidade.
Conheci Monarco em 2008 (há seis anos!) quando ele ainda se apresentava no bar Choros & Serestas (Chorinho) ou no Clube da Esquina interpretando composições de Chico Buarque e outros bambas, enquanto ia introduzindo algumas composições suas. 
Aos poucos, foi abandonando o lado "cantor de bar" para se dedicar integralmente ao trabalho autoral. Já tinha cativado seu público ... Pena que esse público tenha permanecido mais ou menos o mesmo já que suas vindas a Cuiabá vão se tornando mais raras.
Por outro lado, acredito que esteja ganhando novos fãs em outros estados. 
Como ainda é muito jovem (27 anos), deve ir longe e espero poder continuar acompanhando sua evolução.    
Quem ler este post até o final e tiver curiosidade de conhecer mais Paulo Monarco, procure no Youtube.  Tem bastante coisa dele. No momento, (re) descobri a canção "Lata de tinta". É muito boa!
A propósito, se eu tivesse que definir o estilo de Monarco, não saberia o que dizer: samba, rock, pop? Só sei que suas melodias têm estilo, são surpreendentes e se casam muito bem com as letras escritas por seus parceiros, verdadeiras "teses", segundo o próprio Monarco.

PS: Não encontrei um vídeo de "Lata de tinta" na voz de Monarco, mas encontrei outros vídeos bem legais, que compartilho aqui:
https://www.youtube.com/watch?v=nS-mpKxX_zc
https://www.youtube.com/watch?v=ZVDhTIhgYBQ 
https://www.youtube.com/watch?v=utafOZOZUXo


 

quarta-feira, 17 de setembro de 2014

E ainda há quem ache graça

Ontem fiquei especialmente tocada com dois acontecimentos aparentemente desconexos.
No primeiro, ouvi a conversa de alguns colegas de trabalho relatando fatos trágicos ocorridos em diversas cidades brasileiras: agressões terríveis feitas por namorados a namoradas, ou a assaltantes. O que me chocou foi o fato de saber que eles recebem vídeos mostrando essas agressões e até acham graça. E eles, meus colegas, são pessoas "normais", tipo gente boa que parece incapaz de fazer mal a uma mosca.
Fiquei chocada, mas me calei. Por quê? Medo de não ser compreendida por não entender por que as pessoas se divertem assistindo a vídeos desse tipo. É como se tudo fosse uma grande farsa e o sangue, a dor do outro não fossem reais. 
Eu odeio assistir a brigas (reais ou fictícias), a lutas (de boxe, MMA, etc) e a qualquer tipo de filme ou qualquer espetáculo que tenha a violência como tônica ou fim em si mesmo.
Sei que a violência existe, mas não consigo aceitar que ela seja transformada em espetáculo. Isso me remete aos tempos em que gladiadores lutavam até a morte e cristãos eram devorados por leões no Coliseu romano ou em outros tipos de arena.
Chego a pensar que se tive vidas passadas devo ter sido uma vítima desse tipo de "espetáculo" ou vilã de tal forma que essas coisas mexem comigo. 
E o outro fato? Foi a leitura de uma notícia sobre o relatório feito por um brasileiro, Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão da ONU, sobre a violência na Síria (http://oglobo.globo.com/mundo/violencia-afetou-ate-4-milhoes-na-siria-diz-paulo-sergio-pinheiro-3344107)
Fiquei extremamente chocada com os fatos levantados pelo relatório, como o caso de um jornalista de oposição, preso e torturado pelas forças do governo e depois por representantes do Estado Islâmico. Há também relatos de apedrejamento de mulheres até a morte. 
Como ficar indiferente e insensível a esses fatos? E, ao mesmo tempo, o que fazer para impedi-los? Eu me sinto terrivelmente impotente e resisto à ideia - tão aceita por alguns - de entregar tudo às mãos de Deus ("Deus no comando", dizem) ou de achar graça em tudo isso. 
Na Síria, na África, em Cuiabá ou em qualquer parte do Brasil, a violência me choca e me faz acreditar menos no ser humano. Quero ser positiva, pensar em coisas boas, mas esses fatos e relatos de casos de violência insistem em martelar minha consciência e desafiar meu equilíbrio.

