sábado, 31 de outubro de 2009

Show na praça

Hoje é sábado, último dia do mês, e só quero informar a quem interessar possa que amanhã, domingo, tem uma programação fantástica no Festival Calango (a de hoje pode até ser, mas não é minha praia).
Além de várias bandas de rock, amanhã vai ter Lu Bonfim (grande cantora da terra), a banda Os Inimitáveis (dizem que é boa, nunca ouvi), os maravilhosos Paulo Monarco e Ebinho Cardoso (gente daqui) e, entre os dois, Toninho Horta! Depois ainda tem Marku Ribas (conheço pouco, mas gostei do que vi). Tudo isso na Praça das Bandeiras, em Cuiabá, e de graça! O início da programação está marcado para 16h (15h no horário real, com este solão, sei não ...). Mas eu pretendo chegar lá quando o sol começar a baixar.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Che

Ontem à noite assisti finalmente à primeira parte do filme "Che", dirigido por Steve Soderbergh. Que me perdoem os cuiabanos mais bairristas, mas uma das coisas que sinto falta em Cuiabá é de poder assistir ao tipo de filme que gosto e poder comentá-lo com amigos. Como esse tipo de filme passa rapidinho nos Cinemais da vida ou simplesmente não passa(até hoje tenho dúvidas de que o filme "Diários de motocicleta" foi exibido por estas plagas), acabo assistindo à maioria deles em DVD e aí ou os meus amigos já assistiram ou não assistiram. Ou seja, não tenho com que comentar.
Eu não alimentava muitas expectativas em relação a "Che", por isso não cheguei a ficar decepcionada, mas encontrei algumas falhas. Achei o filme um pouco confuso (com suas idas e vindas no tempo) e percebi algumas lacunas na narrativa. Por exemplo, Che aparece sendo medicado, mas a gente não fica sabendo em que circunstância foi ferido. Não fica claro também como ele chegou ao jantar em que é apresentado por Raul Castro a seu irmão, Fidel, como "o argentino" e ganha tão rápido a confiança do líder cubano.
Nunca fui fanática por Che, ou seja, do tipo que anda com camiseta estampada com o seu rosto, porém acho admiráveis a coragem e a generosidade - e a loucura - de um homem que larga seu país, sua casa, família, profissão para se dedicar à causa da revolução. Ele era duro com seus subordinados e não creio que poderia ser diferente naquele contexto, mas se o filme é fiel aos fatos o que mais me comoveu foi a ênfase dada por Ernesto "Che" Guevara à alfabetização. Ele sempre pergunta aos candidatos a guerriheiro se sabia ler e escrever, e, segundo o filme, cobrava lições de combatentes exaustos. A cena final é um anticlímax - minha filha de 17 anos ficou super decepcionada -, mas é emblemática, pois mostra a preocupação do comandante com o comportamento ético da tropa.
A figura de Che, lendária, é um ícone do idealismo de uma geração que se lançou a movimentos revolucionários nos anos 60. Será que se ele tivesse vivido mais e passado dos 40 anos- Che morreu aos 39 anos, em 1967 - teria se tornado igual a muitos outros de sua geração - cínicos, caras-de-pau, acomodados ou pessimistas?

quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Leitura

Aproveito esta quinta-feira preguiçosa - tempo nublado, com cara de chuva iminente - para resolver o problema do vidro do meu carro que não quer saber de descer há algumas semanas. Decido procurar o profissional indicado pelo mecânico do meu carro - em quem confio cegamente, no mecânico e não no carro. Ele trabalha no bairro Morada do Ouro a cerca de 1 km do meu trabalho.
Enquanto ele desmonta a porta para verificar a origem do problema, saco da minha bolsa o livro "O último conhaque", do mineiro Carlos Herculano Lopes. Fico tão absorvida pelas primeiras páginas do romance - indicado como leitura obrigatória pela UEMG, para qual minha filha mais velha vai prestar vestibular - que quase nem me dou conta do que se passa ao redor. Um rapaz, bem vestido, aproxima-se e me pede R$ 0,25 começando a contar uma história que minha intuição diz ser mentira. Sem pestanejar, digo a ele que não tenho. O borracheiro que estava dentro do seu estabelecimento aparece e faz um comentário do tipo "homem forte, podia estar trabalhando". Afirma que o rapaz estava drogado (será?) e conta que outro dia deu "um tapa no pé do ouvido de um negão" que lhe pediu um real no açougue. Ele se recusou a dar e o cara tomou o dinheiro que ia usar para pagar a carne, daí a confusão. Depois do tapa, o borracheiro pegou seu dinheiro de volta e só não bateu mais no cara porque ...
Fiquei impressionada com o relato (ainda mais detalhado) que, de uma certa forma, misturou-se à história relatada no romance, que conta a história de um sujeito estranho, tipo fracassado, que retorna à cidade natal para o enterro da mãe, apesar desta sempre ter insistido para que nunca voltasse mesmo que ela morresse. É claro que o leitor sente que está caminhando para um final trágico e pressupõe um embate entre o protagonista e o mandante do assassinato de seu pai.
O moço do conserto interrompe minha leitura para dizer que tem más notícias. O motor, que faz o vidro subir, está quebrado. Se for comprar um novo custa R$ 180, mas dá para arrumar por R$ 90. Com a mão de obra de instalação fica tudo por R$ 110. Com preguiça de ir atrás de outros orçamentos, aceito o trato. Ele remonta a porta e calça o vidro para que não desabe até amanhã quando levarei o carro para terminar o conserto.
Não consegui terminar o capítulo, o que me incomoda muito. Vou almoçar e, como o restaurante está vazio, acredito que vou conseguir conclui-lo assim que acabar de comer. Ledo engano ... Um conhecido chega e se senta comigo. O jeito é conversar ... Vou embora pensando em terminar a leitura na copa do prédio onde trabalho enquanto tomo um café. De novo, decepção. Tem um almoço da diretoria no local e eu entro rapidinho só pra pegar meu café.
Volto à minha sala e consigo terminar o capítulo 5. Eu me permito ler mais um, morrendo de medo de ter que parar no meio de novo. Estou adorando o livro. É incrível como tem escritores tão talentosos que a gente desconhece. Fico morrendo de vontade de escrever um romance. Quem sabe um dia ???

quarta-feira, 28 de outubro de 2009

À margem

Li ontem no boletim eletrônico O Filtro que cresceu muito o número de crianças e jovens que fogem de casa e vão morar nas ruas. Onde? Nos EUA! Segundo a matéria veiculada, no jornal The New York Times, isso ocorre em consequência da recessão que se abateu sobre o país - e boa parte do mundo. Por causa dos problemas financeiros vividos pelos pais, muitas crianças estão preferindo morar nas ruas com todas as implicações dessa decisão - violência, prostituição, drogas, etc.
Achei a notícia muito triste. De repente a gente descobre que o rei está nu. A maior economia do mundo, cujos "ideais democráticos" são impostos nos países "subdesenvolvidos" no resto do mundo à base da força e de invasões militares, não dá conta de cuidar de seus próprios cidadãos, que se vêem sem casa, sem assistência médica, enfim, à margem dos confortos de uma sociedade altamente consumista.
Não sou especialista em economia norte-americana, mas penso com pesar nessa geração que está sendo criada nesse momento de crise, sem as perspectivas de crescimento e bem-estar que seus antepassados tiveram.
Eu me lembrei da última vez que estive nos EUA. Já faz tempo! Foi em 1997 e ainda não havia prenúncio de crise. Fui num programa de intercâmbio do Rotary Club e passei quatro semanas no estado de Indiana, na região central dos EUA, em quatro casas e convivendo om famílias diferentes. Foi uma experiência muito legal! Eu gostei especialmente de duas dessas famílias e me espantava na época como aquelas pessoas viviam em casas tão grandes e bonitas, sem ter uma empregada doméstica ou faxineira sequer. As mulheres trabalhavam fora, tinham filhos e as casas pareciam tão organizadas! Uma delas sequer tinha ferro de passar para me emprestar. Parecia coisa de filme. Elas eram animadas, participavam do Rotary local, faziam atividades físicas, enfim, pareciam perfeitas.
Como perdi o contato com elas, não sei como estão atravessando a crise, mas imagino que muitas pessoas que perderam suas casas recentemente e muitos jovens que estão agora nas ruas podem se parecer com meus "amigos" norte-americanos e seus filhos.

