sábado, 2 de abril de 2022

Adoção responsável



Há pouco mais de um ano adotei Juca. Hoje ele já é bem conhecido entre meus amigos e familiares, e mesmo quem não o conhece presencialmente acompanha suas aventuras e desventuras. 

Ter um animal em casa é uma experiência incrível e confesso que relutei muito em criar um pet em apartamento.

Quando eu era criança e morava no Rio de Janeiro com minha mãe e minhas irmãs num apartamento no Flamengo, sonhava muito em ter um cachorro. Perturbei tanto minha mãe que ela até concordou com a ideia, mas tive um momento de lucidez e desisti. Meu ideal de cachorro nunca foi um cãozinho pequeno, de apartamento. Eu sonhava com um cachorro maior, estabanado, como aqueles que a gente vê nos filmes.

Em março de 2021 ainda estávamos em pandemia quando decidi adotar um bichinho. Num domingo, após um ensaio maravilhoso do musical "O Poder da Floresta" com o Coro Experimental MT e membros da Igreja Mestre Irineu, voltei para casa inspirada e entrei em contato com Ângela Baldissera, responsável pelo Abrigo Melhor Amigo.  Quando ela me perguntou se eu queria ir ao Abrigo para escolher, respondi: não, quero um malhadinho que vi numa foto postada no Instagram. Ela me disse que ele se chamava Toco e era o último de sua ninhada que tinha ficado para trás.

No dia seguinte, o filhote,  que rebatizei como Juca, estava na minha casa e aí a gente foi se conhecendo, se curtindo e vivendo várias histórias já narradas aqui e/ou nas redes sociais.

Hoje, vendo as postagens de grupos relacionados a animais em Cuiabá (de repente, minha timeline só tem notícias sobre cachorros perdidos, achados, pedidos de ajuda para comprar ração, medicamentos, etc), tenho vontade de ficar com todos aqueles animaizinhos com cara de carentes. Eles são tão lindos! Ao mesmo tempo, eu me dou conta de como é difícil manter um animal, principalmente quando você mora sozinha.

A começar pela "obrigação" de passear com ele, de manhã e no final da tarde. É gostoso? Sim, mas não é todo dia que você está a fim, está disponível. Tem dia que você está com sono, que está chovendo, está ventando ou quente demais. E essa obrigação é diária, não tem feriado, nem final de semana. Ah, mas tem os hotéis onde você pode deixar o pet para descansar (você e ele). Sim, mas as diárias  são caras (aproximadamente R$ 50).

E aí entramos num outro ponto delicado: cuidar de um pet custa caro. Não são só vacinas e os gastos básicos iniciais (cama, bebedouro, comedouro, peitoral, guia, etc). É preciso dar vermífugo, carrapaticida com uma periodicidade bem enxuta. E mesmo assim você corre o risco de que seu animal pegue uma doença transmitida por carrapatos, já que Cuiabá está infestada desses bichinhos cuja única utilidade parece ser atrapalhar a nossa vida.

E ainda tem um arsenal de supérfluos irresistíveis: brinquedos de pelúcia, bolinhas, bifinhos, sticks, patês, biscoitos, entre outros.

De repente, você se toca que gasta mais com seu bichinho de estimação do que com si própria. Eu me dei conta disso no dia que comprei uma pasta de dente pro Juca mais cara do que qualquer uma que já comprei para mim. 

Mas aí já é tarde demais: você está irremediavelmente apaixonada por ele e a hipótese de perdê-lo enche seus olhos de lágrimas. 

O objetivo desta postagem não é desestimular a adoção de bichinhos. Eles são maravilhosos, adoráveis e nos ensinam muito. O que quero é alertar às pessoas sobre o que significa o ato da adoção. Acredito que muita gente adota, depois devolve no primeiro obstáculo e não cumpre os requisitos básicos para manter o seu animalzinho feliz e saudável.

Nesses quase 13 meses de convivência com Juca, aprendi muito sobre meus limites, minhas imperfeições e também sobre minha capacidade de amar. Adotar tem a parte boa, de rir com as travessuras de seu cão e até fazer amizades, mas é sobretudo um ato de amor, de renúncia e um compromisso até maior do que o que você estabelece com outro ser humano. 

O(a) amigo (a), o(a) namorado (a), o parente, pode até machucar seu coração (e vice-versa), mas sempre haverá a possibilidade de um diálogo, uma explicação para o fim do relacionamento, a separação, a falta de disponibilidade para uma conversa. No caso do bicho de estimação, o laço é para sempre e, por isso, a minha responsabilidade como tutora é imensa. E às vezes bem pesada.  Mesmo assim quero ficar bem velhinha ao lado de Juca. 