quinta-feira, 4 de setembro de 2014

Compartilhando

Outro dia ouvi uma frase que me tocou, dita pela estilista Martha Medeiros num evento de moda. Ela disse algo mais ou menos assim: "Quem compartilha, cresce". 
Eu tenho a maior vontade e, ao mesmo tempo, a maior dificuldade para compartilhar. Isso pode parecer contraditório, e é. Tem um lado meu que tem vontade de gritar para o mundo meus sentimentos, minhas angústias e todas as minhas incertezas e certezas.
Esse blog nasceu dessa vontade e cumpriu o seu papel de ligação com o mundo. 
Eu ficava feliz quando minha irmã Jane comentava que um amigo de sua filha dizia para ela que seguia e curtia meu blog. Achava aquilo tão improvável: que uma pessoa do Rio de Janeiro gastasse alguns minutos de seu dia para ler minhas observações sobre a vida em Cuiabá, minhas viagens e sobre o interior - do País e meu. 
Durante alguns anos, alimentei o blog constantemente, fiz novos amigos através dele e me conectei mais com outras pessoas, conhecidas ou não. 
Aos poucos, fui perdendo a vontade de escrever, talvez em parte por conta do Facebook. A rede social atende àquela necessidade mais urgente de desabafar, contar alguma cena interessante, de compartilhar um pouco do que você é. Por outro lado, as redes sociais banalizam o ato de escrever: escreve-se tanto e sobre tanta coisa (muita bobagem) que a gente acaba perdendo o tesão de escrever mais, de ir um pouco mais fundo. Para quê?
Essa é a pergunta que sempre me fiz: para quê se escreve? Para informar, para confundir, para despertar, para tocar, para alegrar, para existir?
Estou atravessando uma fase difícil, mas necessária.  Minhas duas filhas que amo de paixão estão fora de casa: a mais velha na Austrália, vivendo sua experiência de estudar e trabalhar num país estrangeiro; a mais nova no interior de São Paulo, concluindo seu curso de graduação, após um ano vivendo na Europa por meio do programa Ciência sem Fronteiras.
Elas sabem que tenho muito orgulho delas e que fico muito feliz que estejam vivendo tudo isso, mas o vazio que fica é muito grande e nem um pouco fácil de ser preenchido. Tento preencher esse vazio com trabalho, academia, música, mas ele persiste. Às vezes, é bom ficar sozinha e sentir o tamanho dessa dor. 
Hoje tive vontade de recorrer ao bom e velho "cá entre nós". Talvez ninguém vá ler o que escrevi, mas sendo assim retomo o sentido original do blog - uma espécie de diário onde a gente se expõe e compartilha aqueles sentimentos e opiniões que não tem coragem de dizer de viva voz. 
Acho que é por isso que meu blog não fez "sucesso" no sentido mais comum do termo: não quero vender nada, não tenho nada a ensinar. Apenas compartilho algumas experiências bacanas e meus sentimentos sem qualquer preocupação literária ou de estilo. 

