segunda-feira, 31 de outubro de 2011

Tudo é relativo

Se meu pai estivesse vivo hoje faria 117 anos. É mole?
É curioso pensar que sou filha de um homem do século XIX. Na verdade, ele nasceu quase no finalzinho do século XIX.
Hoje, coincidentemente, entrevistei uma mulher, dona Nympha, que fará 100 anos amanhã (a matéria será publicada no Ilustrado do Diário de Cuiabá). Um pouco surda, mas bastante lúcida e muito simpática.
Meu pai morreu aos 67 anos de coração. Minha mãe, que teria feito 99 anos em abril passado, morreu de coração também, aos 74 anos (se não errei nas contas).
Tenho várias irmãs que já passaram ou estão passando as marcas de nosso pai e nossa mãe. Ainda bem.
Hoje, dia 31, a mais nova delas completa 68 anos. Parece uma menina, de tão jovial!
Diante de tudo isso, eu, aos 55, me sinto quase um bebê. Isso dá uma sensação boa!
Se eu tiver a saúde de dona Nympha, ainda terei mais 45 anos de vida. Ufa! Preciso refazer meus planos rapidamente ...

sábado, 29 de outubro de 2011

Espectro pantaneiro

Foto de Protásios de Morais
"Eu sei que vou te amar", o samba-canção de Tom Jobim e Vinícius de Morais na viola de cocho? Parece mentira, mas foi o que ouvi ontem no show "Espectro pantaneiro", no Teatro do Sesc Arsenal.
Antes de seguir adiante, gostaria de falar um pouco sobre a viola de cocho, usando como fonte um livro maravilhoso: "Cultura mato-grossense",  do cuiabano Roberto Loureiro (Entrelinhas Editora, 2006). A viola de cocho é "confeccionada a partir de um bloco de madeira inteiriça" e, sobre o bloco de madeira, "o artesão esculpe o formato da viola, escavando a madeira até que as paredes fiquem bem finas, um cocho bem trabalhado". A peça recebe um tampo de madeira como o de um violão, porém, sem a boca.
É um instrumento que desafia minha compreensão. Lembra um pouco o alaúde, usado nas músicas medievais.
Até há pouco tempo a viola de cocho era usada apenas nos rituais de cururu e siriri, com poucas variações, mas alguns músicos e pesquisadores de Mato Grosso e de fora vêm dando outra dimensão ao instrumento, que é a cara de MT. Para isso muito contribuiu o trabalho desenvolvido pela Orquestra do Estado de Mato Grosso (OEMT), que tem à frentre o maestro Leandro Carvalho. Em muitos concertos, a OEMT conta um naipe de violas de cocho.
A introdução ficou um pouco longa, mas o que quero falar mesmo é sobre Sidnei Duarte, um dos músicos que toca viola de cocho na OEMT. Aos 38 anos, ele é um músico estudioso (além de ser graduado em Física), que transita com tranquilidade entre a viola de cocho, o violão e a guitarra. Vai do chamamé ao jazz mais contemporâneo - daí o nome de seu show "Espectro pantaneiro".
Sidnei divide o palco com três parceiros: Sandro Souza (bateria), Samuel Smith (baixo) e Phellyppe Sabo (saxofones e flauta). O show passeia pelo erudito (um estudo feito por Sidnei para viola de cocho), a MPB e o jazz, con o vigor de composições de Charlie Parker, Pat Metheny, John Scofield e Kurt Rosenwinkel.
Tem lugar ainda para a delicadeza e a vibração de composições dos brasileiros Garoto e Guinga.
Como vocês podem ver, o "espectro" sonoro de Sidnei é bastante amplo para mostrar toda a versatilidade e talento desse paulista,  que se fez músico em Mato Grosso.
Comparando com tudo que já ouvi (ao vivo no Rio de Janeiro e em outras cidades, em CDs e no rádio), a performance de Sidnei e dos músicos que tocaram com ele e a qualidade de suas composições não decepcionariam em qualquer palco do mundo onde se faça música instrumental de qualidade.  Felizmente ou não, Sidnei mora em Cuiabá e por aqui não se dá tanto valor a esse tipo de música, que prescinde de palavras para sensibilizar.
Talvez o show precise de alguns ajustes em termos de repertório (eu teria que assistir novamente para fazer uma avaliação mais precisa) e uma direção artística que torne o espetáculo mais azeitado. Seja como for, é sempre um privilégio ouvir em Cuiabá uma música ousada, vibrante e que foge ao senso comum.
Quem quiser conferir, hoje tem mais uma apresentação de "Espectro pantaneiro", às 20h, no Teatro do Sesc Arsenal. O show é o pré-lançamento do CD do mesmo nome que Sidnei está gravando.

