quarta-feira, 31 de março de 2010

Hora do almoço

Como o restaurante do TRT (Tribunal Regional do Trabalho) está fechado desde hoje (é, meus amigos, o feriado da turma do TRT começou mais cedo; deve ser muita devoção religiosa), fui almoçar no Shopping Pantanal e resolvi comer no Supermercado Modelo, que é mais barato. Dei azar. Quando eu aguardava minha vez para pesar, a cliente do lado viu uma barata no balcão perto da comida, avisou um funcionário e ele simplesmente empurrou o inseto para o chão. Como tenho horror à barata, imaginei que deveria ter outras colegas dela no entorno da comida e decidi mudar de restaurante. O que os olhos não vêem, o coração não sente. 
Retornando para o trabalho, vi um "Amarelinho" de pé (debaixo da sombra) e quase fui cumprimentá-lo. É tão raro ver algum agente de trânsito em Cuiabá ao vivo e a cores!
Reparei na enorme "coisa estranha" que está se formando no asfalto bem no final de uma das principais vias do Centro Político Administrativo (CPA). Pena que eu não tinha uma máquina fotográfica em mãos para registrar a "coisa" que está surgindo no entroncamento da referida via (a Rua B, onde ficam algumas das principais secretárias de Estado, a de Infraestrutura), com a Avenida Rubens de Mendonça, também conhecida como Avenida do CPA. 
E finalmente registro a bronca de um pedestre com um carro que não respeitou a faixa . O rapaz  compartilhou comigo sua indignação e disse que ele sempre se impõe como pedestre na hora de atravessar. Cumprimentei-o por sua determinação, mas alertei-o que qualquer dia ele pode ser atropelado. Digo isso por mim: quantas vezes estou na direção do carro e deixo de respeitar a faixa por medo do veículo que vem atrás na maior correria. 
Sei que é uma questão de hábito e educação no trânsito, mas como confiar nos motoristas (e pedestres) de uma cidade onde quase todo mundo fura o sinal e anda na  contramão na maior cara-de-pau e onde há tão poucos mecanismos de vigilância e repressão? 
Sei que não é agradável levar multa, mas me digam: tem algum outro jeito de nós, brasileiros, aprendermos a respeitar regras de trânsito? Eu desconheço.

Mais luz para o Bom Despacho!

terça-feira, 30 de março de 2010

Samba é cultura

Hoje eu poderia falar de muitas coisas, porém meu desejo é comentar uma descoberta que me mobilizou desde ontem. Na hora do banho, sintonizei meio sem querer a Rádio Senado e ouvi uma preciosidade: o samba "Pra que discutir com Madame". Eu já conhecia o samba, mas fiquei tão apaixonada que não sosseguei enquanto não encontrei a letra da música na internet e a decorei. É uma delícia! 
Agora há pouco, no meu intervalo de almoço, descobri uma gravação maravilhosa com João Gilberto. Descobri também que o samba de Haroldo Lobo e Janet de Almeida é de 1956, ou seja, tem a minha idade. E continua lindo e delicioso! 
Fiquei muito feliz com minhas descobertas e pretendo incorporar esse samba ao meu repertório no Chorinho (bar que frequento em Cuiabá e que tem uma roda de samba aberta aos cantores amadores nas quartas-feiras e sábados). Nunca ouvi ninguém cantar esse samba lá. São aquelas pequenas joias da MPB que permanecem meio esquecidas até que algum expoente da nova geração de intépretes comece a cantá-la.
A propósito, a primeira gravação que encontrei de "Pra que discutir com Madame" na net foi no site letras.terra.com.br, que comete um engano que eu já tinha identificado quando pesquisei outras canções. Eles colocam como autor o intérprete (no caso Pedro Aznar, compositor e intérprete argentino, nascido em 1959). Se a gente não tiver um pouco de discernimento, se confunde.

PS. Se alguém estiver a fim de ler mais sobre esse samba, visite o site da Faap http://www.faap.br/revista_faap/revista_facom/artigos_madame1.htm e leia o artigo "Madame existe", de autoria de Tania da Costa Garcia.

Mais luz para o Bom Despacho!

segunda-feira, 29 de março de 2010

Gerações

Ontem ouvi uma história muito bonita, meio no estilo "Amor nos tempos do cólera", do escritor colombiano Gabriel Garcia Márquez, mas sem final feliz. Não vou contá-la aqui porque não pedi permissão a quem me contou, mas ela me fez pensar sobre a "evolução" das relações de amor ao longo do tempo.
Antes de mais nada quero deixar claro que eu não preferia ser da geração da minha mãe, que nasceu em 1912 e, a exemplo de outras mulheres de sua época, tinha um filho após o outro (com raros intervalos, provocados mais pela própria natureza do que por vontade própria, já que ela não adotava métodos contraceptivos) e ficava a maior parte do tempo zelando pela prole, enquanto meu pai arrumava meios de prover a família e tinha toda liberdade do mundo.
Hoje, porém, o que vejo no meio em que vivo: liberdade, descompromisso, desconfiança de ambas as partes na relação homem/mulher, a ponto de uma das minhas filhas volta e meia me dizer que está chegando à conclusão que quanto mais porcaria é a mulher mais o homem cai de quatro. Respondo que ela anda vendo telenovela demais para não desestimulá-la, mas às vezes quase concordo com sua observação.
Não gostaria de começar a semana com um comentário tão amargo e pessimista, mas comecei a escrever pensando uma coisa e acabei parando em outro lugar. Li há alguns dias um texto muito bonito no blog do jornalista Elton Rivas, que, diga-se de passagem, foi quem me estimulou a fazer este blog. O título do post é "Gerações" e ele, que é de uma geração bem mais jovem que a minha, narra o encontro com uma pessoa de uma geração mais velha (talvez um pouco mais que a minha). Conclui dizendo que fizeram com que sua geração acreditasse que tudo era possível.
"Nessa lógica, se você não se deu bem, é porque é um looser, um fracassado, na sociedade que tudo pode, só os fortes sobrevivem". http://tendenciasa.blogspot.com
É assim que eu me sinto às vezes. Alguns leitores mais sensíveis hão de questionar, "mas o que é se dar bem?"
Isso já é assunto para outro post.

