sábado, 31 de dezembro de 2011

Agora sim ...

Agora sim faço meu último post do ano, que será uma espécie de balanço, porém mais voltado para o futuro do que para o passado, que, afinal de contas, já passou.
Juro que não queria ser uma pessoa negativa e, tampouco, "reclamenta".
Queria muto ser uma pessoa mais amorosa, generosa e sempre muito positiva. Mas nem sempre consigo e não sei o que é melhor: aceitar minha natureza ou lutar para tentar ser uma pessoa melhor (não idealizada, apenas melhor).
Sei que tenho muito a agradecer este ano. Em primeiro lugar, às pessoas da minha família, que nunca me negaram apoio, nem carinho. Nesse rol incluo minhas irmãs, alguns sobrinhos especiais e minhas filhas, razão maior da minha existência. A ausência delas dá a dimensão exata da minha solidão.
Agradeço também a alguns amigos, que compartilharam minhas angústias e alegrias. E agradeço a algumas pessoas que encontrei pelo caminho ao longo do ano e que apostaram em mim, dando-me condições de continuar minha sofrida jornada profissional.
Não vou dizer que agradeço a Deus porque infelizmente continuo muito distante de qualquer tipo de fé e esse talvez seja o ponto mais doloroso da minha existência. É difícil prosseguir sem fé. O que a gente faz para conseguir um pouco de fé?
Quando digo fé estou me referindo a uma capacidade de acreditar que existe algum sentindo na vida (ou aceitar que não existe), é ter capacidade e disposição de amar simplesmente, sem querer ou esperar nada em troca.
Se não temos fé, é preciso ao menos ter amor. Quando falo em amor não estou me referindo ao amor a uma pessoa em especial, estou falando de vivenciar um sentimento de amor em relação a qualquer coisa, bicho, pessoa ... Mas tem que ser um sentimento que percorra todos canais de nosso corpo e mente e nos dê energia suficiente para acordar todos os dias e seguir em frente, não como um autômato e sim com uma pessoa que deseja, sonha, planeja e vai atrás de seus objetivos.
Já que falei em objetivos, preciso dizer que tenho me dado conta de quanto sou falha em planejamento. Não estou falando de planejamentos de curto prazo (nisso até sou razoavelmente eficiente) e sim de planejamento de médio e longo prazo. Deixo muito a vida ao acaso.
Acho que já falei demais. Andei pensando hoje de manhã que em 2012 a formiga vai precisar prevalecer sobre a cigarra mais uma vez. A cigarra fez o seu papel em 2011, mas acabou o ano meio machucada, de asas quebradas.
Talvez seja a hora da formiga entrar em campo e botar a casa em ordem, nem que seja enquanto a cigarra se recupera e ganha forças para retornar.
Se você conseguiu chegar ao final desse post, obrigada. Você, leitor visível ou invisível,  ajuda-me a me (re) significar, a me compreender melhor.
Aos companheiros desta jornada virtual, desejo um 2012 ... intenso, harmonioso e muito saudável.


quinta-feira, 29 de dezembro de 2011



Acho que vou tentar fazer agora o meu post de final de ano. Se der vontade de escrever amanhã de novo, tudo bem, se não der, já fica a minha despedida.

Quisera estar mais animada ... A proposta aqui sempre foi ser sincera num espaço privado, que se torna público por força da tecnologia.

É como se eu escrevesse para mim mesma e para o mundo inteiro. Qualquer um que quiser pode me ler, dedicar alguns minutos do seu tempo a mim.

É estranho pensar que várias pessoas fizeram isso ao longo do ano e dos últimos três anos.

Esse final de ano está difícil.

Minhas filhas estão bem e harmonizadas com os cursos escolhidos, mas eu estou insatisfeita comigo mesma. Acho que estou ficando meio doida porque no meu último post estava toda feliz, dizendo estar "de bem com a vida".

Na verdade, estou angustiada, desanimada e desperançosa. Estou me sentindo muito sozinha e, ao mesmo tempo, tenho a sensação de que não tenho muita coisa para dar às pessoas.

Sinto que estou precisando uma chacoalhada. Há pouco conversava com um grande amigo que conheci em Cuiabá e voltou para sua cidade natal. Mais uma vez ele me disse: "Volta pro Rio". Acho que não dou conta. Tenho medo de largar o meu conforto (perverso?) e quebrar a cara. Estou insegura demais para isso. E também não sei se é essa a solução.

Há oito anos quando cheguei a Cuiabá, também estava insegura, mas tinha mais energia e estava animada. Encarei o desafio de dar aulas numa universidade federal, numa particular, num curso de francês, de inglês, de trabalhar numa revista de agronegócio, de viajar por esse Mato Grosso afora, publiquei um livro, escrevi outro.

A sensação que tenho é que nadei, nadei e morri na praia este ano. Eu me mexei bastante. Passei por duas redações de Cuiabá, inventei novos trabalhos, fiz um monte de frilas, consegui entrar (ainda que de uma forma temporária) numa empresa que adoro.

Nadei, caminhei, cantei, dancei, namorei bem menos do que gostaria e não sinto que esteja terminando meu ano fortalecida. Pelo contrário. É como se eu não tivesse me completado em nada do que fiz, como se o quebra-cabeça não tivesse sido montado. Quando parecia que ia ser montado, alguém misturava todas as peças de novo.

Juro que não era isso que gostaria de dizer neste momento, mas é o que estou sentindo.

Não me julguem, nem me condenem, nem sofram por mim.

Amanhã vou estar melhor e vou continuar buscando esse caminho.

As pessoas falam tanto do caminho do coração. Fiquei alguns minutos parada tentando ouvir o meu, mas não consegui captar a mensagem. Vou insistir.




terça-feira, 27 de dezembro de 2011

De bem com a vida

Estou de volta para casa e uma quase rotina. Amanhã recomeço a trabalhar nos meus frilas, mas como não irei à Entrelinhas à tarde (estamos de recesso) tudo ainda ficará com um gostinho de semiferiado.
Apesar de estar sozinha neste momento (as meninas ficaram em Cáceres), estou tranquila. Fiz uma viagem chatinha de Cáceres para cá - quase quatro horas de ônibus com um companheiro de poltrona meio mala, que insistia em conversar, embora eu não desse sinais de que estava a fim. Ele se mexia demais, não parava quieto, era invasivo. Eu botei o fone no ouvido, tentei cochiclar, mas acordava por causa da inquietação dele. Mas chegamos. É o que importa.
Em compensação peguei um motorista de táxi muito gentil. O cara tem 28 anos de praça e acho que me deu uma cantadinha de leve. Disse que depois que ficou viúvo não conseguiu encontrar a mulher certa porque as mulheres de hoje em dia só querem saber de festa e dinheiro. Quase que eu disse o mesmo sobre os homens. Ele me falou onde mora, disse que seu for lá um dia tem que ligar no celular dele porque a casa é muito grande (e própria) e não dá para ouvir se alguém chega. Não entendi por que não tem campainha. Perguntou sobre meu marido. Pena que ele não seja meu tipo (pelo menos não me pareceu).
Meu Natal em Cáceres foi gostoso, embora cercado de alguns acontecimentos ruins, como a morte do professor Natalino, cuja família fui visitar, e de um rapaz, amigo de minhas filhas, que morreu num trágico acidente de carro vindo do Paraná para Cáceres a fim de passar as festas com os pais. Nem consigo imaginar o estado de espírito desses pais, com quem não tenho amizade.
Mas, a vida seguiu em frente e nos divertimos bastante na véspera do Natal numa festa animada por uma ótima banda de rock (em Cáceres, acreditem), na noite de Natal (que teve um amigo da onça muito divertido), encerrada às 5h da manhã e no domingo de Natal, regado a banho de piscina, muita cerveja, violão e cantoria. E olha que eu estava me tratando de uma faringite e uma laringite, diagnosticadas na quinta-feira.
Realmente, a hospedagem na casa de Márcia e Cláudio, meus anfitriões, é nota 10! Fico muito feliz que tenhamos conseguido manter e até incrementar esse relacionamento após a minha separação do pai das minhas filhas, irmão de Cláudio.
Revi alguns poucos amigos e me enterneci com o clima de Cáceres, uma cidade que mora no meu coração e onde vivi grande emoções.
Fecha a cortina e agora é tocar a vida em Cuiabá. Tentar manter o coração aquecido (né, Chorik?) e a mente aberta. Tentar não se abater com as coisas ruins, com as pessoas que insistem em fazer tanto mal aos outros e a si mesmas. Ficar sintonizada com as energias do bem. Não fugir da raiva e da indignação, mas não deixar que elas azedem meu dia, meu humor e minha saúde.

sexta-feira, 23 de dezembro de 2011

O Professor

Ontem eu falava sobre missão e pessoas que levam a vida de uma forma coerente.
Hoje quero falar sobre uma pessoa assim, uma das mais iluminadas que tive o prazer de conhecer: o Professor (esse sim merece maiúsculas) Natalino Ferreira Mendes.
Acabei de saber que ele faleceu nesta madrugada, aos 87 anos, às vesperas de completar 88 ( no dia 3).
Sempre digo que Cáceres me trouxe muitas coisas boas e uma das melhores foi ter conhecido o professor Natalino. Quem me conhece sabe o quanto estou falando a verdade.
A gente se conheceu por causa do livro sobre dona Estella. O professor Natalino não é historiador formado, mas é uma das pessoas que mais se debruçou sobre o registro da história de Cáceres e era natural que eu fosse procurá-lo como fonte de pesquisa.
Ele me abriu as portas de sua casa e de seu coração. Chamava-me carinhosamente de "professora" (eu dava aulas na Unemat, na época) e era sempre muito gostoso conversar com ele. Reconheço que algumas pessoas mais velhas guardam um pouco da amargor, rancor, mas com certeza esse não era o caso do professor Natalino. Ele era tão generoso e parecia uma vez pessoa sempre em paz!
Meu livro "Cantos de amor e saudade" ("Estrela de uma vida inteira", na versão original lançada em Cácrres, em 1998) não seria o mesmo sem a sua contribuição.
Tudo que eu disser aqui será pouco para expressar minha tristeza de não poder revê-lo mais uma vez e receber o abraço de sua figura esguia e elegante.
Levarei meu abraço à família maravilhosa que ficou, em especial, à minha querida amiga Olga Maria, professora e escritora, como o pai.
Li há pouco um texto de um amigo que falava sobre "anjos humanos". O professor Natalino foi um deles.