sexta-feira, 28 de outubro de 2011

Agradecimento

Meu blog vive no limiar entre o público e o privado. Sofre de identidade ou quem sabe não é exatamente essa sua identidade?
Ás vezes tenho vontade de usar este espaço para bradar minha inconformidade com temas como a violência policial, a corrupção, a insegurança e tantos outros que nos tocam no dia a dia,
Outras vezes tenho vontade de me voltar pro meu próprio umbigo e me considero nesse direito já que este espaço é meu. É claro que gosto da ideia de compartilhar, ser lida, mas esse jamais deve ser o objetivo final do blog, afinal, não estou cumprindo pauta, apenas me expressando.
Todo esse blá blá blá é para me referir a alguns acontecimentos bem pessoais. Ontem ganhei um presente. Não vou dizer quem deu porque o doador pode não gostar (vou lhe dar o benefício da modéstia), mas minha vontade é realmente gritar aos quatro cantos: obrigada! Se o doador eventualmente ler este post espero que aceitei mais uma vez meus agradecimentos.
O que ganhei? Uma bela máquina fotográfica! É claro que ganho presentes de vez em quando, mas esse foi realmente uma surpresa por tudo: pelo objeto em si, pela data (meu aniversário foi há quatro meses) e pela origem.
Fui buscar a encomenda na portaria sem qualquer expectativa e quando abri a caixa do Sedex ela estava lá: maravilhosa!
Faz muito tempo que não tenho uma máquina para chamar de minha. Para falar a verdade, esta é a minha primeira máquina digital. Não custa tão caro hoje em dia, mas tenho duas filhas, muitas dívidas a saldar e a máquina não era uma condição indispensável à minha sobrevivência. Mas como fazia falta!
Agora, assim que aprender a usá-la, vou poder colocar mais fotos no blog, registrar o que o meu olhar vê.
É, acho que por um bom tempo não tenho o menor direito de reclamar da vida ... O encontro da família Baptista está quase chegando, já tenho até máquina para fazer as minhas fotos e hoje, graças à generosidade de uns e ontros, minha pequena família já está devidamente equipada: cada uma das minhas duas filhas tem sua máquina fotográfica e seu notebook. Eu também!

quarta-feira, 26 de outubro de 2011

Até quando?

Não posso deixar de registar neste meu espaço mais um episódio triste ocorrido em Cuiabá: a morte de um vaqueiro, Evaristo Pires, de 54 anos, que, segundo o noticiário veiculado por sites e jornais, morreu na madrugada de sábado passado após ter sido espancado por policiais militares.
A matéria do jornal Diário de Cuiabá foi a única que li que faz relação desse caso com o do estudante africano Toni Bernardo da Silva, que morreu num paizzaria, dia 22 de setembro passado, também depois de ter sido espancado por dois policiais militares e outro homem.
Aparentemente, a morte do vaqueiro Evaristo, cujo rosto não conheço, não  provocou a mesma comoção na sociedade.
Acredito que, em parte, isso se deve ao fato de o crime não ter sido testemunhado por outras pessoas ou pelo fato de Evaristo ser apenas um vaqueiro. Ele não tem amigos, nem movimentos sociais para defendê-lo e exigir punição para seus algozes.
No caso de Toni, o crime foi presenciado por inúmeras testemunhas: algumas talvez até tenham aprovado a reação dos homens que partiram para cima daquele rapaz que importunava os frequeses de um restaurante de classe média, outras devem ter ficado muito assustadas com todo o episódio sangrento e muitas poucas, como uma professora já citada aqui, tentaram evitar o linchamento. Além disso, Toni era estrangeiro, negro, tinha vindo para o Brasil por meio de um projeto de intercâmbio oficial, etc.
E quanto ao Evaristo, o que sabemos dele? Apenas que teria sido preso por causa de uma briga com uma vizinha num bairro de periferia.  Era um homem violento? Teria reagido à ordem de prisão? Ou seria um homem pacífico, talvez alterado pelo consumo de bebida alcóolica? Não sabemos. Sabemos apenas que se queixou de ter apanhado muito dos PMs e que estava vomitando e andando com dificuldade, embora não tivesse lesões aparentes. Li em algum lugar que era um homem franzino.
O que sabemos também é que temos uma Polícia Militar muito despreparada, o que não é exatamente novidade. Se ter uma polícia violenta contivesse a criminalidade, Cuiabá e outras cidades brasileiras seriam uma tranquilidade só. Mas é inadmissível que cidadãos que supostamente poderiam ser contidos sem tanta violência (pelo que sabemos nem Toni, nem Evaristo estavam armados) sejam espancados até a morte. Eu não me sinto segura com uma polícia dessa.