terça-feira, 27 de outubro de 2009

Toninho Horta

Tem umas pessoas raras que talvez não tenham a dimensão da importância que têm na vida do outro. O músico Toninho Horta é uma dessas pessoas. Passo meses sem me lembrar de sua existência. Mas, basta uma menção ao seu nome (no caso, a notícia de que vai dar um workshop para músicos em Cuiabá no próximo dia 31, dentro da programação do Festival Calango) para que a minha paixão recolhida venha à tona. Como uma gripe mal curada que reaparece súbita e forte.
Enquanto escrevo estas linhas ouço Toninho Horta no YouTube (minha mais recente paixão). Acabei de ir às lágrimas com uma versão na voz do próprio Toninho de "Beijo partido", música composta em 1973, depois de uma decepção amorosa. Quem me dera ter esse talento ...
No vídeo (um programa da GloboNews), Toninho - que era magérrimo e engordou bastante com o passar dos anos - conta que a melodia (lindíssima) já estava pronta e ele escreveu a letra em meia hora. A ideia era que Gal Costa gravasse, mas ela não se interessou e a primeira cantora a gravá-la foi Nana Caymmi. Outra versão famosa é a de Mílton Nascimento.
Adoro também o Toninho de "Manuel o Audaz" e outras canções. Tenho um LP maravilhoso dele: "Terra dos Pássaros", que não dou, não vendo, nem empresto, mas também não posso ouvir porque não tenho um aparelho que toque discos de vinil.
Ainda não sei se ele fará alguma apresentação para o público em Cuiabá (acredito que sim) e farei o possível para ouvi-lo/assisti-lo. São oportunidades raras na vida que valem qualquer sacrifício.

segunda-feira, 26 de outubro de 2009

De mau gosto

Li uma matéria ontem no jornal Diário de Cuiabá que falava sobre o percentual de pessoas que saiu das prisões de Mato Grosso há pouco e voltou ao crime. A reportagem repete o que todos nós sabemos: há poucas oportunidades de trabalho para ex-presidiários, etc, mas não vai fundo em outra vertente do tema, que acho ainda mais grave.
As cadeias, em geral, são fábricas de bandidos. A violência policial e a própria violência das condições às quais os presos são submetidos só degradam a situação humana.
Não vou ficar aqui repetindo uma linha de pensamento (da qual muitas pessoas discordam, aquelas que acham que criminosos têm mais que apanhar e apodrecer na cadeia). Aliás, nem sei por que fui me meter nesse vespeiro. Mas, apesar de todas atrocidades cometidas por ladrões, continuo pensando que o nosso sistema prisional só reforça o lado pior das pessoas.
De modo geral, vivemos numa sociedade em que a violência vai ficando banalizada e onde o respeito pelo outro - pela versão do outro, pela história do outro - vai ficando esquecido.
Para terminar vou relatar um fato contado por uma colega que foi a uma festa temática em Cuiabá, no último fim de semana (Ploc/ anos 80). Houve um concurso de fantasias e a dupla premiada - pasmem! - se inspirou no caso do ambulante espancado e morto por seguranças de um shopping de Cuiabá. Mesmo que os fantasiados quisessem fazer uma denúncia da violência do caso, já seria um gesto de gosto duvidoso devido ao contexto (festa, fantasia, alegria), mas, pelo que a moça relatou, não houve qualquer intenção de denúncia. Os caras simplesmente acharam legal desfilar com um chapelão (marca registrada do ambulante Reginaldo) num carrinho empurrado por um segurança, numa alusão ao fato da vítima ter sido retirada do shopping num container.
Segundo minha colega, a premiação da dupla foi super vaiada pelos outros convidados da festa e, diante da reação do público, o apresentador ainda quis botar na boca dos fantasiados alguma justificativa para tamanho mau gosto.
E por falar no caso Reginaldo, os jornais nunca mais trataram do assunto, como é inevitável acontecer. Um dia, talvez, ficaremos sabendo que os acusados foram soltos e já estão trabalhando em algum estabelecimento, provavelmente espancando mais gente por aí em nome da suposta "segurança".

sexta-feira, 23 de outubro de 2009

Droga!