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Minha missão

Acabei de conversar com uma pessoa que conheço há uns 13 anos e sobre quem devo escrever um perfil. Nunca fomos amigos, porém tivemos um relacionamento de trabalho quando eu morava em Cáceres. Ela me disse que veio para Mato Grosso com uma missão e tem se mantido coerente com o cumprimento dessa missão.
Achei bonito isso. Fiquei me perguntando qual é a minha missão (se é que tenho alguma).
Todo esse preâmbulo tem muito a ver com o meu momento atual. Ando me questionando tanto que sequer me animo a escrever no blog. Falar sobre o que? A minha decepção com os políticos mato-grossenses e do Brasil em geral, sobre a corrupção, sobre a miséria do Pronto Socorro, a violência crescente de Cuiabá? Não acho que não seja importante falar sobre tudo isso, mas já há gente suficiente falando disso com mais propriedade tanto na mídia convencional quanto na universo dos blogs.
Não tenho histórias interessantes, nem aventuras de viagem para contar para contar neste momento. Seria a hora de fechar o boteco e mudar de ramo? Criar outra identidade como blogueira, um outro blog?
São questões que me assolam neste fim de ano, embora ainda não seja este o post de balanço de 2011.
Minha questão crucial hoje é identificar se tenho uma missão e qual é ela. As empresas, hoje em dia, exibem orgulhosas sua missão, visão de futuro e valores. Muitas colocam tudo isso num quadro exposto na parede. Em geral, são palavras bonitas e nem sempre condizentes com a realidade.
Qual é a minha missão? Minha visão? Meus valores?
Você já se fez essa pergunta algum dia?
É curioso porque não tenho muita dificuldade de identificar meus valores: ética, transparência, respeito ao próximo. Mas será que vivo realmente de acordo com esses valores? Tenho conseguido transmit-los às minhas filhas e às pessoas que estão em volta de mim? Ou será que estou muito fechada e incapaz de compartilhar esses valores com as pessoas com quem tenho contato seja pessoalmente, seja através deste blog ou mesmo dos trabalhos que executo como jornalista e escritora?
O quanto me afastei do meu caminho inicial? Por que me afastei? Será que ainda dá tempo de retomá-lo? Retomar minhas aspirações e sonhos de criança, a minha alegria sem motivo, motivada apenas pelo fato de estar viva e ser, sem cobranças (internas e externas) e frustrações?
O que me impede de tentar mudar as coisas que estão erradas? É claro que não vou poder mudar o mundo, mas não posso me sentir derrotada a priori, não preciso entregar os pontos e me entregar ao pessimismo deslavado. Preciso acreditar em alguma coisa. Urgentemente.

segunda-feira, 19 de dezembro de 2011

Compartilhar é viver

Neste domingo venci a inércia e fui ao shopping em Cuiabá comprar alguns (poucos) presentes de Natal. Para minha surpresa, o shopping não estava insuportavelmente cheio e, com exceção das lojas de departamentos (Renner, Avenida, C&A, LA), as demais estavam bastante tranquilas, algumas praticamente vazias.
Considerando que o fim de semana foi o último antes do Natal acredito que há uma certa distãncia entre o que a TV propaga e a vida real, pelo menos aqui em Cuiabá. Não me parece que as pessoas estejam comprando tanto e com tanto dinheiro como a mídia dá a entender.
Já disse em post anterior que o espírito natalino não me contagiou, embora eu esteja feliz por ter minha pequena família reunida novamente com a chegada da filha que mora no interior de São Paulo. Também me agrada a ideia de ir a Cáceres no próximo final de semana para passar o Natal com meus cunhados e sobrinhos. Só fico meio triste quando as pessoas me perguntam se vou para o Rio. passar as festas de fim de ano. É claro que gostaria de ir, mas também não é um drama ficar por aqui (pelo segundo ano consecutivo).
Estou também contente de poder passar o Réveillon numa festa na casa de amigos do Chorinho e por ter novos trabalhos surgindo. Preciso me concentrar no trabalho para ver se consigo mudar o disco de uma vez por todas. Isso não quer dizer que vou passar a viver 100% para o trabalho. Quero manter um mínimo de atividades salutares e prazerozas, como nadar, fazer aulas de hidro-bike, cantar no Chorinho, dançar, caminhar no Parque e eventualmente namorar.
Aliás, hoje, consegui entender por que fiquei tão chateada pelo fato de o grupo do qual faço parte não se apresentar pelo segundo ano. O Madrigal do Avesso foi criado no ano passado com uma proposta maravilhosa. Entrei no grupo em junho de 2010 e fiquei muito feliz por ter sido aceita num grupo tão especial e seleto. Enfrentamos alguns problemas com a saída de integrantes do grupo e terminamos o ano sem uma apresentação pública. Este ano, novos integrantes chegaram e outros saíram e terminamos mais um período sem apresentações.
Não se trata de buscar explicações ou justificativas para o fato de não nos apresentarmos. Às vezes fico meio chateada comigo mesma achando que essa vontade tão grande de me apresentar é uma mera necessidade de afirmação do meu ego, mas para isso, bem ou mal, tenho o espaço do Chorinho, onde sempre me apresento às quartas-feiras e sábados.
Cantar, para mim, é compartilhar, então, fico frustrada por não poder compartilhar o que aprendi e vivi no madrigal. Eu não me importaria em cantar para um grupo de pessoas carentes, doentes, transeuntes, da terceira idade, de qualquer idade ... O lugar não importa, nem o tipo do público, o que importa é ter a oportunidade de compartilhar a sensação boa que a música provoca na gente, deixar o racionalismo de lado para fluir ao sabor das canções, ser conduzida pela emoção por alguns minutos, entregar-se ao milagre operado pelo encontro de nossas vozes.
Vamos ver o que me espera em 2012 em termos musicais. 

quinta-feira, 15 de dezembro de 2011

Papai Noel não existe

Hoje estou especialmente cansada e a semana ainda não terminou. E nem vai terminar. Ando trabalhando num ritmo estranho em que não existe sábado ou domingo. Não quero dizer com isso que trabalho o tempo todo. Não, eu me divirto, apenas não estou conseguindo tirar um dia inteiro para descansar.
Mas vou fazer isso no Natal e, quiçá, no Ano Novo.
Mas, hoje estou no prego, morrendo de vontade de fechar o boteco e ganhar uma bela massagem relaxante. Como isso não vai acontecer, estou pensando em ir à aula de yoga quando sair do trabalho. Pelo menos vou descansar um pouco antes de ler o trabalho da minha filha mais velha (faz parte do ser mãe).
Amanhã tenho minha última sessão de terapia do ano e já estou com saudades de Márcia, minha psicóloga que não escolhi (é pela Unimed, de graça), mas que soube me acolher nesses últimos meses. É claro que quero mais, mas não sei ainda se isso será possível. Se não for, terei que seguir em frente sozinha, com minhas angústias e conflitos, que acho que nunca irão se resolver. É melhor eu me acostumar com eles.
Mas gosto de fazer terapia, da possibilidade de conversar sobre minhas coisas com uma pessoa que tem uma visão menos passional, parcial ou comprometida (acho que tudo dá no mesmo). Ela acabe me ajudando a me compreender melhor e a ser menos intransigente (ou, às vezes, complacente) comigo mesma.
O ano está quase terminando, mais um escândalo estourou no governo de Mato Grosso (em torno de cartas de crédito, uma história complicada!) e Jader Barbalho, quem diria, está voltando ao Senado. É Papai Noel não existe.


quarta-feira, 14 de dezembro de 2011

Ser mãe é muito bom!

Chove, chove, chove. A chuva é boa, mas me deixa muito angustiada, não sei dizer exatamente o motivo. Essas chuvas torrenciais de verão me assustam.
Mas não é sobre isso que quero falar e sim sobre uma sensação boa deixada por um comentário de minha filha mais velha no Facebook. "Mãe, não sei o que seria de mim sem você, muito obrigada por tudo, te amo". Sei que foi sincero, por isso me comoveu. Nem precisava ser tão público, mas a forma como ela disse isso me deixou feliz e me fez pensar.
Hoje, de manhã, entrevistei um médico muito legal para a próxima edição da revista Corpo e Arte. O tema é uma doença que, segundo ele, atinge mais mulheres e, em geral, mulheres que assumem para si um monte de encargos.
É claro que eu me identifiquei em parte com isso. Que mulher da minha geração não se identificaria?
A gente goza de privilégios que nossas mães e avós não tinham, especialmente da liberdade de trabalhar fora, ter seu próprio dinheiro e escolher seus parceiros, porém assumimos tantas responsabilidade e não temos, como disse o meu entrevistado, as mesmas condições dos homens para enfrentar certas tarefas e exigências.
Meu leitor atento deve estar se perguntando por que mudei tão bruscamente de tema. Eu não mudei. Tudo tem a ver. Logo após essa entrevista corri para a empresa onde trabalho à tarde para resolver um problema emergencial; em seguida, corri para casa para ajudar minha filha num trabalho de final de semestre e, depois do almoço num restaurante a kilo perto da minha casa, dei-lhe uma carona para a UFMT. Na verdade, a ajuda era mais intelectual no sentido de ajudá-la a organizar suas ideias para um trabalho que ela vai escrever à noite a partir de visitas e entrevistas feitas.
E aí, quando seguia para a editora onde trabalho à tarde, eu me toquei de uma coisa: eu me cobro tanto - por não ter hoje a situação profissional almejada, a situação financeira confortável, a relação com um parceiro sonhada - que acabo não dando valor a uma função que tento desempenhar da melhor maneira possível: o ser mãe. Não é porque minhas filhas têm 21 e 19 anos que deixo de ser mãe ou de desempenhar tarefas como mãe.
É claro que houve um tempo que ser mãe me consumia mais tempo e energia: quando elas eram bebês e ainda dependiam de mim para quase tudo. E procurei me dedicar o máximo nessa época, deixando de lado questões profissionais e pessoais.
Mas meu propósito aqui não é ficar me autoelogiando como mãe, só quero me permitir reconhecer como uma coisa boa, desejável e louvável o meu desempenho como mãe. Dá licença?

