sexta-feira, 30 de janeiro de 2009

Meu encontro com Amílcar Lobo

Antes que eu me esqueça vou registrar aqui os fatos que envolveram o "furo jornalístico" ao qual me referi no post anterior. Foi em 1986, num final de tarde de uma sexta-feira, um horário temido por nós, repórteres da sucursal no Rio da revista Veja. Depois de uma semana árdua de trabalho, todo mundo sonhava com uma noite de sexta-feira calma. Apenas um de nós ficava de plantão até ser liberado pelos chefes paulistas. Era sempre um terror ficar de plantão à espera das dúvidas e solicitações dos editores de São Paulo.
Mas nessa sexta-feira eu não estava de plantão e me preparava para ir embora quando o telefone tocou insistentemente e, como conta o meu colega Roni Lima, ninguém ousava atendê-lo com medo de ser um abacaxi. Eu acabei atendendo e, do outro lado da linha, um homem se identificou como Amílcar Lobo. É claro que não me lembro de suas palavras exatas, mas consegui associá-lo a uma matéria publicada há algum tempo relacionada a médicos acusados de tortura.
A nossa conversa evoluiu e meu interlocutor disse que estava pensando em fazer uma denúncia muito séria, talvez no início da semana seguinte. Aí entrou meu papel como jornalista. Conquistei sua confiança e convenci-o "a não deixar para amanhã o que poderia fazer hoje''. Depois de muita conversa, ele decidiu me atender naquela noite, em seu apartamento, no bairro carioca da Tijuca.
Nessa altura do campeonato eu já sabia que ele tinha algo muito importante para contar relacionado ao deputado Rubens Paiva, que morreu no quartel da PE. O Exército não admitia isso e oficialmente dizia que o ex-deputado tinha fugido da cadeia e trocado tiros com a polícia, uma versão que não convencia ninguém.
Quando desliguei o telefone conversei com o meu chefe, José Carlos de Andrade, que se comunicou com São Paulo e aí tive a oportunidade de falar pela primeira vez com Elio Gaspari, o big boss da Veja na época. Era mais ou menos como falar com Deus. Ele me conscientizou da importância do meu contato e me aconselhou a ser muito calma na entrevista de modo a conquistar a confiança do entrevistado e obter o máximo de informações dele. Não foi difícil fazer esse papel até porque eu estava bastante assustada com toda a situação e nesses momentos consigo aparentar muita calma.
Fui ao encontro de Amílcar Lobo com o fotógrafo Antonio Ribeiro e ele me deu um depoimento fantástico, que foi veiculado na íntegra na edição de Veja daquele mesmo fim de semana. Saí da redação de madrugada. A matéria foi uma bomba e no sábado mesmo já tinha coleguinhas de outros jornais me ligando para que eu desse o contato do Lobo para eles fazerem a suite. Lógico que eu não dei.
Sei que essa reportagem acabou contribuindo para que o caso Rubens Paiva fosse reaberto e para que a família tivesse enfim o reconhecimento de que o deputado tinha morrido no temido quartel da PE na Barão de Mesquita em consequência do espancamento sofrido e denunciado por Amílcar Lobo.
Qual foi a verdadeira motivação de Amílcar Lobo ao denunciar o fato? Por incrível que pareça, acredito que ele quis recuperar sua imagem diante de seus pares (ele era médico psiquiatra e trabalhava com psicanálise), por razões profissionais ou mesmo existenciais. Há depoimentos de ex-presos políticos de que ele não era tão inocente ou bonzinho como queria parecer. Seja como for acabou prestando um serviço ao país (ou pelo menos à família de Rubens Paiva), mas não conseguiu o perdão de seus colegas de profissão. Tivemos mais alguns contatos logo depois da primeira entrevista, mas como ele não tinha ou não quis contar mais coisas dos porões da ditadura, a revista Veja acabou perdendo seu interesse por ele - e eu junto, até porque ele me assustava um pouco. Soube que ele morreu, mas nessa época acho que eu já morava em Mato Grosso.
De qualquer maneira, foi uma experiência e tanto na minha vida profissional e pessoal. Infelizmente, não tive maturidade para tirar mais proveito dela. Mas isso já é outra história.

quinta-feira, 29 de janeiro de 2009

Mundo maluco

Vivemos realmente num mundo maluco: enquanto a livraria virtual Amazon fala sobre o futuro do livro impresso (ou melhor, o não futuro) que será substituído pelo livro virtual (a empresa lançou nos EUA um produto fantástico o e-livro, batizado de Kindle), ladrões fazem arrastão no subúrbio do Rio e roubam até marmita. Enquanto isso, em São Paulo, a polícia estoura um cativeiro onde um jovem sequestrado ficou preso por 37 dias recebendo alimentação apenas para sobreviver. Emagreceu 10 kg! Mega indústrias anunciam demissões e prejuízos fantásticos, enquanto o Fenômeno (sim, nosso Ronaldo) anuncia mais um divórcio deixando para a ex um apartamento na Barra da Tijuca.
Tudo isso li em poucos minutos na newsletter do jornal O Globo. Ah, a coisa continua pegando fogo no BBB 9. Realmente, it's a mad, mad world!