Assisti consternada a uma reportagem no Jornal Nacional de ontem sobre a luta de uma mãe para livrar o filho adolescente do crack. Em seguida, foi entrevistada ao vivo uma especialista, que me pareceu uma pessoa com conhecimento de causa e deu uma mensagem triste a mães como a da reportagem mostrada. O viciado não se cura se ele mesmo não decidir se livrar do vício e isso só ocorre depois que ele vê a morte de perto.
Na verdade, ela só está repetindo o que ouço há anos em reportagens (que eu mesma fiz) sobre alcoólicos anônimos. Em geral, o viciado (em álcool ou qualquer outro tipo de droga) só procura ajuda quando chega ao fim do poço. Certamente, alguns nunca voltarão do fundo do poço.
Deve ser muito duro para uma mãe (ou qualquer pessoa que ame um viciado) ouvir e admitir isso. Deve dar uma sensação de culpa, impotência louca, ver um filho/irmão/marido/neto/amigo se autodestruindo e não poder fazer nada. Tudo que se faz é paliativo.
Nunca passei por isso, mas já vi pessoas muito próximas a mim (mães, irmãs) passando. Das histórias que acompanhei um pouco mais de perto, um rapaz chegou ao fim do poço e não retornou com vida, outro ainda está buscando (até onde sei) e outro está em tratamento, meio que forçado pela família. Será que ele vai se recuperar? É uma incógnita.
Lamento que as famílias, sobretudo, de baixa renda tenham tão pouca assistência. Todas as reportagens que vejo falam da pouca disponibilidade de lugares onde os viciados possam ser tratados. Quem tem dinheiro manda a pessoa para fora, lugares caros, que nem sempre são sinônimos de recuperação, mas pelo menos é uma tentativa.
Não sei se conseguiria ficar de braços cruzados vendo meu filho se esborrachar no fundo do poço.
Enquanto isso, quanta gente "boa", "saudável" (???) e graúda ganha dinheiro com o tráfico de drogas, estimulando e mantendo o vício de pessoas mais fracas e vulneráveis que buscam na droga pesada um alívio para suas dores ou falta de sentido na vida!

PS. Ao contrário de muita gente, não acho que o álcool seja uma droga menos danosa que outras. Ela é apenas lícita.

quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A violência nossa de cada dia

Desde anteontem quero comentar uma cena da novela "Caras e bocas", exibida no "horário das sete" da Rede Globo. Em geral, gosto das novelas das sete por sua irreverência e falta de compromisso com qualquer coisa. O objetivo é distrair - o que é uma meta e tanto para autores. Algumas conseguem seu objetivo, outras nem tanto.
A atual trama das sete, apesar de muitos personagens inacreditáveis, caiu no gosto do público por causa do macaco Chico (ou melhor, macaca), do personagem gay que virou bofe e uma história cheia de reviravoltas. Mas tudo isso não vem ao caso. O que me "chocou" foi a cena de pugilato entre a suposta protagonista - Dafne, interpretada por Flávia Alessandra - e a antagonista (intepretada por Deborah Evelyn) e seus acompanhantes. Foram alguns minutos de tapas, socos, objetos arremessados, etc. No final todos se levantaram normalmente, sem uma gota de sangue, um olho roxo, e continuaram ainda discutindo. Ah, a vilã, que apanhou mais, teve que ir ao dentista corrigir uma ponte deslocada.
O que questiono é a necessidade de tanta pancadaria, que está ficando banal em novelas da Globo. Não tem uma sem a clássica surra da mocinha na vilã. O público vai ao delírio com a vingança dos personagens do bem. Mesmo que tudo seja ficção não gosto disso. É como se a dramaturgia de TV passasse a mensagem ao público de que vale tudo e que as diferenças devem ser resolvidas mesmo na base da "porrada" (como dizia o personagem do Casseta e Planeta).
Será que eu vivo num outro mundo e estou sonhando em achar que as pessoas (principalmente adultas) deveriam resolver suas desavenças apenas com palavras, recorrendo ao bom senso e à inteligência? Não seria isso a tal da civilização?
Tudo isso que eu falei acima talvez fique até sem sentido depois que a gente vê as imagens de dois policiais militares do Rio pegando objetos do coordenador do Afroreggae, assassinado com um tiro há dois ou três dias. É chocante demais ver aqueles que deveriam proteger, inibir o crime sendo cúmplices e ainda deixando a vítima agonizante no chão. Os dois acusados (flagrados por câmeras) estão detidos por 72 horas. E depois, o que vai acontecer? Vão voltar para as ruas? Com policiais desse naipe, é melhor ficar apenas com os ladrões.