segunda-feira, 24 de outubro de 2011

Conectividade

Já passou da hora de tirar aquele homem estranho da "capa" do meu blog (o vereador cara de pau, citado no último post).  O fim de semana, pra variar, passou rápido demais e nem me animei a escrever.
Ando numa viagem meio psicanalítica. Nesses momentos, dá uma certa preguiça de falar, um temor de me expor.
Sinceramente, ando meio farta desse excesso de informação e falação na net, para a qual contribuo de alguma forma. Facebook, twitter, blog - tudo isso vicia.
Não sei se conseguiria hoje ficar um mês no Pantanal, como chegava a ficar no final dos anos 80/início dos anos 90 - os primeiros anos da minha nova vida mato-grossense.
Lá, meu único contato com o mundo midiático era através do rádio convencional (a Rádio Jornal, de Cáceres, que trazia notícias da cidade e levava recados das fazendas do Pantanal) e do rádio amador, através de uma central estabelecida no Sindicato Rural. Assistíamos a um pouco de TV no horário em que o motor (a diesel) funcionava e foi a época da novela "Pantanal" da Rede Manchete.
Fora isso, meu convívio se restringia às pessoas da família (meu ex-marido e minhas filhas, que foram chegando nessa época), eventuais visitantes e aos empregados, que não eram de muito falar.
Pode parecer loucura: mas tenho tantas saudades desse tempo!
Hoje, tenho internet quase 24 horas, celular que me permite falar e ser localizada a qualquer momento e como me sinto sozinha de vez em quando!
É claro que nem tudo eram flores . Era duro ficar isolada, a 170 km de estrada de chão da cidade. O calor era quase sempre sufocante, as tempestades assustadoras e havia os bichos - baratas, morcegos, mosquitos, em proporções e momentos diferentes - a incomodar.
A vida da gente muda muito e, é claro, que a cada momento surgem novos desafios, dificuldades e motivos de felicidade. O meu maior desafio, neste momento, ouso dizer, é voltar a acreditar - em mim, no futuro, na humanidade, no amor.
"Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". Essa frase de Fernando Pessoa foi escrita no meu caderno por uma colega do JB no jantar de despedida, quando deixei o Rio de Janeiro. (Aliás, será que o perdi?). Será a minha alma pequena? Acho que não.

sexta-feira, 21 de outubro de 2011

Vereador, pra quê?

Não posso deixar de compartilhar com meus leitores esta pérola. O cidadão ao lado é o vereador Rodson Lima (PP), de Taubaté (SP). e, segundo o blog O Filtro, postou comentário numa comunidade do Facebook agradecendo "a vida de príncipe" proporcionada por seus eleitores.
Rodson disse que estava naquele momento num "hotel cinco estrelas", com uma big piscina, de frente pro mar, em Sergipe, tudo pago "com dinheiro público".
Acho que ele poderia ser a cara de uma campanha nacional em favor da redução do número de vereadores e/ou dos vencimentos desses "nobres" representantes do povo.
Se o salário fosse baixo e não tivesse tanta mordomia, duvido que caras como esse Rodson iam querer ser vereador.
A propósito, de acordo com a notícia, ele está inelegível para as próximas eleições porque responde a 14 processos na Justiça Eleitoral.

