terça-feira, 17 de dezembro de 2013

Contando as horas

Está difícil encarar esta semana. Afinal, não é toda hora que a gente passa o Natal e o Ano Novo sob neve no inverno europeu!
Viajarei no sábado ao encontro de minha filha Marina, que há quatro meses se (re) descobre como aluna do Programa Ciência sem Fronteiras, vivendo num país estrangeiro, em meio a novos amigos (muitos estrangeiros) e viagens a outros países europeus.
Vai ser muito bom reencontrar minha Marina, embora me angustie a ideia de deixar a filha mais velha, Diana, por aqui, ainda que em boa companhia. Mas não é novidade para nós passarmos festas de fim de ano apartadas. Isso acontece desde que me separei do pai das meninas.
Mas este é apenas um assunto introdutório de um post que pode ser o último de 2013 - um ano de poucas postagens e no qual meu blog, cá entre nós, andou bem abandonado.
Mesmo assim, continuo conservando-o como um bote com a pintura descascada e já bem usado que fica ali às margens do rio. A gente nunca sabe quando vai precisar dele ou quando vai ter vontade de sair remando!
E por falar em rio, ando com uma saudade imensa de rio, água, natureza... Não é saudade do Rio - aquele com letra maiúscula e sim saudades da calmaria enganosa do rio Paraguai, que me recebeu de braços abertos enquanto morei em Cáceres. Saudade de canto de passarinho, de cachorro ciscando no nosso pé, de sentir cheiro de folha ...
Não vou encontrar nada disso na Europa, mas estou ansiosa por novas paisagens - de cidades desconhecidas. Vou visitar Amsterdam, que conheci quando tinha 17 anos em meio a uma excursão à Europa; pequenas cidades do Sul da Alemanha (na Floresta Negra) onde passaremos o Natal em família (na casa de minha sobrinha Tetê, que estará cercada de filhos e da netinha); Praga na República Tcheca, Dresden e Hamburgo na Alemanha (nesta última encontraremos amigos alemães muitos queridos que conhecemos em Cáceres), concluindo o giro em Amsterdam novamente.
Não posso deixar de mencionar que vou conhecer Dronten, uma pequena cidade holandesa que tem sido o lar de Marina nos últimos quatro meses.
É muito excitante retornar à Europa no inverno exatamente 40 anos após a minha primeira viagem ao continente europeu!
Estou muito feliz de poder dar essa alegria à minha Marina (essa é a desculpa para um investimento tão alto), mas estou muito feliz também por quebrar a minha rotina de forma tão radical.
É bem verdade que minha primeira viagem à Europa demorou um tempo maior (mais de um mês). Agora serão 15 dias, incluindo as horas gastas no voo Cuiabá - SP - Amsterdam - SP - Cuiabá.
Eu me sinto muito privilegiada por ter essa oportunidade e agradeço a todos que de alguma forma contribuíram para isso ou estão torcendo pelo sucesso da viagem.
Agradeço pelos trabalhos realizados ao longo do ano que me permitiram realizá-la e o que mais quero em 2014 é ter saúde e disposição suficientes para continuar trabalhando. É claro que a gente sempre quer mais: quem me conhece sabe que não estou totalmente realizada, mas tenho consciência de que muita coisa depende de mim, de ser mais positiva, menos "reclamenta", de me aceitar mais  ...
Sempre tem aquela parcela do imponderável e esse é um tema que ainda estou longe de dominar. Continuo cheia de dúvidas, indagações. Mas quem não as tem? Continuo sendo uma mente inquieta. Que bom, né? Antes inquieta do que acomodada. 
Desejo a todos que lerem este post um Feliz Natal e um 2014 com muita saúde e disposição para a vida, com tudo que vier!
 

domingo, 17 de novembro de 2013

Um mundo sem livros



Aproveitei a noite de domingo para assistir novamente a um filme que marcou minha infância (ou início da adolescência), driblando assim o "Fantástico" e a cobertura da prisão dos mensaleiros.
O filme, de 1966, se chama "Fahrenheit 451", adaptação de François Truffaut do livro homônimo de Ray Bradbury.  Encontrei há algumas semanas nas prateleiras da locadora Casablanca e fiquei esperando o momento certo para revê-lo morrendo de medo de me decepcionar.
Isso não aconteceu. Apesar de algumas cenas meio engraçadas - como a dos policiais "voadores" que  procuram o protagonista Montag, que me lembrou um pouco o seriado japonês National Kid -, o filme é muito interessante e envolvente.
A história se passa num tempo futuro em que o trabalho dos bombeiros não é mais proteger as pessoas dos incêndios (já que as casas são protegidas contra incêndio) e sim queimar livros. Todos os livros - sem exceção - são considerados perigosos por tornarem as pessoas "infelizes",
O filme tem diálogos fantásticos, seja entre o chefe dos bombeiros e Montag, o bombeiro que se revolta contra o sistema que lhe acenava com uma promoção, seja entre Montag (o ator Oskar Werner) e a professora revolucionária interpretada pela atriz Julie Christie, que também interpreta a conformada mulher de Montag.
O filme é uma fábula sobre um mundo em que as pessoas são proibidas de ler e algumas, que se rebelam e conseguem fugir ao cerco da repressão, tornam-se pessoas-livro à espera que aquela "idade das trevas" termine e os livros possam ser novamente impressos.
Cada uma decorou um livro e passa os dias repetindo o texto para que ele não se perca ... A cena do avô moribundo que recita o livro para que seu neto o decore é antológica.
Fiquei pensando que livro eu seria se vivesse numa época assim ...
São tantos os livros que amo ...
Eu nem ia escrever este post, mas aí li sobre a morte da escritora Doris Lessing, aos 94 anos. Prêmio Nobel de Literatura, ela é autora de um dos meus livros preferidos: "A canção da relva" que li e reli, e talvez releia novamente. Para ser sincera, não li outros livros de Doris, mas gostaria de lê-los. 
"A canção da relva" fala sobre preconceito, amor, atração, desespero, solidão. Ele tem uma frase no início que me marcou muito a ponto de eu tê-la anotado num caderno: 
"Solidão, pensava ela (a protagonista do romance, Mary Turner), é o desejo da companhia de outras pessoas. Mas não sabia que solidão podia ser um despercebido atrofiamento do espírito por falta de contato humano". 
Não consigo imaginar meu mundo sem livros.



sexta-feira, 25 de outubro de 2013

A Passagem do Meio

Há alguns dias li o texto "A passagem do meio (Da miséria ao significado da meia-idade)", de James Hollis, gentilmente enviado por um amigo depois de ler um post escrito aqui.
Venho me dedicando com afinco à leitura do texto. Fiz uma primeira leitura que me emocionou bastante e agora estou em meio à segunda, que estou fazendo com mais vagar, como convém a esse tipo de texto.
O que ele tem de tão especial?
Em primeiro lugar, fala de um momento muito especial de nossas vidas - aquele em que a gente, por mais que não queira, vai assumindo aquela postura de quem caminha em direção ao abatedouro.
Aos 50 e tantos anos (57 no meu caso), por mais que alguns artigos e reportagens tentem nos fazer mudar de opinião, assim como exemplos de pessoas que começam um novo amor ou uma nova profissão depois dos enta, temos a sensação de que já tivemos as melhores oportunidades da vida e vivemos os melhores anos no auge de nosso vigor físico e mental.
Nessa idade, ou você já deu "certo" (é próspera, saudável, bem situada profissionalmente, tem um relacionamento estável com outra pessoa, uma legião de grandes amigos, etc, etc) ou você fica com aquela sensação meio amarga na boca.
Nessa autoavaliação, há fatores objetivos e muito subjetivos, é claro. Não adianta alguém vir e lhe dizer que você é muito legal, que te admira, porque o que conta mesmo é a sua autoestima, que, no meu caso, é baixa.
Mas retomando o texto "A Passagem do Meio", meu objetivo aqui é compartilhar uma experiência interessantíssima que comecei a viver desde a sua leitura. Eu me identifiquei muito com o texto e estou procurando reavaliar e ressignificar algumas situações à luz das observações do autor, um psicanalista norte-americano junguiano.
O texto nos propõe uma pergunta básica e essencial: "Quem sou eu, além da minha história e dos papéis que interpretei?"
É essa pergunta que venho me fazendo diariamente há algumas semanas. 
Já descobri, por exemplo, que por uma razão de sobrevivência familiar assumi o papel de uma pessoa fraca, que precisa de proteção e, para garantir essa situação (des)confortável, acabo metendo os pés pelas mãos e fico com a sensação de que sou "menos" do que gostaria.
Isso me lembra quando comecei a dar aulas no curso de Letras da Unemat, em Cáceres, no início dos anos 1990. Embora estivesse dando um passo ousado (enfrentar uma sala de aula pela primeira vez na vida), achava que estava aquém de minhas colegas e sempre me colocava numa postura retraída. Eu me lembro de ter dito numa reunião uma frase atribuída ao comediante Grouxo Marx: "Nunca frequentaria um clube que me aceitasse como sócio". Eu sabia o que estava falando, mas não sei se cheguei a ser realmente compreendida.
Aos poucos, conquistei com meu esforço a admiração e a confiança de muitos alunos, colegas e chefes, mas, mesmo assim nunca consegui incorporar essa experiência como uma vitória e uma prova da minha capacidade pessoal e profissional. Pelo contrário, eu me cobro até hoje por não ter tido a capacidade de transformar essa rica experiência transitória numa situação mais perene que me garantisse hoje uma renda estável e permanente.