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Alegria, alegria

Hoje, uma amiga "comadre" de blog me disse que tem me achado "tristinha" a partir da leitura dos meus últimos posts.
Vocês concordam?
É engraçado, não diria que estou no período mais feliz da minha vida, mas já atravessei fases mais complicadas e tenho procurado não trazer tantos meus problemas pessoais para este espaço. Não acredito que seja uma forma de autocensura e sim uma decisão de não ficar alugando tanto "meus leitores" com questões ainda mal resolvidas.
É claro que o final de mais um ano - mesmo que tudo continue igual um minuto depois da meia noite do dia 31 - mexe com meus brios. O que fiz? O quanto avancei?
Meus principais problemas - financeiro, profissional, afetivo  e existencial - continuam sem solução, mas não quero fazer disso um cavalo de batalha. Sei lá, sigo procurando soluções, saídas ou, pelo menos, ser mais amiga de mim mesma, como sempre me aconselha um amigo escritor.
Aliás, considero um luxo ter um amigo escritor e filósofo. Já mencionei aqui a leitura de "Um homem mau" (Entrelinhas Editora), do mineiro Wilson Britto, lançado há um ano. Pois, em breve, a Entrelinhas vai lançar um novo livro de "seu" Wilson, "Afinal, por que se trabalha?". Por conta do meu trabalho na editora, tive o privilégio de ler a obra e fiquei muito mexida com ela. Acredito que ela terá o mesmo impacto em muitos outros leitores.
Como já li um terceiro livro do autor, estou quase me considerando uma especialista em Wilson Britto (quanta pretensão,. né?). Não posso adiantar ainda coisas sobre o novo livro, que retoma vários conceitos abordados em "Um homem mau".  Mas, posso dizer que o pensamento do autor bate com o meu em muitas coisas e reafirma que eu não estava errada em vários aspectos profissionais da minha vida, sobretudo quanto a seguir meu coração e buscar sempre um significado para minha existência através do trabalho.
Ainda não encontrei a reposta, porém, como ensina "seu" Wilson, mais importante que chegar lá é a jornada. É disso que estou tentando me convencer: a aprender a curtir a jornada, o aqui e agora.

segunda-feira, 12 de dezembro de 2011

A música daqui e de todo lugar

Fiquei sem internet (e telefone fixo) em casa o fim de semana inteiro. Uma provação e tanto!
Com isso, não pude postar minhas impressões sobre a última apresentação da 4ª Mostra de Música Sesc-MT, realizada na noite de sábado.
Foi muito legal! Imaginei que o Teatro do Sesc estaria lotado, afinal, iriam ser apresentadas 10 composições selecionadas de 10 músicos (ou grupos) diferentes. O teatro estava longe de estar lotado, mas o público revelou-se bastante entusiasmado.
O show começou com uma "jam session" dos músicos que deram oficinas ao longo da semana, sem a participação de alunos (acho que entendi errado). Assim mesmo não estiveram presentes todos os "mestres": primeiro, tocaram o pianista David Feldman, o baixista Pedro Trigo e o baterista Antonio Loureiro. Em seguida, entrou o pianista Edutardo Taufic no lugar de David.
Não me proponho aqui a analisar a performance de cada músico, mas posso dizer que o som dos dois trios foi absolutamente arrebatador. Feldman tocou uma composição sua (feita em homenagem a um cão que não parava de latir). Taufic apresentou um tema de Caetano Veloso (acredito que foi "Trilhos urbanos") e "Apanhei-te cavaquinho" de Ernesto Nazareth.
Que delícia (re) ouvir uma "jam session" com músicos altamente competentes e respeitosos. Ninguém queria atropelar ninguém ou mostrar serviço; todos criavam juntos, improvisavam e deixavam naturalmente sua marca (assinatura) através da música - essa coisa maravilhosa com capacidade de elevar o ser humano às alturas.  O mais difícil era acompanhar os dedos dos músicos no piano.
Depois dessa entrada triunfal, aconteceu a apresentação das músicas selecionadas e citadas no post anterior. Só estranhei a ausência do violeiro Habel dy Anjos, cuja participação estava prevista no programa divulgado.
Tivemos um ótimo painel da produção musical mato-grossense com composições de ritmos variados: choro, blues e outros ritmos de definição difícil. Apresentaram-se no palco do Sesc Arsenal músicos que, apesar de jovens, demonstram uma personalidade forte, como Vítor Meirelles com seu cancioneiro no estilo medieval que evoca também (como observou Zuleika, da dupla Vera-Zuleika) os acordes de Elomar.
Estela, sempre Estela, com sua voz potente e segura interpretando a bela e misteriosa "Segundo quarto", em companhia dos músicos de Monofoliar (Jhon Stuart e Juliane Grisólia). O trio continuou no palco para apresentar "Madalena", a composição feita por Jhon para a filhinha  de três meses, que estava na plateia e, segundo a mãe, Tuane, gostou da homenagem.
Luth Peixoto, mais conhecido da galera como o trovador do Tom Choppin, apresentou seu lado autoral com "Intuição".  Daniel de Paula tocou "Viola e sentimento" na viola de cocho, acompanhado apenas por um saxofonista. Lorena Lye intepretou "Baião para dois" - uma parceria sua com Joelson da Conceição, grande violonista da Orquestra de Boteco. O Grupo Sossego mostrou "Preguiçoso", um choro simpático e o veterano Amauri Lobo empolgou o público com seu "Blues do Preto Velho", que ganhou um  arranjo azeitado de David Feldman, executado pela Banda Base (formada por Sandro Souza na bateria, Sidnei Duarte na guitarra, Levi de Oliveira no baixo e um saxofonista cujo nome me fugiu, lamento). 
E por falar em saxofones, três saxofonistas do Ciranda Sax tocaram "Start". Senti falta em alguns casos de uma identificação mais clara de autoria, já que o que estava em foco era a composição (que tinha que ser inédita). Nesse caso, a composição era dos três músicos ou de apenas um deles??? A mesma dúvida me veio no caso do Grupo Sossego.
Fora alguns pequenos deslizes, naturais numa produção que juntou tanta gente em tão pouco tempo (valeu Carol Barros), o show foi maravilhoso. Essas composições serão gravadas num CD a ser distribuído pelo Sesc-MT nacionalmente.
Seria tão bom se as emissoras de rádio locais tocassem algumas dessas músicas, ampliando seu poder de chegar ao público. Gosto muito da programação da Centro América FM, mas que tal trocar de vez a mesmice do repertório mais convencional pelas composições de nossos músicos locais? Se as rádios e TVs daqui não os prestigarem, quem o fará, além do Sesc? Por que não abrir espaço para a música autoral que não é sertaneja ou pagode?

sexta-feira, 9 de dezembro de 2011

Quem avisa amigo é ...



Jhon e Estella (à dir). No canto esquerdo, a percussionista Juliane Grisólia
Será amanhã, sábado, o encerramento da 4ª Mostra de Música do Sesc-MT (às 20h, no Teatro do Sesc Arsenal). Segundo explicou Carol Barros, técnica de Música do Sesc Arsenal que está à frente do evento, primeiramente vai acontecer a jam session dos músicos que vieram dar as oficinas (Eduardo e Roberto Taufic, Krisfoff Silva, David Feldman e Roberto Loureiro) e, em seguida, os músicos selecionados apresentarão suas composições no palco.
São eles: Jhon Stuart com "Madalena" (música feita para a filha nascida há poucos meses), Amauri Lobo com "Blues do Preto Velho", Joelson Conceição e Lorena Lye com "Baião para dois",  Vítor Meireles com "Cavaleiro  em Noite de Eclipse", Estela Ceregatti com "Segundo quarto",  Luth Peixoto com "Intuição",  Grupo Sossego com "Preguiçoso" e Daniel de Paula com "Viola e sentimento". Conheço quase todos e algumas das músicas selecionadas. São músicos bem atuantes na cena cuiabana, com estilos bem diferentes, o que deve tornar o espetáculo mais interessante.
Além deles, foram convidados a se apresentar (graças a uma cláusula do edital da Mostra) o grupo Ciranda Sax, que vai tocar "Start", e o violoeiro Habel dy Anjos que vai mostrar o "4º Movimento da Sinfonia Pantaneira".
Tudo de graça!  Vamos nessa?
Hoje (sexta-feira), dentro da Mostra, tem show do músico Antonio Loureiro - responsável pela oficina de bateria - também às 20h e  com entrada franca.