quarta-feira, 28 de janeiro de 2009

Palavras ao vento

Eu sinto que está chegando o tempo de passar das palavras à ação. Ainda não sei como. Estou cansada de ver tantas coisas erradas e só observar, me indignar e me calar.
Não me julgo melhor que ninguém, mas as injustiças sempre me incomodaram muito. Fui uma adolescente dividida entre as delícias e angústias típicas da idade, e o desejo de mudar o mundo para por fim as injustiças sociais. Sempre fui medrosa, mas admirava muito as pessoas que se lançavam nos movimentos de contestação. Queria fazer jornalismo não pelo glamour da profissão, mas para poder estar perto e denunciar os dramas das pessoas menos favorecidas pela sorte.
E o que fiz da minha vida? Durante um tempo me deixei seduzir (não totalmente) pelas benesses e o charme de trabalhar na maior revista semanal do Brasil, embora tenha feito lá o meu trabalho mais significativo em termos de jornalismo (outra hora volto a esse assunto). No ápice da minha carreira, nos anos 80, quando ainda morava no Rio, não fui forte suficiente para aproveitar o fato de ser a queridinha nos órgãos de imprensa mais importantes da cidade para expressar meu real desejo.
Foi a minha fase de desbunde, de descobertas pessoais. Depois veio o casamento, as filhas, a vida em Mato Grosso e um novo choque de realidade, que mudou profundamente o meu rumo na vida.
Agora, estou aqui em Cuiabá, trabalhando numa revista de agronegócio, corroída pelo desejo de encontrar minha essência e pressionada pela necessidade de pagar as contas e dar uma boa vida pequeno burguesa (argh ...) às minhas filhas.
É interessante como o nosso pensamento nos leva longe ... Quando comecei a escrever esse post ia falar de uma manchete que li num site local e diz que o "menino que assaltou a casa do delegado foi preso quatro vezes em 10 dias". Por uma estranha razão, eu penso sempre nesses meninos desgarrados da sociedade e transformados prematuramente em "bandidos perigosos". Penso nos viciados, nos alcóolatras e, sinceramente, não sei como ajudá-los, mas sinto que não posso seguir a minha vida indiferente, apenas preocupada em pagar minhas contas e conseguir ... status social.

terça-feira, 27 de janeiro de 2009

Caminho da impunidade

Depois do meu post melancólico de ontem, sobre o que devo escrever? Mil ideias passeiam pela minha mente inquieta, porém vou estacioná-la sobre o assunto que despertou minha atenção à noite. Eu jurei que não ia mais ver a novela das oito, mas depois de um dia de trabalho, aula de yoga e supermercado, o que fazer quando se chega em casa sozinha?
Ok, pode-se ouvir boa música, mas a tentação de ligar a TV é irresistível nem que seja por alguns minutos. Acabei assistindo a uns trechos da novela "Caminho da India" (ou seria das Índias?), enquanto guardava as compras e botava alguma coisa no estômago. Não gosto muito das novelas da Glória Perez, são "viajadas" demais, porém esta é atraente pela paisagem e também pela apropriação de nomes, palavras, costumes e rituais desse país fascinante.
O que me chamou atenção, entretanto, foi uma cena do núcleo carioca do folhetim, envolvendo o comportamento violento e irresponsável do Zeca, personagem de Duda Nagle, mimado e acobertado pelos pais. Será que existe pais tão malucos assim que não enxergam o monstro que estão criando? Dizem que a ficção imita a realidade, portanto, deve ser verdade, mas eu fiquei pasma com a reação da mãe do rapaz ao episódio envolvendo a agressão à professora. A mãe (não sei o nome da atriz) ficou danada pelo fato da escola não conseguir resolver sozinha o problema do seu filho, num comportamento típico de alguns pais que jogam toda a responsabilidade da formação de seus rebentos no colégio escolhido.
Fiquei triste de ver como tantas vidas podem ser estragadas como a desse rapaz. Vamos ver como a história evolui na ficção.

segunda-feira, 26 de janeiro de 2009

Melancolia

A melancolia de segunda-feira toma conta de mim. Procuro me concentrar no trabalho, manter meu astral alto, mas a leitura dos jornais de Cuiabá acabe derrubando meus esforços.
Acompanhem essas manchetes do jornal "Diário de Cuiabá" e vejam se não tenho razão: "Motorista que bebeu atropela um bebê", "Superlotação é só um dos problemas", "Tráfico está cada vez mais cruel", "Quadras esportivas em más condições" e "Mato Grosso peca na recuperação de usuário de drogas" (esta última é do site 24horasnews).
Vamos pensar juntos: a sociedade e principalmente, nesse caso, o poder público que deveriam oferecer condições de lazer e de esporte para a população de baixa renda não cumpre seu papel; os jovens de periferia que se tornaram usuários de drogas (os mais ricos sempre têm mais condições de buscar outras formas de atendimento) não conseguem ser recuperados, já que os centros de atendimento público estão jogados às moscas, de acordo com a reportagem; encontram a crueldade do tráfico (que não perdoa dívidas e se alimenta de violência) e, se forem presos, ficam amontoados como animais em locais superlotados, sem água, condições mínimas de higiene, etc.
Dá para esperar o que dessas pessoas? Que se tornem cidadãos exemplares?
Bom, ficou de fora o caso do motorista. Falar o que sobre isso? Diz a reportagem que o cara estava em alta velocidade, perdeu o controle do carro quando passava num quebra-molas e acabou atropelando pai e bebê que iam de bicicleta por volta de meia-noite. O bebê teve muitas fraturas e está internado em estado grave.
Sei que preciso fazer alguma coisa em relação a tudo isso, mas me sinto extremamente impotente.