Mais luz para o Bom Despacho!

quinta-feira, 25 de março de 2010

Buracos


Li hoje que o estudante Júnior de Oliveira (foto ao lado) de Várzea Grande, município contíguo a Cuiabá, fez um vídeo muito legal, colocado no YouTube (Várzea Grande só buraco), mostrando os buracos de seu bairro.
Em outro jornal, o Diário de Cuiabá, li que moradores de Várzea Grande, da regiáo do Grande Cristo Rei, interditaram uma avenida com excesso de buracos. A reportagem de Alecy Alves menciona acidentes graves provocados por buracos na rua. É engraçado que o prefeito de lá, Murilo Domingos, do qual só vejo falarem mal, está no segundo mandato.
Do outro lado da ponte, as coisas não estão melhores em se tratando de buraco. Ah, a culpa, dizem os administradores, é do excesso de chuva! Como se chover demais não fosse uma característica desta região, onde qualquer chuva deixa a cidade inundada!
Parece que tenho uma atração fatal por buracos. Vivo caindo neles e levo cada susto. Esta semana entrei numa rua ao lado do Hospital Jardim Cuiabá e caí num monte de buracos, mas o pior de todos é um perto da rotatória do bairro Despraiado (perto do motel Paradise). É de doer! Já caí duas vezes nele e me doeu a alma.
Falar em buraco é quase chover no molhado, mas queria registrar aqui essas duas iniciativas da comunidade. A população tem que se manifestar mais, botar a boca no trombone e usar todas as formas possíveis para expressar sua insatisfação com os serviços públicos. Somos muito passivos diante de tanto desrespeito e tanto recurso mal empregado.
Criada na velha escola da Editora Geral (hoje Cidades) do Jornal do Brasil, aprendi cedo com um jornalista veterano (Israel Tabak) que, como foca (repórter iniciante), não deveria jamais menosprezar uma pauta sobre buracos. Isso ocorreu no meu retorno de uma reportagem dessas no bairro carioca de Santa Teresa. Quando retornei à Redação, vi que não tinha muito sobre o que escrever. Levei um pito e aprendi a lição: a de nunca voltar à Redação sem a pauta muito bem apurada. Curiosamente a minha primeira reportagem (para o jornal Tribuna da Imprensa) também foi num grande buraco: o das obras do metrô na rua do Catete.
Como vocês podem ver buracos fazem parte da minha história. Fico contente de constatar que um jovem estudante de uma cidade típica da nossa época (cheia de constrastes) recorreu à tecnologia para produzir sua própria reportagem sobre os problemas do seu bairro e exibi-la na internet, em vez de ficar exibindo aqueles vídeos excêntricos e tolos que estão sempre bombando na net.

Mais luz para o Bom Despacho!


quarta-feira, 24 de março de 2010

Escuridão


Faz tempo que quero escrever sobre a escuridão de Cuiabá. Durante o dia, a luminosidade é plena, absurdamente intensa a ponto de eu não conseguir botar a cara na rua sem óculos escuros. Assim mesmo, dependendo do dia, meus olhos ainda lacrimejam por causa do ceratocone.
Em contrapartida, a noite em Cuiabá é extremamente escura. É claro que há avenidas, ruas e praças iluminadas, mas não raro no caminho, mesmo sem passar pela periferia da cidade, você atravessa quadras praticamente às escuras. Às vezes, há postes, porém as luzes estão queimadas. E olha que o atual prefeito, Wilson Santos, gastou uma fortuna em iluminação pública.
Tudo isso, na minha opinião, aumenta a sensação de medo, principalmente para quem anda a pé. No meu quarteirão mesmo, embora eu more numa rua movimentada (perto da Praça Popular, um dos points da cidades) e habitada por gente de poder aquisitivo bem alto, há trechos bem escuros.
Talvez, hoje eu esteja atravessando um espaço meio escuro na minha vida - penso, penso e não consigo descobrir onde está a luz -, mas aproveito esse momento dark pessoal para falar de uma situação objetiva numa cidade que está sempre me desconcertando por seus constrastes.
Ontem estive novamente no Museu de Arte Sacra para ensaio do coro e consegui me chocar de novo com a escuridão do local. O museu foi reinaugurado em 4 de dezembro de 2008 e funciona no antigo Seminário Nossa Senhora da Conceição, juntamente com a Igreja do Bom Despacho, reformada no governo Blairo Maggi. Ponto para a atual administração que devolveu ao público um pouco da história de Cuiabá.
Não sei quem é responsável pela iluminação local (a Secretaria de Estado de Cultura? A Arquidiocese de Cuiabá? A Rede Cemat?), mas acho um absurdo deixar às escuras um morro onde funciona uma igreja e um museu abertos ao público. No ano retrasado, quando eu frequentava os ensaios do Cantorum, tinha um poste com uma lâmpada bem forte, mas queimou e ninguém providenciou a susbstituição. Ontem, ainda tinha uma lua crescente que ajudava a gente a ver os degraus da escada, mas no noite anterior, que estava chuvosa, tive que me apoiar na murada para não cair. E o medo de pisar numa barata ou em outro tipo de inseto? Ou pior ainda, de ser abordada por um estranho?
Por tudo isso - e porque gosto de cantar e acho um privilégio poder cantar música sacra num lugar tão bonito- decidi iniciar uma campanha: Mais luz para o Bom Despacho! Vou terminar todas as minhas postagens a partir de hoje com esse slogan até que venha a luz.
A propósito, acabei de ler no site da Secretaria de Estado de Cultura esse trecho de uma matéria publicada na época da reinauguração do museu (http://www.cultura.mt.gov.br/TNX/conteudo.php?sid=54&cid=2327):
"Segundo Viviene Lozi, Diretora Geral da Ação Cultural e gestora dos espaços (Seminário e Museu) disse que o objetivo de toda essa ação, é de preservar este patrimônio histórico, revitalizar, modernizar o seu entorno, identificar as suas funções culturais, sociais e educacionais, buscando a reintegração do prédio no cotidiano da cidade, garantia de uso público, resultando em benefícios efetivos à população tanto do ponto de vista econômico quanto turístico."
Sem iluminação no pátio, fica mais difícil, ?