domingo, 13 de julho de 2014

Teve Copa




Os últimos 30 dias foram atípicos. Tiveram momentos de muita expectativa e ansiedade, momentos deliciosos (como as horas passadas com meus hóspedes estrangeiros: a australiana Jennifer e seu marido, o holandês Ruud; os canadenses David e Désirée; o chinês Sam e sua namorada, a filipina Johana) e momentos de decepção.
Foi muito gostoso a realização de alguns jogos da Copa em Cuiabá, apesar de toda expectativa negativa e da raiva passada por conta do atraso de muitas obras (para falar a verdade, essa raiva não é passado e continua viva). A Arena Pantanal ficou linda, cumpriu seu papel e agora a pergunta que fica é: o que será feito desse grande estádio a partir de agora? 
Os turistas vieram, principalmente chilenos e colombianos, e saíram satisfeitos com a hospitalidade mato-grossense.
Foi uma delícia assistir a alguns jogos do Brasil no bar Choros & Serestas (o meu querido Chorinho), apesar de o local ter sido cenário da partida fatal com a Alemanha. 
Falar desse jogo é chover no molhado: não acho que ocorreu um apagão de 5 ou 6 minutos. Acho que nossa seleção era fraca, muito dependente de um jogador só (Neymar) e se perdeu muito tempo com firulas. Cabelinho pra cá, visitas nada produtivas, enfim, prevaleceu o show e faltaram treino, aplicação e um esquema de jogo mais inteligente. Faltou trabalho.
Alguém pode dizer que é fácil falar depois do leite derramado. Nunca cheguei a me empolgar com essa seleção (difícil se empolgar depois de um jogo como aquele contra o México), embora tenha curtido muito o jogo contra a Colômbia. Fiquei sempre na saudade dos grandes escretes que vi jogar, que podiam até perder (como perdeu a geração de Zico e Sócrates), mas impunham respeito em campo e faziam nosso coração disparar de orgulho e emoção, e não de medo de rodar - ou de levar uma goleada histórica.
Tomara que o que aconteceu sirva de estímulo para mudanças. 
Gostei da vitória da Alemanha. Embora quisesse permanecer neutra (afinal, tínhamos a possibilidade de um campeão sul-americano), não escondo que torci pela seleção alemã, por ene razões ... Seria insuportável ficar ouvindo Maradona e outros argentinos curtindo com a nossa cara. Pelo menos, no caso dos alemães, não teremos que ouvir gozações e, se ouvirmos, não entenderemos ...
Andei fazendo uma pesquisa básica num momento mais monótono do jogo deste domingo e constatei que em 20 torneios de Copa do Mundo, o Brasil sagrou-se pentacampeão, Itália e Alemanha são tetra, Uruguai e Argentina são bi e os outros campeões são Inglaterra, França e Espanha. 
Faz 12 anos que um time sul-americano não ganha uma Copa, já que os últimos campeões foram Itália (2006), Espanha (2010) e agora Alemanha. 
Tivemos grandes representante do futebol americano nesta Copa e no final grande parte dos latino-americanos (pelo menos os brasileiros) torceu por uma seleção europeia. Fazer o quê?
Antes que eu me esqueça, não podemos deixar de destacar a prisão de lideranças dos protestos de rua, nos últimos dias. Confesso que ainda não me informei suficientemente sobre o assunto, mas ao que tudo indica as prisões foram arbitrárias. Pelo que vi hoje o pau voltou a comer no Rio de Janeiro no entorno do Maracanã. Confesso que estou com medo do que vem por aí ... Sempre achei que a combinação Copa do Mundo e eleições era totalmente indigesta. Aqueles que achavam que a vitória do Brasil iria favorecer a reeleição da presidente Dilma devem estar felizes ... Só o tempo dirá o que vai acontecer. Só sei que aqui em Mato Grosso teremos pela frente uma disputa bastante acirrada. 

PS. A foto ilustra a parceria dos alemães com os índios Pataxó do Sul da Bahia. Pode ter sido jogada de marketing, mas é melhor um marketing tem traz benefícios para uma população sofrida e carente do que o marketing pelo marketing, que só beneficia o patrocinador e seu(s) garoto(s)-propaganda.

domingo, 29 de junho de 2014

Oh Jardineira ...