Juca com dois colares elisabetanos por recomendação de seu médico veterinário




domingo, 13 de fevereiro de 2022

A arte de esquentar pamonha

Dizem que a felicidade é feita de pequenos momentos. Nem sempre são situações gloriosas; às vezes são acontecimentos quase banais, que se revestem de graça e enchem nosso coração de alegria. 

Foi o que aconteceu há alguns dias quando fomos convidadas – eu e minhas duas sobrinhas, mãe e filha, que passavam alguns dias em Cuiabá – para almoçar na casa de Vera Capilé. É sempre muito gostoso ir à casa de Vera, que recebe os visitantes com muito carinho e comida boa em sua chácara na área urbana de Cuiabá. 

Nesse dia não foi diferente e, após o almoço prolongado e regado à música e cantoria, chegou a hora de embora, pois já estava prestes a escurecer. Waldir Bertúlio, seu companheiro, disse que ia comprar pamonha na Feira do Paiaguás e resolvemos acompanhá-lo pois minha sobrinha Bel ficou entusiasmada com a possibilidade de comer pamonha e curau. 

Ao chegarmos à feira, logo nos dirigimos à barraca onde Waldir costuma comprar as iguarias à base de milho e, em seguida, para satisfazer a vontade de minha sobrinha-neta Sofia, fomos atrás de pastel. Que delícia! Nada como um bom pastel de feira, farto em recheio e gigante no tamanho. 

É claro que depois de comermos cada uma o seu pastel não sobraria espaço para a pamonha e, ali mesmo enquanto devorávamos o pastel, perguntamos ao Waldir como deveríamos esquentar as pamonhas no dia seguinte. Diante de nossos ouvidos incrédulos, ele explicou que deveríamos colocá-las na água fervente. Eu questionei se seria em “banho-maria” e ele disse que não: era para colocar as pamonhas diretamente na água fervente. 

No dia seguinte, continuávamos receosas de que a pamonha fosse se desmanchar na água fervente, porém após algumas pesquisas resolvemos arriscar. Mas antes fiz uma última consulta ao Waldir.

“Bom dia! Estamos esquentando as pamonhas agora. Resolvemos seguir sua orientação. Colocamos as pamonhas ainda envelopadas numa panela com água no fogo. É isso mesmo?” 

“Sim, confirmado por Vera. Eu venho desde criança de roças de milho ...”, respondeu Waldir, com uma pontinha de impaciência. 

Pois não é que deu super certo? As três pamonhas (de comer) ficaram deliciosas como se tivessem sido preparadas naquele minuto. Agora se alguém me perguntar como esquentar pamonhas, já sei como ensinar. Não caia na tentação de colocar as pamonhas no micro-ondas pois ficarão ressecadas. Ouça a voz da experiência.

Depois desse relato me deu vontade de comer outra pamonha daquela. E tem mais um detalhe: eu descobri que amo curau. Terei que regressar em breve à feirinha do Paiaguás para comprar todas essas guloseimas.

segunda-feira, 3 de janeiro de 2022

Lançamento de "Adeus ao vírus"



O lançamento do livro “Adeus ao vírus – Erradicação da febre aftosa: a participação de Mato Grosso na maior epopeia veterinária das Américas” (Entrelinhas Editora) reuniu várias gerações de médicos-veterinários, produtores rurais, jornalistas e outros profissionais ligados ao setor agropecuário, no auditório da Famato, na manhã de quinta-feira (16/12). 

Escrita pelos jornalistas Martha Baptista e Sérgio de Oliveira, sob os auspícios do Fundo Emergencial de Saúde Animal do Estado de Mato Grosso (Fesa-MT), a obra resgata em mais de 300 páginas a história de sucesso do combate à febre aftosa, num momento em que o estado está prestes a celebrar 26 anos sem qualquer registro da doença. 

No final de setembro de 2020, os autores começaram a ouvir os primeiros depoimentos de pessoas que trabalharam em prol da erradicação da enfermidade de maior impacto econômico na cadeia produtiva da carne. Mais de 70 entrevistas foram realizadas com fontes de Mato Grosso e outros estados, da capital federal, Bolívia e outros países. 