quarta-feira, 21 de outubro de 2009

Paixão nacional

É incrível como a vida fica maravilhosa quando a gente ouve Chico Buarque! Mesmo que sejam canções trágicas como "Construção"
Por que estou dizendo isso? Eu me sentei diante do notebook em horário de almoço para falar de outro assunto e resolvi colocar Chico de fundo musical. Não consigo mais me concentrar! Tenho vontade de cantar, de me levantar e sair dançando. Realmente Chico continua sendo o meu grande ídolo cultural. Resistiu a dois maridos (que o detestavam) e se manteve fiel - do seu jeito: ele é de todas, mas certamente é um pouquinho meu. Afinal, são 40 anos de relação!
Quando eu era menina tinha uma amiga, Ana Cristina, que dizia ser prima do Chico e estava sempre acenando com a possibilidade de um encontro com ele. Chegamos a bolar um festival de canção do qual ele seria jurado. Cheguei a compor uma canção (um sambinha ao estilo Chico do final dos anos 60) na esperança de me destacar aos olhos do meu ídolo. Quem sabe eu não ganharia até um beijo ???
Na imaginação fértil da pré-adolescência, vivenciei diversos encontros com Chico no elevador, na praia; até cheguei a escrever uma redação escolar com o título "Uma visita inesperada" em que ele chegava inadvertidamente à minha casa.
O encontro sonhado nunca aconteceu. Recentemente, cheguei a vê-lo caminhando no calçadão da avenida Vieira Souto no Rio de Janeiro, mas reagi com naturalidade, como convém a uma "carioca nata".
Como jornalista nunca entrevistei Chico. Entrevistei (principalmente na época da Veja) vários artistas : Roberto Carlos, João Bosco, a turma do jazz que vinha para as primeiras edições do Free Jazz, mas nunca topei com o Chico pela frente. Fui a vários shows dele - o último foi em janeiro de 1999 (tudo isso, já?) no Canecão. Maravilhoso! Tenho esperança de ir a outros shows, mas enquanto isso não acontece vou matando as saudades com os vídeos do YouTube e minhas idas ao Chorinho, em Cuiabá, onde sempre procuro cantar canções de Chico. Minha última paixão é "Teresinha". Hoje é dia de Chorinho!

terça-feira, 20 de outubro de 2009

Código Ambiental

Por estar em Mato Grosso e no centro da polêmica sobre a questão ambiental, eu me acostumei a acompanhar alguns temas que, volta e meia, ressurgem na mídia. Um deles é a aprovação do novo Código Ambiental, considerada fundamental para amenizar os conflitos, já que a legislação vigente é arcaica (a peça principal é o Código Florestal Brasileiro de 1965) e toda remendada. Todo mundo - ambientalistas, ruralistas, etc - insiste nessa tecla: sem um novo Código Ambiental não dá.
Fiz uma matéria para a revista Produtor Rural em maio de 2009 tratando do tema e hoje, para minha decepção, soube por meio de uma assessora parlamentar que, na melhor das hipóteses, vai se conseguir até o fim deste ano parlamentar se chegar a um relatório sobre o projeto de lei que modifica o velho Código. Depois disso vem a discussão e aprovação nos plenários da Câmara dos Deputados e do Senado.
Fiquei irritada como cidadã e jornalista. Se a questão é tão importante por que demora tanto para ser analisada e votada? É por isso que nesse país se governa tanto por meio de decretos e MPs.
Para mim, toda essa situação é resquício da ditadura vivida durante 21 anos. A gente desaprendeu a legislar, a fazer democracia. Volta e meia a mídia veicula notícias falando sobre a infinidade de bobagens aprovadas em todos os níveis das câmaras legislativas. São festas e dias comemorativos aos borbotões, fora aquelas homenagens e concessões de títulos de cidadãos a uma a legião de pessoas, sendo que algumas delas sequer mereceriam ser chamadas de cidadãs.
Ruim com Congresso, pior sem ele, mas realmente é decepcionante a lentidão com que as coisas importantes são definidas neste país. A gente tinha que gritar mais contra esse tipo de coisa.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