quarta-feira, 23 de outubro de 2013

Um sonho (ou pesadelo)

Gostaria de registrar um sonho (ou pesadelo) muito estranho que tive ontem num breve sono.
Eu estava em Cáceres e seguia em direção ao bairro Cavalhada, onde morei por 10 anos. O céu estava encoberto e o horizonte sombrio. Peguei uma rua que existe na realidade, mas ela era bem diferente: sem asfalto, bem rústica. Vi um menino que hesitava em seguir a pé e cheguei a pensar em lhe dar uma carona (eu estava de carro? de bicicleta?). 
Pouco mais adiante encontrei uma cratera enorme e fui obrigada a parar. Nisso, vi dois homens que saíam do buraco e me viram. Tentei fugir, mas um deles me pegou. O outro disse que ele estava sendo muito mole comigo e ele começou a me bater. Eu gritei "Socorro" o mais alto que pude na esperança de que o garoto me ouvisse e pedisse socorro. Gritei duas vezes, mas aí me lembrei de que aquilo era um sonho e que bastava acordar para interromper meu sofrimento.
Esse foi o sonho e ele me fez pensar: sobre o desejo que tenho de proteger outras pessoas (o menino) reprimido diante do medo de me expor; sobre o medo do desconhecido, da violência latente de nossas cidades e sobre a possibilidade de interromper um momento de pavor com o simples acordar.
Fiquei brincando com essa ideia (que não é original): será que nossa vida não é um sonho que pode ser interrompido se assim o desejarmos?
No momento, não tenho vontade de interromper este "sonho". Minha vida pode não ser um sonho, mas está longe de ser um pesadelo.

sábado, 19 de outubro de 2013

Música divina música


Itiberê e Mariana Zwarg em Cuiabá - foto Arquivo Sesc Arsenal
Depois de ver um monte de notícias ruins no Facebook, vou fazer um esforço para resgatar o sentimento que me animava quando voltei para casa ontem depois de um show maravilhoso no teatro do Sesc Arsenal, em Cuiabá.
Tão lindo que preciso contar para mais gente o que aconteceu lá.  Essa é a pretensão do jornalista ou do escritor, seja ele blogueiro ou apenas um frequentador das páginas de mídia social.
Vamos aos fatos: fui ao show dos professores convidados para os cursos e oficinas de Música que aconteceram ao longo da semana, no Sesc Arsenal. Na verdade, saí do trabalho e fui direto para o Sesc com o objetivo de assistir ao show de Itiberê Zwarg, contrabaixista do Hermeto Pascoal, arranjador, produtor musical e educador. Sabia que ouviria um som no mínimo instigante, diferente. E de graça.
Para minha surpresa, encontrei isso e muito, muito mais.
O show começou com uma apresentação do grupo da oficina de sopros de Víttor Santos, que formou uma big band em cinco dias de prática. Foi lindo! Eles tocaram várias composições do próprio Vittor Santos, que ainda nos brindou com uma aula sobre a evolução musical das big bands. Alguns músicos do grupo me eram familiares como o trompetista Tony Maia e o sax tenor Andrei, e fiquei muito feliz de saber que muitos deles fizeram parte do Instituto Ciranda - Música e Cidadania, aquele que não me canso de elogiar. O som foi maravilhoso, viajante, contagiante ...
Ah, eles ainda apresentaram um número com a cantora Muiza Adnet, irmã da Maucha, do Mário e tia do Marcelo, e contaram com a participação do baixista André Vasconcellos (que deu o curso de contrabaixo) e de um baterista cujo nome perdi.
Em seguida, começou a apresentação de Itiberê, ao piano, e de sua filha Mariana (flautas). Eles interpretaram vários temas conhecidos, mas de uma maneira tão única e especial, entre eles, "Na Baixa do Sapateiro", "Índia" (com o saxofonista Augusto, também oriundo do Ciranda), "Cantador" com Muiza e "Bebê" com André Vasconcellos e o baterista fantástico cujo nome não memorizei. 
Nem sei o que destacar: a cumplicidade entre pai e filha? A forma maravilhosa como Itiberê - um músico que já percorreu o mundo inteiro - se referiu ao jovem e talentoso saxofonista Augusto? A beleza da interpretação de Muiza de uma música que adoro ("Cantador" - uma parceria de Dori Caymmi e Nélson Motta)? Ou a delícia de ouvir a releitura de "Bebê", composição de Hermeto Pascoal?
A essa altura do show, eu já estava totalmente feliz, mas houve mais uma surpresa: a apresentação dos alunos da Oficina de Prática de Conjunto, dirigida pelo próprio Itiberê. No palco, três jovens - uma delas Laura Pompeu, de apenas 15 anos -, dois violonistas (um deles, Joelson Conceição), dois percussionistas, um contrabaixista e um saxofonista. Sob a regência de um empolgadíssimo Itiberê, o grupo apresentou uma composição feita coletivamente durante a oficina ("Tô chapada").
Adorei! Eles começaram só na base do vocal (e que vocal!) e só depois entraram os instrumentos (trompa, dois saxes, dois violões, contrabaixo e percussão) mais a voz de Laura. Foi show! 
No final, Itiberê fez um breve discurso lindo, agradecendo ao Sesc Arsenal pela oportunidade de trabalhar em Cuiabá mais uma vez e elogiando os músicos participantes de oficinas e cursos. 
Ele disse que o mundo está muito "estropiado" e que a música pode ajudar muito a melhorar essa situação por ser "uma fonte sem fim". 
Realmente. Sou obrigada a respeitar todos os gostos, mas há músicas que elevam o espírito, fazem bem à alma ou seja lá o que temos dentro do nosso corpo. Outras parecem que não fazem diferença, às vezes até nos irritam, estressam. 
É muito estimulante ouvir tantos músicos bons e promissores de Cuiabá. Faz a gente esquecer um pouco o horror que esta cidade se tornou com tanta violência, tanto descalabro por parte de políticos que, infelizmente, só estão no poder porque os elegemos. 

quarta-feira, 2 de outubro de 2013

O prazer de praticar Yoga

Ontem vivi uma experiência muito agradável: fiz uma prática de yoga ao lado de minha filha Diana, no novo espaço da professora Moara Schroeder.
Em 2008/09, fui aluna de Moara, mas depois, por motivos diversos, acabei buscando outros lugares para a prática da yoga, que se tornou um must em minha vida.
Recentemente, ela abriu um novo espaço exatamente em frente ao prédio onde moro, na rua Estevão de Mendonça em Cuiabá. Como sou aluna da academia Golfinho Azul, onde pago uma anuidade, não me interessei em conhecer o local, mas Diana começou a frequentar as aulas de Moara.
Ontem, fiquei com vontade de conhecer o espaço e pedi à Diana para perguntar à Moara se poderia ir a uma aula. Ela respondeu que a professora já tinha deixado essa possibilidade em aberto.
Que lugar lindo! Fica nos fundos de uma casa que abriga vários consultórios e já teve diversas funções desde que moro no edifício da frente. Moara conseguiu criar um espaço mágico, onde havia uma piscina abandonada (segundo ela).
Ela reformou todo o fundo da casa e essa atmosfera gostosa é criada com tecidos brancos esvoaçantes que caem do teto, velas, almofadas, por uma fonte artificial que cria a ilusão de que estamos próximos a um riacho e pela música maravilhosa!
Consegui entender por que Diana está tão apaixonada pelas aulas e até deixando de lado as aulas da academia que sempre amou.
Fazer uma aula ali é uma experiência extremamente relaxante e desafiadora, já que temos que enfrentar a nossa dificuldade de nos alongar e fazer algumas posições que vão se tornando difíceis devido a más posturas e a não utilização (ou subutilização) de articulações e músculos de nosso corpo.
Fiquei morrendo de vontade de voltar lá, embora adore a minha professora de yoga do Golfinho Azul. Mas, por mais que ela se esforce em criar um clima especial para a prática da yoga, tem que competir com o barulho de supinos e outros aparelhos da sala de musculação que fica em cima. Precisamos, como alunos, fazer um esforço redobrado para nos concentrarmos e não ouvirmos a voz da professora de hidrobike que dá aulas no mesmo horário.
Num momento em que ando bem incrédula em relação à capacidade de criarmos um mundo melhor diante de notícias diárias horríveis sobre crimes, mutilações, traições, corrupção, violência, abuso de poder (de todo tipo) e violência policial (veja o caso do pedreiro Amarildo), talvez seja esse o caminho para conseguir não perder a cabeça e não se deixar levar pela tristeza.
Sinceramente, gostaria que todo mundo pudesse praticar yoga, mas isso é uma utopia. Uns ficam bem caminhando, outros correndo, outros praticando lutas marciais, outros ainda nadando ... Cada um tem sua escolha, mas cada vez mais acredito que a yoga é um belo caminho e estou muito feliz que Diana tenha descoberto e adotado esse caminho.
A propósito, dormi profundamente esta noite e tive sonhos incríveis.

sábado, 31 de agosto de 2013

Filhos que voam!