A foto que ilustra o post é de autoria de Marcos Bergamasco/Secom-MT (www.secom.mt.gov.br). Naturalmente foi tirada durante o dia.

terça-feira, 23 de março de 2010

Medo

Outro dia uma colega me falou que a vila de quitinetes onde mora em Cuiabá foi assaltada no período da tarde, o que a deixou mais assustada que de costume. Minha irmã do Rio - a de número 6, aproveitando a ideia genial do Dr. Gabriel, colega blogueiro, que escreveu uma crônica divertidíssima em que todos os seus irmãos são mencionados por números, sendo que ele é o de número 1, por se o primogênito - me contou que a de número 3 queixou-se dias desses que não pode mais ir à missa a pé em Corumbá por causa dos constantes assaltos. No domingo assisti a uma reportagem no Fantástico sobre os casos frequentes de assaltos em ônibus em várias capitais, porém o foco maior foi em Campo Grande, capital de Mato Grosso do Sul.
Em resumo, faz tempo que a violência urbana não é mais "privilégio" das grandes cidades. Nós, das capitais menores ou até de cidades do interior, já não podemos nos gabar da tranquilidade de viver fora das metrópoles. Trânsito ameno, segurança, convívio com os vizinhos são coisas do passado. É engraçado que muitas pessoas daqui ainda têm medo de ir ao Rio de Janeiro ou São Paulo. Sinceramente, sinto mais medo andando na rua a pé em Cuiabá à noite do que no Rio.
Ontem, por exemplo, fui para meu ensaio de coral preocupadíssima com minha filha de 20 anos que, supostamente, estava na academia, mas não atendia o celular. Só me tranquilizei quando finalmente ela enviou uma mensagem: 'Estou em casa". Paranoia de mãe supercontroladora?
No caminho para o Museu de Arte Sacra (local dos ensaios que, aliás, é escuríssimo), vi a ambulância do Samu e viatura de polícia num ponto de ônibus na Avenida Isaac Póvoas, no Centro, o que me deixou mais assustada.
Quando saí do ensaio, por volta de 22h, debaixo de chuva, vi um monte de gente (a maioria jovem) saindo de colégios, faculdades, perto do Colégio São Gonçalo. Eu me senti meio como na letra que Chico e Vinícius fizeram para a bela melodia do violonista Garoto: "Gente humilde" (Eu que não creio, peço a Deus por minha gente/ É gente humilde, que vontade de chorar): senti um aperto no coração por aquelas moças e rapazes que se esforçam para estudar, pegam ônibus, motos e chegam em casa sei lá que horas, enfrentando o perigo de assaltos. Não acho justo que as pessoas em geral estejam sujeitas a tanta violência e tensão, mas como me disse há pouco uma amiga por email: "A vida não me parece justa. Mas quem disse que era pra ser justa?"

segunda-feira, 22 de março de 2010

Surpresas do Google

Estava pesquisando dois temas no Google e, meio sem querer, acabei colocando meu nome por curiosidade. De vez em quando faço isso e sempre me surpreendo. É claro que aparece muita coisa que nada tem a ver com você, mas sempre pintam umas surpresas muito agradáveis.
Hoje, por exemplo, eu me surpreendi ao encontrar meu nome vinculado a um trabalho de pesquisa intitulado "Jogos tradicionais em Cáceres: a história e os jogos no desenvolvimento da criança em Cáceres", realizado entre 2005 e 2006 no Grupo de Pesquisas Corpo, Educação e Cultura da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e assinado por Elisângela Silva França e Beleni Salete Grando. As autoras citam trechos do meu livro "Cantos de amor e saudade: a história de Cáceres contada através das lembranças de Estella" (Cuiabá-MT, Editora Entrelinhas, 2005) para a introduzir a cidade de Cáceres. Fiquei super feliz, embora já soubesse que meu livro tem sido usado como referência para dissertações e outros textos produzidos pelo pessoal da Unemat.
Minha maior surpresa hoje, entretanto, foi encontrar digitalizada uma matéria que fiz para o extinto Caderno de TV do Jornal do Brasil, em 7 de agosto de 1983. O tema é o 10º aniversário do programa Fantástico, da Rede Globo.
É interessante perceber o meu passado num momento em que procuro vivenciar plenamente o presente, sem deixar de planejar meu futuro - apesar de todas as incertezas que cercam nossa existência.

sábado, 20 de março de 2010

Manhã de chuva

Acabo de ler no site do MSNBrasil http://br.msn.com/ : "Outono começa hoje com sol e calor em todo país".

Pelo visto Cuiabá não faz parte deste país porque aqui o dia amanheceu chuvoso e sem sol. Um milagre! Ruim para pessoas como Sr. Mílton, o encanador, que saiu de casa no bairro do Tijucal (a cerca de 12 km do Centro), debaixo de chuva, para vir consertar um encanamento quebrado no meu banheiro. Bom para mim que tenho que fazer algumas coisas no computador.

Vocês não têm ideia de como é árduo trabalhar no computador em casa quando está fazendo sol e muito calor!

Isso me faz pensar no quanto o clima interfere na rotina e no humor das pessoas: se faz frio, chove, elas tendem a ser mais caseiras, introvertidas, imagino: se faz calor e o sol está brilhando, dá vontade de sair de casa e fazer coisas ao ar livre; mas se faz calor demais, como acontece em Cuiabá, aí não dá vontade de sair, nem de ficar trabalhando em casa, a menos que você tenha ar condicionado.

Isso me leva a pensar em quanto somos dependentes aqui da "bendita" energia elétrica, que ultimamente tem falhado. Vivemos uma vida bastante artificial, dependentes de aparelhos de ar condicionado, ventiladores, umidificadores (ainda não tenho), geladeiras, enfim um monte de eletrodomésticos que vivem à base de energia elétrica, que, por sua vez, nos custa os olhos da cara.

Ao mesmo tempo, falamos tanto em conservação do meio ambiente, aquecimento global, e vamos ficando cada vez mais dependentes do computador, do carro, do microondas.

Outro dia assisti a uma reportagem sobre um sujeito na Inglaterra (se não me engano) que abriu mão de tudo (emprego bom, conforto, etc) para viver do que produz e de escambo. Acho corajosa a atitude dele, mas não sei até quando ele vai conseguir e eu, sinceramente, não seria capaz.