O momento presente

Ando meio atônita com a vida. Eu me lembro subitamente de uma redação que fiz quando estava na segunda série ginasial num ano extremamente positivo do ponto de vista da criação. O estímulo dado à turma por nossa professora de Português do Colégio Santa Úrsula, dona Elisabeth, foi tão grande que, ao final do período, resolvi por contra própria reunir todas as minhas redações num caderno que conservo até hoje com muito carinho.
Um dos temas propostos foi "o momento presente". Até hoje sou fascinada por ele. De vez em quando, na hora de deitar, penso quanta coisa pode estar acontecendo naquele momento de conforto e descanso para mim. Pessoas devem estar indo para cama com fome, medo e dor (muitas sequer têm uma cama para deitar); quantas não podem estar sendo espancadas, violentadas, aterrorizadas.
Não é um pensamento confortável e, diante da minha incapacidade de fazer qualquer coisa para evitar isso, tento afastar tudo isso da minha cabeça e simplesmente relaxar e dormir, pensando com carinho nas minhas filhas que dormem tranquilamente perto de mim. Será que todo mundo tem esse tipo de pensamento de vez em quando ou sou eu que sou maluca?
Neste "momento presente" mais uma guerra do tráfico está sendo travada no meu querido Rio de Janeiro. Mesmo assim pessoas estão nascendo, se casando, se divertindo, fazendo planos, tocando em frente. A gente não pode deixar de sonhar, amar, pensar em construir alguma coisa, mas é sempre meio assustador pensar que tudo pode ruir como um castelo de cartas diante de um acidente, uma bala perdida, uma doença inesperada.
Por isso é tão importante viver o momento presente e o futuro, diz a sabedoria popular, a Deus pertence. "A Deus ... Ora, adeus!" - contesta o poeta Manuel Bandeira, no poema "Passado, presente e futuro", citado no meu livro "Cantor de amor e saudade":

Só o passado verdadeiramente nos pertence
O presente ... O presente não existe:
Le moment je parle est déjà loin de moi!
O futuro diz o povo que a Deus pertence.
A Deus ... Ora, adeus!

PS. Leio nos jornais que a PM do RJ enterrou com honras militares dois policiais que morreram na queda do helicóptero alvejado por traficantes. O enterro contou com uma chuva de pétalas de rosas. Enquanto isso, os PMs ainda vivos, que tiveram suas folgas canceladas em virtude dos conflitos nos morros cariocas, são obrigados a deitar no chão para descansar entre um e outro combate.

