sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Passagem do Meio

Há alguns dias li o texto "A passagem do meio (Da miséria ao significado da meia-idade)", de James Hollis, gentilmente enviado por um amigo depois de ler um post escrito aqui.
Venho me dedicando com afinco à leitura do texto. Fiz uma primeira leitura que me emocionou bastante e agora estou em meio à segunda, que estou fazendo com mais vagar, como convém a esse tipo de texto.
O que ele tem de tão especial?
Em primeiro lugar, fala de um momento muito especial de nossas vidas - aquele em que a gente, por mais que não queira, vai assumindo aquela postura de quem caminha em direção ao abatedouro.
Aos 50 e tantos anos (57 no meu caso), por mais que alguns artigos e reportagens tentem nos fazer mudar de opinião, assim como exemplos de pessoas que começam um novo amor ou uma nova profissão depois dos enta, temos a sensação de que já tivemos as melhores oportunidades da vida e vivemos os melhores anos no auge de nosso vigor físico e mental.
Nessa idade, ou você já deu "certo" (é próspera, saudável, bem situada profissionalmente, tem um relacionamento estável com outra pessoa, uma legião de grandes amigos, etc, etc) ou você fica com aquela sensação meio amarga na boca.
Nessa autoavaliação, há fatores objetivos e muito subjetivos, é claro. Não adianta alguém vir e lhe dizer que você é muito legal, que te admira, porque o que conta mesmo é a sua autoestima, que, no meu caso, é baixa.
Mas retomando o texto "A Passagem do Meio", meu objetivo aqui é compartilhar uma experiência interessantíssima que comecei a viver desde a sua leitura. Eu me identifiquei muito com o texto e estou procurando reavaliar e ressignificar algumas situações à luz das observações do autor, um psicanalista norte-americano junguiano.
O texto nos propõe uma pergunta básica e essencial: "Quem sou eu, além da minha história e dos papéis que interpretei?"
É essa pergunta que venho me fazendo diariamente há algumas semanas. 
Já descobri, por exemplo, que por uma razão de sobrevivência familiar assumi o papel de uma pessoa fraca, que precisa de proteção e, para garantir essa situação (des)confortável, acabo metendo os pés pelas mãos e fico com a sensação de que sou "menos" do que gostaria.
Isso me lembra quando comecei a dar aulas no curso de Letras da Unemat, em Cáceres, no início dos anos 1990. Embora estivesse dando um passo ousado (enfrentar uma sala de aula pela primeira vez na vida), achava que estava aquém de minhas colegas e sempre me colocava numa postura retraída. Eu me lembro de ter dito numa reunião uma frase atribuída ao comediante Grouxo Marx: "Nunca frequentaria um clube que me aceitasse como sócio". Eu sabia o que estava falando, mas não sei se cheguei a ser realmente compreendida.
Aos poucos, conquistei com meu esforço a admiração e a confiança de muitos alunos, colegas e chefes, mas, mesmo assim nunca consegui incorporar essa experiência como uma vitória e uma prova da minha capacidade pessoal e profissional. Pelo contrário, eu me cobro até hoje por não ter tido a capacidade de transformar essa rica experiência transitória numa situação mais perene que me garantisse hoje uma renda estável e permanente.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Um sonho (ou pesadelo)

Gostaria de registrar um sonho (ou pesadelo) muito estranho que tive ontem num breve sono.
Eu estava em Cáceres e seguia em direção ao bairro Cavalhada, onde morei por 10 anos. O céu estava encoberto e o horizonte sombrio. Peguei uma rua que existe na realidade, mas ela era bem diferente: sem asfalto, bem rústica. Vi um menino que hesitava em seguir a pé e cheguei a pensar em lhe dar uma carona (eu estava de carro? de bicicleta?). 
Pouco mais adiante encontrei uma cratera enorme e fui obrigada a parar. Nisso, vi dois homens que saíam do buraco e me viram. Tentei fugir, mas um deles me pegou. O outro disse que ele estava sendo muito mole comigo e ele começou a me bater. Eu gritei "Socorro" o mais alto que pude na esperança de que o garoto me ouvisse e pedisse socorro. Gritei duas vezes, mas aí me lembrei de que aquilo era um sonho e que bastava acordar para interromper meu sofrimento.
Esse foi o sonho e ele me fez pensar: sobre o desejo que tenho de proteger outras pessoas (o menino) reprimido diante do medo de me expor; sobre o medo do desconhecido, da violência latente de nossas cidades e sobre a possibilidade de interromper um momento de pavor com o simples acordar.
Fiquei brincando com essa ideia (que não é original): será que nossa vida não é um sonho que pode ser interrompido se assim o desejarmos?
No momento, não tenho vontade de interromper este "sonho". Minha vida pode não ser um sonho, mas está longe de ser um pesadelo.