quinta-feira, 20 de outubro de 2011

Em cima do muro

É estranho. Tem momentos em que eu me sinto como uma criança ingênua que ainda estivesse descobrindo a vida e tivesse muito por descobrir.
Em outros, eu me sinto uma pessoa cansada de ver até aonde vai a cara de pau das pessoas, a disfarçatez humana.
Ontem assisti a um trecho da entrevista do ministro do Esporte, Orlando Silva, tão impressionante em sua declaração de inocência. Se está falando a verdade, que tremenda injustiça estão fazendo com ele! Se não está (o que é bem provável, já que ministérios e ONGs vivem numa promiscuidade adanada), que tremenda cara de pau!
Não sou santa, mas tenho tão arraigado em mim o desejo de dizer a verdade que outro dia cheguei à conclusão que isso é quase um defeito nesse mundo atual. Mal consigo disfarçar quando não gosto de uma pessoa! Alguns dirão que isso é bom, mas será que tenho o direito de julgar os outros? Será que agindo assim não estou sendo por demais presunçosa?
Sei lá, se eu conseguisse ser menos dura com outros e comigo mesma talvez a vida seria mais leve. Mas se eu fosse mais dura com outros e comigo mesma, menos tolerante e mole com os meus deslizes e os dos outros, talvez eu lutasse mais contra as coisas que acho terríveis, como a mentira, a corrupção, a preguiça, a injustiça social.
Ficar em cima do muro é que não dá certo.

quarta-feira, 19 de outubro de 2011

Sabedoria

Hoje está sendo um dia corrido, muito corrido. Em meio a várias reuniões, entrevistei duas pessoas para diferentes finalidades: uma por telefone e outra pessoalmente.
Não tenho como contar muito sobre elas agora, mas foram conversas tão bacanas.
Uma delas, um homem de 59 anos que foi o fundador do Zoológico de Cuiabá, disse-me: "Hoje está muito difícil realizar um ideal. Eu realize o meu". Olha que frase bonita e reveladora!
A outra pessoa, uma mulher de 61 anos, líder de uma comunidade próxima a Cuiabá, me falou: "A vida é troca. Ajudar é uma coisa que me faz muito feliz". O bonito da história de dona Luísa, que vou contar numa matéria a ser publicada no Ilustrado do Diário de Cuiabá, é que ela vive isso de fato.
Não vou ser exagerada a ponto de dizer que essas conversas mudaram minha vida, mas confesso que fiquei bem tocada com elas.
Ontem, tive uma tarde de trabalho deliciosa na Comunidade São Gonçalo Beira Rio. Conheci o pessoal do grupo Flor Ribeirinha, que se apresenta com sucesso dançando siriri, e fiquei encantada com a dedicação e a união da família de dona Domingas. Pretendo voltar lá com mais frequência. Estou descobrindo um outro lado de Cuiabá.

segunda-feira, 17 de outubro de 2011

O Concerto

Ando tão cansada de falar de coisas ruins que hoje vou falar sobre um filme maravilhoso ao qual assisti ontem por um golpe de sorte.
Estava retornando tristinha do aeroporto ontem, de manhã, depois de deixar minha filha caçula e resolvi passar pela videolocadora Casablanca para pegar um DVD.
(Aqui cabe uma observação: a Casablanca é uma locadora tradicional de Cuiabá e fica perto da minha casa, mas só esta semana fiz meu cadastro lá, por sugestão de uma amiga).
Dei uma olhada sonolenta (afinal, ontem foi o primeiro domingo do horário de verão e justamente nesse tive que acordar cedo, para os meus padrões dominicais) e cheguei a escolher um DVD, mas troquei-o por outro que sorriu para mim da prateleira.
Li o enredo, gostei, mas não tinha informação alguma sobre o filme e tive uma grata surpresa.  O filme é diferente, engraçado em alguns momentos, dramático em outros e me arrebatou com sua sequência final. Chorei feito uma idiota.
Não tenho a intenção de contar sobre a história e sim dizer que o filme, do diretor romeno Radu Mihaileanu (uma produção de 2010), trata de um dos meus temas preferidos (abordado há duas semanas num post intitulado "Beleza e horror"): o poder da música, de aproximar as pessoas, enlouquecê-las, humanizá-las ...
Gostei tanto do filme que pretendo revê-lo.

sábado, 15 de outubro de 2011

Tá difícil!