sexta-feira, 23 de janeiro de 2009

Tête-à-tête

Não gosto muito de conversa coletivas. Não levo jeito. Meu negócio é o tête-à-tête, a conversa mais íntima, a dois, mesmo que o assunto não seja dos mais pessoais. Quando tem mais de duas pessoas na parada, eu tendo a me calar, a menos que eu esteja numa aula ou numa palestra.
É estranho isso: sou muito tímida quando a conversa acontece com um grupo maior, mas fico à vontade se tiver que falar em público (é claro que depende do público, porém não tenho vergonha de enfrentar uma sala de aula, nem tive vergonha, por exemplo, de falar em inglês para dezenas de norte-americanos nos encontros com rotarianos que tivemos durante o Intercâmbio de Grupo de Estudos em Indiana, em 1997).
A conversa a três ou quatro me cansa um pouco a menos que estejamos falando de um assunto absolutamente banal. Agora, quando estou com uma pessoa só, mesmo que não tenhamos grande intimidade ou afinidade, consigo levar uma conversa bastante animada e reveladora.
Essa carcaterística também se apresenta na vida de repórter. Sempre tive horror a entrevistas coletivas. Gosto de falar com meu entrevistado sem platéia, de preferência. Isso é, em parte, insegurança, mas também tem a ver com um desejo por um clima de mais intimidade, informalidade.
Toda essa prosa me remete a um livro do filósofo norte-americano Emerson (Ralph Waldo Emerson, que aprendi a admirar nos meus tempos de professora de literatura norte-americana). Chamava-se "Ensaios" e me foi "roubado" (um bom tema para um post futuro) por um ex-aluno que sumiu no mapa. Tinha um ensaio do qual eu gostava muito que tratava exatamente do tema das possibilidades criadas por uma conversa a dois. Já faz tanto tempo que li (uns 11 anos) que não me lembro mais dos detalhes, porém eu me lembro que me senti acolhida e compreendida.
PS. Desculpe o aparente pedantismo do título, mas adoro essa expressão francesa que define de maneira elegante a tal da conversa a dois ou ao pé-do-ouvido (esta última me lembra coisa de conspirador, de político).

quinta-feira, 22 de janeiro de 2009

Se eu fosse você

Hoje quero falar sobre o filme "Se eu fosse você 2" ao qual assisti ontem. Por uma questão ideológica (?) tenho uma certa resistência a filmes produzidos pela Globo, com diretor da Globo, elenco global, etc. Mas como estava a fim de distrair a mente e dar algumas risadas (dizem que faz bem para a saúde, rejuvenesce) decidi ver esse filme com minha filha mais nova e a amiga dela. É muito engraçado! Tenho algumas críticas ao final (a festa do casamento é meio artificial e fica evidente que os casais de dançarinos são profissionais da dança), mas os atores estão todos ótimos e o filme não deixa saudades do original. Não diria que é melhor, porém a gente não sai do cinema com a sensação de ter sido enganada.
O destaque vai para o casal de protagonistas. Glória Pires está ótima como sempre. Acompanho a atriz desde seu primeiro papel, na novela "Dancing Days", e ela sempre foi fantástica. Toni Ramos me surpreende sempre. Nunca fui fã especial desse ator que, para mim, era apenas um rosto bonitinho interpretando galãzinhos do momento. Ele está ainda mais engraçado na sua segunda versão Helena, quando vive dilemas e agruras de mulher em seu corpo de homem. A aula de ginástica na academia é impagável assim como o jogo de futebol.
Se tivesse sido produzido nos EUA e tivesse atores mundialmente famosos como protagonistas (um Adam Sandler da vida), o filme faria uma boa carreira internacional e faturaria horrores. Como foi produzido no Brasil, deve faturar bastante, porém apenas entre nós.