quinta-feira, 8 de dezembro de 2011

O peso da idade

Como é difícil envelhecer ou como é difícil lidar com o envelhecimento em nossa sociedade!
Nos últimos dias, alguns episódios me levaram a pensar sobre isso. Vou me ater a dois deles.
No sábado, eu estava no Chorinho (o bar Choros & Serestas. já mencionado em outras oportunidades) e me dava conta da quantidade cada vez maior de jovens nesse dia, quando acontece a tradicional roda de samba.
Eles não são desrespeitosos com a turma da Velha Guarda (aqui, o termo Velha Guarda tem duas conotações: uma de idade mesmo e a outra de tempo de convivência com o lugar. Nesse segundo quesito, não sou considerada da Velha Guarda). Mesmo assim, com seus costumes diferentes, acabam mudando a atmosfera do bar.
No sábado passado, interagi com alguns desses jovens e um deles, quando eu passava em direção ao banheiro, disse-me: "Tia, você cantou muito bem". Odeio quando alguém que tem mais de 18 anos e não é meu sobrinho por parentesco me chama de "tia", mas só respondi: "Obrigada. Eu dispensava o tia". Não sei se ele entendeu, mas não me deixei abater com o comentário e acabei me divertindo muito naquela noite.
O outro episódio é o seguinte: eu me candidatei para um processo seletivo de um trabalho. Nem por um segundo pensei que poderia ser barrada na primeria fase, antes da prova. Até cheguei a pensar se realmente queria esse emprego, mas conclui que seria uma boa tentar e que a vida diria se eu era a melhor candidata ou não. Para minha surpresa, meu nome não estava na lista dos candidatos para a prova.
Modéstia à parte, tenho um currículo profissional muito bom e me considero mais do que digna de pelo menos tentar a vaga oferecida. A única explicação que encontrei foi a idade: entre os 15 selecionados, o mais velho é nascido em 1972 (se não me engano). Olhei os selecionados para outros cargos e isso também se repetiu. Ninguém da década de 50 foi chamado. Na hora isso me soou como um recado: você está velha demais para tentar um reles emprego de jornalista. Vai procurar sua turma!
Qual é a minha turma? Não sou aposentada, não sou uma funcionária pública torcendo para chegar logo a aposentadoria e correndo contra o tempo para me aposentar com um vencimento melhor, não sou empresária, não sou uma celetista com um bom salário.
O que sou? Uma pessoa sensível, inteligente, culta, digna, tentando ganhar dinheiro honestamente para manter sua casa e sua família. E que gosta muito de cantar.

quarta-feira, 7 de dezembro de 2011

Sublime

Roberto e Eduardo Taufic



Enquanto assistia ontem à apresentação dos irmãos Eduardo e Roberto Taufic no teatro do Sesc Arsenal, eu me perguntava: por que as pessoas em Mato Grosso ainda têm resistência à música instrumental?
Sou muito ligada às letras das músicas e adoro cantar, mas tenho um respeito imenso pela música sem palavras e sinto um prazer enorme em assistir a um show de músicos instrumentais, principalmente, quando eles demonstram qualidade acima da média.
Conheci o duo Taufic na primeira edição do Festival de Jazz em Chapada dos Guimarães, em 2009. Eduardo, pianista, mora em Natal (RN) e Roberto, violonista, nasceu em Honduras e mora na Itália. Eles estão em Cuiabá esta semana participando da Mostra de Música do Sesc MT, mais uma iniciativa genial do Sesc.
Durante uma semana, músicos de renome dão oficinas em Cuiabá e à noite apresentam-se no teatro. Tudo de graça. No sábado, eles participarão de uma jam session com os alunos das oficinas e o público terá a oportunidade de ouvir as músicas selecionadas da Mostra.
Ficou meio confuso, né? Vou explicar de novo: independentemente das oficinas, a Mostra "premia" com a oportunidade de apresentação no show de sábado e a inclusão num CD músicos de Mato Grosso selecionados por um grupo do próprio Sesc. No grupo selecionados, estão alguns músicos já bem conhecidos de quem acompanha a cena musical daqui: Jhon Stuart, Estela Ceregatti, etc (na sexta ou no sábado, informo os nomes de todos).
Voltando ao espetáculo de ontem, foi tudo tão lindo! Os dois irmàos alternavam-se na apresentação das músicas e falavam do clima em que a composição foi criada, sobre a intenção do compositor. Tudo de uma forma muito simples, objetiva, sem firulas, nem excessos.
O público não muito numeroso, porém empolgado, viajou nos temas apresentados do CD "Bate e rebate", que mescla composições de cada um dos Taufic. Fascinante o entrosamento dos dois e a satisfação demonstrada por ambos em alguns momentos especiais.
Eu poderia ficar horas falando da delícia que foi ouvi-los, mas as palavras talvez sejam pobres para descrever meu deleite com um espetáculo, que nada me custou e me proporcionou tanta satisfação por ver dois talentos musicais numa sintonia tão perfeita.
Se alguma vez algum de vocês que me leem tiver a oportunidade de ouvir os irmãos Taufic, não perca!
Hoje, às 20h, tem apresentação do mineiro Krisfoff Silva, mas, infelizmente, não poderei ir porque tenho ensaio do Madrigal do Avesso.

terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Andando pra trás

Às vezes penso que nossa sociedade anda para trás. Em 1986, quando fui à França, fiquei fascinada com a possibilidade de tirar dinheiro em caixas eletrônicos e minha amiga que morava em Paris ficou chocada de saber que eu ainda tinha que enfrentar filas em bancos para pagar contas e efeturar saques.
Algumas décadas depois eu já podia desfrutar de todo esse conforto em qualquer cidade do interior de Mato Grosso. Mas,  esqueceram de combinar as regras desse jogo com o time adversário e todo dia explodem um caixa eletrônico. Nas últimas 24 horas, explodiram três em Cuiabá.
Com isso, cada vez temos menos caixas eletrônicos. No supermercado Big Lar, um dos mais movimentados da capital, tinha dois e agora não tem nenhum, o que por um lado é bom., já que corremos menos risco de assalto enquanto fazemos compras.
Se quiser sacar dinheiro, você tem que ir à agência e enfrentar fila nos horários de movimento (sempre tem um caixa fora de operação) ou se pelar de medo nos horários fora do expediente bancário.
Posso ser uma idiota, mas acho irritante a incapacidade do aparato de segurança pública lidar com essa modalidade de assalto (a caixas eletrônicos). Será que com um pouco mais de policiais na rua, não se inibiria a criuinalidade? Não é uma operação tão rápida explodir um caixa eletrônico. 
 Aliás, em matéria de crime, aqui em Cuiabá (e em Mato Grosso, em geral), acho que o placar é mais ou menos esse: bandidos 10 x população 0.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

O espírito do Natal

O Natal está chegando. Nos shoppings, as crianças tiram fotos com Papai Noel, que, aliás, acenou para mim quando passava naquela tradicional parada da Coca-Cola. Eu estava na avenida Isaac Póvoas, uma das principais de Cuiabá aguardando por um entrevistado, quando passou o séquito de caminhões iluminados atrás do carro de Papai Noel. O barulho da música era absurdamente alto e o rapaz que servia cachorros-quentes na praça comentou :
- Mas, já? Parece que foi ontem ...
É exatamente essa sensação que tenho: parece que foi ontem que eu me preparava para enfrentar meu Natal sem 13º e ainda sob o impacto do fim da revista Produtor Rural e a demissão da Famato, onde já trabalhava há sete anos.
Mais um ano está terminando e continuo sem 13º. Meus planos para o Natal e o Réveillon são modestos e, tampouco, consigo me empolgar com o espírito consumista do Natal.
Mas não quero que nada disso - a falta de uma situação profissional mais tranquilizadora - empane a boa alegria de estar bem, saudável e perto de duas das pessoas que mais amo: minhas filhas.
Quero ver se juntas renovamos nossas esperanças e energias para seguirmos em frente, procurando sempre o melhor - para nós e para as outras pessoas.
Não seria esse o verdadeiro espírito do Natal?

sábado, 3 de dezembro de 2011

Papo bravo

A semana termina sob o impacto das contradições. Por um lado, alegria pelas conquistas de minhas filhas: a de Jaboticabal me envia uma mensagem feliz da vida com o fato de ter conseguido aprovação em duas matérias das mais cabeludas do curso de Agronomia da Unesp; a de Cuiabá exulta com o 10 conquistado num trabalho de Elétrica no curso de Arquitetura da UFMT. É gostoso ver nossos filhos envolvidos e empolgados com o curso que é fruto da primeira escolha realmente significativa de suas vidas e que representa a entrada no mundo adulto.
Por outro lado, pesar pela morte de um rapaz de 29 anos que estava justamente iniciando uma segunda etapa da vida adulta: formado em Medicina pela UFMT,  Maurício Rafael Alencar, já estava fazendo a residência num hospital de Cuiabá. Ao que tudo indica, ele perdeu o controle da moto quando voltava para casa de madrugada, foi arrastado até uma árvore e morreu.
Fiquei muito triste quando li a notícia e mais triste quando vi que o rapaz era irmão de uma amiga de minha filha mais velha.
Quando retornou do velório e do enterro e se preparava para ir ao aniversário de um amigo de infância, minha filha comentou: "A gente não pode reclamar de nada".
É ... Ela tem razão, mas eu acrescentaria: "E como lidar com isso: a certeza de que qualquer um de nós pode morrer a qualquer momento?"
Este ano, fiz amizade com um escritor e filósofo que tenta me convencer de que não devo me preocupar com a morte, que só existe numa dimensão futura (não sei se consegui expressar exatamente seu pensamento no meu esforço para simplificá-lo). A chave de tudo é viver no "aqui e agora". Há muito tempo, recebi essa mensagem, porém nunca consegui trazer isso para minha vida.
Eu me inquieto com a certeza da morte e a incerteza da vida pós-morte. Se esta não existe, não deveríamos nos inquietar tanto. Acabou, acabou. Mas como é difícil romper com as crenças que trazemos desde a infância e, ao mesmo tempo, como sou lerda na busca de respostas a essas questões!