Diversos protagonistas dessa saga, descrita como a maior epopeia veterinárias das Américas, fizeram questão de estar presentes ao evento de lançamento. Entre eles, destaque para os veteranos da Campanha de Combate à Febre Aftosa de Mato Grosso (Cacofa), iniciativa do início dos anos 1970: Waldebrand Coelho, Juarez Molina, Jaime Bom Despacho, João Lozano Ewbank de Campos, Wilton da Silva Santos, Manoel de Aquino Filho e Adair José de Moraes. 

Veio gente da Bolívia, como Aldo Vaca, presidente da Asociación de Ganaderos de San Matias (Agasam); de Brasília, como Aluísio Sathler, veterano do Coordenação de Combate à Febre Aftosa (CCFA) do Ministério da Agricultura; e de Santa Catarina, como o professor Clovis Improta, que deu os primeiros cursos de Educação Sanitária e Comunicação para a Saúde em Mato Grosso. 

Houve quem enviasse seu depoimento em vídeo, como Guilherme Marques, do Instituto de Defesa Agropecuária de Mato Grosso (Indea) e do Mapa; Pedro de Camargo, idealizador do Fundepec, o primeiro fundo privado de enfrentamento da febre aftosa no Brasil; Jogi Humberto Oshiai, ex-assessor da Missão do Brasil junto às Comunidades Europeias que muito contribuiu para superar as barreiras que impediam a exportação da carne bovina in natura; e Ivan Suzuki Serpa, ex-servidor do Indea, que representa a mudança de mentalidade na forma de enfrentamento à febre aftosa em Mato Grosso. “É preciso conhecer o passado para entender o presente e planejar o futuro”, afirmou Serpa em seu depoimento, destacando seu orgulho em ser o personagem do livro. 

O resgate da história de combate à febre aftosa torna-se especialmente importante no momento em que Mato Grosso está caminhando para a retirada da vacinação contra a enfermidade em todo o seu território, na opinião de Antonio Carlos Carvalho de Sousa, presidente do Fesa-MT. 

“A realização deste resgate histórico foi uma sugestão do saudoso dr. Edson Ricardo de Andrade, ex-conselheiro do Fesa-MT, realizada com êxito pelos jornalistas Martha Baptista e Sérgio de Oliveira. É importante que as novas gerações conheçam e valorizem o trabalho árduo dos pioneiros que contribuíram para a erradicação da doença no país (o Brasil foi declarado livre de aftosa com vacinação pela Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) em 2018). Mato Grosso está há mais de 25 anos sem um registro de febre aftosa e estamos trabalhando pela retirada total da vacinação em novembro de 2022”, comentou o presidente. 

“A gente tem que render méritos aos que começaram, como os ex-presidentes da Famato, Zeca D’Ávila (que fundou e presidiu o Fundo Emergencial da Febre Aftosa do Estado de Mato Grosso/Fefa, precursor do Fesa) e Homero Alves Pereira e, principalmente aos produtores rurais, que vacinaram sistemática e rigorosamente todo o rebanho“, comentou o presidente da Federação de Agricultura e Pecuária do Estado de Mato Grosso (Famato), Normando Corral, que destacou o envolvimento dos órgãos de controle como o Indea-MT nessa luta vitoriosa. 

O pecuarista Luiz Carlos Meister, ex-vice-presidente do Fefa-MT e representante da indústria frigorífica no fundo pioneiro, também enalteceu a parceria entre a iniciativa privada e o governo de Mato Grosso no combate à febre aftosa em Mato Grosso. 

O livro publicado pela Entrelinhas Editora, como parte da série Memória do Agronegócio, conta como o vírus da aftosa foi identificado no século XVI, na Itália, chegando às Américas no século XIX, e como foi sua erradicação em países como os Estados Unidos, onde não circula desde 1929. Resgata também a traumática experiência de quem lidou com a doença quando ainda não havia disponibilidade de vacinas no país, passando pela fundação de entidades como o Panaftosa, estruturação dos serviços veterinários estaduais, criação dos Fundos Emergenciais privados, produção das primeiras vacinas a serem utilizadas em campanhas e a impressionante evolução desses imunizantes – um dos fatores primordiais para a erradicação da doença em nosso país. 

A obra traz ainda um panorama da situação atual no continente sul-americano, onde apenas a Venezuela registra casos da doença, e abre espaço para a discussão do momento: se o Brasil está realmente preparado para retirar a vacinação. O livro não será comercializado e sua distribuição será direcionada pelo Fesa-MT a Sindicatos Rurais, universidades, pesquisadores e órgãos do setor agropecuário. Os interessados em conhecer a obra deverão procurar o Fesa-MT: www.fesamt.com.br