Mas tenho saudades do tempo (não tão distante assim) em que eu passava até um mês numa fazenda no Pantanal mato-grossense, dispondo poucas horas de energia (de motor) e vivendo uma vida muito rústica. Fui tão feliz! Se eu pudesse diria isso hoje à pessoa com quem compartilhei esse tempo. Como não posso, compartilho com vocês.

sexta-feira, 19 de março de 2010

Advinhe quem veio para pernoitar

Jornalistas são ligados a atualidades, mesmo assim eu estava deixando passar batida uma história fantástica que aconteceu comigo no último sábado. Só não vou revelar publicamente o nome dos personagens envolvidos.
Convidei um casal de amigos para se hospedar no meu apê. Eles chegaram de sua cidade na manhã de sábado, mas fomos direto para um aniversário. De lá, fui ao Chorinho e, mais tarde, nos reencontramos em outro bar. Quando decidimos ir embora, fui na frente no meu carro e aguardei meus amigos em casa. Como estavam demorando e achei que tinha visto os dois chegando na portaria, resolvi ligar no celular de um deles e a resposta me desconcertou:
- Já estamos aí. A porta estava aberta e já estamos no quarto.
Pensei que eu podia não ter ouvido o barulho deles entrando, bati no quarto e como não houve resposta, abri a porta, que eu tinha deixado fechada por causa do ar condicionado. O quarto estava intacto. Fiquei um pouco assustada e imaginei que eles estavam brincando comigo ou então eu poderia ter entendido errado, talvez tivessem ido dormir na casa de outros amigos. Passados cinco minutos, liguei novamente:
- Onde vocês estão?
Só então meu amigo se tocou que os dois tinham entrando num apartamento errado, cuja porta estava destrancada. Minha amiga até estranhou a decoração diferente, o retrato enorme de um rapaz desconhecido no quarto de minhas filhas e outros detalhes, mas achou natural que eu tivesse feito uma reforma no apê. Ela tomou banho, ele pegou uma jarra d'água na geladeira e estavam praticamente dormindo por ocasião de meu segundo telefonema.
Saíram correndo do apê, depois de recolherem seus pertences (um lado da Havaiana dele ficou como prova da invasão). Encontraram a porta da frente trancada e se assustaram com medo de que o verdadeiro dono tivesse chegado, notado a presença de estranhos e chamado a polícia. Conseguiram sair pela porta dos fundos e chegaram lá em casa assustados e, ao mesmo tempo, achando graça da confusão.
Quase uma semana depois do ocorrido, não recebi nenhuma queixa do proprietário do apê invadido (avisei o porteiro da noite sobre o engano), nem o outro lado do chinelo de volta. Tampouco alguém veio buscar o pé que ficou em minha casa como prova de que o fato realmente ocorreu.
O causo agora faz parte do anedotário que cerca esse casal de amigos, mestre em situações divertidas.
Pelo sim, pelo não, nunca mais vou deixar minha porta destrancada.

quinta-feira, 18 de março de 2010

Ebinho


Hoje tem música do mato, da boa, na Casa Fora do Eixo, que agora funciona na rua Marechal Floriano, 527, no centro de Cuiabá (atrás do antigo Café Cancun, hoje Canela Fina).
Sou fã assumida de Ebinho Cardoso, contrabaixista, compositor, cantor e aglutinador. Ele vai tocar hoje (a partir de 22h30m), acompanhado de uma turma fantástica: Phellype Sabo (sax e flauta), Jhon Stuart (baixo acústico e piano), Sandro Souza (bateria) e Sidnei Duarte (guitarra). Deve rolar jazz dos bons, daqueles de embalar nossos sonhos de ter sempre opções de qualidade nesta capital do cerrado. A propósito, Ebinho vai mostrar músicas do seu CD, Cerrado, a ser lançado neste semestre.
Hoje tenho uma reunião de condomínio quentíssima (não posso perder por causa da gravidade das questões que estão em jogo), porém espero que sobre gás para eu conferir a performance dos rapazes. O ingresso custa R$ 6. Trata-se de mais uma ação da Assim- Associação Independente de Música (assimmt.blogspot.com)

quarta-feira, 17 de março de 2010

Olhando para o próprio umbigo

No caminho para o trabalho hoje, divaguei ... como sempre. Ainda mais que o meu iPod estava descarregado, o que me impediu de me distrair com a música.
Por alguma estranha razão (ou por várias), cresci acreditando num sistema meritório ortodoxo que funciona mais ou menos assim: quem recebe mais da vida (em termos de conforto, afeto, etc) tem obrigação de dar mais. Naturalmente, quem recebe menos tem obrigação de fazer menos. É claro que hoje sei que não é assim que as coisas funcionam.
Mas, continuando meu raciocínio, se eu nasci em "berço de ouro", numa família abastada, nunca passei fome, frequentei boas escolas, fiz uma universidade idem, tive a oportunidade de aprender línguas estrangeiras, música, etc, tudo que eu fiz é apenas minha obrigação.
Um exemplo concreto, eu não conseguia aceitar como elogio quando algum chefe ou jornalista veterano dizia que eu escrevia bem, já que, para mim, escrever bem era obrigação para qualquer jornalista. Se eu tocava bem piano ou violão também era pouco porque eu tinha estudado para isso. Tanto isso é verdade que chegou uma hora que parei de tocar, já que meti na cabeça que não tinha talento e/ou disciplina suficiente para ser uma exímia instrumentista.
Em outras palavras, sempre tive muito respeito por aqueles que "vieram de baixo" (sem querer fugir de uma expressão bem preconceituosa das chamadas elites), pelos self-made-men (ou women) e por aqueles que venceram adversidades como doenças, tragédias familiares.
Reconhecer isso é um passo importante (embora tardio) no meu processo de autoconhecimento e aceitação.
Outro dia, conversando com uma grande amiga que mora hoje em Uberlândia, eu me toquei do quanto me cobro para dar (ou por não ter dado) às minhas filhas tudo que recebi de meus pais, embora reconheça racionalmente que nem sempre ter tudo de mão beijada é sinônimo de felicidade.
De repente, me deu uma vontade de relaxar e ser feliz com o que sou e tenho. Parece simples, não? Mas dá um medo ...