Minha família é cercada de histórias, que vão sendo contadas de pais para filhos. Algumas se perdem pelo caminho ...
Uma das histórias que sempre me comoveu foi a de que minha irmã Jandira nasceu num dia de carnaval de 1939 (acho que foi numa Terça-feira). 
O carnaval marcado pela marcha "Jardineira".  Aquela que diz:

"Oh Jardineira, por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
- Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu."

Contam que meu pai Júlio Baptista estava no baile (no Corumbaense?) quando foi avisado que sua mulher Nilzalina tinha acabado de dar à luz mais um filho.
- Pierrô ou colombina? -  perguntou.
Não sei se tudo isso é verdade, mas escrevo curtindo a história que embalou minha imaginação e ajudou a construir o mito em torno de meu pai.
Mas isso é passado. Só sei que Jandira adorava carnaval quando moça e foi num baile de carnaval que conheceu o seu Manoel. Que eu saiba foi o único e grande amor de sua vida. Tive a honra de ser dama em seu casamento, em 27 de julho de 1963.
Jandira era uma pessoa muito especial como todos que a conheceram sabem. Romântica, delicada, extremamente preocupada, amorosa ao extremo, perfeccionista.  
Uma mulher de fibra. Lutou até ter sua filha única e linda, Luciana, que amava de paixão, mas seu coração era igual coração de mãe: tinha lugar para todos os sobrinhos (devem ser uns mil, contando os sobrinhos de Manoel) e para os netos. 
Ela anotava as datas de aniversário de todos com sua letra miúda e não precisava do Facebook para se lembrar de cada um.
Jandira era firme em suas posições e delicadamente procurava impor suas vontades. Por trás da mulher aparentemente frágil, exista uma mulher super bem informada e de opinião.
Infelizmente, ela tinha baixa autoestima como muitos de nós da Família Baptista. Achava que era pouco instruída e menos interessante que a maioria das pessoas ... Uma bobagem ...
Mas tinha muitos amigas, de longa data, que cultivava como se fossem flores de seu jardim. 
Era uma pessoa que sempre tinha tempo para os outros e eu vou sentir muita falta de seu carinho, de sua atenção.
Foi ela que veio me dar suporte quando nasceu minha filha Diana, em janeiro de 1990. Fez o papel de mãe para mim, que tantas vezes fez na minha infância, me dando banho, me alimentando, me penteando, dividindo as tarefas de mãe com minha irmã Junilza, numa época em que mamãe me parecia distante (é claro que isso mudou depois).
Por isso, perdi uma irmã e uma mãe.
Mas, como diz a marcha que marcou sua vida:

"Vem Jardineira, vem meu amor
Não fiques triste que esse mundo é todo seu
Tu és muito mais bonita que a Camélia que morreu".

Pelo que soube, Jandira foi embora como uma flor ... Que descanse em paz em seu novo jardim e siga seu destino!
A nós, resta o papel de reverenciá-la e estarmos juntos para sempre, mantendo viva a chama de seu amor incondicional.