É tão bom sentir vontade de escrever um novo post! Cá entre nós, não tive a menor vontade de escrever nos últimos tempos.
Ou melhor, escrevi muito, mas nada de muito pessoal. Fiquei muito ocupada com o fechamento de duas publicações: a última edição da revista Corpo e Arte, a ser lançada no dia 9 ou 10 de setembro, e o anuário do Instituto Algodão Social. Ambos deram muito trabalho, mas o segundo deu muito mais, já que me envolvei até medula em todos os detalhes da edição. Sem falar, é claro, no trabalho normal, das 8 às 18h, de segunda à sexta-feira.
Nesse meio tempo, minha filha caçula esteve aqui em Cuiabá com mil coisas para fazer antes de embarcar para a Holanda (Ciências sem Fronteiras) e ainda arrumou umas pedras na vesícula, o que a obrigou a fazer uma cirurgia meio às pressas. Melhor ficar um ano na Holanda sem vesícula e pedras do que correr o risco de uma crise num país estrangeiro!
Depois disso, ela voltou para o interior de SP, onde passou alguns dias se despedindo da rotina da república e do namorado. Na sexta da semana passada, voei ao seu encontro, fomos juntas para SP e nos despedimos no aeroporto de Guarulhos. A ideia é a gente se rever em dezembro/janeiro na Europa.
Esses são os fatos que, de alguma forma, me tiraram a inspiração e o tempo para o blog nos últimos dias. 
E os sentimentos?
(Suspiro) Difícil dizer ... Estou incrivelmente serena e animada com a perspectiva de passar uma semana em Brasília mergulhada até a cabeça no Congresso Brasileiro do Algodão. Acho que estou ficando meio workaholics ... 
Hoje fui nadar depois de muitos sábados sem conseguir ir. Foi incrivelmente bom! Não perdi o pique, nem o fôlego. Nadei os meus pouco mais de mil metros (sei que não é tanto assim) em uma hora e saí de lá feliz da vida. 
Continuo amando minhas aulas de yoga e agora também faço uma aula de taibo, nas terças e quintas-feiras, que é uma delícia - uma mistura de artes marciais e aeróbica  
Continuo gostando de cantar, mas ando frequentando menos o Chorinho, em parte, por conta desses compromissos, em parte, por preguiça mesmo.
Neste momento, estou curtindo um raro instante de solidão em minha casa, ouvindo a música que escolhi e somente isso. Hesitei em usar a palavra solidão que tem uma conotação meio triste, mas a gente tem que ficar sozinha de vez em quando sem fazer disso um drama, nem que seja para derramar algumas lágrimas em paz ou se sentir inteira, ainda que seja inteiramente triste.
A gente atua tanto o tempo todo, representa papéis sociais - mãe, trabalhadora, pessoa comprometida, politizada, politicamente correta, etc - que às vezes dá um cansaço. 
Meu maior desejo agora - fora, é claro, ver minhas filhas bem, assim como minhas irmãs e os demais membros da família - era poder passar uns dois ou três dias num lugar bem tranquilo - numa fazenda no Pantanal, por exemplo - sem dirigir, sem ouvir barulho de carro (e principalmente de moto), sem tem que me preocupar com a roupa que vou usar, apenas contemplando a paisagem, ouvindo barulho de pássaros ... 
Mas meu principal objetivo a médio prazo é juntar dinheiro para visitar Marina na Holanda. Antes disso, vou ao Rio para celebrar o aniversário de uma de minhas irmãs e rever boa parte da família.
Acho que vai ser um segundo semestre animado.
Fico um pouco angustiada quando as pessoas dizem a respeito da viagem da minha filha caçula:  "Um ano passa rápido". Eu não quero que passe rápido. Quero que ela tenha todo o tempo do mundo para curtir essa experiência maravilhosa e eu também quero curtir cada minuto da minha vida.
Sei que isso é bobagem: independentemente de nossa vontade, o tempo está passando muito rapidamente ...

domingo, 7 de julho de 2013

A luta pela vida

Hoje de manhã conversei com uma das minhas irmãs que me  "cobrou" pela falta de posts e eu respondi que não estava tendo mais tempo, nem vontade de escrever.
Pois acabei de chegar de Cáceres e me deu vontade de contar uma história vivida lá ontem.
Fui de carona com uma pediatra que atende na UTI neonatal de um dos hospitais da cidade. Saímos de Cuiabá às 4 da madrugada porque ela precisava pegar o plantão às 6h, substituindo a mulher do meu primo. Como eu ia para a casa de Márcia, nosso encontro aconteceu no hospital.
Enquanto eu esperava por ela, ouvi choro de uma mulher e perguntei o que tinha acontecido à médica que me trouxe. Ela respondeu que um bebê tinha acabado de morrer. Achei triste e continuei na sala de repouso dos médicos esperando que as duas médicas trocassem informações antes da mudança de plantão.
Alguns minutos depois vi e ouvi a mãe do bebê recém-falecido que falava com alguém da família pelo celular entre soluços. De repente, a enfermeira veio avisá-la que o seu filho estava vivo. 
Pareceu tão surreal: o coração do nenê voltou a bater depois de muito tempo, tempo suficiente para a médica de plantão esperar pelo atestado de óbito e assiná-lo!
Fiquei feliz com a notícia, afinal eu tinha acabado de testemunhar um milagre. Na saída, perguntei à Márcia sobre o caso e ela me disse que o bebê (um menino) tinha poucas chances de viver,  já que nasceu com uma cardiopatia grave.
Fiquei pensando naquelas mães com seus bebês em incubadoras, lutando pela vida ou por serem prematuros ou por terem nascido com doenças graves e me dei conta de quanto fui feliz por ter tido duas filhas tão perfeitas. 
Hoje, voltei a Cuiabá com a mesma carona e assim que entrei no carro soube que o nenem estava muito bem. A médica comentou: "Acho que ele chegou lá em cima e mandaram ele voltar". 
Essa história poderia ter um final feliz se acabasse aqui, mas não posso deixar de contar o que me disse a médica que me deu carona: segundo ela, esse bebê tem poucas chances de viver porque ele precisa de um transplante e só poderá fazê-lo quanto tiver um mínimo de 10 k - isso se conseguir um órgão compatível. Se tudo isso acontecer, ele deverá viver no máximo 10 anos porque esse é o tempo que as pessoas conseguem viver com um órgão transplantado. Eu não sabia disso. 
Essa é a história que queria compartilhar hoje. Uma história triste e, ao mesmo tempo, bonita, que revela um pouco da complexidade da vida e da luta pela vida daqueles bebezinhos aparentemente tão indefesos e do sofrimento e da esperança de suas mães que ficam ao seu lado. Diante de tudo isso, amo ainda mais minhas filhas e valorizo cada segundo que puder passar ao lado delas. 

sexta-feira, 21 de junho de 2013

O que queremos fazer com a força que vem das ruas?


Ontem fui alguém na multidão que se formou em Cuiabá para protestar contra a corrupção, a aprovação da PEC 37, o fim dos privilégios de políticos, etc, etc, etc, e a favor de mais verbas para a saúde, educação, etc, etc, etc. 
Vejo muitos pontos positivos em tudo que está acontecendo, entre eles, a sensação de que juntos somos uma força. A questão é: o que queremos fazer com essa força? Não vou nem abordar os acontecimentos de outras cidades e, principalmente, de São Paulo, Rio e Brasília, e sim falar do que vi ontem em Cuiabá.
Foi fantástica a força mobilizadora de colocar 40 mil, 60 mil, 100 mil pessoas (li vários números na mídia local) nas principais vias públicas da capital durante mais de quatro horas. Foi bonita a festa? Foi, mas, caminhando pela avenida do CPA em meio a milhares de jovens (durante um bom tempo achei que eu era a única cinquentona do pedaço), senti falta de uma certa organização nem que fosse na emissão de palavras de ordem.
Na maior parte do tempo, vi as pessoas simplesmente passando e mostrando seus cartazes com os dizeres mais variados. 
Nosso grupo foi até a Assembleia Legislativa (supostamente o ponto de chegada da manifestação), mas lá também fiquei decepcionada: nada de discursos ou qualquer manifestação conjunta.
Quando pensei em deixar o meu grupo e ir embora, houve um princípio de correria, provavelmente motivado pela explosão de uma bomba, que teria ferido uma manifestante (acabei de ler isso em http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=3&cid=163241), ou pelo fogo que alguns manifestantes atearam a uma caçamba de lixo no local.
Fiquei muito assustada na hora porque vi que sou um desastre para correr em momentos de quase pânico e minha sorte foi ter ao lado uma amiga do trabalho e sua irmã (que conheci ontem), que me cercaram com carinho filial. Se não fosse por isso, acho que teria tropeçado. Fiquei ainda mais a fim de embora por sentir que minha presença no local era inútil, mas esperei todo o grupo decidir partir para não ficar sozinha. No caminho de volta, encontrei minha filha e uma amiga, que tinham se desgarrado de seu grupo, e fomos todos para a casa da irmã da minha amiga até que o trânsito se normalizasse.
No caminho, muito barulho de motos e vários motoqueiros passando em alta velocidade na contramão, inclusive nas calçadas, o que me fez pensar que temos muito a caminhar em direção a essa sociedade sem violência e menos egoísta. 
Não se iludam, o povo tem sua força, mas a grande mudança passa pela mudança pessoal, o deixar de lado o egoísmo, a ganância, pelo bem comum, por uma atitude mais respeitosa e menos preconceituosa com o outro. Não são apenas os políticos os sem ética e corruptos. 
Há muita incoerência nessas manifestações (gente que vibrou com a aprovação de Cuiabá como subsede da Copa e agora se revolta contra essa escolha) e muitos rebeldes sem causa ou com múltiplas causas. Não acho que nos faltem causas para protestar e, por isso, acho que essas manifestações, esse despertar são bem-vindos, mas fiquei aliviada quando li a notícia de que o Movimento Passe Livre decidiu interromper a escalada de protestos. Outro dia, ouvi uma das líderes do movimento dizer que eles agora iam lutar pela reforma agrária ... A questão não é a causa, mas a pertinência da causa numa sociedade como São Paulo, tão cheia de problemas bem mais tangíveis e com mais chances de serem solucionados. 
Na minha opinião, não podemos simplesmente continuar indo para as ruas infinitamente, fazer manifestação pela manifestação, como se fôssemos a um shopping ou a uma micareta. Mudar o mundo exige grandes mudanças pessoais. Até que ponto estamos dispostos a isso?