sexta-feira, 16 de outubro de 2009

Nomes

Moro num bairro chamado Goiabeiras desde que me mudei para Cuiabá em fevereiro de 2003. Adoro meu bairro. Além de bem posicionado (perto do Centro e de pontos badalados da capital, como a Praça Popular, padaria Viena, Choppão, Peixaria Popular), o nome me remete a uma das minhas frutas preferidas. É bem verdade que, pelos Correios, eu moro no bairro Popular, mas prefiro ficar com o Goiabeiras como referência.
Outro bairro tradicional da capital é o Lixeira. Errou quem imaginou um lugar feio e sujo. É um bairro normal, como tantos outros de Cuiabá, e o nome se refere a uma árvore bastante comum na região (eu também não sabia e só aprendi depois que vim para cá).
Como em muitas outras capitais brasileiras, Cuiabá tem muitos bairros novos com nome de Jardim e que de jardim têm muito pouco. Tem o Jardim Vitória, cuja má fama foi bastante amenizada com a Orquestra de Flautas de meninos e meninas que já tocou até na Europa; Jardim Florianópolis, Jardim Itapuã, etc.
Dizem que Cuiabá é a "Cidade Verde". É claro que ainda temos muito verde na cidade em quintais, terrenos abandonados, praças nem sempre bem cuidadas, mas como dizia meu cunhado Ivo, já falecido, engenheiro de profissão, cacerense de nascimento e carioca por adoção: há poucas sombras nas vias públicas de Cuiabá e outras cidades deste escaldante Mato Grosso.
Automóveis disputam essas poucas sombras mesmo com o risco de levar uma manga na lataria. Nas minhas poucas incursões como pedestre, procuro loucamente a proteção das copas das árvores mesmo que também tenha medo de levar uma "mangada" (hoje, por exemplo, quando fui almoçar, peões de uma obra na Secretaria de Educação tentavam derrubar mangas e um deles, mais gentil, pediu licença pra "senhora" passar).
Colegas meus da Famato contaram que outro dia um calango enorme caiu de uma dessas árvores na cabeça de um cara que trabalha conosco. Só de pensar nessa possibilidade me dá arrepio.
Mesmo assim árvores são queridas e, por incrível que pareça, tem gente que prefere cortar as árvores da porta de casa só para não ter o trabalho de varrer as folhas. Quanta pobreza de espírito!
Eu sempre me lembro com muito carinho das duas árvores que mandei plantar em frente à minha casa de Cáceres e ainda estão lá garantindo sombra a meus inquilinos.

quinta-feira, 15 de outubro de 2009

Desabafo

Gente, por que o trabalho mental me deixa tão cansada? Às vezes acho que vou ficar louca no meu esforço de me concentrar e escrever minhas reportagens numa sala (quase um porão, ainda que refrigerado), onde outras pessoas falam tanto. Fico achando que estou ficando burra, faço um esforço danado para me concentrar no que estou escrevendo, mas o texto não flui.
Por que é tão difícil para as pessoas entenderem que é preciso um pouco de silêncio e concentração para se escrever?
Em geral, elas dizem: "Puxa, você escreve tão bem!", mas não valorizam devidamente o ato da escrita. Se um médico estivesse atendendo um paciente ou um advogado defendendo uma causa num tribunal, todos entenderiam a necessidade de silêncio, mas quando um jornalista ou um escritor escreve acho que as pessoas não conseguem perceber a mesma necessidade.
É comum as pessoas chegarem para a gente e pedirem "escreve um texto assim e assado". Você responde que precisa primeiro terminar outro trabalho e no outro dia elas cobram delicamente se você já escreveu aquele texto. Elas não conseguem escrever, mas acham que você tem obrigação de fazê-lo com os pés nas costas.
Confesso que estou cansada. Adoro escrever. Sinto um prazer enorme em relatar o resultado de minhas andanças na função de repórter, mas é preciso juntar informações, fazer correlações e me esforçar para que o texto fique saboroso e, ao mesmo tempo, informativo, inovador, comovente.
Desculpem o desabafo. Agora tenho que voltar ao trabalho.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Reforma agrária