terça-feira, 20 de janeiro de 2009

Tragédias anunciadas

Leio nos jornais e portais de notícia sobre a tragédia do templo da Igreja Renascer, sobre mais um acidente com jogadores de futebol do Rio Grande do Sul e, naturalmente, sobre a posse de Barak Obama e todo frisson de esperança que provoca no mundo inteiro.
Como todo mundo vai comentar esta última notícia prefiro ficar com uma notícia que li no jornal Diário de Cuiabá: "a Penitenciária Central do Estado (antigo Presídio do Pascoal Ramos) não aceita novos presos porque se transformou num barril de pólvora prestes da explodir".
Autoridades do setor penitenciário preparem seus discursos de explicações, fiquem todos com as justificativas na ponta da língua. Motins em penitenciárias são corriqueiros, provocam horror na população, estudos de especialistas, atraem holofotes para uma situação que não muda. É como se fosse uma "limpeza" prevista e necessária. Morrem uns, apanham outros, abrem-se inquéritos e pouca coisa ou nada muda.
É uma tragédia anunciada assim como muitas outras ditas "fatalidades" que acontecem. As estradas estão em estado precário, os ônibus idem, os motoristas muitas vezes trabalham acima do humanamente possível, mas quando os acidentes ocorrem e é aquele "ai meu Deus". O mesmo raio não cai duas vezes no mesmo lugar. Ou cai?
Quanto ao templo da Igreja Renascer, não posso prejulgar, mas há muita coisa estranha, envolvendo essa igreja e seus bispos presos por entrada ilegal de dólares nos EUA. Os tais "patrões" emitiram uma nota lamentando a tragédia e dizendo alguma babaquice para consolar os fiéis que, tolamente, continuam entregando parte de seus salários e de seu tempo a esses usurpadores. Juro que não consigo entender!

segunda-feira, 19 de janeiro de 2009

Faxina

Ontem aconteceu uma coisa estranha: pensei que tinha resgatado um texto bem legal que estava na pasta de rascunho, mas para minha decepção ele não foi publicado e também sumiu da pasta de rascunho. Vai ver que eu deleitei em vez de publicar ... Vou ver se uma hora consigo resgatá-lo na minha cabeça.
Tive um fim de semana de recolhimento: li, arrumei armário, trabalhei ... Por incrível que pareça, até que foi legal! Parece clichê, mas a gente precisa de vez em quando ficar sozinha até pra ver se gosta da própria companhia. Eu gostei da minha ...
Entrei numa de arrumar um armário do escritório para abrir espaço para minha filha guardar as coisas de faculdade. No meio da (des) arrumação quase pirei! Como colocar tudo que tirei de uma prateleira numa outra que já estava cheia de coisas? Mas, aos poucos, fui jogando coisas (fiz uma pilha), organizando, guardando em outros lugares e acabou dando certo.
Fiquei tão orgulhosa do meu trabalho! Nesse meio tempo encontrei tanta coisa bacana: textos usados nos meus cursos na Unemat, depoimentos de alunos, textos que eu mesma escrevi como o relatório da minha traumática viagem de intercâmbio pelo Rotary em 1997.
Fiquei com saudades de tudo: dos meus alunos do curso de francês, de inglês instrumental e, principalmente. do pessoal da literatura inglesa e norte-americana. Foram cinco anos de aulas e como aprendi nesse período! Tive que ler tanto, ir atrás de livros, vídeos para meus alunos e, sobretudo tive que descobrir uma forma de motivar estudantes, que vinham cansados para aula à noite depois de um dia de trabalho (alguns viajavam horas), para autores que a maioria desconhecia, com um agravante: quase todos sabiam muito pouco inglês.
Fiz um trabalho bacana, modéstia à parte, e (re) descobri juntos com eles o prazer de conhecer e ler muitos escritores, como Dickens, Shakespeare, Jonathan Swift, Robert Frost, Emily Dickinson, Charlote Bronte.
Ensinar é muito bom porque como diz Guimarães Rosa, através do personagem Riobaldo de "Grande Sertão Veredas", "mestre é aquele de repente aprende".
Depois de rever todo esse material, fiquei com a sensação de que estou emburrecendo.

sábado, 17 de janeiro de 2009

Abaixo Polyanna!

Toda mulher da minha geração leu um livrinho na adolescência chamado "Pollyana". Acabo de ler na internet que ele foi lançado em 1913 por Eleanor Porter. O livro conta a história de uma menina de 11 anos que fazia o "jogo do contente", ou seja, sempre procurava ver o lado bom das coisas.
Hoje de manhã eu me lembrei do comentário de uma sobrinha minha sobre um post recente em que falo sobre o meu estado de espírito, meio down. Ela disse pra mim que eu não precisava dar uma de Pollyana. De repente, essa observação me veio à cabeça e fiquei pensando como esse livro me afetou. Não consegui aplicar o "jogo do contente" com a mesma maestria que nossa heroína, o que me causou remorso e frustração, e, ao mesmo tempo, cresci com a sensação de que é proibido ficar triste. Como se fosse um pecado ... É como se alguém me questionasse "como você ousa ficar triste se tem comida na mesa, um teto sobre a cabeça e tem tanta gente pior que você?" Então eu fico triste por eles, posso responder.
Enfim, como já disse antes, temos 800 motivos para ficar triste ou alegre. Posso ficar triste por causa das mortes em Gaza (ou das que acontecem bem mais perto de mim); posso ficar alegre porque não estou em Gaza.
Acho que a questão não é ficar triste. Até porque a tristeza não leva a nada. A raiva sim! Ela provoca movimento, geralmente uma reação, que pode ser perigosa. Acho que muitas vezes fiquei triste porque não me permitia sentir raiva, que é um sentimento igualmente feio para uma mocinha cristã.
Mas, às vezes, a gente tem o direito de ficar triste simplesmente. Deixar as lágrimas rolarem pelo rosto, abrir a torneirinha.
Portanto, abaixo Polyanna e seu jogo bobo, enganador e manipulador de sentimentos! Na verdade, esse livro é meio emblemático de uma ilusão do mundo ocidental de que é possível ser feliz o tempo todo, o que faz com que muita gente não aprenda a lidar com a decepção, a desilusão e a traição.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Misérias humanas