Juro que eu gostaria de postar alguma coisa alegre e alto astral nesta manhã de sábado depois do post de ontem, mas não tem jeito. Não dá para tapar os olhos diante de tanto absurdo. Vamos aos fatos:
1- ontem, durante o temporal, o teto do Pronto Socorro Municipal de Cuiabá desabou em vários pontos, provocando pânico entre funcionários e pacientes. Detalhe: o Pronto Socorro foi "reformado" há pouco tempo e foi ponto nevrálgico da campanha do ex-prefeito Wilson Santos, que foi reeleito, largou a Prefeitura para se candidatar ao governo nas últimas eleições, se ferrou e deixou a bomba nas mãos do vice, Chico Galindo (em que eu não tinha a menor intenção de votar);
2- O governo estadual e a Assembleia aprovaram aumento nas taxas do Detran (reajuste de 100%, que chega a 300% em alguns casos). Como assim? O que justifica tamanho aumento num país onde os salários de gente normal mal sofrem reajuste? Sem falar que só ouço críticas aos serviços do Detran-MT.
3- As crianças que foram citadas no post de ontem são filhas de uma usuária de drogas. Não é a primeira vez que o Conselho Tutelar intervém nessa família, segundo reportagem do jornal A Gazeta. O menino mais velho tem 8 anos (e não 4, como mencionei), ou seja, há 8 anos esse menino vive em situação de risco. O bebê recém nascido foi deixado pela mãe com uma tia. Ele também já está num abrigo ...
Mais uma vez eu me sinto impotente diante da realidade. Não basta denunciar, esbravejar, indignar-se, é preciso fazer alguma coisa para impedir a incompetência dos administradores, a corrupção (responsável pela má aplicação dos recursos em obras como a da tal reforma do Pronto Socorro), a devastação provocada pela droga, a dissolução dos laços mais básicos da família e o não respeito às necessidades mais básicas das crianças e aos direitos humanos.
Ah, o Pronto Socorro de Cuiabá está fechado para novos atendimentos.

sexta-feira, 14 de outubro de 2011

Incompreensão

Estou agoniada. A chuva que cai sobre Cuiabá é bem-vinda, porém os temporais sempre me assustam. Penso em minhas filhas - as duas estão na rua, inclusive, a caçula que mora em Jaboticabal, mas está passando a semana aqui.
Penso também nas crianças, que foram alvo de reportagem hoje no jornal da TVCA do horário de almoço. Mais um caso de abandono e maus tratos. Dois meninos, um com 4 anos e outro com  menos de 2 anos, abandonados numa casa num bairro de periferia, encontrados pelo Conselho Tutelar por iniciativa dos vizinhos.
Essa notícia me entristeceu muito. Segundo a matéria, eles já estavam sozinhos há mais de 24 horas e o mais velho teria queimado uns pedaços de cobre para ver se conseguia dinheiro para comprar leite porque estava com fome. Com isso, acabou ferindo o menor.
Se um adulto às vezes tem medo quando fica sozinho, imagine duas crianças que ainda dependem de adultos para tudo! Só de pensar nessas duas crianças sozinhas durante uma noite inteira me dá uma tristeza tão grande ...
Deve haver muitos outros casos como esse por aí e, sinceramente, eu me sinto impotente diante de fatos como esse ...  A vizinha disse que a mãe das crianças saiu de casa levando um bebê recém nascido nos braços e a reportagem mostrou a avó das crianças, uma senhora enrugada com expressão triste, chegando na casa depois que os meninos foram levados pelos representantes do Conselho Tutelar.
A chuva já está parando, mas ainda ouço o barulho de alguns trovôes ao longe. E ainda me sinto impotente para compreender e aceitar a vida como ela é.

PS. Minha filha caçula já ligou e espera minha carona num consultório médico aqui perto.

quinta-feira, 13 de outubro de 2011

Bye-bye novela das oito

Nunca escondi que tenho um lado noveleiro, como boa parte da população brasileira. Nem vou entrar no julgamento disso, pois o que quero agora é externar minha irritação com a novela global "Fina Estampa".
Sempre fui fã dos folhetins de Aguinaldo Silva, que já foi jornalista policial dos bons, mas estou detestando a atual novelas das oito, a ponto de desligar a TV ou sair da sala se não puder fazer isso. 
No capítulo de terça-feira, fiquei irritadíssima com a cena da taxista  (personagen de Arlete Sales) gravando um depoimento da Griselda (Lília Cabral) que foi ao ar ao vivo num noticiário assistido por todos os personagens da novela - uma espécie de Jornal Nacional.
É claro que, volta e meia, vemos imagens gravadas por pessoas comuns (de acidentes naturais ou não, brigas, confusões, protestos) que vão ao ar no meio dos noticiários, mas são flagrantes de situações que não puderam ser registradas por cinegrafistas, fotógrafos e repórteres profissionais. 
Mas, dizer que uma TV coloca no ar, sem qualquer edição, imagens de um depoimento feito por uma webcam que a taxista mal sabia manipular, é demais, totalmente inverossímel!
Outra coisa que me irrita muito é ver a personagem da Lília Cabral ainda vestida de macacão depois que ela ficou rica. Mesmo pobre, ela não tem outra roupa para ficar em casa? 
E o mais incrível é que aquela mulher de macacão e toda certinha, quase chata, desperta tantas paixões. O pobre do português até mudou seu jeito de vestir para ver se conquista a amada.
Citei apenas duas situações, mas de modo geral estou achando todos os personagens de "Fina Estampa" caricatos e chatos. 