sábado, 19 de outubro de 2013

Música divina música


Itiberê e Mariana Zwarg em Cuiabá - foto Arquivo Sesc Arsenal
Depois de ver um monte de notícias ruins no Facebook, vou fazer um esforço para resgatar o sentimento que me animava quando voltei para casa ontem depois de um show maravilhoso no teatro do Sesc Arsenal, em Cuiabá.
Tão lindo que preciso contar para mais gente o que aconteceu lá.  Essa é a pretensão do jornalista ou do escritor, seja ele blogueiro ou apenas um frequentador das páginas de mídia social.
Vamos aos fatos: fui ao show dos professores convidados para os cursos e oficinas de Música que aconteceram ao longo da semana, no Sesc Arsenal. Na verdade, saí do trabalho e fui direto para o Sesc com o objetivo de assistir ao show de Itiberê Zwarg, contrabaixista do Hermeto Pascoal, arranjador, produtor musical e educador. Sabia que ouviria um som no mínimo instigante, diferente. E de graça.
Para minha surpresa, encontrei isso e muito, muito mais.
O show começou com uma apresentação do grupo da oficina de sopros de Víttor Santos, que formou uma big band em cinco dias de prática. Foi lindo! Eles tocaram várias composições do próprio Vittor Santos, que ainda nos brindou com uma aula sobre a evolução musical das big bands. Alguns músicos do grupo me eram familiares como o trompetista Tony Maia e o sax tenor Andrei, e fiquei muito feliz de saber que muitos deles fizeram parte do Instituto Ciranda - Música e Cidadania, aquele que não me canso de elogiar. O som foi maravilhoso, viajante, contagiante ...
Ah, eles ainda apresentaram um número com a cantora Muiza Adnet, irmã da Maucha, do Mário e tia do Marcelo, e contaram com a participação do baixista André Vasconcellos (que deu o curso de contrabaixo) e de um baterista cujo nome perdi.
Em seguida, começou a apresentação de Itiberê, ao piano, e de sua filha Mariana (flautas). Eles interpretaram vários temas conhecidos, mas de uma maneira tão única e especial, entre eles, "Na Baixa do Sapateiro", "Índia" (com o saxofonista Augusto, também oriundo do Ciranda), "Cantador" com Muiza e "Bebê" com André Vasconcellos e o baterista fantástico cujo nome não memorizei. 
Nem sei o que destacar: a cumplicidade entre pai e filha? A forma maravilhosa como Itiberê - um músico que já percorreu o mundo inteiro - se referiu ao jovem e talentoso saxofonista Augusto? A beleza da interpretação de Muiza de uma música que adoro ("Cantador" - uma parceria de Dori Caymmi e Nélson Motta)? Ou a delícia de ouvir a releitura de "Bebê", composição de Hermeto Pascoal?
A essa altura do show, eu já estava totalmente feliz, mas houve mais uma surpresa: a apresentação dos alunos da Oficina de Prática de Conjunto, dirigida pelo próprio Itiberê. No palco, três jovens - uma delas Laura Pompeu, de apenas 15 anos -, dois violonistas (um deles, Joelson Conceição), dois percussionistas, um contrabaixista e um saxofonista. Sob a regência de um empolgadíssimo Itiberê, o grupo apresentou uma composição feita coletivamente durante a oficina ("Tô chapada").
Adorei! Eles começaram só na base do vocal (e que vocal!) e só depois entraram os instrumentos (trompa, dois saxes, dois violões, contrabaixo e percussão) mais a voz de Laura. Foi show! 
No final, Itiberê fez um breve discurso lindo, agradecendo ao Sesc Arsenal pela oportunidade de trabalhar em Cuiabá mais uma vez e elogiando os músicos participantes de oficinas e cursos. 
Ele disse que o mundo está muito "estropiado" e que a música pode ajudar muito a melhorar essa situação por ser "uma fonte sem fim". 
Realmente. Sou obrigada a respeitar todos os gostos, mas há músicas que elevam o espírito, fazem bem à alma ou seja lá o que temos dentro do nosso corpo. Outras parecem que não fazem diferença, às vezes até nos irritam, estressam. 
É muito estimulante ouvir tantos músicos bons e promissores de Cuiabá. Faz a gente esquecer um pouco o horror que esta cidade se tornou com tanta violência, tanto descalabro por parte de políticos que, infelizmente, só estão no poder porque os elegemos. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O prazer de praticar Yoga