quinta-feira, 1 de dezembro de 2011

Nada a comemorar

Hoje é Dia Mundial de Combate à Aids e eu não poderia me furtar a falar sobre o tema. Assisti ao final de uma reportagem no jornal Hoje sobre a grande incidência da doença na população adolescente.
Isso é muito ruim. A profissional entrevistada disse que o adolescente tende a ver o uso do preservativo numa relação sexual como um obstáculo, algo que o afasta de seu parceiro.
Realmente não é fácil lidar com o uso de preservativos, mas imaginei que a nova geração, que cresceu sob a ameaça das Aids e com mais informações sobre outras DSTs, estivesse encarando o uso da camisinha com mais naturalidade. Pelo visto não está.
Não tem como deixar de ligar esse fato a outra notícia alarmente veiculada ontem através da pesquisa Situação da Adolescência Brasileira 2011 da Unicef (Fundo das Nações Unidas para a Infância): a juventude está mais vulnerável, pobre e abandonando os estudos antes de chegar à faculdade. E morrendo mais. Achei tão triste o depoimento de um rapaz entrevistado no jornal Hoje sobre quantos amigos viu morrer por causa do tráfico, brigas de gangue, etc.
Segundo matéria do jornal Diário de Cuiabá, de cada 100 adolescentes de Mato Grosso - o estado campeão na produção de grãos e detentor do maior rebanho bovino do mundo - 6,3 não estudam, nem trabalham. A média brasileira é de 5,4.
Se eu fosse político, acho que teria vergonha de fazer tão pouco para mudar essa situação e, como cidadã, também sinto vergonha.
Os números da Unicef têm um peso importante, mas nem é preciso ler o relatório para enxergar o que a gente vê acontecendo em Cuiabá, em Mato Grosso e talvez em grande parte do Brasil.
Tem uma moçada sem muitas perspectivas, sem apoio, em todas as classes sociais, e sendo levada para o caminho da violência, das drogas e do crime. Políticos, especialistas sempre dizem que praticar esportes, a leitura, ter uma escola melhor e mais aberta para a comunidade - tudo isso ajuda a mudar a realidade. Pelo visto, tem mais boas intenções e lero-lero do que iniciativas de fato sendo levadas à frente.
Juro que gostaria de contribuir mais para mudar essa realidade. Mas não sei como.

quarta-feira, 30 de novembro de 2011

O que não mata ...

Ouvi essa frase outro dia - "O que não mata fortalece" - e tenho pensado muito nela.
Quando a gente é muito mimada (ou mima demais) acaba ficando meio fragilizada, com a sensação de que não tem forças suficientes para enfrentar os desafios do mundo.
Na verdade, nossos medos estão sempre nos paralisando, impedindo-nos muitas vezes de correr riscos.
Se não corrermos riscos, não ganhamos, nem perdemos, ficamos parados no mesmo lugar ou somos empurrados, levados pelos acontecimentos.
Lamento muito não ter praticado mais esportes coletivos e não ter estimulado mais minhas duas filhas a praticá-los. Acho que esse tipo de esporte (vôlei, basquete, handebol, futebol, etc) ensina muito. Ensina a atuar em equipe, a receber críticas, a rebatê-las (ou aceitá-las), a criticar, a lidar com o enfrentamento (físico ou não), a ganhar e a perder.
Sou meio intolerante com meus erros e morro de medo de que me chamem a atenção, por isso também tenho vergonha de chamar atenção, mas detesto passar despercebida. Argh ... Vai entender tanta contradição!
Tenho aprendido muito nos últimos tempos e sofrido alguns reveses. Quero acreditar que tudo isso esteja me fortalecendo e espero ter tempo ainda para que essa Martha fortalecida viva ainda algumas aventuras das quais possa se orgulhar.
Tenho vontade de gritar para minhas filhas: sejam fortes! Lutem por seus sonhos! Ñão abram mão jamais de suas convicções, mas sei que elas vão ter que descobrir muita coisa sozinhas e às vezes temo não tê-las criado suficientemente fortes para encararem e desfrutarem de todo encanto da vida.

segunda-feira, 28 de novembro de 2011

O mundo está mais nítido novamente

Sabe aquela história do bode na sala? Eu adoro.
Para quem não entendeu, vou tentar resumi-la: alguém estava com um problema e o sábio do pedaço sugeriu colocar um bode na sala. Passados alguns dias, a pessoa não aguentava mais os problemas acarretados pelo animal e foi se queixar ao sábio, que sugeriu, então, que tirasse o bode e, depois de fazer isso, o cara ficou feliz da vida.
Neste fim de semana encarei um bode. Na sexta-feira, coloquei um par de lentes de contato novas. Tudo parecia ir bem, mas à tarde meus olhos começaram a me incomodar muito. À noite, insisti no uso das lentes e fiquei desesperada com tanto incômodo. Acabei tirando a que estava incomodando mais e fiquei só com a da direita.
Acordei no sábado com os olhos irritadíssimos e demorei para conseguir contato com meu oftalmologista. Ele disse que provavelmente eu tinha pegado uma conjuntivite porque tudo estava bem quando examinou. Tentei ponderar que seria azar demais pegar uma conjuntivite exatamente no dia em que colocava lentes novas. Uma observação aos leigos: pegar conjuntivite quando se usa lentes de contatos gás permeáveis (rígidas) equivale a jogar as lentes fora. Mais um detalhe: minhas lentes custam caro porque não são descartáveis e são especiais para quem sofre de ceratocone (uma deformação na córnea).
Quase entrei em pânico, porém como o médico pondereu que não poderia me examinar (a clínica não estava funcionando naquele dia) e me passou um colírio, tentei relaxar e não pensar no pior. O colírio (Maxilerg) era um antiinflamatório e tanto servia para conjuntivite como para lesões na córnea (o que poderia ter ocorrido em função do mau uso das lentes no dia anterior).
No sábado, não usei as lentes, mas no domingo, como tinha um compromisso social que não queria perder, coloquei apenas a da direita (a velha, conforme recomendado pelo oftalmologista) e passei o dia razoavelmente bem, mas ainda angustiada com o que podia estar acontecendo.
Hoje, voltei no médico já convicta de que não estava com conjuntivite e ele confirmou que eu não tinha esse problema. Disse que estava tudo bem, mandou eu botar as lentes novas de novo, ficar meia hora lá para ver se não ia ter reação. Não tive e estou com elas até agora sem problema algum.
O que aconteceu na sexta? Não sei. Mas o bode saiu da sala. 
Vocês não têm noção de como é assustadora a ideia de ficar sem poder usar as lentes de contato para quem precisa tanto delas como eu. Tenho óculos que resolvem o problema em parte (embora eu deteste usá-los), porém eles não me dão a visão que tenho com as lentes.
Detalhe engraçado: meu oftalmologista disse que minha visão melhorou muito com as lentes novas (eu percebi). Ele disse que não se arriscaria a andar comigo dirigindo com as lentes antigas. Caramba!  Realmente, à noite, eu já não conseguia distinguir um cone de uma pessoa. Dirigia com o maior cuidado, mas andava muito insegura.
A gente critica as pessoas que se arriscam dirigindo sem ter condições ideais, mas quantas vezes a gente também não se arrisca?

sexta-feira, 25 de novembro de 2011

Chutar o balde

Por mais que eu esteja tentando me convencer de que minha vida é muito mais confortável e tranquila do que a da maioria das pessoas, hoje, sinceramente, gostaria de dar um chute no balde e conseguir relaxar plenamente por um fim de semana ou, pelo menos, algumas horas.
Quando digo relaxar penso em esquecer por algums momentos tudo que me apoquenta: o prazo para a entrega dos trabalhos freelancers, o desejo de ter uma situação financeira e profissionalmente mais confortável, a violência diária estampada na mídia e sempre à espreita, a preocupação sempre presente com as filhas (principalmente), parentes e amigos mais distantes.
Hoje vi a chamada para o quadro "De folga" (ou algo parecido) do telejornal Hoje e tive que sair correndo. Mostrava uma praia paradisíaca. Sei que não tenho o direito de reclamar (não estou reclamando, viu?), mas sinto tanta falta do mar. Já que estou longe dele e não tenho perspectiva de tê-lo a curto prazo, vou me consolar com minhas lembranças.
Um dos momentos mais lindos da minha vida foi vivido em Ubatuba, quando eu tinha 15 anos. Estávamos passando férias no litoral paulista e me lembro de estarmos - meus sobrinhos e eu, todos adolescentes - numa praia maravilhosa, sem outras pessoas à vista, numa tarde de verão. Que sensação boa! Éramos tão felizes! E olha que nessa época eu era um poço de timidez e não sabia como lidar com dois paqueras que se revezavam no posto de "amores daquele verão".
Outra lembrança maravilhosa é de um final de semana passado numa praia minúscula no litoral de Paraty. Pegamos um barco - uma amiga, eu, o namorado dela e o amigo do namorado dela - e acabamos passando duas noites na beira do mar. Minha amiga brigou muito com os borrachudos (insuportáveis); eu, mais mateira (embora criada no Rio), troquei a barraca por uma noite de sono ao relento, na areia, quase perto do mar. Hoje, não sei se teria coragem de fazer isso, mas naquela época éramos tão otimistas, tranquilos ...
Só para terminar a sequência "lembranças maravilhosas do mar", vou registrar outro fim de semana delicioso passado, também num acampamento, em Trindade, um lugar paradisíaco, às margens da Rio-Santos.
Claro que teve outros momentos maravilhosos, quase cotidianos, quando eu ainda morava no Rio de Janeiro, ou excepcionais como os quase 15 dias que passei atravessando o Atlântico em direção à Europa, quando tinha pouco mais de 17 anos e vivi minha primeira paixão. Já ia me esquecendo de mencionar uma viagem muito gostosa a Porto Seguro, pouco antes do Natal, numa época em que quase não havia turistas barulhentos.
Vou parar por aqui. Não sei se lembrar de tudo isso me deixou mais feliz ou ainda com mais vontade de chutar o balde ...

quinta-feira, 24 de novembro de 2011

Valeu a dica!