quinta-feira, 5 de junho de 2014

Minha Missão - Deize Águena canta a poesia de Paulo César Pinheiro



Hoje não quero falar de corrupção, descaso, violência, nada disso. Vou falar de música, de poesia. Deize Águena, uma amiga cantora vai bisar no Teatro do Sesc Arsenal, neste final de semana, o show "Minha Missão! Cantando Paulo César Pinheiro".
Assisti ao espetáculo há um ano no Cine Teatro Cuiabá, mas o show criado por Deize traz tanta informação que, com certeza, merece se revisto.
Conheço a obra de Paulo César Pinheiro há muito anos, por conta de algumas composições mais famosas como "Viagem", parceria com João de Aquino - uma pérola que ele escreveu ainda adolescente. Sabia que tinha sido casado com a cantora Clara Nunes, mas nunca tinha me debruçado muito por sua obra e vida até que há dois ou três anos li o livro "Histórias das minhas canções" de Paulo César Pinheiro. Adorei! Descobri que um monte de sambas que aprendi a amar frequentando o Chorinho (o bar Choros & Serestas, em Cuiabá) tem letras suas.
Paulo César é um letrista profícuo e muito inspirado, um verdadeiro poeta! Por ser letrista, acaba ficando um pouco ofuscado por seus parceiros famosos como João Nogueira e Baden Powell, para citar dois dos mais assíduos.
Ao assistir ao show de Deize, conheci novas composições de Paulo César e (re)descobri outras que nem sabia (ou não me recordava) que eram dele, como a belíssima "Desenredo" (parceria com Dori Caymmi).
Sei o quanto Deize se esforçou para realizar esse espetáculo, que merece ser visto por muitas pessoas daqui, de outras cidades, por vários motivos, entre eles, a originalidade da proposta. 
Ela se uniu a grandes músicos e grandes parceiros profissionais para realizar "Minha Missão" - um título que vai além do próprio espetáculo e que foi tirado de uma parceria de Paulo César com João Nogueira (um samba magnífico).
Deize fez desse projeto "sua missão", que é levar arte, sentimento, beleza e conhecimento a quem se dispuser a ouvi-la.
Digo tudo isso aqui com um intuito: compartilhar com um número maior de pessoas a possibilidade de assistir a um espetáculo tão bonito! Posso fazer isso, sem medo, porque já garanti meu ingresso para sábado.

domingo, 25 de maio de 2014

O Diário de Anne Frank




Acabo de reler o livro "O Diário de Anne Frank". A releitura de um clássico lido na minha adolescência (há mais de 40 anos!) se deu por conta da recente visita feita ao museu instalado na casa onde Anne se escondeu durante a Segunda Guerra Mundial, em Amsterdam.
Adorei o livro e super recomendo sua leitura a pessoas de qualquer idade. É claro que tem uns trechos mais monótonos, considerando que a história se passa o tempo todo numa ambiente só, mas a obra é de uma beleza ímpar.
Anne é uma adolescente muito especial, com um talento enorme e que viveu uma experiência excepcional, ao se abrigar durante pouco mais de dois anos no Anexo Secreto durante a perseguição aos judeus pelos nazistas.
Além de descrever os perrengues vividos no Anexo (em que compartilhou o espaço com outros três membros de sua família, três integrantes de outra família e outro homem), ela fala sobre as expectativas em relação ao desenrolar da guerra e, principalmente, sobre seus sentimentos, angústias e esperanças.
Sim, Anne é uma pessoa extremamente otimista! Ela sonha voltar à escola, namorar, fazer coisas como outras meninas de sua idade e ser jornalista e uma escritora de sucesso. Pobre Anne, mal sabia que se tornaria uma escritora de sucesso, porém autora de uma obra só.
É muito triste saber que aquela menina tão cheia de vida e talento não sobreviveu aos horrores da guerra, assim como a maioria de seus companheiros de Anexo (só seu pai Otto Frank sobreviveu e é o grande responsável pela obra da filha vir a público e pela transformação do anexo em museu).
A história de Anne é naturalmente um alerta contra os absurdos de uma guerra e da perseguição aos judeus. Infelizmente, parece que seu alerta não tem sido de grande valia num mundo onde o preconceito e a guerra continuam sendo a tônica.
Por incrível que pareça eu me identifiquei com Anne em muitos momentos e seu exemplo me serviu de referência para não me queixar de pequenos dissabores da minha vida. 
Ao contrário de Anne, tenho liberdade, conforto, comida à vontade... E o máximo que posso fazer agora - em retribuição à sua dedicação ao diário que motivou esse post - é contribuir para sua divulgação. 
Na minha adolescência "O Diário de Anne Frank" era leitura obrigatória. Não sei se continua assim, mas deveria continuar sendo. Mesmo que não evite guerras (como a que está acontecendo agora na Ucrânia) sua obra nos faz pensar sobre o que realmente é essencial na vida e nos mostra como o ser humano pode ser tão belo mesmo em condições tão adversas.
 

