terça-feira, 22 de setembro de 2015

Angústia

Confesso que estou angustiada hoje. Por falta de interlocutores de carne e osso, resolvi usar o meu blog para desabafar.
 1- O calor está insuportável. É quase sempre assim em Cuiabá nesta época do ano, por isso, o clima não é uma novidade, mas mesmo assim ele é opressor, angustiante. Durante o almoço, num restaurante aqui perto, ouvi alguém (provavelmente da Secretaria de Estado de Educação) dizendo que tinha visitado uma escola para crianças especiais em Várzea Grande (cidade contígua a Cuiabá) e que não havia aparelhos de ar condicionado. A situação estava terrível. É o que imagino quando alguém vem reclamar do calor: penso nos doentes internados nos pronto-socorros e hospitais, em pessoas idosas que moram em casas sem ar condicionado (mesmo que elas tenham ar, quem aguenta pagar a conta de luz se o ar ficar ligado o dia inteiro?) e também em pessoas que estão presas. Não adianta: quem se lasca mais são sempre as pessoas mais carentes. Sofrem nos ônibus, sofrem caminhando nesse mormaço, sofrem em filas, sofrem à espera de atendimento médico e cirurgias que nunca são marcadas.
2 - Há pessoas da família muito próximas que estão doentes e também o irmão de uma grande amiga. Todos sofrendo por causa do câncer - essa doença que chega sorrateira, cheia de artimanhas e que judia muito dos doentes. Eles sofrem com o tratamento (quimio, radio), sofrem quando o tratamento já não está fazendo efeito e aos doentes (e seus familiares e amigos), praticamente, só resta rezar e confiar numa força maior. Muito triste!
3 - Fiquei muito chocada com os acontecimentos recentes no Rio de Janeiro: a onda de arrastões e os ataques de uma parcela da sociedade que nasceu do lado de cá do túnel "em defesa" de seu território. Isso é quase uma guerra civil! Leio artigos bacanas analisando os fatos e fico pasma com a reação do secreetário de Estado de Segurança Pública, que parece se sentir impotente para evitar o confronto entre os usuários dos ónibus vindos dos subúrbios e alguns moradores facistas da Zona Sul. Se esses meninos que vêm do lado de lá do túnel se juntassem e viessem em bando (e também armados para o confronto), e ainda se unissem ao povo dos morros da Zona Sul, haveria uma batalha campal. Seria horrível! Quantas vidas um conflito desse tamanho poderia custar?  Qual é a saída para essa situação? Construir barricadas para impedir a passagem de quem vem do lado de lá do túnel e nada tem a perder? Não sei.
Eu poderia enumerar outros motivos de angústia (a situação nacional, a situação internacional - aliás, como estão os imigrantes? - e outros questões bem mais pessoais), mas acho que chega.  Além disso, preciso começar a trabalhar.
Acho que a angústia é a incapacidade de lidar com a realidade, a sensação de impotência diante dos fatos e uma tendência a ver tudo sob uma ótima pessimista. 
Às vezes, uma notícia boa, uma boa aula de yoga ou até um encontro com companheiras de dança circular podem alterar esse estado de espírito. O mundo mesmo não muda. A tecnologia, que viria para tornar o mundo melhor, parece que só está afastando as pessoas e as tornando ainda mais obtusas, preconceituosas e convictas de suas verdades.

quinta-feira, 17 de setembro de 2015

Dos deuses



Assisti na noite da última quarta-feira ao show "Pelo Brasil" do bandolinista Hamilton de Holanda. Foi tão bom que chego a me questionar se foi real.
Confesso que conheci Hamilton há pouco tempo. Não ando tão atualizada em termos culturais, infelizmente. No final de fevereiro, ele esteve em Cuiabá para uma apresentação com a Orquestra do Estado de Mato Grosso e fiquei encantada com o seu talento, virtuosismo e simpatia.
Quando soube que faria um show em Cuiabá, mal acreditei, mas fiquei indecisa quanto a ir, por incrível que pareça. Bendita a hora em que decidi deixar a preguiça e o receio de ir sozinha de lado!
O show foi lindo! Durante pouco mais de uma hora (como houve um certo atraso no início, não posso precisar a duração), Hamilton fez uma apresentação impecável.  Foi uma verdadeira viagem por ritmos brasileiros ao som de apenas um bandolim que, nas mãos de Hamilton, alcança sonoridades impensáveis. É um violão? Um banjo? Um cavaquinho? Um avião? 
Não, é Hamilton no bandolim. 
As imagens belíssimas projetadas nos painéis ao fundo do palco intensificam a sensação de viagem. Barulho de chuva (que delícia!), de cachoeira, de sons típicos de uma típica paisagem nordestina e até de buzinas de carros são os companheiros de Hamilton nessa viagem musical.
O artista cantou uma composição de sua autoria (parceria com Diogo Nogueira e outro nome que me fugiu). Brincou com o público dizendo que estava cansado de tocar "Brasileirinho" para, em seguida, tocar o hit de Waldir Azevedo em vários ritmos (até no ritmo do lambadão cuiabano). Compôs um tema no palco ao falar sobre o que é inspiração.
O mais incrível é que ele praticamente só interpretou composições suas, ou seja, temas desconhecidos para o público. A exceção, além do já citado "Brasileirinho", foi uma rápida menção à música "Naquela mesa", composta pelo jornalista Sérgio Bittencourt para homenagear o pai, outro gênio do bandolim: o grande Jacob do Bandolim. Uma forma de Hamilton reverenciar aquele que talvez seja o maior nome do instrumento no Brasil.
Em resumo, um espetáculo que valeu cada segundo. Nem preciso dizer que virei fã de carteirinha de Hamilton de Holanda.

PS. Fiquei com uma dúvida: o Teatro Zulmira Canavarros (da Assembleia Legislativa) com estacionamento liberado é tudo de bom para quem tem carro, mas como será a situação de quem depende de transporte público?