segunda-feira, 15 de março de 2010

No limite

Um dos problemas recorrentes em Cuiabá e em todo estado de Mato Grosso é o da mão de obra. Volta e meia, uma matéria veiculada na mídia anuncia que estão sobrando vagas no mercado, porém, ao mesmo tempo, vemos pessoas sem trabalho ou subempregadas.
Eu mesma já fiz reportagens na revista Produtor Rural abordando o tema: os melhores cargos nas novas indústrias que vão se espalhando pelo estado têm que ser ocupados por gente de fora porque falta mão de obra capacitada. O caso da unidade da Sadia em Lucas do Rio Verde (a 330 km da capital, no médio-norte mato-grossense) , que acompanhei de perto por dever de ofício, é exemplar: a empresa, que dispensa apresentação, foi obrigada a "importar" trabalhadores por não dispor de mão de obra qualificada na região. Em outubro passado, quando fiz uma reportagem na região, 75% dos cerca de 3.700 empregados tinham vindo de estados do Nordeste.
E quem vai capacitar a mão de obra daqui? Senai e outros órgãos ligados ao governo ou à iniciativa privada têm feito algum esforço nesse sentido, mas parece que não é suficiente.
Quero trazer um ingrediente "novo" para essa discussão. Conversei há poucos dias com uma empresária de Cuiabá, cujo nome prefiro não revelar: ela tem um negócio bastante próspero no ramo de serviços (alimentação) e esbravejava num final de expediente sobre a carência de pessoal para trabalhar em suas lojas. Sua empresa emprega somente rapazes, que são treinados para realizar o serviço. Ela contou que chega a contratar vários rapazes de um mesmo bairro, mas vive enfrentando problemas de rotatividade. No dia da nossa conversa um rapaz tinha sido demitido porque (pelo menos, foi o que entendi) fez uma coisa errada de propósito, gerando reclamações do cliente.
A empresária se queixou basicamente da falta de caráter de seus jovens empregados. São rapazes que vivem no limite da marginalidade: se não são bandidos, convivem com muitos e podem facilmente se transformar em um.
Penso que essa empresária e seu marido têm a chance de mudar a sorte de muitos deles. Talvez até mudem, mas é triste constatar que alguém quer dar emprego, tem gente precisando trabalhar, porém por alguma razão a equação não fecha. Pretendo voltar a esse assunto com ela para entender melhor o que se passa e adoraria fazer uma reportagem ampla e profunda sobre o tema.
Conheço bem outro casal que também atua no setor de alimentação e enfrenta problema semelhante, embora gerencie um negócio bem menor. Um dos rapazes já trabalha com eles há um tempão, porém vários outros passaram (em geral, amigos ou conhecidos do já citado) e alguns tiveram problemas com a polícia. Um deles foi preso há meses por ter matado um cara por motivo fútil. Até então ele trabalhava como garçon e parecia um rapaz muito gentil, daqueles que você é capaz de convidar para ir à sua casa. Paradoxos do ser humano que, numa cidade como Cuiabá, ficam mais evidentes.



Dúvida 2

Parece que finalmente estou aprendendo a aceitar minhas falhas e precariedades. Não preciso ser perfeita para gostar de mim. Ufa, isso me tira um peso. É engraçado não acredito em céu, nem em inferno, porém a minha formação religiosa foi tão forte que muitos dogmas e crenças continuaram me acompanhando ao longo da vida ...
Essa formação me tornou ora indulgente, ora muito crítica em relação às pessoas. Criei de alguma forma um sistema de valores, em que as pessoas deveriam "ganhar" mais ou menos de acordo com o merecimento. É claro que, com o tempo, fui percebendo que as coisas não eram tão simples, porém nunca consegui me conformar (ou consolar) com ditados do tipo "Aqui se faz, aqui se paga", "Deus sabe o que faz", "Vão-se os anéis, ficam os dedos", "Deus dá o frio conforme o cobertor" e assim por diante.
O que é ser bom? O que é ser mau? Quem é pior: aquele que expõe a sua face sombria ou o hipócrita, que esconde suas verdadeiras intenções e posa de bonzinho? Quem está consciente do mal que pode causar ou aquele que acaba provocando o mal sem intenção?
Enfim, são questões praticamente sem resposta. Talvez ter consciência do nosso lado sombrio me torne mais condescendente e menos rancorosa em relação às outras pessoas.
Não tenho certezas. Só sei que o pior pecado, para mim, é a falta de generosidade. Não é fácil dar, mas acho que quem dá de coração só tem a ganhar.

sexta-feira, 12 de março de 2010

Dúvida

Hoje o dia começou sob o impacto da notícia do assassinato do cartunista Glauco e de seu filho Raoni. As primeiras notícias falavam em assalto, porém ao longo do dia surgiu a versão de que o cartunista foi assassinado por um rapaz conhecido da família, que frequentaria a Igreja Santa Maria, fundada por Glauco e inspirada nos cultos do Santo Daime.
Seja como for, é triste. Cartunista consagrado, Glauco tinha 53 anos e seu filho, 25. Por termos a mesma idade, eu me identifique com ele e essa história só veio avivar um pensamento que me acompanhava desde ontem. Li num artigo sobre a escritora Patrícia Melo, especialista em romances policiais, que ela parte do princípio em suas obras de que o homem tem uma índole má, contrariando o pensamento do filósofo suíço Jean-Jacques Rosseau de que "o homem é bom por natureza" e é a sociedade que o corrompe.
Essa questão me intriga. Cresci achando que as pessoas são boas por natureza e são de alguma forma estragadas pela vida (meio social, pais, família, etc). Porém, hoje tenho algumas dúvidas a esse respeito, embora ainda me recuse a achar que o contrário é verdadeiro: ou seja, as pessoas têm uma índole má e podem ser redimidas - ou não - "pelo amor e o sentimento da compaixão", como crê Patrícia Melo (segundo matéria veiculada no site do jornal Estado de São Paulo em setembro do ano passado e citada por mim em artigo no site http://portugues.agonia.net
Acreditar nisso transformaria totalmente o meu modo de pensar e, de alguma forma, subverteria as crenças sobre as quais sempre pautei minha vida. Voltarei ao tema em outra oportunidade.