Ontem vivi uma experiência muito agradável: fiz uma prática de yoga ao lado de minha filha Diana, no novo espaço da professora Moara Schroeder.
Em 2008/09, fui aluna de Moara, mas depois, por motivos diversos, acabei buscando outros lugares para a prática da yoga, que se tornou um must em minha vida.
Recentemente, ela abriu um novo espaço exatamente em frente ao prédio onde moro, na rua Estevão de Mendonça em Cuiabá. Como sou aluna da academia Golfinho Azul, onde pago uma anuidade, não me interessei em conhecer o local, mas Diana começou a frequentar as aulas de Moara.
Ontem, fiquei com vontade de conhecer o espaço e pedi à Diana para perguntar à Moara se poderia ir a uma aula. Ela respondeu que a professora já tinha deixado essa possibilidade em aberto.
Que lugar lindo! Fica nos fundos de uma casa que abriga vários consultórios e já teve diversas funções desde que moro no edifício da frente. Moara conseguiu criar um espaço mágico, onde havia uma piscina abandonada (segundo ela).
Ela reformou todo o fundo da casa e essa atmosfera gostosa é criada com tecidos brancos esvoaçantes que caem do teto, velas, almofadas, por uma fonte artificial que cria a ilusão de que estamos próximos a um riacho e pela música maravilhosa!
Consegui entender por que Diana está tão apaixonada pelas aulas e até deixando de lado as aulas da academia que sempre amou.
Fazer uma aula ali é uma experiência extremamente relaxante e desafiadora, já que temos que enfrentar a nossa dificuldade de nos alongar e fazer algumas posições que vão se tornando difíceis devido a más posturas e a não utilização (ou subutilização) de articulações e músculos de nosso corpo.
Fiquei morrendo de vontade de voltar lá, embora adore a minha professora de yoga do Golfinho Azul. Mas, por mais que ela se esforce em criar um clima especial para a prática da yoga, tem que competir com o barulho de supinos e outros aparelhos da sala de musculação que fica em cima. Precisamos, como alunos, fazer um esforço redobrado para nos concentrarmos e não ouvirmos a voz da professora de hidrobike que dá aulas no mesmo horário.
Num momento em que ando bem incrédula em relação à capacidade de criarmos um mundo melhor diante de notícias diárias horríveis sobre crimes, mutilações, traições, corrupção, violência, abuso de poder (de todo tipo) e violência policial (veja o caso do pedreiro Amarildo), talvez seja esse o caminho para conseguir não perder a cabeça e não se deixar levar pela tristeza.
Sinceramente, gostaria que todo mundo pudesse praticar yoga, mas isso é uma utopia. Uns ficam bem caminhando, outros correndo, outros praticando lutas marciais, outros ainda nadando ... Cada um tem sua escolha, mas cada vez mais acredito que a yoga é um belo caminho e estou muito feliz que Diana tenha descoberto e adotado esse caminho.
A propósito, dormi profundamente esta noite e tive sonhos incríveis.