O título tem a ver com três episódios diferentes e aparentemente desconectados. Em comum têm o sofrimento, a dor e a miséria, seja ela física ou menos tangível.
Acabei de ler num site de Cáceres, que ando frequentando mais para acompanhar a conturbada política local, uma notícia sobre a morte de duas crianças, de um e dois anos, num poço no fundo da casa com cerca de um metro de profundidade. Segundo a notícia, as crianças, que têm outros três irmãos, ficavam a maior parte do tempo sozinhas, já que os pais seriam usuários de drogas (de acordo com vizinhos). O Conselho Tutelar está investigando o caso e pensa em tirar os outros filhos do casal, mas a história já vinha sendo acompanhada há tempos. Por que não se fez alguma coisa antes? Será que as crianças que estão vivas terão realmente um acompanhamento melhor agora? Quantas outras crianças nessa situação existem por aí e cujas vidas trágicas só vêm a público quando uma tragédia maior acontece?
Finalmente, o que fazemos para evitar essas "pequenas" tragédias?
O segundo episódio, bem mais público, diz respeito às crianças que sobrevivem (em que condições?) e morrem lentamente em meio à guerra em Gaza, sem nos esquecermos de outras tantas que já morreram. Fico atônita com a cara-de-pau das autoridades israelenses que justificam todos esses atos em nome de uma guerra maluca que não tenho pretensão de entender ou explicar.
O terceiro e último episódio parece pequeno diante dos demais, mas me chamou atenção. Ontem, à tarde, na fila da farmácia da Unimed, conheci um cara que ia comprar remédio controlado e puxou conversa comigo. Ele estava extremamente ansioso (mal conseguia esperar o andamento da fila) e contou que tinha emagrecido 18 kg em 15 dias. A razão? Ele disse que brigou com a mulher e ela foi embora. Fiquei com vontade de conversar com ele, saber mais, mas ao mesmo tempo fiquei receosa porque achei que ele tinha cara de louco. Fiquei pensando em sua vida, nessa mulher, nos eventuais filhos e fiquei triste por mais uma família que provavelmente desmorou.

quinta-feira, 15 de janeiro de 2009

Planos

Ontem, quando voltava para casa, vi um carro estacionado numa calçada onde não sobrava espaço para passagem de pedestres, numa rua muito movimentada e de mão dupla. Ou seja, o pedestre que se dane e vá disputar espaço com os veículos no asfalto, seja ele adulto, velho, cadeirante, mãe com bebê.
Essas coisas me irritam muito. Fala-se tanto em civilidade, mas é impressionante o que a gente vê nas ruas de uma capital como Cuiabá. Muito lixo, terrenos baldios cheios de mato, motociclistas utilizando as calçadas, pedestres atravessando a poucos metros das faixas e dos sinais, motoristas que não respeitam faixas, nem sinais ...
A gente sabe que em algumas capitais e cidades do chamado "primeiro mundo" não é assim. Sei que há coisas bem piores (aqui e lá) em termos de desrespeito à vida humana, mas gostaria muito como jornalista e cidadã de contribuir para que as pessoas tivessem um pouco mais de respeito pelo direito do outro.
Gostaria muito de transformar este blog num espaço para denunciar essas formas de abuso e/ou desrespeito. Eu queria ter uma máquina digital à mão para documentar esses flagrantes e denunciá-los. Talvez isso seja um resquício da minha veia de repórter de Geral, o nome pelo qual era conhecida a Editoria de Cidades nos grandes jornais de antigamente.
Para isso seria importante dar mais visibilidade ao blog, torná-lo menos pessoal e familiar. Tenho esse desejo e pretendia ir atrás de sua concretização ao longo de 2008, mas outros fatos relacionados ao trabalho (ao meu ganha-pão) me impediram de tomar qualquer iniciativa nesse sentido. O desejo, entretanto, segue vivo.

terça-feira, 13 de janeiro de 2009

Romance

Hoje já escrevi tantos posts na minha cabeça ... enquanto dirigia, até na aula de yoga, embora procurasse me concentrar nos movimentos e na minha respiração, como manda a professora Moara. Mas, agora depois de ver "A Favorita" (adoro últimos capítulos de novela e esta está sendo especial, apesar de toda "viagem" dos autores), minha cabeça meio que se esvaziou. Pior: meu coração se esvaziou.
Pensei em falar sobre romances da vida real, sobre relações entre pais e filhos, diferenças entre homens e mulheres, a falta de vergonha de algumas autoridades e das pessoas em geral ... Assuntos que poderão ser abordados em outras ocasiões. Vou fechar esse post "desinspirado" com uma frase que me veio outro dia: "A gente sonha tanto com um romance e, quando a oportunidade surge, fica cheia de dedos".
Por isso é tão bom ser jovem ou manter o espírito jovem. Quando se é jovem (de idade ou de coração), a gente acredita mais na possibilidade do amor, de um encontro de almas (e não só de corpos). Se não se é jovem a gente racionaliza muito, mede e analisa palavras, atitudes e perde a espontaneidade. Perde também a possibilidade de amar.