quinta-feira, 11 de março de 2010

Campeão em dengue

Hoje quero tratar de um assunto triste: dengue. Tinha guardado uns números ontem sobre a doença, mas vi que hoje já estão superados. Infelizmente isso deverá ocorrer novamente em pouco tempo.
Segundo a edição de hoje do Diário de Cuiabá, o total de notificações na capital é de 2.323 e óbitos foram cinco até o momento, sendo que apenas dois já foram confirmados por exames laboratoriais. No Estado, as notificações pularam de 19.670 para 22.711 na última semana e os óbitos confirmados, de 13 para 18., ainda de acordo com o jornal.
O mais lamentável é que numa reunião entre representantes do estado e de 15 municípios considerados prioritários no combate à doença, foi constatado que a demora com que os agentes da vigilância epidemiológica respondem à doença é um dos principais problemas. Ou seja, o mosquito está dando uma surra em que é responsável por combatê-lo.
Mato Grosso não é, portanto, apenas campeão na produção de grãos e carnes; ele está se esforçando para se campeão em casos de dengue.
É triste ver pessoas morrendo em pleno século 21 de uma doença tão elementar, na medida em que é transmitida pela picada de um mosquito, que se multiplica em decorrência da ignorância e descaso dos seres humanos. E o mais triste é que crianças e idosos são os que mais sofrem as consequências.
Nunca tive dengue (lá em casa, só uma das minhas filhas teve há muitos anos, quando morávamos em Cáceres), mas um colega de revista teve perto do carnaval e ficou sem trabalhar uns 10 dias. E olha que no caso dele, tenho certeza de que não fez corpo mole. A doença é braba mesmo!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Seu José

Fiz uma visita ao Cantorum ontem, o coral que deixei na metade do ano passado, e fui muito bem recebida. Estou achando que vou voltar ... Cantar me deixa tão feliz. Ontem o coral ensaiou uma peça bonita, do belga Cesar Franck (1822-1890). É muito estranho cantar música sacra no Museu de Arte Sacra, que funciona no antigo Seminário, junto à Igreja do Bom Despacho, em Cuiabá. É um lugar meio sinistro! Escuro!
Ontem, cheguei antes do horário e fiquei conversando um tempão com o segurança, José Pedro da Silva, 60 anos. Ele me mandou puxar uma cadeira para sentar perto dele e do ventilador de pé, que colocou para girar. A história dele foi ficando tão interessante que peguei um bloquinho e comecei a notar alguns dados. Se tivesse uma máquina fotográfica, tiraria uma foto dele para postar no blog. Que cara bacana!
Seu José (ou Zezinho) tem 60 anos, nasceu em Adamantina (no interior de São Paulo), mas veio com a família aos 11 anos para Mato Grosso. O pai, agricultor, criou a família numerosa, na roça, em Dom Aquino (a 142 km da capital). O que me encantou na história de seu José foi sua alegria e o fato de valorizar tanto o estudo. Seus quatro filhos têm curso superior (segundo ele, alguns são pós-graduados), depois de passar pela escola técnica e por universidades federais (só um estudou numa particular). E ele mesmo decidiu estudar no ano passado depois de ficar 30 anos afastado da escola. Fez o "terceirão" e agora seu "sonho" é fazer o curso de Educação Física.
-Quando a gente volta a estudar, vê o mundo de outra forma - disse.
Cá entre nós, isso não é lindo? Imaginei seu José falando isso num documentário sobre educação. Seu José acrescentou: "Minha família é iluminada". Ele não se queixou de ninguém, de nada!
Nas horas de folga, seu José trabalha como voluntário em seu bairro, Pedregal (na periferia de Cuiabá), ensinando futebol a 50 meninos de 7 a 15 anos. O trabalho voluntário começou há quatro anos e hoje ele também diz atuar aos sábados como voluntário no Projeto Oratório Santo Antônio, no Colégio Salesiano Santo Antônio (Patronato), que ele insistiu para que eu vá conhecer. Segundo seu José, as pessoas vivem muito para si e isso não é bom.
Ficamos de conversar mais em outros dias de ensaio e prometi levar para ele um exemplar da revista Produtor Rural.

terça-feira, 9 de março de 2010

O que é isso companheiro?

Hoje já tive vontade de falar sobre políticos, depois pensei em falar sobre o que espero de um companheiro. Os dois temas misturam razão e emoção.
As eleições estão se aproximando e me encontro realmente confusa. Por que será que só pessoas não muito confiáveis disputam cargos majoritários? Essa é a impressão que tenho observando o cenário mato-grossense para as próximas eleições. Ou será que eles deixam de ser confiáveis quando chegam o poder? Indagações à parte, faz tempo que cheguei à conclusão de que o velho Maquiavel fez a cabeça dos nossos políticos há muito.
Quanto aos companheiros - nada a ver com a velha terminologia da esquerda; opto por esse termo porque supõe uma relação mais interessante do que a de um mero namorado -, gostaria de ter um não para morar junto ou necessariamente dividir contas e sim para compartilhar alegrias, inquietações, coisas simples e outras nem tanto. Isso supõe uma mistura de química, empatia, admiração, difícil de encontrar hoje em dia. Seja como for, esse companheiro ideal não poderia ciumento demais, teria que gostar de samba ou, pelo menos, não implicar com a minha relação com a música em geral e o samba em particular.
Enquanto uns e outros não aparecem - políticos confiáveis e companheiros idem - a gente vai levando.