segunda-feira, 12 de maio de 2014

Deboche

Essa foto foi feita por mim no dia 26 de abril numa área nobre de Cuiabá: a Avenida Getúlio Vargas, nossa Champs Elisées

Estou tão irritada com o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, que preciso desabafar.
Está circulando em vários sites de MT uma entrevista que ele deu por ocasião da visita do ministro do Turismo a Cuiabá na semana passada. Entre outras pérolas, o governador compara Cuiabá a Paris dizendo que a população (daqui, é claro) precisa mudar o "conceito cultural" ao olhar para as obras em andamento.


“Lá fora, você viajar e ver obra é algo chique, é coisa de país desenvolvido. Aqui, obra é transtorno. Tem que mudar esse conceito. Quando virem obras aqui, têm que pensar que essa cidade é desenvolvida, pujante, cresce 10% ao ano. É assim que o povo, lá fora, pensa culturalmente. Aqui, parece que atrapalha eu ter quase 70 intervenções (obras)”, disse o governador (www.midianews.com.br)
Para quem não vive o dia a dia de Cuiabá os comentários do governador poderiam até fazer algum sentido, mas para quem conhece o caos instalados na capital mato-grossense e na vizinha Várzea Grande essas palavras soam como deboche.
Nos últimos três anos Cuiabá e Várzea Grande se transformaram num imenso canteiro de obras. A proposta, diziam os administradores, era aproveitar a Copa do Mundo para fazer as obras imprescindíveis à realização de quatro jogos em Cuiabá (da primeira fase) e também outras obras necessárias à capital de um estado em franco crescimento.
O problema é que foram iniciadas várias obras ao mesmo tempo sem qualquer planejamento. Nem vou entrar nos detalhes técnicos que abundam no noticiário regional e sim no lado prático de quem está no meio desse caos. A sinalização dos desvios é precária (aliás, o adjetivo precário é pouco para dimensionar o tamanho dessa precariedade), as obras caminham a passos de tartaruga (muitas não ficarão prontas antes do início dos jogos e a gente sequer sabe se ficarão prontas um dia) e, o que é ainda pior, as que ficam prontas estão sob uma saraivada de críticas devido a problemas que surgem mal são inauguradas. 
Esta lista inclui o Aeroporto Internacional Marechal Rondon e todo o trajeto que liga a cidade de Várzea Grande (onde está localizado) a Cuiabá.
Há poucos dias recebi uma mensagem de um estrangeiro que vai se hospedar em minha casa durante a Copa dizendo que não via a hora de chegar a Cuiabá. Juro que me senti desconfortável. Minha vontade foi lhe dizer: "Não fique tão ansioso para chegar. A cidade está acabada e não sei se eu viria se fosse você". É claro que não disse nada. O cara é adulto e nem tenho intimidade com ele para isso.
Mas, voltando às declarações do governador,  é muita cara de pau do Silval comparar Cuiabá a Paris.


“Lá (em Paris), se você quer ir ao museu, você enfrenta fila. Aqui, vem um e pega uma fila com dois ou três à sua frente e já fica chiando. Isso lá é normal. Se você vai visitar a Torre Eiffell, tem que pegar uma fila do tamanho do mundo. Você vai pegar um transporte público, é aquela fila, aquele transtorno. E é um país que está 1.500 anos na nossa frente”, disse.

Ora, você enfrenta fila para subir a Torre Eiffel se quiser. Eu mesma já fui a Paris três vezes e nunca subi a Torre Eiffel. É uma opção de quem está a fim (e tem tempo) para fazer turismo. Mas você consegue andar Paris inteira (e outras cidades da Europa e dos EUA) usando metrô e outros meios de transporte público. Vai fazer isso em Cuiabá!
Enfim, a comparação é tão sem sentido que só dá raiva. Essa raiva só aumenta quando a gente assiste à propaganda política do PMDB (partido do Silval) falando sobre tudo que fez pela saúde, educação e pelo turismo de Mato Grosso.
Acredite se quiser e quem quiser!