segunda-feira, 12 de janeiro de 2009

Estado de espírito

Hoje estou fazendo um esforço enorme para me animar e seguir em frente. Não há razões objetivas para meu desânimo. Aliás, na minha opinião, temos (quase) sempre montes de razões para estar animada e um igual número para não estar. O que define nosso estado de espírito? Por que algumas pessoas estão sempre rindo, pra cima, independentemente do que lhe acontece, e outras sempre parecem infelizes, carrancudas?
O mesmo fato objetivo pode ser encarado de forma diferente pelas pessoas. Um pneu que fura no meio do caminho pode ser visto como um grande azar ou apenas um pneu furado que deve ser trocado o mais rápido possível. Até uma doença grave é encarada de forma diferente por pessoas, às vezes, da mesma família.
Não sei se isso é genético, cultural, pessoal ou um pouco de tudo. Só sei que gostaria muito de não ser assim. Ou melhor, gostaria de pertencer ao time dos otimistas, daqueles que sempre têm um sorriso nos lábios e um olhar compreensivo para o resto da humanidade.
Ah não me venham dizer que isso é uma questão de ter ou não ter Deus no coração. Conheço pessoas de "fé" ou praticantes de alguma religião nos dois lados.
Talvez seja isso que chamam de evolução: a capacidade de relativizar, de encarar a vida de uma forma positiva, de perdoar, não guardar mágoas ou rancores, de compreender, de não ter inveja e não achar que o quintal do outro é mais florido.
Da minha parte, posso dizer que tenho feito o maior esforço para não guardar ou alimentar sentimentos ou pensamentos ruins. Pode ser até que as pessoas mais sofridas tenham um potencial maior para a arte, seja a literatura, a música ... Mas, eu prefiro ser feliz aqui e agora, procurar fazer as pessoas que me cercam felizes e buscar transformar as coisas boas em arte.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2009

Felicidade é ...

Felicidade é ouvir o barulho da ventoinha! Antes que alguém ache que pirei, deixe-me explicar: essa sensação e definição de felicidade me veio à mente quando estacionava o carro pela manhã.
Se eu tivesse um computador à mão (e tempo) teria corrido para registar a torrente de pensamentos que surgiu enquanto caminhava por uma das avenidas centrais de Cuiabá.
Tenho vivido alguns problemas recorrentes com meus automóveis (que nos últimos anos sempre foram de segunda mão). Um deles está relacionado ao radiador e à ventoinha, ou seja, o dispositivo que faz a água circular e resfriar o motor. Sofri muito com isso há mais de três anos quando tinha um Verona 1995. Até passei a entender um pouco do assunto.
O Paglio (2000) ainda não tinha apresentado esse problema até o início de dezembro, quando me deixou em apuros numa noite em que voltava de uma apresentação do coral. Levei à oficina e o problema parecia sanado com a troca do "cebolão", mas deu problema na tampa do reservatório de água (já devidamente trocada), entrou ar, deu bolha, faltou água, sobrou água, enfim, um drama. Com isso fico meio insegura e morrendo de vontade de trocar de carro.
Nos últimos dias várias concessionárias de Cuiabá estão promovendo mega promoções para a venda de carros novos. Os comerciais me atraem loucamente e fico com vontade de sair correndo, entrar numa delas e sair de carro zero, dando adeus aos problemas da ventoinha e outros mais. Mas ainda não é hora de fazer isso, preciso antes resolver alguns problemas de caixa pendentes. Por isso fico tão feliz de ouvir o barulho da ventoinha, um sinal de que as coisas vão bem, pelo menos no que diz respeito ao esfriamento do motor.
Dizem que a gente dá mais valor quando conquista as coisas com esforço. É possível! Só quem anda de carro velho (o que ainda melhor do que andar de ônibus em Cuiabá) sabe o que é sonhar com um carrinho novo, nem que seja o modelo mais básico com aquela inscrição "FlexPower". Eu chego lá!

quinta-feira, 8 de janeiro de 2009

Inferno em Gaza

Acabei de ler uma frase atribuída ao dramaturgo e poeta inglês William Shakespeare: "É mais fácil obter o que se deseja com um sorriso do que com a ponta de uma espada". Li essa frase curiosamente na Newsletter do Milkpoint, mas não deixei de pensar com amarga ironia: 'Vai dizer isso aos palestinos e judeus em Gaza".
Enfim, é meio chover no molhado falar dessa guerra maluca, mas não dá para ficar impassível diante do noticiário.
Há um tempo cheguei à conclusão de que não ia mais "sofrer" por causa desses alucinados (palestinos/árabes e judeus) que vivem se matando, se mutilando, em nome de uma "guerra santa". Se Deus existe, acho que ele passa muito longe de tudo isso ou então Deus não é amor, o que contraria toda a filosofia cristã.
Aliás, esse é um dos motivos que mais me afastaram da Igreja: o conhecimento das atrocidades (torturas, perseguições, etc) cometidas ao longo dos séculos em nome de Deus.
O inferno é aqui. O paraíso? Não sei.
É claro que numa vida normal muito se consegue com um sorriso e é isso que venho tentando aplicar à minha vida porque não saberia viver de outro jeito: a cultura da não violência. Mas, como fica isso para as crianças, idosos e outros inocentes atingidos em meio ao conflito de Gaza?
Será que haverá paz um dia?