segunda-feira, 10 de outubro de 2011

Um iluminado

Finalmente li na íntegra o célebre discurso de Steve Jobs, tão citados nos últimos dias. É lindo!
Ele foi feito há mais de seis anos para uma turma de formandos da Universidade de Stanford e eu não me lembro de tê-lo lido na íntegra antes. Precisou seu autor morrer para que eu tomasse vergonha e o lesse.
Para ser sincera sempre soube o básico sobre Jobs e agora fico cada vez mais admirada com a sua genialidade, sua criatividade e capacidade de tirar lições tão positivas de episódios duros de sua vida.  Foi um iluminado e eu não poderia deixar de lhe render minha homenagem neste espaço meu na internet - um universo poderoso que ele ajudou a construir.
As três histórias do discurso de Jobs são belas: sobre ligar os pontos - uma coisa que a gente consegue fazer quando olha para trás; sobre amor e perdão, que aborda a questão da humildade, a possibilidade de começar de novo e amar o que você faz ( e procurar fazer o que você ama); e a última sobre a morte como um agente de mudança da vida.
Tudo isso bateu fundo em mim - como bateu e continua batendo na vida de milhões de pessoas em todo Planeta.
Quando ele fala sobre a decisão de se olhar todos os dias no espelho e perguntar "se hoje fosse meu último dia de vida, eu gostaria de fazer o que vou fazer hoje?", isso me tocou profundamente. "Se a resposta for `não` por muitos dias seguidos, sei que terei que mudar alguma coisa".
Difícil é encontrar a sua coragem, Steve, e ter o seu otimismo, a sua garra. De qualquer maneira, obrigada por tudo: por seus conselhos, seu exemplo, seus inventos!

sexta-feira, 7 de outubro de 2011

O Captain! My Captain!

Hoje tive uma grata surpresa: fiz uma entrevista por email com Hélio Flanders, vocalista e letrista da banda Vanguart, para uma matéria que será publicada no Ilustrado do Diário de Cuiabá no domingo, e ele me contou que adora ler.  Não posso contar mais aqui para não furar minha própria matéria, mas o comentário do líder do Vanguart, uma banda cuiabana que se mudou para São Paulo e vem conquistando seu espaço na mídia nacional, me surpreendeu muito e me deixou feliz.
Ele destacou o papel da poesia do norte-americano Walt Whitman em seus últimos trabalhos (o CD que será lançado em Cuiabá, no Club Garage, na próxima terça-feira). Não sou íntima de Whitman, que conheci na época em que tive que aprender um pouco de literatura norte-americana às presssas para assumir a disciplina no curso de Letras da Unemat, em Cáceres.
Foi difícil, mas hoje, olhando para trás, como tenho saudades daquele tempo!  A turma não parecia muito interessada (eu estava substituindo um professor, que, segundo as alunas do 7º semestre, nem fazia questão de dar aulas), mas tinha uma estudante em especial, Bárbara, que depois virou professora da Unemat e se tornou uma grande amiga, cujos olhos brilhavam quando eu falava. Como seu comportamento me ajudou naquele primeiro semestre!
Dei aulas de Literatura de Língua Inglesa na Unemat de 1993 a 1997, quando o então reitor decidiu eliminar o inglês da grade - uma decisão equivocada, na minha opinião. O argumento era o de que os estudantes - a maioria muito fraca - concluíam o curso sem saber direito o Português e o Inglès, e suas respectivas literaturas. Faz sentido, mas, por outro lado, deixou-se de formar professores de inglês. Nas turmas que trabalhei sempre tinha alguns alunos que se destacavam demonstrando uma maior intimidade com a língua inglesa (era o caso de Bárbara, por exemplo).
Aprendi muito sendo professora de literatura inglesa e norte-americana. Vivemos - algumas turmas e eu - momentos memoráveis, sobre os quais poderia discorrer horas.
Só para concluir este post, Walt Whitman (1819-1892) é o famoso autor dos versos que marcaram um dos filmes mais lindos ao qual  assisti - "Sociedade dos poetas mortos" (1989): 
"O Captain! My Captain! our fearful trip is done...". Vocês se lembram? O poema faz referência à morte do presidente Abraham Lincoln.