Foto do Diário de Cuiabá, feita há cinco dias, mostra o estado de rotatória próxima à Arena Pantanal

sexta-feira, 9 de maio de 2014

Um Dia das Mães muito especial




Tenho um bom motivo para voltar ao blog: o Dia das Mães.  Este, com certeza, será um dia das mães muito especial - o mais solitário da minha vida.
Não pensem que estou triste. Estou estranhamente serena. Minhas duas filhas - os seres mais lindos que eu poderia ter na minha vida - estarão a milhares de quilômetros de distância. Marina, estudante do programa Ciência sem Fronteiras, está temporariamente na França (por conta do estágio obrigatório). Diana, recém formada em Arquitetura, estará chegando na Austrália, onde ficará por cinco meses.
Saber que as duas estão bem e realizando projetos maravilhosos é sem demagogia meu maior presente.
Tenho certamente uma grande participação nesse desejo de viajar, aprender novas línguas e culturas. Acho que essa participação se dá pela genética (somos uma família de viajantes) e pela educação.
Sou uma mãe protetora (acredito) e reconheço que mimei demais minhas filhas. Falhei em alguns aspectos (alimentação, dedicação às tarefas domésticas, organização, etc), porém acertei em outros tantos. Minhas filhas são leais, sinceras, curiosas, éticas, amorosas, carinhosas, comprometidas e inteligentes, além de bonitas (sorte delas).
É claro que não sou a única responsável por isso. Longe de mim chamar para mim a responsabilidade por todos os aspectos positivos e negativos das minhas crias.
O que pesa mais na formação de uma pessoa? A genética, o meio cultural em que vive, o meio familiar em que foi criada, vidas passadas?
Não sei. Só sei que criei minhas filhas com muito amor e me dediquei bastante a elas. Tenho saudades de várias fases e não posso dizer que não tenha aproveitado cada minutinho delas: a fase da bronquite e das dores de ouvido, das cólicas, das mamadeiras, das fraldas (de pano) a serem trocadas (e eventualmente lavadas por mim), dos primeiros passos (e dos tombos), das primeiras palavras, dos primeiros dias na escola, das festinhas de São João, final de ano, etc, das viagens à fazenda no Pantanal (de caminhonete, trator e avião teco-teco), das primeiras viagens ao Rio (de carro ou avião), das primeiras grandes amizades (muitas delas preservadas até hoje), das festas de 15 anos, das idas ao salão  de beleza, das tardes no shopping center (já em Cuiabá), dos passeios com a escola até chegar as fases dos voos maiores: faculdade, mudança de estado (no caso de Marina) e finalmente mudança de país.
Nossa bagagem é grande e foi construída com muita cumplicidade. Talvez, eu devesse ter sido mais firme às vezes. Talvez.
De uma coisa tenho certeza, meu amor e confiança nessas duas meninas/mulheres (ou mulheres meninas) é incondicional e é sempre muito bom ouvir suas risadas, e sentir a ponta de travessura na voz quando me chamam de Marthinha.
Quisera eu impedir que chorassem e sofressem, mas chorar e sofrer fazem parte da vida.
Por isso, quero muito poder estar perto para consolá-las quando isso acontecer.
Estou fisicamente longe agora, porém como é bom viver num mundo de tecnologias que amenizam essa distância. Viva a internet, viva o Facebook, viva o email, o celular e, principalmente, o skype!