segunda-feira, 10 de junho de 2013

No escurinho do cinema

Fabrício Boliveira e Iris Valverde
Nos últimos dois finais de semana, em meio à elaboração de matérias para a revista Corpo e Arte, eu me permiti ir ao cinema.
No domingo, dia 2, assisti a "Faroeste caboclo", o filme nacional baseado na canção homônima de Renato Russo, o líder da banda Legião Urbana.
Ontem, mais ou menos no mesmo horário (depois do almoço), assisti a "O grande Gatsby".
Dois filmes completamente diferentes, mas intensos. Gostei dos dois porque cumpriram exatamente o papel que espero dos bons filmes: me manter totalmente absorvida enquanto durou a sessão mantendo os olhos grudados na tela e o coração apertado.
Por algum tempo, eu me esqueci de violência daqui de fora, da pressão do trabalho, da tensão do trânsito e da angústia de pensar que estou falhando na minha pretensão infantil de contribuir para um mundo melhor.  
Com o perdão da palavra, "Faroeste caboclo" é uma porrada. O filme tem um quê de tragédia. Você sabe que o final será trágico e se angustia com a evolução dos acontecimentos. Mas há uma beleza imensa na morte dos protagonistas, no minuto final em que João de Santo Cristo (Fabrício Boliveira ) compreende que Maria Lúcia (Iris Valverde) nunca deixou de amá-lo. Tive muita vontade de chorar, mas, sozinha no cinema, segurei as lágrimas e continuei grudada na poltrona ouvindo a bela canção "Faroeste caboclo".
Li em algum lugar que os fãs da música ficaram um pouco frustrados com a versão do diretor Renê Sampaio de uma canção que já nasceu com pinta de roteiro. Como não me considero uma fã incondicional de "Faroeste caboclo" e nunca parei para ouvir a letra em toda sua extensão e dramaticidade, vi o filme sem grande expectativa e gostei muito.
Em relação a essa nova versão do romance de Scott Fitzgerald aconteceu algo semelhante. Li vagamente umas críticas desfavoráveis ao filme, mas resolvemos (Diana e eu) apostar nessa opção para a tarde calorenta de domingo. Temi que ela não curtisse o filme, mas ambas ficamos totalmente envolvidas pelos acontecimentos.
Aqui também a certeza de que tudo acabaria em tragédia, mas, a exemplo de "Faroeste caboclo", há também um segundo em que um dos protagonistas vive um instante de felicidade antes de morrer. 
Será que a felicidade do amor só existe por segundos antes da morte?
Seja como for, adorei o visual exagerado do filme, Leonardo DiCaprio está lindíssimo e só quando saía  do cinema descobri que o filme é dirigido pelo mesmo diretor de "Moulin Rouge", o australiano Baz Luhrmann. O curioso é que me lembrei de "Moulin Rouge" nas cenas das festas loucas da mansão de Gatsby.
Ir ao cinema é muito bom - mil vezes melhor do que assistir a um filme no DVD. Não tem ninguém ligando,  interferência externas ... Ainda bem que agora temos a opção de cinema no Goiabeiras Shopping. Pode não ser o ideal (é bem melhor ir ao cinema fora de um shopping center), mas ainda é muito melhor do que ter que pegar o carro e ir ao Pantanal Shopping, que fica bem mais longe de minha casa. 

Leonardo DiCaptrio e Carrey Mulligan
 

sábado, 1 de junho de 2013

Viagens




Não fui eu que escolhi o jornalismo e sim o jornalismo que me escolheu, mas uma das razões que me levaram a abraçar a profissão foi a possibilidade de ganhar o mundo, superar as barreiras e a proteção familiares, e viajar.
Hoje, muitos e muitos anos depois, vejo que realizei parcialmente meus sonhos. Conheci pessoas e lugares que não conheceria normalmente, mas admito que fui meio instável e menos valente do que gostaria nas minhas escolhas pessoais e profissionais.
Eu adoro viajar ... Graças ao meu trabalho ou aos ganhos do meu trabalho, consegui fazer algumas viagens. Fui a Nova York, Paris, Alemanha, Miami, Buenos Aires, várias cidades brasileiras e conheci uma boa parte de Mato Grosso.
Ultimamente não tenho viajado muito, embora tenha ido ao Rio de Janeiro três vezes no ano passado.
Ontem escrevi uma matéria sobre Nova Orleans para a revista Corpo e Arte. Um dos meus sonhos é conhecer Nova Orleans, uma cidade que realmente me fascina por ser o berço do jazz e abrigar uma infinidade de bares e restaurantes com música ao vivo, fora os festivais ao ar livre.
Tive que pesquisar na net para escrever meu texto e só fiquei com mais vontade ainda de conhecer Nova Orleans. Trabalhando como freelancer para a Corpo e Arte já escrevi sobre Fernando de Noronha, Singapura, as Ilhas Maldivas e Japão, e cada linha escrita é fruto de pesquisa e entrevistas feitas com pessoas que já visitaram esses destinos.
Que ironia! Eu que sonhava tanto viajar através do jornalismo agora sou obrigada a viajar apenas na minha imaginação para tornar meu texto saboroso e convidativo para leitores que, eventualmente, podem se sentir atraídos por meus relatos e as fotos desses lugares maravilhosos.
Tenho vontade de conhecer muitos lugares - todo o litoral brasileiro, Manaus -, mas tenho fissura de conhecer três lugares especialmente: Vila Bela da Santíssima Trindade, a primeira capital de Mato Grosso, Cuzco e Machu Picchu no Peru, e Nova Orleans, nos EUA.
O que me impede de realizar meus desejos?
Em parte, falta de grana, mas também uma falta de planejamento financeiro, de acreditar na possibilidade de realização, de foco.
 Essa constatação, acredito, já é um passo à frente, mas preciso andar mais rápido se quiser visitar esses lugares realmente. E o mais viável é começar por Vila Bela.