quarta-feira, 5 de outubro de 2011

Como um vulcão

Estou num momento de limbo existencial. Não estou parada; estou como um vulcão que aparentemente está calmo, mas que, por dentro, está fervendo. Será que vai entrar em erupção? Nem eu  sei a resposta.
Não é segredo que ando insatisfeita com minha vida e o rumo dos acontecimentos. Para onde devo caminhar? O que devo fazer? Ir embora de Cuiabá, tentar novos caminhos em outras cidades? Procurar novos trabalhos que me remunerem a contento? Mudar de profissão? De vida? De identidade?
Exageros à parte, não tenho muito tempo a perder ou para bincadeira. Ou tenho?
Estou enjoada de ficar batendo na mesma tecla: escolhi o caminho errado, perdi oportunidades, poderia estar melhor financeira e profissionalmente. Mas como saberia tudo isso se não tivesse feito essas escolhas?
Um amigo meu diz que estou numa fase que devo ser a minha melhor amiga. Talvez ele tenha razão: preciso ser mais tolerante comigo mesma, mais flexível, amorosa.
É esse o meu sentimento hoje, de um pouco mais de amor por mim mesma. Pelo menos, por hoje.

segunda-feira, 3 de outubro de 2011

Beleza e horror

Emanuelle Baldini em foto de Protásios de Morais
Hoje eu pretendia falar apenas da beleza do concerto da Orquestra do Estado de Mato Grosso (OEMT), assistido ontem à noite no Cine Teatro Cuiabá e também da impressão causada pela montagem de "Anjo negro" de Nélson Rodrigues, da Cia Mosaico de Teatro, à qual assisti no Salão Social do Sesc Arsenal.
Mas antes de falar do belo não posso deixar de registrar aqui o depoimento corajoso e contundente da professora Janaína Pereira Moreira, que se apresentou como testemunha da execução do africano Toni Bernardo Silva, na Pizzaria Rola Papo.
Assisti ao seu depoimento no jornal da TVCA do horário de almoço. Ela diz que chegou à pizzaria quando Toni já estava imobilizado pelos dois policiais militares e um deles gritava: "Você sabe por que está apanhando? Porque você é bandido". 
Não vou entrar em mais detalhes sobre o caso, mas mantenho a minha posição inicial: nada do que Toni fez no passado ou tenha feito naquele momento justifica tanta selvageria. O que houve ali, naquela noite triste, foi um linchamento e não me venham dizer que a violência está desse jeito por causa das pessoas (como eu) que são contra esse tipo de atitude de PMs. Essa discussão é longa, mas se bater acabasse com violência, não teríamos bandidos no Brasil. O que vejo é apenas uma espiral de violência.
A propósito: hoje morreu mais um menor assassinado por "colegas" no Pomeri - o lugar onde deveriam ser "ressocializados".
(Pausa)
O concerto da OEMT deste fim de semana foi muito melhor do que eu esperava. A ideia do maestro Leandro Carvalho de pedir a compositores contemporâneos para compor peças para a orquestra a partir dos "Prelúdios" do flautista mineiro Flausino Vale (1894-1954) foi genial e deu super certo.
Cada peça era mais linda que a outra e cheguei a ficar com os olhos cheios de lágrimas em algumas delas. Que som bonito! Os dois solistas - o violinista italiano Emmanuele Baldini e o violeiro mineiro Roberto Corrêa (que tocou viola de cocho e viola caipira) - deram um show.
Confesso que fiz as pazes com a OEMT. Não que eu estivesse de mal com a orquestra (nem teria motivos para isso), mas andava meio preguiçosa de ir ao Cine Teatro Cuiabá para assistir aos concertos. Aliás, ir ao Cine Teatro Cuiabá é bem mais complicado do que ir ao Sesc Arsenal (onde a OEMT se apresentava no início) por causa da questão do estacionamento (outra hora entro em detalhes sobre isso). Por outro lado, no Cine Teatro cabe mais gente.
Ontem, o meu "esforço" valeu muito a pena. Voltei para a casa mais leve e feliz, e com muito orgulho dessa orquestra mato-grossense. Conheci um pouco mais o trabalho de Flausino Vale - que eu não conhecia antes de pesquisar sobre ele para fazer a matéria publicada ontem no Ilustrado do Diário de Cuiabá - e de outros compositores contemporâneos, cujos nomes faço questão de compartilhar aqui:  Danilo Guanais (RN),  Arthur Barbosa (RS),  André Mehmari (SP), Rodrigo Bustamante (RS), Marcos César (PE), Dimitri Cervo (RS) e Paulo Aragão (RJ).
A propósito, a OEMT gravou um CD com essas peças que logo deverá estar disponível para download no site da orquestra:http://www.orquestra.mt.gov.br/, segundo o diretor artístico e regente Leandro de Carvalho.

