terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Os cães ladram e "Caravanas" passa

youtube.com
Tive o privilégio de assistir ao show "Caravanas" de Chico Buarque de Hollanda no antepenúltimo dia de minha temporada no Rio de Janeiro. 
A última vez que vi Chico num palco foi provavelmente em janeiro de 1999, no finado Canecão. Foi lindo, mas agora, acredito, que consegui saborear mais cada momento. Afinal, não sei se terei novamente a chance de ouvir Chico ao vivo novamente. 
Ele está com 73 anos, caminhando para 74, mas fiquei muito feliz de constatar sua vitalidade no palco. A voz continua firme e plena; e Chico até arriscou uns passinhos como sambista para homenagear o amigo e parceiro Wilson das Neves, que faleceu em 2017.
Para mim, o show foi impecável. A banda que o acompanha é sempre magistral. O cenário de Hélio Eichbauer, reforçado pela iluminação criativa de Maneco Quinderé, dá o tom do espetáculo: belo e elegante como Chico.
O show é um desfile de antigas e novas canções do CD "Caravanas", que lhe dá título. Confesso que não estava familiarizada com as novas canções, como seria de esperar de uma "chicólatra", mas mesmo assim me deliciei com composições como "Massarandupió" (parceria com o neto Chico Brown), "Cantiga", "Blues para Bia" e "As Caravanas", entre outras.
Eu me reencontrei em canções mais antigas como "Retrato em branco e preto" e, especialmente, na bela e injustiçada "Sabiá", responsável pela enorme vaia recebida por Chico e Tom Jobim no Maracanãzinho em 1968*.  
Entremeadas às novas composições, brotaram canções que moram no meu coração como "As vitrines", "Todo o sentimento" e "Futuros amantes".  E o que dizer de "Mambembe", "Partido alto", "Homenagem ao malandro" e "Gota d'água", entre tantas outras?
No início, procurei não cantar junto para não atrapalhar artista e outros espectadores, mas, aos poucos, é impossível não se entregar/integrar ao coro da plateia, formada por gente de várias idades. "Geni e o zepellin" foi uma espécie de catarse coletiva: como não cantar o refrão a plenos pulmões junto com ele?
Como nossa mesa era a última de uma fileira, pude me permitir ficar em pé na maior parte do show. Assim me livrei do embaraço de garçons que não param de atender o público um segundo sequer e, por tabela, pude dançar livremente nos momentos mais animados 
Tem gente que pede a conta no meio do show e aí você tem na sua frente um garçom com uma lanterninha explicando a conta ao freguês. Me poupe! É bem chato ter que assistir a uma apresentação de Chico num local como o Espaço Vivo, com esse movimento de garçons. 
Ah, teve um momento em que me levantei e pedi a dois seguranças que estavam de pé logo atrás de nossa mesa para falarem mais baixo. Dá para acreditar?
Mas, apesar dos pesares, foi uma experiência intensa e inesquecível. 
Os cães ladram e a caravana passa!  Chico continua sendo o maior artista brasileiro em atividade, na minha opinião. Oxalá se conserve assim!

* Para os mais jovens fica aqui a explicação: a reação do público foi motivada pela nítida preferência da plateia por "Caminhando" ou "Pra não dizer que não falei de flores" de Geraldo Vandré, que ficou com o segundo lugar nessa edição do FIC. 


oglobo.globo.com