segunda-feira, 20 de maio de 2013

A escolha de Angelina

Ando tão bissexta em minhas publicações que corro o risco de ser esquecida por meus leitores mais fiéis ...
O que me motivou a escrever hoje foram os últimos acontecimentos envolvendo a atriz Angelina Jolie, que anunciou na semana passada ter feito uma mastectomia dupla e uma cirurgia para reconstrução de mamas visando reduzir o risco do câncer que matou sua mãe.
Não vou aqui repetir toda a história, que pode ser lida na mídia convencional. Quero apenas registrar livremente minha opinião.
Tenho lido coisas muito estranhas a respeito da decisão de Angelina Jolie e a última é a de que ela seria peça de uma campanha envolvendo grana alta do laboratório responsável por fazer exames para detectar a probabilidade genética desse tipo de câncer. Tudo é possível no mundo hoje e praticamente nada mais me espanta.
Mentira!
Eu fquei chocada de saber que uma mulher bonita, rica, invejada (por sua beleza e por seu belo marido), ícone de campanhas humanitárias, etc, havia feito uma cirurgia (ou melhor, várias) para reduzir suas chance de ter câncer. Não vou entrar aqui também na questão matemática, ou seja, avaliando os percentuais de chances de Angelina ter ou não o mesmo tipo de câncer que matou sua mãe.
Será que ela também avaliou as chancer de morrer num acidente de avião (maiores que as minhas que viajo bem menos de avião do que ela), de carro, etc?
Sua atitude corajosa, heroica, segundo muitas opiniões, para mim é assustadora, na medida em que influencia milhares (ou até milhões) de mulheres no mundo inteiro que, certamente, não terão condições de fazer a mastectomia ou a reconstrução dos seios com os mesmos cuidados médicos que a atriz global (no sentido maior, de global mesmo).
E os riscos de morrer por causa da anestesia, de contrair uma infecção hospitalar, de perder o emprego por causa dos dias sem trabalhar? Tudo isso tem que ser levado em conta na contabilidade de nós, simples mortais.
Conversei sobre o assunto com uma amiga que mora nos EUA e trabalha com pesquisa médica. Ela classificou a decisão de Angelina de "tough choice", algo como, uma escolha difícil, dura ...  Contou que leu no site da CNN que ninguém consegue tirar 100% dos seios, ou seja, sempre sobra uma possibilidade de câncer. Diz ainda que a decisão da atriz tem a ver com a cultura norte-americana de "cortar o mal pela raiz".
Nós (ela, eu e, certamente, outras pessoas da famíla) preferimos caminhos menos radicais, com intervenções cirúrgicas menos invasivas e com a ingestão de menos medicamentos.
Aliás, para mim, quanto menos remédio eu puder tomar, melhor. Fico irritada com aqueles anúncios que estimulam as pessoas a tomarem remédios ao menor sinal de dor de cabeça ou em qualquer outro lugar do corpo. Tomou xxxx, a dor sumiu! Alguns associam o comprimido ao carinho paterno ou materno. Bullshit!.
Só sei que há anos vejo uma proliferação tão grande de drogarias e farmácias que só me faz concluir que é um negócio que dá muito dinheiro ou, pelo menos, movimenta muito dinheiro - em outras palavras, ideal para a lavagem do dito cujo.
É isso, não vou crucificar Angelina Jolie por sua decisão de mutilar seu próprio corpo, mas a partir de agora estou ainda mais cabreira com suas aparições e decisões midiáticas.


sexta-feira, 3 de maio de 2013

Chico

Chico foi meu primeiro e único ídolo. Digo ídolo no sentido de idolatração, adoração mesmo. Sabe aquela coisa de recortar fotos de revistas, colar no caderno? É claro que fiz isso com outros artistas, quando era criança, mas Chico era especial. Ele era tema de redações escolares e dos meus sonhos de adolescente.
Minha paixão surgiu quando o vi se apresentando no Festival da Record. Ou foi quando ouvi seu primeiro elepê (é gente, sou do tempo do LP)? Não importa. Só sei que ela foi crescendo, alimentada pelas muitas participações de Chico na TV, numa época em que grandes artistas apareciam em programas como "Essa noite se improvisa" e "O fino da bossa", entre outros.
Ah, já deu para saber de que Chico estou falando?
Esta semana, fiquei surpresa ao assistir ao show "Roda Viva" no Chorinho (o bar Choros & Serestas). O show tem apenas canções de Chico Buarque de Hollanda, interpretadas pela cantora Lorena Ly com o acompanhamento do violonista Joelson Conceição e do baterista Sandro Souza. Já tinha acontecido em outras ocasiões, mas foi a primeira vez que decidi ir.
Não é minha intenção aqui fazer uma crítica à apresentação, até por que fui lá para beber cerveja e me divertir.
Fiquei encantada com a reação do público que, em sua maioria, era composto por pessoas na faixa de 30 anos (ou menos). Em algumas músicas, o público entusiasmado cantava junto com Lorena, que parecia muito feliz e senhora absoluta do "palco".
Deixa eu explicar as aspas: no Chorinho não tem exatamente um palco e sim uma espécie de tablado onde se acomodam os músicos nos dias em que não há roda de samba, quando todos - músicos, cantores profissionais e amadores, e público - se misturam.
Realmente, Chico está quase chegando aos 70 (ele é de 19 de junho de 1944) e não envelheceu mesmo que não tenha aderido a ritmos mais modernos como outros companheiros de geração. Percebo que as músicas que mais encantam o público - ainda que jovem - são as mais antigas, como "Geni e o zepellin", "Quem te viu quem te vê", "Samba de um grande amor", etc.
Foram mais de quatro horas de apresentação - com pequenos intervalos - e até a hora que fui embora - pouco depois de Lorena anunciar o final - não houve repetição de qualquer música e mesmo assim faltou cantar muitas músicas. Impressionante, né?
Eu adoro cantar Chico e sempre faço isso quando pego o microfone nas rodas de samba do Chorinho. Minhas atuais paixões? "Carolina", "Terezinha", "Valsinha", "Minhas história", "Meu guri","A Rita", "Quem te viu quem te vê" e "Samba do grande amor", entre outras.
Chico pode não ser mais meu ídolo, no sentido de idolatração, paixão irrestrita, mas, com certeza, ainda é meu compositor favorito - aquele que toca mais meu coração e me inspira.

domingo, 28 de abril de 2013

Crueldade sem fim

Juro que não queria falar de violência, mas não consigo me manter impassível diante de tantos casos bárbaros ocorridos nos últimos dias.
Há algumas semanas, minha depiladora me contou o caso de um conhecido seu que teria sido espancado por ladrões em Cuiabá (ou Várzea Grande, já que as duas cidades são contíguas e quase se igualam em matéria de insegurança) porque sua TV era de um modelo antigo. Engoli em seco e pensei "Ainda bem que moro em apartamento e num prédio que até agora fez jus ao nome 'Porto Seguro'", já que minha TV já tem mais de cinco anos e não é dos modelos mais modernos.
Esta semana, um caso conseguiu chocar a opinião pública: o assassinato cruel da dentista de São Bernardo do Campo, queimada viva por seus algozes por só ter R$ 30 em sua conta bancária.
São comuns relatos de vítimas espancandas por não terem dinheiro suficiente para dar os ladrões.
Isso é o cúmulo dos cúmulos. Não basta as pessoas não terem segurança em suas casas, empresas e consultórios, elas precisam ter bens de última geração e dinheiro suficiente para saciar a sede de ladrões inescrupulosos e totalmente destituídios de qualquer senso de humanidade.
Antes que alguém me acuse de estar trocando de lado, ou seja, torcendo pelo linchamento desses ladrões, pena de morte, etc, preciso fazer alguns questionamentos.
Que tipo de sociedade é a nossa que está criando indivíduos dessa espécie? Defendo sim leis mais duras, prisões que não sejam escolas de crime e de mais violência. Sou absolutamente contra essa história de prender, dar um pau, jogar os caras em cadeias sem a menor condição de higiene, verdadeiras pocilgas e fábricas de doenças e bandidos ainda mais inescrupulosos, e logo depois devolvê-los à sociedade (por progressão de pena, absolvição por falta de provas, pagamento de fiança, etc) ainda piores.
No meu mundo ideal, ladrões, bandidos de origem pobre, classe média ou alta (sejam eles do tipo que pegam em armas ou do tipo que não precisa "sujar as mãos" para roubar) deveriam ser presos, condenados e cumpririam penas de acordo com a gravidade de seus crimes lado a lado. .
Atropoleu, matou usando seu carro ou motocicleta como arma vai ter que trabalhar numa clínica ou hospital para vítimas de acidentes de trânsito (um exemplo). É drogado, viciado em drogas tem que ir para uma prisão especial, onde receba tratamento adequado.
Políticos e empresários corruptos teriam que devolver imediatamente os recursos roubados e/ou desviados. Para isso, é claro precisaríamos de uma Justiça ágil e não corrupta.
As cadeias não teriam regalias, mas seriam limpas (os próprios detentos poderiam fazer a limpeza), teriam opção de estudo e trabalho para todos.
A polícia seria bem treinada, remunerada e não seria tão corrupta e violenta.
É claro que sempre haverá bandidos, policiais corruptos e violentos, mas isso não pode ser a regra.
Acredito que haja policiais e outros agentes responsáveis pela segurança pública se beneficiando de alguma forma de tanta criminalidade e dos frutos de assaltos e roubos a residências e de veículos.
O mundo real, como já provaram tantos livros e filmes ( de "Lúcio Flávio, o passageiro da agonia" a "Tropa de Elite 2: O inimigo agora é outro") é complexo e difícil de entender.  Não vejo solução à vista e não posso deixar de lamentar profundamente pela dentista Cinthya, que estava apenas trabalhando em seu consultório até morrer de uma forma tão cruel. 