Acabei de assistir a um filme recomendado por meus amigos do blog ao lado (o Tyrannus Melancholicus). Chama-se "Os falsários". Não tenho a mesma habilidade para falar de filmes com a dupla cinéfila, mas não posso deixar um filme desses passar em branco.
Dirigido pelo austríaco Stefan Ruzowitzky e vencedor do Oscar de Melhor Filme Estrangeiro, o filme é tenso, tem um elenco fantástico - com destaque para o ator Karl Marcovics, que faz o papel do judeu Solly Sorowitsch -, uma trilha sonora marcante (o uso do tango em vários trechos do filme é sempre surpreendente) e uma história que se torna mais incrível ainda pelo fato de ser verídica.
 Quando você acha que já viu todo tipo de filme sobre nazismo, chega um que consegue surpreender por contar uma história original, que envolve questões como lealdade, ética, coragem e amor à vida. Vale a pena assistir mesmo.
O final é muito comovente, daqueles que dá vontade de ficar revendo a cena várias vezes, mas não vou contá-lo  para não estragar a surpresa de quem resolver, como eu, seguir a dica dos amigos blogueiros.
Depois de assistir a "Os falsários", fiquei pensando que, de alguma forma, também vivo como os personagens do filme, ignorando ou fingindo que não vejo o que rola "lá fora", em nome da minha sobrevivência neste mundo tão brutal, injusto e, ao mesmo tempo, apaixonante.



quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Você tem tempo?

Há alguns dias uma parente distante e da minha idade "queixava-se" de que por não ter o que fazer assiste a todas as novelas de TV e fica feliz quando alguém a chama para fazer qualquer coisa.
Essa pessoa está afastada do trabalho (um emprego público) por questões de saúde, mas aparentemente está bem.
É estranho, vejo muita gente reclamando de falta de tempo para cuidar de si, para dar atenção aos amigos, e pouca gente reclamando de excesso de tempo.
Também tenho uma relação meio conflituosa com o tempo, que procuro administrar da melhor maneira possível: tenho bastante trabalho, mas procuro tirar um tempo para nadar, cuidar de mim (ir ao médico, fazer exames necessários, ir ao salão para alguns cuidados básicos), ter alguma vida social e afetiva.
Também me ressinto da falta de tempo, mas acho que prefiro reclamar de sua falta do que do excesso.
Se eu tivesse mais tempo e não ficasse tão paranoica com a questão de grana, gostaria de fazer tanta coisa! Ler mais, viajar mais, dedicar-me a trabalhos voluntários, voltar a estudar violão, praticar dança de salão, yoga, aprender alguma coisa nova, sei lá ...
Tem momentos em que me sinto cansada e me dá vontade de jogar tudo pro alto e simplesmente parar. Em outros, sinto o desejo de ter tempo, de ser muito nova para fazer tantas coisas! Pesquisar histórias, escrever livros, livros e livros. Ir atrás das pessoas que trabalharam comigo e com meu ex-marido no Pantanal, ver como estão, conversar com elas. Penso demais em todas elas e sinto um carinho enorme pelo tempo que compartilhamos em viagens complicadas por estradas de chão, cheias de água e lama,  e no dia a dia de uma fazenda isolada do mundo.
Eu queria ter tempo para mergulhar nessas lembranças relativamente recentes e transformá-las em literatura.
Do que mesmo eu comecei falando?
Bem, agora tenho que tomar banho correndo para ir ao lançamento do livro sobre imigração italiana da professora Cristiane daqui a pouco no Sesc Arsenal.

terça-feira, 22 de novembro de 2011

No caminho das águas do Prata

A rota do Prata sempre me fascinou. Sou apaixonada por histórias envolvendo pessoas que navegaram pelo caminho das águas no final do século XIX e no início do século XX, inclusive, esse foi o pano de fundo do livro que escrevi sobre Cáceres e minha querida Estella Ambrósio (Cantos de Amor e Saudade, Entrelinhas, 2005).
Por isso, fiquei encantada com o livro "Italianos em Mato Grosso: Fronteiras de migração no caminho das águas do Prata. 1856 a 1914", da historiadora Cristiane Thaís do Amaral Cerzósimo Gomes, que será lançado (Entrelinhas, tendo como co-editora a EdUFMT) amanhã, dia 23, no espaço climatizado da Choperia do Sesc Arsenal, a partir das 19h30m.
Embora seja resultado de uma tese de doutorado para a PUC-SP, o livro tem uma linguagem bem acessível e narra as aventuras de italianos que chegaram a Mato Grosso no período analisado, pela rota do Prata, ou seja, passando pela Argentina e pelo Paraguai, antes de chegar ao Brasil, via Corumbá. Muitos seguiram até Cuiabá, outros fincaram raízes em Cáceres e muitos acabaram se casando com representantes da elite local, no que a autora chama de "processo de inserção sociocultural através do casamento".
É uma história com muitos sobrenomes - Ricci, Fragelli, Capriata, Maiolino e Lotufo, entre outros -, sendo alguns mais familiares para mim, como o de José Dulce - o genovês que desembarcou em Cáceres, no início do século passado, e esteve à frente de dois empreendimentos fundamentais para a região: a loja "Ao Anjp da Ventura" e o vapor Etrúria, personagens importantes do meu livro.
Descendente de italianos que fizeram essa rota, Cristiane vem se especializando no tema e tem outro livro publicado pela Entrelinhas/EdUFMT: "Viveres, fazeres e experiências dos italianos na cidade de Cuiabá. 1890-1930" (2005). É um trabalho consistente, cuja importância, na minha opinião, transcende Mato Grosso porque fala de migração, do sonho de progredir em outras terras que embala a humanidade e faz o mundo se mover há séculos.
 


segunda-feira, 21 de novembro de 2011

As fotos do Zé

Na sexta-feira passada fui à abertura da exposição de fotos de José Medeiros, "Retratos e relatos", na Galeria de Artes do Sesc Arsenal.
As fotos são lindas como se pode ver por estas adicionadas ao post, mas estas não são as minhas preferidas, embora deem uma boa ideia do universo explorado pelo fotógrafo: o Pantanal, com sua gente, seu dia a dia, suas crendices, sua pobreza estampada nos pés e mãos calejados da gente que vive lá e que, geralmente, é menos valorizada do que os bichos e a flora pantaneiros.
José Medeiros - ou simplesmente Zé, meu companheiro de tantas viagens por este Mato Grosso - ama essa gente simples pantaneira e tem o dom de chegar às pessoas com facilidade. Ele não precisa fingir familiaridade, pois realmente fica muito à vontade na casa do povo e, por isso, consegue fazer retratos lindos.
Vale a pena ir atá a Galeria do Sesc Arsenal para contemplar as fotos do Zé. Elas me deixaram um pouco triste, mas isso já é uma outra história, que vou contar outra hora. Quem sabe num livro? 


sexta-feira, 18 de novembro de 2011

Pós-encontro Parte Final (por enquanto)

Ainda é difícil para mim tratar de outro assunto que não seja o Encontro da Família Baptista. Talvez na próxima semana eu me sinta mais motivada a comentar outros temas.
Já voltei à vida real, mas é como se ainda estivesse pisando num terreno meio etéreo. A cabeça está no ar e tenho que fazer um esforço redobrado para escrever matérias e lidar com assuntos cotidianos.
Não quero dizer com isso que tudo foi perfeito. Durante os dias passados em Campo Grande, tive que lidar com algumas dificuldades internas, que comecei a compartilhar hoje com a minha terapeuta. Isso é uma novidade que não contei aqui: estou frequentando o consultório de uma psicóloga através da Unimed, sem custo algum. O que parecia uma alternativa não tão atraente a princípio (como fazer terapia sem escolher o terapeuta?) acabou se tornando uma surpresa maravilhosa. Estou adorando a minha terapeuta e ela tem me ajudado muito a me conhecer melhor (nessa altura do campeonato ainda tenho que lidar com muitos pontos obscuros).
Voltei do encontro familiar com a sensação de não ter conversado suficientemente com todo mundo, mas talvez isso não fosse possível ou mesmo necessário. Mas é claro que queria ter conseguido dizer para cada uma das pessoas presentes (e para os ausentes) o quanto eram especiais para mim e quanto me deixava feliz poder compartilhar com elas aquele momento. Acho que eu deveria ter escrito um texto, mandado imprimir e distribuído para cada um, já que tenho dificuldades para expressar minhas emoções oralmente.
Outra coisa que percebi e gostaria de compartilhar é quanto nós, da família Baptista e mesmo os agregados, somos amorosos com nosso filhos e netos e bisnetos. É uma coisa das mulheres, mas os homens da família, eu me dei conta, são ótimos pais (e tios e avôs, em geral). Isso fez com que houvesse uma preocupação desde o início do encontro com a diversão e o bem estar das crianças e pré-adolescentes. Como já disse no post anterior, acho que eles se divertiram muito e não se esquecerão tão cedo dessa festa.
Em alguns momentos do encontro oficial (no domingo) muita gente - os mais velhos, as crianças, sem falar na turma dos enta que não parou de dançar - dançou e dava para sentir nos movimentos de muitos aquela alegria descompromissada. Ninguém estava preocupado com que os outros iriam pensar.
Eu me lembro de um momento em que cantei ("Foi um rio que passou em minha vida" de Paulinho da Viola) e dava para sentir a energia boa do pessoal dançando e cantando junto.
A família é uma coisa bacana e é bom demais saber que posso contar com a minha.