sábado, 1 de outubro de 2011

Sucesso total

Minha alma de repórter não resiste a registrar algumas impressões sobre o lançamento de "Kyvaverá"  (Entrelinhas Editora), de Ivens Cuiabano Scaff, realizado na noite de ontem no jardim do Sesc Arsenal.
Para começo de conversa, basta dizer que antes do horário marcado (19h30m) já tinha gente no pedaço. E não eram pessoas que estavam ali por acaso e sim gente que saiu de casa especificamente para ir ao lançamento.
Como o autor também chegou um pouco antes para gravar uma entrevista para a TV Record, assim que a equipe da Entrelinhas Editora organizou as mesas, começou a venda de livros e foi deflagrada a sessão de autógrafos.
Cheguei lá antes do início do lançamento e fiquei até quase meia-noite. Posso garantir que a fila esteve imensa praticamente até as 11h! Teve gente que ficou de pé mais de uma hora e ninguém reclamou.
É claro que teve gente que só comprou o livro e deixou para pegar o autógrafo do autor mais tarde e teve gente também que comprou mais de um livro.
Foram quase 300 livros vendidos numa única noite - um número bem expressivo se considerarmos que estamos falando de um produto vendido a R$ 25  e, especialmente, que se trata de um livro de poesia.
O livro, ilustrado com as obras de arte de Jonas Barros, ficou magnífico! A qualidade do trabalho da Entrelinhas e o carisma do autor atraiu políticos do alto escalão, o secretário de Estado de Cultura, João Malheiros, médicos famosos da capital (Ivens é médico, além de escritor e poeta) e muita gente ligada à cultura: artistas plásticos, escritores, cantores.
O mais emocionante foi ver tantos idosos prestigiando o lançamento. Num dos cantos do jardim, pequeno para a multidão de pessoas, tinha duas senhoras conversando e a acompanhante delas me disse que ambas tinham mais de 90 anos e eram meio surdas, o que me desestimulou a conversar com elas.
E o sr. Sinjão Capilé? Ficou lá até meia noite, firme e forte, do alto de seus 95 anos!
Reencontrei muitos amigos e não posso deixar de registrar aqui a bela participação do Coral SescCanta, que apresentou dois cantos indígenas, e de Bia Correa, que emocionou o público declamando "Kyvaverá" - poema que dá nome ao livro.
Uma noite inesquecível mesmo, regada a  garrafas de Lambrusco e bombons.
Ah, o autor, que completou 60 anos ontem e ouviu seus amigos cantarem "Parabéns pra você" várias vezes, me surpreendeu com sua energia: ficou sentado mais de quatro horas autografando incansavelmente seus livros e se levantando toda hora para abraçar os amigos/leitores. Impressionante!

PS. Ia me esquecendo de contar que saí do Sesc Arsenal com meu livro devidamente autografado (devia ser mais de 23h30m, quando "encarei" a fila ao lado da amiga e cantora Rita de Cássia). Por incrível que pareça, Ivens conseguiu escrever naquela altura do campeonato uma coisa muito simples mas que me emocionou. Valeu a pena esperar!

PS2: O livro "Kyvaverá" já está disponível para a venda no site da Entrelinhas http://www.carrionecarracedo.com.br/ e na Livraria Janina, em Cuiabá.