segunda-feira, 22 de abril de 2013

Gracias a la Vida - o livro

Ontem (domingo) li uma notícia sobre o livro "Gracias a la vida", no site do jornal Estado de S.Paulo (www.estadao.com.br), que mexeu muito comigo e foi tema de um post, publicado em seguida.
Acabei de constatar que ele sumiu do meu blog.
Não estou paranoica achando que alguém excluiu meu post, mas o fato é estranho e nunca tinha me acontecido.
Vou tentar recuperar o que eu escrevi, mas não sei se terei sucesso.
O livro é autobiografia do ex-preso político Cid Benjamin, fundador do PT e hoje afastado do partido que ajudou a afundar.
Segundo a matéria do Estadão, o livro vai desagradar a todo mundo e uma das razões para isso é o fato de o autor dar uma visão diferente sobre os homens que o torturaram barbaramente. De alguma forma, ele os humaniza, ao dizer que "eram pessoas normais", o que torna ainda mais grave a prática da tortura.
Outro fato que deverá provocar polêmica, na opinião de Cid Benjamin, é sua opinião em relação ao médico Amílcar Lobo, que já citei várias vezes neste blog por causa da entrevista que fiz com ele para a revista Veja nos anos 1980, em que denunciava ter visto o deputado Rubens Paiva muito machucado após sessões de espancamento no tristemente famoso quartel da Barão de Mesquita, na Tijuca (RJ). Lobo foi o primeiro militar ligado às forças da repressão a contestar a versão fantasiosa do Exército de que Paiva teria fugido e por isso estaria desaparecido.
Embora tenha sido um dos presos políticos a denunciar Amílcar Lobo em seu consultório de psicanalista (já nos anos 80), Benjamin diz no livro que a atitude da esquerda em relação ao médico do Exército (que conheceu durante sessões de tortura na famosa Casa de Petrópolis) foi equivocada.  Na opinião do autor, teria sido mais humano e produtivo ouvi-lo, ampará-lo e buscar mais informações com Lobo sobre os porões da ditadura.
Achei surpreendente essa atitude de alguém que foi torturado e teve um corte na cabeça suturado por Lobo sem anestesia, entre outros procedimentos nada éticos do dr Carneiro (como Lobo era chamado por seus colegas de farda) do ponto de vista médico. Na minha ingenuidade e desejo de acreditar no ser humano, eu acreditei no desejo de Lobo de obter a remissão de seus atos nos porões da ditadura e a aceitação da sociedade (sobretudo a psicanalítica) ao se abrir para um órgão de comunicação e contar uma verdade que teimava em permanecer escondida.
Infelizmente, Lobo morreu sem obter sua redenção e sempre foi apontado por todos como "um lobo em pele de cordeiro".
Não li o livro de Cid, mas fiquei morrendo de vontade de lê-lo.

sábado, 13 de abril de 2013

Chatô



Que baixinho arretado!

Esta semana acabei de ler "Chatô", de Fernando Morais. Li com quase 20 anos de atraso (a minha edição do livro, da Companhia das Letras, é de 1994) ...
É engraçado isso. Tem livros que são meio datados e, quando você lê fora da época, parece que está cometendo uma heresia.
Eu ganhei "Chatô", um calhamaço de mais de 700 páginas, de minha irmã Junilza. Acho que tentei ler o livro pelo menos duas vezes, mas não conseguia passar das primeiras páginas.
Quando dei aulas no curso de Jornalismo da UFMT, em 2004/05, meus alunos comentavam sobre o livro e eu ficava até com vergonha de dizer que não tinha conseguido ler.
Este ano, do nada, resolvi tentar mais uma vez e fui me envolvendo com o livro. Tem umas passagens que são um pouco confusas, gente demais, nomes demais. Eu acho que a história pessoal  de Francisco de Assis Chateaubriand Bandeira de Mello (1892-1968) - tudo que envolve a família, filhos, mulheres - volta e meia entra na história mais pública (política, empresarial) de uma forma meio intempestiva.
Mas o livro é fantástico e leitura obrigatória para se conhecer - e se entender melhor - o panorama político, empresarial e jornalístico do Brasil no século XX.
Que personagem, esse Chatô! Embora não tenha simpatizado com ele - por seu autoritarismo e a forma extremamente egoísta que lidava com a família, os amigos e negócios (vide o episódio envolvendo sua filha Teresa e a mãe dela, que deixou Chatô para viver com outro homem) -, tenho que tirar meu chapéu para sua energia, seu empreendedorismo, sua coragem, a forma destemida como enfrentava situações que pareciam totalmente sem saída (como no episódio em que estava sendo exilado para o Japão).
É impressionante como ele conseguiu criar, do nada, um império das comunicações (os Diários Associados) e inventar campanhas mirabolantes. Impressionantes também a  história da criação do Masp e tantas outras narradas ao longo do livro.
Confesso que fiquei triste quando cheguei à última página, mesmo que com uma sensação de vitória por ter conseguido - desta vez- ir até o fim.
Ainda estou meio ressaqueada, sem conseguir iniciar outra leitura, como fico geralmente quando termino de ler um livro que me envolveu muito.
Talvez o que mais tenha me impressionado no livro foi o fato de Chatô jamais ter deixado de escrever. Mesmo doente e com os movimentos dos dedos totalmente limitados, ele deu um jeito de continuar escrevendo seus artigos. O estilo era muito louco - exagerado, altamente agressivo, abusivo -, fiel ao estilo da época. Mas é impressionante o seu talento para a comunicação, a necessidade que ele tinha de expressar suas ideias, dar vazão a seus projetos por mais loucos e exóticos que fossem.
Quero ler outras biografias agora.
Demorei muito para ler "Chatô", mas valeu a pena.

domingo, 7 de abril de 2013

Dia do jornalista: será que há algo a comemorar?

Hoje é dia do jornalista e o Facebook está cheio de mensagens alusivas à data.
Sempre quis ser jornalista, ou melhor, descobri que queria ser jornalista quando tinha uns 10/11 anos e sonhava ultrapassar os "muros" do meu apartamento, onde morava confortavelmente protegida por minha mãe e minhas irmãs.
Como já disse aqui, a revista "Realidade" teve uma grande participação nesse desejo e me influenciou muito, assim como aconteceu com outras pessoas da minha geração.
Era isso que eu queria fazer, pensava: usar minha profissão para visitar locais, como um pronto-socorro ou uma delegacia de polícia ou ainda um front de guerra, e conhecer pessoas que estavam totalmente fora do meu círculo.
Quando comecei a trabalhar, como repórter de Geral, consegui realizar um pouco desse sonho. Quando ainda era estagiária do jornal "Tribuna da Imprensa", sem ganhar um tostão, nem vale transporte, visitei os subterrâneos da obra do metrô no Rio de Janeiro e entrei sem autorização oficial num hospital de leprosos, o Hospital Colônia de Curupaiti (acho que era esse o nome) em Jacarepaguá. Cobri passeatas, protestos de estudantes onde a polícia da ditadura militar atirava e não hesitava em quebrar a cabeça de deputados corajosos e "de esquerda", que se colocavam ao lado dos estudantes que tentavam defender a velha sede da UNE na Praia do Flamengo.
Acho que foi mais ou menos nessa época que descobri que eu não era tão corajosa, mas isso não me impediu que fosse crescendo na profissão e até realizasse grandes matérias, como aquela (que já citei aqui) com o psiquiatra Amílcar Lobo, primeira testemunha do lado de lá a denunciar a farsa em torno da morte do deputado Rubens Paiva.
Mas aí veio a vontade de formar uma família, a vinda para Mato Grosso, o nascimento das filhas, etc, etc.
Em 2003, após a separação, voltei a ter a oportunidade de ser repórter novamente, na revista "Produtor Rural", editada pelo jornalista Sérgio de Oliveira, da minha geração. Novamente o instinto de repórter aflorou: numa matéria sobre transporte escolar rural, percebi que não bastaria entrevistar os representantes das secretarias de Educação do Estado e dos municípios. Por que não sentir na pele as agruras de quem depende diariamente do transporte escolar no campo e sai de casa no meio da madrugada para chegar à escola no início da manhã? Foi uma linda reportagem.
A revista "Produtor Rural" me deu a chance de conhecer muitos municípios de Mato Grosso, conversar com muita gente, enfrentar estradas de chão, compartilhar refeições com pessoas quase desconhecidas, viver outras realidades e isso me fez ver o mundo rural com outros olhos. Foi uma experiência muito bacana e hoje reconheço que tenho muito a agradecer ao Sérgio por essa oportunidade de ouro.
Nesse meio tempo, dei aulas de jornalismo e acredito ter influenciado positivamente alguns jovens jornalistas.
A revista acabou e até tentei continuar trabalhando como repórter, mas ficou difícil pagar as contas. Acabei me agarrando a melhor oportunidade profissional que me apareceu: a assessoria de imprensa da Associação Mato-grossense dos Produtores de Algodão (Ampa).
Tento me convencer de que já estou meio "velhinha" e, portanto, está na hora de buscar um trampo mais tranquilo em que possa permanecer no conforto do ar condicionado, sem enfrentar o rigor das estradas e outros perengues. Mas, no fundo, fico meio triste por não poder contar histórias diferentes e conhecer pessoas diferentes através de uma profissão que me obriga a superar minha timidez. Sempre que posso invento um jeito de sair do escritório.
Adoro contar histórias e fico pensando como conciliar a vida prática (a necessidade de ganhar dinheiro para pagar as contas) com um trabalho que me dê mais tesão e tenha mais a ver com o meu sonho de menina.
Ainda não descobri essa resposta.
A ideia inicial aqui era homenagear o dia do jornalista - essa profissão tão estranha e meio parecida com a do professor: todo mundo elogia, diz que é muito importante, mas que é tão desvalorizada financeiramente.
Hoje li um post dizendo que dois dos três jornais diários de Cuiabá estão muito mal das pernas. Acredito que o comentário se referia à Folha do Estado e Diário de Cuiabá. Passei pelos dois nos últimos anos e sinceramente não entendo como as pessoas conseguem trabalhar em lugares onde os salários são pagos com tanto atraso. Em um deles, o diretor paga quando quer e a quem quer, já que o dinheiro não dá para todos.
Participei de uma mesa redonda sobre jornalismo científico na UFMT na sexta-feira e alguns dos jornalistas presentes (todos veteranos como eu) reclamaram da baixa qualidade do jornalismo praticado em Mato Grosso. As matérias são em sua maioria superficiais, mal redigidas, mal apuradas. As pessoas na mesa disseram que falta ir para a rua, falar com as pessoas, olhar nos olhos dela.
Sinto que está se fazendo muito um jornalismo de assessoria, ou seja, como os jornais não querem investir e mantêm redações enxutas, grande parte do espaço é ocupada por matérias de assessoria (inclusive as minhas) "vendidas" ao leitor como matérias da Redação, em muitos casos.
As notícias acabam chegando às pessoas através das redes sociais, dos blogs, da TV, mas quase sempre de uma forma fragmentada, sensacionalista e não raro meio inconsequente.
Por isso, infelizmente, não compartilho dessa onda de parabéns pelo dia dos jornalistas. Acho que a data deveria servir para um debate sério sobre os rumos que nossa profissão está tomando.
Mas pelo menos esse post serviu para que eu me reconcilie com a profissão que escolhi (ou que me escolheu). 