Minhas irmãs: da esq. para dir, Lila, Nancy (cunhada), Anna Maria, Junilza, July, Jandira, Jane e eu.
A ideia era fazer uma escadinha e Nancy entrou no lugar do meu irmão, Zezinho, falecido em 1987.

quarta-feira, 16 de novembro de 2011

Pós-encontro

Antes de qualquer coisa, um aviso aos navegantes: este não é um post definitivo sobre o encontro da Família Baptista, realizado em Campo Grande, neste final de semana. É apenas um registro, uma tentativa de transformar em palavra escrita os sentimentos envolvidos nessa mega operação familiar.
Tudo deu certo no nosso encontro. Ninguém se estranhou, nenhuma criança se machucou e todos, em algum momento, trocaram alguma energia - nem que fosse um peqeuno abraço, um grande abraço ou um sorriso.
Éramos 77 pessoas, entre adultos e crianças.
Conseguimos compartilhar várias refeições - entre almoços, jantares e cafés da manhã, em pequenos, médios e grandes grupos, sendo que o maior deles naturalmente aconteceu no dia do Grande Encontro, domingo, em que ficamos juntos de meio-dia até de noite. Alguns chegaram mais tarde, outros saíram mais cedo, mas houve um momento - registrado na foto - em que estavam todos.
Não houve grandes formalidades - nossa família não é dada a formalidades. O momento mais solene foi a fala da irmã mais velha, Lila, magnífica nos seus 89 anos, que falou lindamente, e passou o microfone para a irmã caçula, eu, que ... Não vou comentar minha fala, até porque falar não é meu forte. Prefiro escrever. Aliás, eu devia ter preparado alguma coisa para ler.
A parte musical do encontro foi bem legal: dançamos e cantamos bastante - vários tipos de música: polca paraguaia, chamamé, samba e rock (anos 80). Foi muito divertido!
As crianças curtiram muito e se confraternizaram maravilhosamente. Acho que o encontro sempre ficará como uma bela lembrança quando crescerem.
Alguém já falou da possibilidade de um encontro em 2012 num hotel fazenda. Acho que seria fantástico porque não perderíamos energia e tempo combinando para onde ir antes e depois do encontro principal.
Valeu muito, galera que foi! Valeu também a energia de quem não foi, mas acompanhou a movimentação pela net, através de nosso grupo montado no Facebook (fechado). 
Um beijo grande para todos e uma foto da galera reunida para quem acompanha meu blog, não é da família Baptista, mas se sente ligado nessa emoção.

sexta-feira, 11 de novembro de 2011

Ao som do sax

Amanhã viajo para Campo Grande ao encontro da Família Baptista, mas quero deixar uma dica cultural para quem ama a música instrumental ou ainda não descobriu a beleza desse tipo de som.
Sábado e domingo, no teatro do Sesc Arsenal, às 20h, vai ter show do Ciranda Sax, com entrada franca.
Ontem conversei por telefone com o maestro Murilo Alves, presidente do Instituto Ciranda - Música e Cidadania, uma organização que parece fazer o que se propõe: oferecer ensino gratuito de teoria e prática musical a quem realmente está a fim de abraçar a música e fazer dela mais do que um meio de vida.
Sou apaixonada por esse trabalho e aqui no blog não preciso esconder meu entusiasmo. Por isso lamento não poder prestigiar a apresentação do quarteto de saxofones formado por quatro músicos oriundos e ainda ligados ao projeto Ciranda: Jasson André (sax soprano e alto), Augusto César (alto), Neto Morais (tenor) e Phellyppe Sabo (barítono).
Adoro essa conversa entre sax diferentes e o repertório do show está muito convidativo: Hermeto Pascoal, Tom Jobim, Chick Corea e Carlos Malta, além de arranjos de Vittor Santos para temas de rasqueados de Mestre Albertino.
Na conversa, Murilo Alves me falou de um compositor norte-americano cujo nome não me pareceu familiar: Lennie Niehaus. Como não admito escrever errado o nome de alguém, fui atrás de informações e descobri numa pesquisa básica (leia-se wikipédia) que ele tem uma história de colaboração com o diretor Clint Eastwood.  Niehaus assina a trilha sonora de alguns dos melhores filmes de Eastwood: "Sobre meninos e lobos", "As pontes de Madison" e "Os imperdoáveis".
Acabei desembocando no youTube onde assisti a um vídeo dos rapazes do Ciranda Sax tocando um tema de Niehaus, "Bee's knees", numa das etapas do programa Furnas Geração Musicial no Rio de Janeiro. É super legal! Só aumentou minha vontade de assistir ao show do Ciranda, mas estarei ausente por um bom motivo.
Vou tentar ficar longe da internet pelo menos nos dias que estiver em Campo Grande. Eu mereço esse descanso.

quinta-feira, 10 de novembro de 2011

Pobre Colniza!

Colniza fica a mais de mil quilômetros de Cuiabá, no extremo noroeste de Mato Grosso. O acesso ao município é dificílimo o ano inteiro, já que não há asfalto ligando a região à capital. O asfalto termina em Juína.
Estive lá mais ou mesmo nesta época do ano em 2009, quando trabalhava para a revista Produtor /Rural. Foi uma aventura e tanto, relatada em vários posts neste blog. De Juína a Colniza, levamos cerca de seis horas, mas na época das chuvas esse percurso torna-se impossível.
Pois bem, hoje a sofrida população de Colniza foi vítima da modalidade de assalto que a mídia chama de Novo Cangaço. Dessa vez, os ladrões, que usaram a mesma tática de sempre, assaltaram duas instituições bancárias ao mesmo tempo: Sicredi e Bradesco.
Essa situação é muito cruel. Uma das poucas vantagens, na minha opinião, de se morar no interior (e bota interior no caso de Colniza) seria ter mais tranquilidade em relação à população da capital, mas o que vemos em Mato Grosso? Cada vez mais assaltos a bancos com reféns em cidades onde o contigente policial é ridículo.
Colniza alcançou triste fama há alguns anos como o município mais violento do Brasil por causa do número de homicídios por habitantes. Quando estive lá, conheci gente amabilíssima, porém quando perguntava sobre a má fama do município, todos respondiam: "Aqui só morre quem tem que morrer". Ou seja, a justiça continua sendo feita com as próprias mãos, no estilo farwest, devido à falta de uma estrutura mínima de serviços aos quais os cidadãos têm direito, tais como segurança, justiça, saúde e educação.
Hoje, Colniza é novamente notícia em todos os sites, jornais e TVs de Mato Grosso. Mais uma vez o motivo não é bom. Lamento pelas pessoas de bem que vivem lá - gente que vai enfiando a cara Brasil afora em busca de melhores oportunidades de vida.
Na fuga, os assaltantes queimaram pontes de acesso. Não sei se as chuvas já começaram por lá, mas certamente a situação ficará ainda pior do que no último período das águas.

terça-feira, 8 de novembro de 2011

O Grande Encontro

Estou a apenas quatro dias do Encontro da Família Baptista, que começou a ser gestado há uns três anos (ou mais), quando um sobrinho que mora em Brasília cirou uma comunidade com os nomes de meus pais no Orkut. Na época, minha filha mais velha sugeriu que organizássemos um encontro da família, mas a ideia não avançou.
Este ano, tive a iniciativa de criar um grupo da família no Facebook e. por vários motivos, a proposta do encontro prosperou. Talvez ela tenha sido amadurecida nesse tempo ou talvez seja apenas o momento certo da coisa acontecer. Não temos astrólogos na família, mas quem sabe se tivéssemos ele (ou ela) diria que estamos na confluência de Marte com Vênus (sei lá se isso é possível) e todos os astros e planetas estão corroborando para que esse encontro aconteça.
Confesso que fico com um friozinho na barriga. E se a gente se frustrar? Se não valer a pena todo investimento (emocional, financeiro)?
É impossível: vamos (re) encontrar um monte de gente, conhecer membros da família que só conhecemos por fotos, tirar mil fotos que ficarão de lembranças para sempre e inspirarão as novas gerações que estão chegando.
Teremos herdeiros de Júlio e Nilzalina (meus pais), com idade de 1 ano a 88 anos! Vamos comer, beber, rir, dançar e talvez até chorar juntos. Mas que dá um friozinho na barriga dá ....
Para mim, este evento vai ter um gosto de Natal, Ano Novo, enfim, será uma grande festa e acho que o tempo não será suficiente para pôr as conversas em dia e matar as saudades.
Estarão presentes todas as minhas seis irmãs, uma cunhada (viúva do meu irmão), dois cunhados (os outros já faleceram), uma penca de sobrinhos, sobrinhos netos e bisnetos, e mais um monte de agregados (apelidados carinhosamente de "parênteses" por estarem literalmente entre parênteses num cartão enviado pela família a um membro ausente num Natal do passado).
Fico meio angustiada diante de encontro familiares. Sei lá, acho que bate uma angústia meio infantil de quando eu era muito retraída e achava que não tinha nada a dizer de interessante para as pessoas. Quando encontrava meus sobrinhos vindos de Mato Grosso cheios de energia e atitude, e eu me sentia a tia (embora tivesse a mesma idade que eles) perdida entre o desejo de ser criança e a responsabilidade de pertencer à classe dos mais velhos.
O encontro acontecerá em Campo Grande por razões estratégicas e decisão da maioria.
Tomara que seja bastante bom para que outros aconteçam. Já estou com saudades.

segunda-feira, 7 de novembro de 2011

O buraco é mais embaixo

Na segunda, é mais difícil retomar o blog. Fico dividida entre falar das vivências do final de semana e dos acontecimentos quentes dos últimos dias. Não é assunto novo, mas não posso deixar de lamentar a morte do cinegrafista da Band, Gelson Domingos, durante operação policial na fazenda Antares, no Rio de Janeiro, no domingo.
Como disse um antigo colega do JB, Jorge Antonio Barros em seu blog (publicado em oglobo.globo.com/blogs/), é impossível permanecer impassível diante da morte de um colega de profissão: "Quando acontece no nosso quintal a notícia sempre torna-se mais relevante". Ainda citando o ex-colega do JB, 2011 foi o ano mais trágico para a imprensa latino-americana em 20 anos, segundo a Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP). A morte desse cinegrafista, afirma Jorge Antonio, só confirma o que pesquisadores como Luiz Mir têm dito: o Brasil vive uma gerra civil não declarada, com 50 mil mortos por ano.
Aqui em Cuiabá a coisa anda feia: assaltaram e balearam um deputado federal (Eliene Lima) na semana passada, quando ele conversava com um amigo delegado na porta de casa, no bairro Boa Esperança (perto da UFMT). É, meu amigo, pode ser que o fato de ser parlamentar apresse a identificação dos culpados, mas os ladrões são "democráticos": não querem saber a profissão, nem o partido das vítimas. Bobeou, tomou ...
Ando em Cuiabá como andava no meu Rio de Janeiro nos anos 1980, sempre alerta e desconfiada. É uma triste realidade.
Mata-se e se morre por muito pouco. Será que tem jeito de reduzir essa sensação de insegurança, como foi feito em Nova York e outras cidades violentas?
Longe de mim querer dar uma de especialista no assunto, mas acho que é importante combater a violência, com policiamento ostensivo nas ruas, policiais bem preparados e remunerados, que não saiam matando pessoas como o africano Toni Bernardo (aquele que foi espancado por três homens numa pizzaria do Boa Esprança), e principalmente com o combate não hipócrita aos grandes criminosos: políticos, autoridades e todo tipo de profissional corrupto, que desviam dinheiro que deveria tornar nossa sociedade mais justa, com educação de qualidade, saúde e saneamento básico, moradia e transporte dignos para toda a população e não para um minoria.
Todo meu apoio aos organizadores da manifestações anticorrupção do próximo dia 15!