segunda-feira, 8 de março de 2010

Mulheres angustiadas

Há poucos minutos eu decidi que não ia postar nada no blog. É como se eu não tivesse nada para "falar" ou então tivesse tanta coisa que não caberia num post, mas foi só eu ler a crônica semanal de Dete em seu blog http://piassa-braziliansoul.blogspot.com para eu me inspirar.
Ela fala sobre um assunto recorrente: sua insatisfação em estar na costa leste dos EUA e a angústia de não saber onde seria mais feliz. Numa fazenda distante? Em seu país natal? A crônica de Dete merece ser lida na íntegra e quero apenas fazer algumas considerações pessoais. Também vivo constantemente a mesma angústia.
Morei anos no Rio de Janeiro e, embora tivesse (e como) meus momentos de crise e angústia existencial, profissional e tudo que tinha direito, nunca pensei realmente em deixar a cidade. Mas confesso que senti uma pontinha de inveja quando três amigas muito queridas foram morar no exterior, quase todas ao mesmo tempo. Dete foi para os EUA, assim como Lúcia (amiga desde o tempo do admissão), e Mila foi para a França.
Além de sofrer com a saudade imensa das três, eu me imaginava no lugar delas , convivendo com o chamado primeiro mundo, falando fluentemente inglês ou francês. Essa fantasia meio que se quebrou em 1986, quando visitei as três e percebi que cada uma, a seu modo, tinha as mesmas angústias que eu.
Dois anos depois, por razões que não vêm ao caso neste momento, eu estava morando em Mato Grosso - mais precisamente numa fazenda no Pantanal.
Fui feliz? Muitíssimo. Hoje, olhando para trás, vejo que vivi alguns dos momentos mais lindos e profundos da minha vida nesses anos em que dividi meu tempo entre a fazenda, o casamento e o nascimento de minhas duas filhas. Nem por isso deixava de me angustiar, questionar e me lembrar com carinho das coisas que tinha deixado para trás.
Em suma, acho que a gente pode ser feliz - e angustiada - em qualquer lugar do mundo onde disponha de coisas básicas (comida, teto, amor e amizade). Alguns precisam menos de amigos e companheiros; outros mais. Quando eu ficava no Pantanal, encontrei isso no meu ex-marido, nos empregados da fazenda, pessoas com quem estabeleci na época relações afetivas muito fortes. Talvez eles não saibam o quanto foram importantes para mim.
Seja como for, é praticamente possível ser feliz - ou não - em qualquer lugar do mundo. Depende mais da nossa disposição para compartilhar, seja de uma forma prática ou até da escrita.
Acho que algumas pessoas nascem angustiadas. Como sempre digo, não tenho respostas definitivamente para nada, mas pode ser que a gente esteja aqui para aprender a lidar com isso.
Hoje mesmo acordei com uma estranha dor no lado esquerdo do peito. Pensei, por alguns instantes: como deve ser ter um enfarte e sentir que você está perdendo a vida? Acordei, toquei a vida e até me esqueci disso, embora saiba que a linha entre vida e morte é muito tênue. Mais uma razão para a gente se angustiar. Ou não.

domingo, 7 de março de 2010

A cigarra volta a atacar

Ontem recebi o maior elogio que uma branquela como eu pode receber. Desculpem a minha imodéstia, mas tenho que compartilhar isso com vocês, queridos leitores.
Depois de uma noitada de muito samba, suor e cerveja (pouca, bebi muita água), tomei a iniciativa de dançar com um cara que dava show na arte da dança. Um homem de uns 40/50 anos, negro, elegantíssimo.
Numa das minhas idas ao banheiro, conversei com uma moça loura que eu tinha visto dançando divinamente com ele e ela me disse (ou pelo menos entendi) que ele era professor de dança.
Num rasgo de ousadia eu me aproximei dele e começamos a dançar. Ele me disse - não me recordo das palavras textuais - que aquele meu gingado não era coisa de gente da minha cor de pele. Retruquei que também tinha um pouco de negro (como a maioria dos brasileiros), referindo-me à herança paterna, da qual muito me orgulho.
Voltei para casa mais feliz e realizada até porque ele me disse que voltaremos a dançar.
É engraçado que sempre me orgulhei muito e quis me aproximar mais do meu lado paterno, que sempre me pareceu mais alegre, comunicativo e bem, bem mais feliz, que o lado da minha mãe - com todo respeito.
Minha mãe sempre representou uma coisa mais de disciplina, rigidez, hierarquia, embora "poor mother", ela, no fundo, não fosse assim. Apenas reproduzia os valores passados por sua família a uma menina dos idos de 1910. Prova disso foi o fato dela ter se apaixonado por meu pai. Só que, mesmo distante de sua família, ela não tinha como não continuar educando seus filhos de acordo com os padrões aprendidos.
Fico feliz por ser uma mulher do meu tempo que pode viver intensamente seus desejos e se dar ao desfrute de "tirar" um homem desconhecido para dançar. Sem medo de ser feliz.
Como hoje é véspera do Dia Internacional da Mulher, dedico este texto a todas as mulheres do mundo.

sexta-feira, 5 de março de 2010

Homenagem póstuma

Leio em O Globo que Lula descartou a possibilidade de se licenciar do cargo para ajudar na campanha de Dilma em entrevista a emissoras de rádio de Juazeiro (BA) e Petrolina (PE). "Segundo ele", diz O Globo, "seria uma irresponsabilidade". Ufa, será que estamos livres do Sarney como presidente da República? A matéria conta que a informação anterior veio de um integrante da coordenação de campanha da ministra, que reiterou ontem a O Globo a disposição do presidente de pedir a licença.
Portanto, ou o presidente deu para trás (temporariamente ou não) diante da repercussão da notícia, ou então O Globo cometeu uma "barriga" (o oposto do furo na linguagem das redações). Só o tempo dirá.
Mas o que quero registrar hoje é a morte do compositor Johnny Alf , na verdade Alfredo José da Silva - mais um daqueles que morrem esquecidos e só depois de mortos são incensados pela mídia, por colegas de profissão e o público em geral. Li que ele não tinha parentes, sofria de câncer na próstata, vivia numa casa de repouso em Santo André, no ABC paulista, e tinha 80 anos. Há quanto anos não via uma imagem de Johnny Alf na televisão e não ouvia sua voz suave. interpretando seu grande sucesso "Eu e a brisa"! Compositor refinado, músico talentoso, por que ele ficou tão esquecido? A matéria de O Globo diz que ele sequer foi lembrado nos 50 anos da Bossa Nova, embora seja considerado o precursor do gênero musical brasileiro, que deu um toque de jazz e um clima cool à música popular do país.
É um país estranho o Brasil, que transforma em "heróis" e "celebridades" pessoas sem maiores talentos e nenhum centímetro de história em programas do tipo BBB e condena ao ostracismo músicos e outras pessoas talentosas. Não é só uma questão de fama e sim de sobrevivência. O artista vive de sua arte e sempre me lembro de que o genial Cartola trabalhava como lavador de carros na Zona Sul para pagar suas contas antes de ser "redescoberto" pela classe média carioca.
Quantos Cartolas e Johnny Alfs não estão esquecidos por aí, sem oportunidade de compartilhar sua arte e sobreviver dignamente às custas dela?