quarta-feira, 27 de março de 2013

Fortaleza


Foto tirada no início dos anos 1960 na praia do Leme (acredito). July está no centro de maiô preto, entre Junilza (à esq.) e Jandira. Delcídio aparece atrás e o outro homem é Manoel, marido de Jandira. As crianças são (da esq. para dir.): Martha, Tadeu, Laura, Fátima e Dione. Del e Júlio ainda não tinham nascido. A foto foi feita por César (marido de Junilza) e digitalizada por Augusto César (filho do casal).  Ela não é maravilhosa?
 Será que posso falar neste espaço sobre a dor de perder uma irmã?
Mesmo que você quase não veja ou fale com aquela irmã, é tão bom saber que ela está ali e que você pode contatá-la com um simples telefonema!
Desde ontem (26/03), não posso mais ligar para July.
Faz muito tempo que a morte não visita nossa familia (ainda bem) e a gente fica com aquela ilusão de que todos viveremos para sempre. E com isso se esquece de aproveitar cada fim de semana, cada momento para dizer a cada irmã, cunhado ou sobrinho quanto eles são especiais.
Sou filha de uma família maravilhosa: amorosa, acolhedora, não raro controladora... Na qualidade de caçula de oito irmãos tive o "privilégio" de ser meio irmã/meio filha de quase todos.
Com July não foi diferente. Na minha infância, sua participação não foi muito notável. Eu morava no Rio e ela em Corumbá. Eu me lembro de ter ido uma vez a Corumbá quando pequena e ter visitado a casa de July na rua Tiradentes, em frente a uma praça imensa. De vez em quando, July, seu marido Delcídio e seus filhos nos visitavam no Rio e a casa da minha mãe ficava lotada de malas, adultos e crianças ...
Quando eu tinha uns 11 anos, July, Delcídio e seus seis filhos se mudaram para Barra Mansa, a pouco mais de 100 km da cidade do Rio de Janeiro. Foi aí que passamos a ter um relacionamento mais intenso. Eu passei muitos finais de semana em Barra Mansa, brincando com meus sobrinhos e seus amigos. Como era gostoso! A gente se aventurava pelo morro que ficava atrás da casa do bairro Estamparia e se divertia muito.
Nas férias, a família ia para alguma praia próxima e lá ia eu de contrapeso - a tia que era pouca coisa mais nova do que a filha mais velha do casal, Fafá.
Fomos para Guarapari mais de uma vez, Cabo Frio, Ubatuba ... Às vezes ficávamos em hotel (a turma toda), mas houve ocasiões em que ficamos numa casa alugada. A temporada em Ubatuba foi maravilhosa! Eu estava com 15 anos e me lembro de curtir muita praia e as paqueras. Na despreocupação dos meus 15 anos, eu não me lembro como July fazia para organizar aquela casa com tanta gente!
Quando eu tinha 19 anos, fizemos uma viagem ao Sul, começando por Foz de Iguaçu e indo até o Rio Grande do Sul. Fomos em dois carros: um deles era dirigido por July e Delcídio e o outro por mim e Fafá. Mamãe também participou dessa viagem e, se não me falha a memória, viajava quase sempre no nosso carro. Foi muito gostoso! Acontecia de nos perdermos na estrada e ficarmos agoniados até nos reencontramos num tempo em que ninguém sonhava com a facilidade de um telefone celular. Em Gramado (segundo minha sobrinha Luciana, que tinha uns 7 ou 8 anos na época), a família Amaral, mamãe e eu nos encontramos com a família Silveira (Jandira, Manoel e Lu).
Aos poucos, fui ficando mais independente e comecei a viajar por minha própria conta, me desligando um pouco da família Amaral, mas os laços afetivos ficaram para sempre e eram renovados anualmente nos Natais passados em Barra Mansa (na bela casa do Verbo Divino) ...
Eu me mudei para Mato Grosso em 1988, mas continuei voltando sempre que podia. Nesses encontros tão movimentados e cheios de gente, eu talvez nunca tenha me dedicado o suficiente àquela irmã que definitivamente parecia mais minha mãe e que parecia tão forte.
Quando falávamos por telefone, geralmente eram conversas longas, sobre pessoas e fatos da família. Muitas vezes ela me falava de sua fé inquebrantável e, de uma maneira sutil, tentava me "catequisar".
Não me converti e nem lhe dei a alegria de frequentar a Igreja Católica como ela, mas sempre guardarei com muito carinho seu exemplo de fé e sua força. July era uma fortaleza. 

quinta-feira, 14 de março de 2013

Pra não dizer que não falei de poesia ...

Cada vez mais me convenço de que os verdadeiros amigos são como as ondas do mar: vão e voltam. Às vezes, demoram um pouco para dar as caras novamente, mas acabam voltando.
Com o tempo aprendi a valorizar os amigos e cobrar menos sua presença, por isso sempre os recebo de braços abertos, sem cobranças. É difícil manter o ritmo da amizade quando não se tem atividades em comum.
Desde que me mudei para Cuiabá - já faz 10 anos - já tive fases em que me achei uma pessoa popular, querida e cercada de amigos e também já tive fases em que me senti a pessoa mais sozinha do mundo, e até me questionei qual era o meu problema. Será que não sou acessível? Sou antipática? Séria demais? Superficial demais? Profunda demais?
É claro que não cheguei a uma resposta conclusiva, e acredito que sou um pouco de tudo misturado.
Já houve fases na minha vida (no Rio de Janeiro, Cáceres, Cuiabá) em que funcionei como aquela pessoa que puxa as coisas, propõe os programas, o elemento agregador do grupo, Mas, não ando assim ultimamente. Não sei se é a idade, mas ando cada vez mais com preguiça de mobilizar as pessoas, convidar, chamar. Se eu puder fazer as coisas sozinha, tudo bem; se não puder, não faço.
Adoro a paz da piscina quando nado na academia, adoro o "quase" silêncio das aulas de yoga ...
Gosto do Chorinho (o bar Choros&Serestas) porque é um lugar onde você vai sem combinar horário com ninguém, chega lá e é sempre bem recebida, pelos garçons, pela maioria dos músicos e pelos clientes habitués como eu ... Na hora que dá vontade, eu pago minha conta e vou me embora para casa.
Temos um novo papa e uma série de coisas graves acontecendo no mundo, como sempre, e eu aqui olhando para dentro de mim no meu horário de almoço, ouvindo Paulinho da Viola. A propósito, olha só o que ele acabou de cantar para mim:

"Eu sou assim
Quem gostar de mim
Eu sou assim"
Meu mundo é hoje - Paulinho da Viola

Esse é meu recado hoje.

"Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Quero assistir ao sol nascer
Ver as águas dos rios correr
Ouvir os pássaros cantar
Eu quero nascer
Quero viver...
Deixe-me ir
Preciso andar
Vou por aí a procurar
Rir prá não chorar
Se alguém por mim perguntar
Diga que eu só vou voltar
Depois que me encontrar...