PS. Dedico este post a todas as mães que sentem o que eu sinto, mas dedico especialmente à memória da dona de casa Fabiane Maria de Jesus, que foi covarde e injustamente assassinada em Guarujá após ter sido confundida com uma mulher imaginária (ou criada por um site irresponsável) que estaria sequestrando crianças para fazer rituais de magia negra.

segunda-feira, 17 de março de 2014

Yamandu e OEMT


Foto Rai Reis
O concerto do violonista e compositor gaúcho Yamandu Costa com a Orquestra do Estado de Mato Grosso (OEMT), ao qual assisti no domingo, 16 de março, foi lindo, emocionante, arrebatador, inesquecível!
Desde o momento em que soube que Yamandu Costa iria se apresentar em Cuiabá fiquei alucinada com medo de não conseguir um ingresso, já que as entradas para os concertos da OEMT são sempre bem disputados. O preço é barato (R$ 10, a inteira), o que explica em parte o sucesso das apresentações. O fato é que a OEMT conseguiu formar um público bacana e fiel desde sua criação em 2005.
Sou apaixonada por violão e sei que Yamandu Costa é um dos mais importantes instrumentistas da atualidade do mundo inteiro. Aos 34 anos, esse ex-menino prodígio gaúcho conseguiu superar minhas expectativas. 
Ele é comunicativo (embora eu não tenha conseguido entender boa parte do que disse no palco), escrachado e se envolve de uma forma absurda com a apresentação. Como acontece com a maioria dos músicos geniais, Yamandu parece tocar violão com extrema facilidade."É uma força da natureza", como disse Marcus, um velho amigo do Rio de Janeiro.
É claro que isso deve ser fruto de muito trabalho, muito ensaio, mas o fato é que o cara nasceu para tocar violão. 
Ontem (e sábado), ele tocou composições suas: "Concerto de Fronteira" (estreia), "BachBarbaridade" e "Os Segredos da Vivência/Sarará". Interpretou também um Piazzolla ("Decaríssimo"). 
Sem o solista convidado, a OEMT apresentou "El canto de mi selva" do paraguaio Hermínio Gimenez e "Mburikao" de outro paraguaio, José Assunción Flores - duas peças muito bonitas, que evocam as raízes de quem nasceu, como eu, numa região de fronteira (Corumbá) e forte influência da música paraguaia.
Mas Yamandu era a grande atração da noite e confesso que estava ansiosa para assistir à sua apresentação. Como quase sempre ocorre quando ouço música instrumental (de concerto ou popular), fui levada numa viagem guiada por emoções despertadas pelo som do violão de Yamandu e dos demais instrumentos da OEMT (especialmente os violoncelos). 
Relembrei pessoas muito queridas da minha família que já se foram, pessoas queridas que enfrentam no momento graves problemas de saúde, antigos amores, minha vida passada e a atual, revi valores e atitudes. Como a música é poderosa!
Tento conservar essa emoção dentro de mim, mesmo que o mundo pareça igual com suas desgraças cotidianas.  Como pode um mesmo mundo produzir uma música tão inebriante quanto a do concerto deste final de semana em Cuiabá e, ao mesmo tempo, tantas tragédias, tanta brutalidade, como a morte da auxiliar de serviços gerais Claudia Silva Ferreira,  no morro da Congonha, em Madureira, mãe de quatro filhos e responsável por outras quatro crianças, assassinada com "uma bala perdida" durante um confronto entre policiais militares e traficantes, e arrastada por 250 metros pelo carro dos PMs que deveriam ajudá-la?
É claro que não tenho essa resposta e só posso agradecer pelo privilégio de ouvir Yamandu com a OEMT.
Que venham mais concertos! Não pretendo perder o concerto de abril, que terá a apresentação de uma peça do músico nordestino Danilo Guanais ("A Festa da Santidade") e participação de um coral de vozes masculinas em que se destaca André Villani (com quem trabalhei no grupo Cantorum e no Madrigal do Avesso).  O de junho, com a participação dos percussionistas Alex Teixeira e Tarcísio Sobreira (meu querido ex-aluno no curso de Comunicação que, felizmente, encontrou seu caminho profissional na música) também é imperdível.