quinta-feira, 4 de março de 2010

Estômago

Não pretendia escrever agora, mas tenho que desabafar antes de seguir em frente, senão fico com o estômago embrulhado, passo mal. Acabei de ler em O Globo que Lula pretende se licenciar para "abraçar" a campanha de Dilma e, com isso, Sarney deve assumir a presidência.
Hoje é 1º de abril? Não! É sério mesmo. Não dá para aguentar. É zombar muito da nossa inteligência, da nossa memória e capacidade de engolir sapos (no caso, um bigodudo).
Não vou ficar aqui detalhando um fato que dispensa outros comentários, mas aproveito para contar uma passagem que só reforça a minha dificuldade em lidar com a política tupiniquim. Na última terça-feira fui ao Detran-MT pegar o licenciamento do meu carro e tive que esperar mais ou menos uma hora para ser atendida. Tudo bem que já enfrentei coisas bem piores nos áureos tempos do Detran no Rio de Janeiro.
Quando chegou minha vez comentei com a funcionária que já tinha sido melhor atendida no Detran de Cuiabá em outras ocasiões. Reclamei da falta de alguém na recepção que orientasse sobre que tipo de senha pegar. Para minha surpresa a moça não só concordou comigo, como acrescentou: "É a política". Como assim? - indaguei. Ela explicou que quando chega época de eleição vira aquela bagunça. Disse ainda que tentou conversar com a chefia sobre a necessidade de melhorar o atendimento, porém foi mal interpretada e decidiu não se manifestar mais.
Pronto temos aí um belo exemplo do (des) serviço público: o serviço é precário porque a chefia está mais preocupada em assegurar o futuro político (o seu e de seus superiores); quem quer trabalhar ou melhorar o serviço, incomoda.
Quantos talentos e quanto tempo do cidadão desperdiçado porque as coisas não são vistas com a devida competência!


terça-feira, 2 de março de 2010

De boas intenções ...

Hoje meu assunto não pode ser outro a não ser a notícia que acabo de ler no blog Ofiltro (da revista Época): "De acordo com reportagem do Estadão, após duas rodadas de matrículas em todas as 51 instituições que participam da seleção, das 47,9 mil oferecidas apenas 26 mil foram preenchidas, o que deixa 45,3% das vagas em universidades federais ociosas".
Por ter acompanhado de perto o Enem (Exame Nacional do Ensino Médio) e o Sistema de Seleção Unificada (Sisu) não posso deixar de fazer algumas considerações a respeito do tema: o MEC (ou as autoridades federais) esperavam que os estudantes tivessem paciência para esperar as três etapas de inscrições no Sisu, para decidir seu ano letivo?
Na minha casa houve um exemplo bem interessante das complicações trazidas pelo novo sistema de acesso às universidades federais. Minha filha caçula (já bastante citada neste blog) soube praticamente no mesmo dia que tinha sido aprovada em dois concursos isolados para o curso de Agronomia (Unesp de Jaboticabal, no interior de São Paulo, e Universidade Federal de Viçosa, em Minas Gerais), o que nos deixou muito felizes. Por outro lado, embora tenha obtido uma pontuação razoável no Enem (84, se não me falha a memória, de um total de 100), ela não foi aprovada no mesmo curso na UFMT. Até então eu preferia mantê-la em Cuiabá, perto de mim, porém diante da incerteza da conquista de uma vaga na Federal de Mato Grosso, não tive dúvida: viajamos para Jaboticabal a tempo de fazer a matrícula no dia 10 de fevereiro.
Aí aconteceu o inevitável: a gente se apaixonou pela Unesp e por Jaboticabal. Não tinha mais volta e hoje ela está lá debutando na vida de universitária a mais de 1.300 km de distância de casa. Será que ela seria chamada nas outras etapas do Sisu? Não sei. Ela sequer conferiu o resultado da segunda rodada de inscrições.
Vejo muitos colegas dela matriculados em universidades particulares ou já fazendo cursinho em Cuiabá e outras cidades em busca de seus sonhos. A ideia do Enem e do Sisu me pareceu boa a princípio, mas o atraso no processo por causa do vazamento das provas do Enem e outros problemas (como o fato de poucas federais terem aderido 100% como a UFMT) comprometeram sua eficácia.

segunda-feira, 1 de março de 2010

A cigarra e a formiga

Acabei de fazer uma entrevista por telefone com um mito do agronegócio brasileiro, o empresário Olacyr de Moraes, conhecido como o "rei da soja" em seus tempos áureos. Maiores detalhes sobre o personagem na edição de março da revista Produtor Rural.
Adorei conversar com ele e ver que, às véspera de completar 79 anos, o empresário se mantém bastante lúcido e confiante no futuro do agronegócio e do país. Deve ser uma sensação muito boa saber que você contribuiu tanto para o desenvolvimento de seu país.
Gosto muito do meu trabalho e gosto de escrever, relatar experiências, o resultado da conversa que tive com pessoas, seja ela uma celebridade do mundo empresarial, como o Olacyr, seja um produtor até então desconhecido, como Maria da Penha Bento Alves - uma assentada que conheci e entrevistei em Colniza (a 1160 km de Cuiabá).
Às vezes eu me questiono sobre quantas pessoas leem o que eu escrevo e a relevância disso para o mundo e fico um pouco frustrada. Gostaria de fazer coisas mais concretas, como o Olacyr ou a Maria da Penha, que come o que planta e dividiu seu modesto e delicioso almoço comigo e meus companheiros de equipe quando visitamos seu pequeno sítio no ano passado.
Mas, no fundo, sabe o que realmente gosto de fazer? Cantar. Quando eu era muito pequena e passeava com minha mãe por uma estação de águas mineira, me lembro de ter-lhe confidenciado que gostaria de ser cantora. Não me lembro do que ela disse, mas a lembrança que me ficou foi a de uma reação meio incrédula e fria.
Hoje, quando canto, sinto como se estivesse transgredindo alguma norma interna ou estivesse de alguma forma decepcionando "minha mãe interna". Como se eu fosse a cigarra da fábula de La Fontaine, meio envergonhada diante da formiga que trabalha e bota dinheiro na casa. No meu caso, como boa geminiana, eu me esforço para ser as duas ao mesmo tempo - cigarra e formiga. Na maioria das vezes, a formiga domina a cena, mas, de vez em quando, como no sábado passado, a cigarra rouba a cena.