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Quanto mais velhos ...

Esta semana entrevistei uma mato-grossense que completou 100 anos: Nympha Escolástica da Silva - uma mulher de personalidade forte que se gaba de sua presença de espírito. “Se alguém falar alguma coisa que não gosto, dou resposta no ato. O que gosto, gosto; o que não gosto, não gosto. Por isso sou feliz”, afirmou. E isso não parece ser bravata de uma senhora centenária, já que todos asseguram que ela sempre foi assim.

Esse encontro me fez pensar sobre a questão da idade. Como tudo é relativo! Há pessoas que se acham velhas aos 18 anos e há outras com uma vitalidade invejável em idades avançadas. O que determina nossa idade?

Tenho um amigo, de 76 anos, que diz que essa história de melhor idade é uma balela. Meu amigo não é um pessimista, é apenas realista. Como convencer alguém entrevado numa cama ou tendo que recorrer a um andador de que aquela é sua melhor idade?

O mundo é cruel e contraditório. Ao mesmo tempo que tenta nos convencer das delícias da “melhor idade”, glorifica a juventude e tenta nos enfiar goela abaixo uma série de artifícios para se manter eternamente jovem: pílulas, cirurgias plásticas e técnicas revolucionárias para manter a pele lisa, sem rugas e expressão.

Outro dia, um amigo jornalista do Rio de Janeiro, que continua trabalhando aos 70 anos, contou sobre a situação difícil de uma amiga em comum: “É mais uma grande profissional que o mercado seletivo dos ‘jovens’ pôs de lado”.

Em algumas carreiras, como as de modelo e jogador de futebol, a idade é fundamental, todos sabemos, porém, na profissão de jornalista, em que o vigor físico e a beleza não são fundamentais, deveríamos ser tratados como vinho: quanto mais velhos, melhores. Não é o que acontece. Só não sei se isso também ocorre em outras profissões.

Volta e meia, alguém que entrevistei elogia minha capacidade de transmitir exatamente o que ele quis dizer. Sempre pensei que era essa a minha obrigação como repórter, mas constato, com uma certa relutância, que isso é um talento (modéstia à parte), que foi aprimorando com o tempo.

Pode ser até que o mercado não valorize os meus atributos (a profissão de jornalista anda tão desvalorizada, num mercado profissional onde publicitários e outros profissionais vão tomando nosso espaço – um assunto para outro artigo), mas hoje, diante do exemplo positivo de dona Nympha, eu me sinto invadida por uma onda de otimismo. Acho que preciso pôr mais em prática a sua receita de longevidade, que inclui o uso constante de guaraná em pó.

Texto publicado no Diário de Cuiabá hoje

quinta-feira, 3 de novembro de 2011

Concerto

Foto de Cláudia Abreu - Onde está Wally, ops, Martha?
Antes que se passe muito tempo, quero comentar aqui sobre o concerto de terça-feira passada. Foi muito legal!
O Madrigal do Avesso, do qual faço parte, fez uma participação especial reforçando o time dos alunos do curso de regência de Coral, que está sendo dado pelo professor e maestro Carlos Taubaté, através da Secretaria de Estado de Cultura (SEC-MT).
Como adoramos um palco, não pensamos duas vezes antes de aceitar o convite do Taubaté, que é também regente e fundador de nosso madrigal.
Cantamos três músicas a cappella, sob a regência de alunos do curso (entre eles, dois colegas nossos, Iasmin Medeiros e Epson Lima): "Old Folks at home", de Stephen Foster, "Luar do Sertão", de Catulo da Paixão Cearense  e "Ave Verum", de Mozart. Foi muito emocionante cantar novamente esta peça, que cantei há décadas num Concerto da Associação de Canto Coral na Sala Cecília Meirelles no Rio de Janeiro.
Em seguida, a banda formada por alunos do Curso de Regência de Bandas e Fanfarras, e reforçada por músicos do Instituto Ciranda e da Orquestra Sinfônica de Nova Mutum, apresentou quatro peças, sob  regência variada.
O grande final veio com banda e coral apresentando juntos "Canta Brasil" de Alcir Pires Vermelho e David Nasser (sob a regência do professor e maestro Murilo Alves)  e "Nos bailes da vida" de Mílton Nascimento e Fernando Brant. Quando o público do Cine Teatro Cuiabá preparava-se para pedir bis, os alunos dos cursos de regência fizeram uma homenagem surpresa para os professores/regentes (Taubaté e Murilo). cantando "Amigos para sempre".
Saímos do teatro felizes e com "a alma repleta" de amor pela música e loucos para fazer uma apresentação só do nosso Madrigal do Avesso.

Foto: Cláudia Abreu

segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Tudo é relativo

Se meu pai estivesse vivo hoje faria 117 anos. É mole?
É curioso pensar que sou filha de um homem do século XIX. Na verdade, ele nasceu quase no finalzinho do século XIX.
Hoje, coincidentemente, entrevistei uma mulher, dona Nympha, que fará 100 anos amanhã (a matéria será publicada no Ilustrado do Diário de Cuiabá). Um pouco surda, mas bastante lúcida e muito simpática.
Meu pai morreu aos 67 anos de coração. Minha mãe, que teria feito 99 anos em abril passado, morreu de coração também, aos 74 anos (se não errei nas contas).
Tenho várias irmãs que já passaram ou estão passando as marcas de nosso pai e nossa mãe. Ainda bem.
Hoje, dia 31, a mais nova delas completa 68 anos. Parece uma menina, de tão jovial!
Diante de tudo isso, eu, aos 55, me sinto quase um bebê. Isso dá uma sensação boa!
Se eu tiver a saúde de dona Nympha, ainda terei mais 45 anos de vida. Ufa! Preciso refazer meus planos rapidamente ...

sábado, 29 de outubro de 2011

Espectro pantaneiro

Foto de Protásios de Morais
"Eu sei que vou te amar", o samba-canção de Tom Jobim e Vinícius de Morais na viola de cocho? Parece mentira, mas foi o que ouvi ontem no show "Espectro pantaneiro", no Teatro do Sesc Arsenal.
Antes de seguir adiante, gostaria de falar um pouco sobre a viola de cocho, usando como fonte um livro maravilhoso: "Cultura mato-grossense",  do cuiabano Roberto Loureiro (Entrelinhas Editora, 2006). A viola de cocho é "confeccionada a partir de um bloco de madeira inteiriça" e, sobre o bloco de madeira, "o artesão esculpe o formato da viola, escavando a madeira até que as paredes fiquem bem finas, um cocho bem trabalhado". A peça recebe um tampo de madeira como o de um violão, porém, sem a boca.
É um instrumento que desafia minha compreensão. Lembra um pouco o alaúde, usado nas músicas medievais.
Até há pouco tempo a viola de cocho era usada apenas nos rituais de cururu e siriri, com poucas variações, mas alguns músicos e pesquisadores de Mato Grosso e de fora vêm dando outra dimensão ao instrumento, que é a cara de MT. Para isso muito contribuiu o trabalho desenvolvido pela Orquestra do Estado de Mato Grosso (OEMT), que tem à frentre o maestro Leandro Carvalho. Em muitos concertos, a OEMT conta um naipe de violas de cocho.
A introdução ficou um pouco longa, mas o que quero falar mesmo é sobre Sidnei Duarte, um dos músicos que toca viola de cocho na OEMT. Aos 38 anos, ele é um músico estudioso (além de ser graduado em Física), que transita com tranquilidade entre a viola de cocho, o violão e a guitarra. Vai do chamamé ao jazz mais contemporâneo - daí o nome de seu show "Espectro pantaneiro".
Sidnei divide o palco com três parceiros: Sandro Souza (bateria), Samuel Smith (baixo) e Phellyppe Sabo (saxofones e flauta). O show passeia pelo erudito (um estudo feito por Sidnei para viola de cocho), a MPB e o jazz, con o vigor de composições de Charlie Parker, Pat Metheny, John Scofield e Kurt Rosenwinkel.
Tem lugar ainda para a delicadeza e a vibração de composições dos brasileiros Garoto e Guinga.
Como vocês podem ver, o "espectro" sonoro de Sidnei é bastante amplo para mostrar toda a versatilidade e talento desse paulista,  que se fez músico em Mato Grosso.
Comparando com tudo que já ouvi (ao vivo no Rio de Janeiro e em outras cidades, em CDs e no rádio), a performance de Sidnei e dos músicos que tocaram com ele e a qualidade de suas composições não decepcionariam em qualquer palco do mundo onde se faça música instrumental de qualidade.  Felizmente ou não, Sidnei mora em Cuiabá e por aqui não se dá tanto valor a esse tipo de música, que prescinde de palavras para sensibilizar.
Talvez o show precise de alguns ajustes em termos de repertório (eu teria que assistir novamente para fazer uma avaliação mais precisa) e uma direção artística que torne o espetáculo mais azeitado. Seja como for, é sempre um privilégio ouvir em Cuiabá uma música ousada, vibrante e que foge ao senso comum.
Quem quiser conferir, hoje tem mais uma apresentação de "Espectro pantaneiro", às 20h, no Teatro do Sesc Arsenal. O show é o pré-lançamento do CD do mesmo nome que Sidnei está gravando.