Preciso me encontrar - Cartola

E viva a poesia de poetas como Cartola e Paulinho da Viola no Dia Nacional da Poesia!

sexta-feira, 8 de março de 2013

O sonho não acabou

É inevitável hoje pensar no Dia Internacional da Mulher. 
Confesso que fico até um pouco irritada quando algumas pessoas me cumprimentam pelo dia, mas não posso negar que fico feliz quando recebo um bombom do estagiário ou uma caixa de chocolate do chefe. Coisa de mulher ... Somos sempre tão contraditórias. 
Acho que a data é importante para se refletir sobre violência contra mulher e a questão das diferenças salariais, mas é claro que avançamos bastante, principalmente no Brasil, que é a realidade que conheço melhor.
Mesmo em Mato Grosso, uma terra de homens machistas, vejo muitas mulheres conquistando espaço no campo profissional.
 No campo político, acho que a participação da mulher em Mato Grosso ainda é muito tímida e a maioria das mulheres que se destaca, infelizmente, chegou à política pelas mãos de seus maridos (os Bezerras, Rivas, Maggis da vida, entre outros) e a maioria acaba trazendo para a vida pública os defeitos e práticas de seus companheiros.
É, nossa sociedade é ainda muito machista. Há poucos dias tive que me calar diante do comentário machista de um homem em posição hierarquicamente superior à minha: "Tenho que pagar um bom seguro para que minha mulher não se case com o primeiro homem que aparecer se eu morrer de repente". 
Quase comentei: "Diz para ela que o mercado está difícil e competitivo, e que tem mais homem querendo ser sustentado do que querendo sustentar. Além disso, os mais ricos preferem as mais jovens".
Mas é claro que houve avanços e a gente se dá conta disso assistindo à novela "Lado a lado" - a melhor desta safra de telenovelas. De vez em quando consigo assistir ao final de um capítulo e numa dessas vi a personagem da atriz Marjorie Estiano, a jornalista e professora Laura, falando a uma menina que as pessoas costumam mandar para o asilo de loucos as mulheres que não obedecem (foi o que aconteceu com a Laura na novela). A mesma Laura foi premiada como jornalista, mas perdeu o direito ao prêmio quando descobriram que uma mulher se escondia por trás de um pseudônimo.
Hoje, as redações da maioria dos jornais estão cheias de mulheres, inclusive em postos de comando. Isso tem um lado bom: não precisamos mais nos esconder atrás de pseudônimos, mas é inegável que a profissão de jornalista está desvalorizadíssima em termos salariais, o que acaba - pelo menos, em Mato Grosso - afastando os homens, que preferem ir atrás de carreiras mais rentáveis, como o Direito. Conheço várias jornalistas que fizeram essa troca.
Eu gosto de ser mulher, gosto de poder ser feminina, chorar quando me dá vontade e ter o direito de ser delicada, sem ser chamada de maricas. Procuro ser uma mulher digna, independente, que não apela para o sentimentalismo para conseguir ir em frente. 
Não é fácil. Tem hora que dá vontade de desabar e ter um homem provedor para tomar conta da gente, botar no colo e fazer carinho. 
Tento fazer com que minhas filhas não desacreditem do sonho de viver uma vida a dois, onde caibam sem conflitos a maternidade, a independência de ideias, o amor e o respeito. 
O sonho não acabou...       

sábado, 2 de março de 2013

Elis, o dançarino





Na noite de ontem, uma amiga, Manoela, me ligou. Na hora pensei no Elis, um amigo em comum. Não deu outra: ela ligou para me comunicar o falecimento de Elis A. da Silva, 72 anos, ourives e o melhor dançarino do Chorinho - o bar Choros & Serestas de Cuiabá.
Não fui ao velório, nem ao enterro.  Escrever este texto é uma forma de reverenciar a memória de Elis.
Conheci o Chorinho em 2002, pouco antes de me mudar de Cáceres para Cuiabá, graças um encontro com Manoela em Cáceres. Ela me falou de um lugar onde costumava dançar e combinamos que me levaria lá na próxima vez que eu fosse a Cuiabá.
Não me lembro ao certo, mas provavelmente nessa primeira ida ao Chorinho conheci Elis. Na época ele era o par de Manoela. Os dois dançavam samba juntos divinamente. Manoela devia ter uns 20 e poucos anos. Ficamos amigas e comecei a frequentar o Chorinho em sua companhia quando me mudei para Cuiabá em fevereiro de 2003.
Nossa amizade durou até ela se mudar de Cuiabá, mas quando ela se foi eu já tinha outros amigos no Chorinho - muitos conquistados através dela.
O Elis era uma referência e estava sempre lá aos sábados. Uma figuraça! Gostaria de ter um vídeo dele dançando. Não sei de onde era, se tinha família, onde morava, só sei que ele dançava muito, tão bem que eu até ficava meio sem graça de dançar com ele. Jamais chegaria aos pés de sua partner Manoela.
Às vezes ele me elogiava e parecia que eu tinha ganho a noite.
De vez em quando ele sumia. Sinto que foi deixando de curtir tanto aquele Chorinho apinhando de gente que não deixava muito espaço para seus rodopios e passos de dançarino de gafieira. Quase não o vi mais depois que o Chorinho se mudou para um endereço novo, num local mais requintado.
Uma pena! Aos poucos, figuras como Elis vão desaparecendo. Queria ter dançado uma última vez com ele. Queria poder dizer que ele deve estar dançando numa festa no céu neste momento, mas não tenho esse dom. Sempre vou me lembrar de Elis com carinho e muita saudade de um bom tempo vivido em Cuiabá.
Manoela e Elis em nosso último encontro: um almoço em homenagem a sr. Gaspar,  no Chorinho, em 2012. Sr Gaspar também nos deixou no final do ano passado.


PS. Ele me lembrava um tio, Taciano, irmão do meu pai e uma pessoa bem presente na minha primeira infância.

segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

And the Oscar goes to ...

Não resisto a dar meus pitacos sobre a cerimônia do Oscar 2013.  Há muitos anos eu não assistia à cerimônia quase por inteiro, mas ontem resisti e fiquei até o final. A curiosidade em relação aos vencedores nas principais categorias foi maior que a vontade (e necessidade) de dormir.
É claro que um mundo de gente deve estar comentando o assunto hoje: as piadinhas (algumas de gosto duvidoso) do apresentador Seth McFarlane, o tombo da vencedora na categoria melhor atriz, Jennifer Lawrence (O Lado Bom da Vida), os vestidos e visuais mais glamourosos, etc.
Embora ainda não tenha assistido a todos os filmes indicados a algum tipo de Oscar, gostei dos resultados, já que houve uma distribuição de estatuetas entre os favoritos, mas fiquei com uma pulga atrás da orelha: como o filme vencedor na categoria Melhor Filme, "Argo", pode não ter seu diretor, Ben Affleck, sequer indicado como Melhor Diretor?
Adorei os números musicais: a apresentação do elenco de "Les Misérables" foi emocionante e me deu vontade de assistir ao filme novamente. Muito emocionante também a apresentação de Adele intepretando a canção tema de "Skyfall", que levou o Oscar de melhor Canção Original.
Gostei muito da subida ao palco de Quentin Tarantino, premiado como autor de Melhor Roteiro Original por "Django Livre". Ele pode até fazer gênero com sua gravata torta e desarrumada, mas não deixa de ser divertido ver alguém assim numa noite de gala
E o que dizer de Jack Nicholson apresentando o prêmio de Melhor Filme de óculos escuros? Ele pode tudo! Achei um pouco forçada a presença da primeira-dama Michelle Obama, compartilhando com Nicholson, ao vivo da Casa Branca, o anúncio do melhor filme. 
Ok, os norte-americanos são "phoda" (com o perdão da palavra): eles resgatam os reféns do Irã (o argumento original de "Argo") com uma trama genial, eles fazem um filme 10 sobre o resgate (eu assisti a "Argo" e é um filme muito bom no gênero) e ainda têm uma primeira-dama super simpática que participa da entrega do Oscar. Todos devem ter ido para cama mais felizes e otimistas quanto ao futuro dos EUA.
No mais, fiquei dividida entre Hugh Jackman e Daniel Day-Lewis como melhor ator, embora ainda não tenha assistido a "Lincoln". Todo mundo que viu saiu meio decepcionado do cinema, mas eu vou assistir em DVD nem que seja para ver a interpretação brilhante de um de meus atores favoritos. Adorei seu humor britânico fazendo piadinha com Meryl Streep e sua performance vencedora de um Oscar como a Dama de Ferro, em 2012.
Aliás, morando em Cuiabá, uma cidade com poucas opções de sala de cinema (são todas em shopping-centeres), estou no prejuízo em relação aos filmes indicados ao Oscar. Preciso me colocar em dia nem que seja assistindo aos filmes em casa. Perde-se muito em qualidade (imagine ver "Les Misérables" numa tela pequena), mas não tenho outra saída.  
Todo mundo já viu a lista dos premiados, mas não custa repeti-la aqui:


Ator coadjuvante: Django Livre (Christoph Waltz)
Curta de animação: Paperman
Longa de animação: Valente
Fotografia: As aventuras de Pi
Efeitos visuais: As aventuras de Pi
Figurino: Anna Karenina
Maquiagem e Penteados: Os Miseráveis
Curta metragem: Curfew
Documentário curta: Inocente
Documentário longa: Searching for Sugar Man
Filme estrangeiro: Amor (Áustria)
Mixagem de som: Os miseráveis
Edição de som: “A hora mais escura” e “Skyfall” (dois filmes empatados)
Atriz coadjuvante: Os Miseráveis (Anne Hathaway)
Edição: As aventuras de Pi
Design de produção: Lincoln
Trilha sonora: As aventuras de Pi
Canção original: Skyfall
Roteiro adaptado: Argo
Roteiro original: Django Livre
Direção: As aventuras de Pi (Ang Lee)
Atriz: O lado bom da vida (Jeniffer Lawrence)
Ator: Lincoln (Daniel Day-Lewis)
Filme: Argo