quarta-feira, 7 de janeiro de 2009

Mortes nas estradas

O tema abordado no post de ontem merece ser complementado com uma notícia de hoje: a de que o governo federal gastou em 2008 apenas 15,5% do orçamento para manutenção das estradas. Ontem, aludi apenas ao comportamento meio kamikaze de boa parte dos motoristas brasileiros, mas, peço perdão a todos (inclusive, a mim), já que me esqueci de considerar o item falta de segurança nas estradas, que inclui buracos, trechos mal sinalizados e absoluta falta de sinalização e/ou acostamento em muitas rodovias. Todos esses fatores somados à imperîcia e ao excesso de confiança dos motoristas só pode ter como resultado o aumento no número de acidentes.
O diretor do Dnit (Departamento Nacional de Infraestrutura em Transporte), Luís Antônio Pagot, que lutou tanto para conquistar o cargo e sonha com uma carreira política em Mato Grosso, alega que faltam projetos. Pode até ser verdade, mas com certeza tem um montão de funcionários no Dnit, provavelmente engenheiros bem remunerados para fazer esse trabalho. O que todo mundo anda fazendo? E o próprio Pagot, conhecido em Mato Grosso por um viés autoritário, o que anda fazendo diante dessa falta de projetos? Brigou tanto pelo cargo para um desempenho tão pífio!

terça-feira, 6 de janeiro de 2009

Mortes

Olha só: o saldo dos últimos confrontos entre israelenses e palestinos em Gaza é de 550 mortos até agora; por outro lado, o número total de mortes em acidentes nas estradas federais brasileiras nos feriados de final de ano foi de 435.
Fala-se tanto em educação no trânsito, novo Código de Trânsito, Lei Seca, mas a insanidade dos motoristas brasileiros não tem fim. As pessoas continuam fazendo de seu carro uma arma. Uma rápida passagem por estradas dá uma noção das loucuras que alguns motoristas cometem: são ultrapassagens absolutamente irresponsáveis, gente que anda devagar ou rápido demais (pude constatar tudo isso em recente viagem de carro a Cáceres pela BR-070).
Viajei na semana passada para Campo Grande num ônibus noturno e minha irmã perguntou se eu não tinha medo de dormir deixando minha vida nas mãos de um motorista que nem conheço.
Medo até que tenho, mas por um estranho capricho da natureza durmo super bem no ônibus, tanto é que na ida fui acordada por um passageiro já na rodoviária de Campo Grande e fui a última passageira a desembarcar. Na volta não dormi tão bem porque meu "companheiro" de viagem - com quem não troquei uma palavra sequer - roncava desavergonhadamente.
Enfim, sempre agradeço quando chego ao meu destino ilesa porque realmente andar nas estradas é como caminhar no fio da navalha. Penso também (e me desconcerto) no caso recente de uma estudante de Cuiabá que foi a única vítima fatal de um acidente de ônibus: ela teve o pescoço quebrado por uma mala que despencou em sua cabeça do bagageiro. Fatalidade ou irresponsabilidade de alguém que colocou uma mala tão pesada no bagageiro interno do ônibus?

segunda-feira, 5 de janeiro de 2009

Anjos e demônios

Que Flora que nada! Enquanto esperava por uma visita (demorada, mas desejada) na noite de domingo, fiquei assistindo a um filme na TV (no canal que só passa filmes brasileiros), cujo nome não descobri na hora. Ele me atraiu e me intrigou pela estética dos anos 60/70, pelos atores (o belo Geraldo Del Rey, de quem tinha me esquecido completamente) e pela história.
A protagonista, uma moça de nome Virgínia, deixava no chinelo a personagem Flora (a fascinante vilã de A Favorita), em termos de cinismo, maquiavelismo e absoluta falta de moral ou pudor. Ela vivia com um tio rico, não estudava, não trabalhava e aprontava todas. Transava com todo mundo, se drogava e ainda manipulou o advogado do tio para matá-lo de modo que ficassem com a grana do velho. E tudo isso com a carinha mais santa do mundo.
Não tive tempo de acabar de ver o filme e hoje, movida pela curiosidade, consegui descobrir que ele se chama "Anjos e domônios", foi lançado em 1970 e dirigido pelo cineasta argentino Carlos Hugo Christensen. A demoninha da história foi interpretada pela atriz Eva Christian (?) e o advogado bobão por Geraldo Del Rey, ator baiano que protagonizou alguns dos maiores sucessos do cinema nacional (como "O pagador de promessas" e "Deus e o diabo na terra do sol") e morreu em 1993.
Adorei relembrar tudo isso e me deu a maior vontade de rever esses filmes brasileiros antigos. A única coisa ruim é que o som é uma droga.
A propósito, no sábado à tarde, no canal MGM revi "A festa de Babette", outro filme maravilhoso, que fez muito sucesso entre os aficcionados do cinema europeu quando eu ainda morava no Rio nos idos dos anos 80. Tudo acontece numa aldeia na Dinamarca, onde a misteriosa Babette vai buscar refúgio. Ela acaba oferecendo às duas irmãs que a acolheram e outros idosos um verdadeiro "jantar francês", onde a arte da culinária acaba despertando o melhor em cada um dos convivas daquele banquete de dar água na boca. Vale a pena conferir. Um clássico!

domingo, 4 de janeiro de 2009

Família


Sempre digo que tenho muito a agradecer, só não sei a quem. Agradeço por ter saúde (afinal, ficar mais de quatro horas dançando sem parar é um sinal inequívoco de saúde, ou não?), por ter teto, comida e, principalmente, uma família maravilhosa, meio louca como toda família, porém unida e super protetora.

Acabei de passar a virada de ano com parte dessa família em Campo Grande (MS). Aquela coisa gostosa de almoçar junto, comer, beber ... É bem verdade que em alguns momentos me sinto meio deslocada porque decididamente não sou uma pessoa de grupo, de falar muito e acabo me sentindo meio sem graça, como se não tivesse muito a dizer, embora sinta que tenha. São traumas do passado que vêm à tona, da época em que eu me sentia a mais feinha, a mais tímida, a cdf, e que não tinha nem a beleza, nem o charme, nem era tão divertida quanto minhas sobrinhas da minha idade.

Hoje, nos encontramos na faixa dos 50 e somos ainda mulheres bonitas e interessantes, cada uma no seu estilo.

Na verdade, o que eu gostaria de perguntar a cada uma delas - às sobrinhas e irmãs, e também aos homens dessa família com evidente supremacia feminina - é se estão felizes, realizadas, o que está faltando, se têm projetos, medo da morte, se acreditam realmente que existe vida pós morte. São respostas que não tenho, mas adoraria trocar ideias/informações/sentimentos sobre tudo isso, sobre aquela velha história de "pra aonde vamos?"

Será que é loucura minha ou todos sentem a mesma angústia? Vejo minha irmã mais velha, de 86 anos. Ela é maravilhosa, tão serena, lúcida. Gostaria demais de conversar sobre isso com ela, mas tenho medo de parecer indelicada. Afinal, em momentos de festa, não devemos falar de morte, nem das angústias da vida. A palavra de ordem é celebrar!

Adoraria poder mandar uma mensagem para cada uma das pessoas com quem convivi esta semana falando do meu imenso carinho por ela. Gostaria de tê-las abraçado mais um pouquinho (minha família não é muito de toque) e talvez pudesse ter expressado um pouco mais do amor que guardo dentro de mim, junto com meus sentimentos e temores.

sábado, 3 de janeiro de 2009

Dona Baratinha

Este é o primeiro post do ano. Ele deveria ser especial. Se eu tivesse começado a escrever há cinco minutos, provavelmente, ele seria bem diferente, porque meu espírito era um, mas agora depois do telefonema que acabei de receber, meu espírito é outro.
Tinha combinado de sair com um cara que conheci há duas semanas e ele me ligou com a desculpa de que vai ver um amigo que chegou de não-sei-de-onde e vai não-sei-pra-onde e por isso acha melhor deixar nosso encontro para amanhã.
Minha vontade foi dizer: "eu não acho e estou decepcionada", mas nessas situações fico como um personagem cômico que diz "ah é?" e não consegue expressar seu sentimento.
Tenho pensando sobre essa coisa de se apaixonar. Adoraria me apaixonar, mas não sei se ainda tenho saco pra sofrer, esperar pelo outro, num mundo em que as pessoas são tão pouco transparentes.
Sempre tive vontade de contar uma versão moderna da história da Dona Baratinha, aquela que cantava: "Quem quer casar com a senhora Baratinha que tem fita no cabelo e dinheiro na caixinha". Ela acaba eliminando os pretendentes que fazem algum tipo de ruído, cantando: 'Deus me livre de tal moço berrando dessa maneira, terei medo noite e dia, terei medo a noite inteira". E acaba optando por Dom Ratão, um folgazão, que sempre me pareceu mais interessado no dinheiro da Dona Baratinha e nos prazeres da carne (ele cai na panela do feijão na véspera das bodas). E Dona Baratinha volta a seu canto triste e solitário na eterna busca de um pretendente.
Se eu fosse me casar, eliminaria muitos pretendentes pelo ronco (não conseguiria dormir ao lado de um homem que roncasse). Por isso, acho que não tenho vontade de dividir minha casa com um homem, preferiria que cada um tivesse a sua casa. Se a Dona Baratinha fosse uma barata moderna, poderia optar por essa forma de casamento e quem sabe seria feliz para sempre.
A propósito de baratas, apesar de toda minha simpatia por Dona Baratinha, sempre tive e continuo tendo pavor de baratas.