Acabei de ler sobre a pesquisa feita pelo Ibope por encomenda da CNA em assentamentos rurais, segundo a qual 40% dos assentados pela reforma agrária vivem em situação de extrema pobreza (para maiores detalhes, conferir o site www.cna.org.br). O MDA e o MST já tiveram a reação esperada: a de desqualificar a pesquisa por ter sido encomendada por uma entidade ligada a grandes produtores.
É engraçado esse lance de pesquisa: elas só são dignas de credibilidade quando mostram a verdade que a gente quer.
Não vou entrar nessa discussão; quero dizer que desde que vim para Mato Grosso há 21 anos mudei muito a minha concepção sobre MST, reforma agrária, etc. Isso não aconteceu porque trabalho numa revista da Famato. A sede do Incra ficava pertíssimo da minha casa em Cáceres e tive o desprazer de ter um acampamento do MST na minha rua dias a fio. Alguém há de dizer que os sem-terra pertubaram a minha comodidade pequeno burguesa. Não nego, mas percebi naquele momento que muita gente estava ali não porque tinha perfil de agricultor e sim por falta de opção. Muitos homens ficavam jogando cartas o dia inteiro e era impossível para as mulheres passarem pelo acampamento sem serem assediadas de forma grosseira.
Na mesma época fui percebendo que havia uma baita corrupção em torno da desapropriação de terras. Muitas fazendas desapropriadas não ofereciam a mínima condição de sobrevivência aos assentados (como recursos hídricos), que eram jogados lá sem qualquer assistência por parte do governo. Havia supervalorização das terras para que alguns ganhassem fortunas em detrimento da execução da reforma agrária.
Tudo isso foi me fazendo ficar descrente do MST. Como em qualquer movimento, há pessoas bem intencionadas, mas muita gente ganhava lote e vendia: alguns por não conseguirem tirar o sustento da terra obtida; outros por falta de vocação para lidar com a terra mesmo.
Após seis anos trabalhando na revista Produtor Rural, eu tiro meu chapéu para o agricultor, seja ele pequeno ou grande. Nos últimos meses, visitei assentamentos no norte de Mato Grosso e vi com meus próprios olhos o que já imaginava: tem muita gente boa assentada, que quer plantar, viver da terra, mas poucos assentados obtêm o mínimo de recursos necessários. Eles reclamam do governo e principalmente do Incra, órgão que, na minha modesta opinião, deveria ser detonado. Os próprios assentados que querem trabalhar na terra reclamam que muitos de seus vizinhos não trabalham. Um agricultor da Gleba Mercedes, um assentamento antigo de Sinop, chegou a me dizer que se admira de vender seus ovos e seus frangos para os vizinhos. Se ele pode criar galinhas, tirar leite, cultivar verduras, por que os outros não podem?
Provavelmente, porque não têm vocação para lidar com a terra e não conseguem tirar o mínimo para sua sobrevivência. Ou seja, muitos assentamentos viraram favelas rurais. O governo fica "bonito" na foto porque distribuiu não sei quantos hectares de terra, mas na verdade apenas tirou da cidade (em termos, já que muitos assentados trabalham nas cidades próximas) alguns ativistas do MST e outros movimentos semelhantes.

terça-feira, 13 de outubro de 2009

Questão de fé

De volta à "rotina" depois de percorrer cerca de 2600 km (grande parte de estrada de chão), tento me concentrar no meu objetivo principal: escrever a reportagem sobre as regiões Norte e Noroeste de Mato Grosso. O difícil é começar.
Sei que é preciso mergulhar na árdua tarefa de conciliar razão e emoção, e meu coração fica subitamente apertado. Procuro racionalizar e pensar que no final tudo vai dar certo. Será?
Ontem, no Jornal Nacional assisti a uma reportagem com romeiros em Aparecida do Norte. Juro que fiquei com inveja da fé daquelas pessoas que realmente acreditam no amparo de Nossa Senhora. Como eu gostaria de ter essa fé! Sei que preciso agradecer por ter retornado da minha viagem sã e salva, e também pelo fato de minhas filhas estarem bem. Mas, como já disse outras vezes, não sei a quem agradecer.
Para quem tem fé e acredita em Deus ou sei lá em quem, pode parecer loucura o que estou falando, mas pode ter certeza de que é bem mais difícil prosseguir na vida sem ter fé em Deus - apenas acreditando na ética e nos valores em que fomos criados - do que com a certeza de que tudo tem um sentido e que Ele realmente sabe o que está fazendo.
Ontem, minha filha Diana e eu comentávamos que provavelmente existe mais gente boa no mundo do que gente ruim. O que chamo de gente boa? Pessoas que não sentem prazer no sofrimento alheio, ou que não são indiferentes a ele, pessoas que desejam o bem dos outros, mesmo que algumas vezes, mesmo sem ter intenção, acabem causando sofrimento aos outros.
Algumas telenovelas e filmes são importantes ao mostrar a maldade, a má fé, porém de uma certa forma eles acabam reforçando a ideia do maniqueismo e até nos levando a pensar que o mal é mais forte e frequente que o bem. É como se vivêssemos num mundo onde há sempre um psicopata à espreita, pronto para nos fazer de idiotas.
Um pouco de cautela é sempre bom, mas prefiro - ou melhor, preciso - continuar acreditando que as pessoas "do bem" são maioria.

segunda-feira, 12 de outubro de 2009

Mais uma vez de volta

Já estou em Cuiabá. Ufa! Parece até milagre, ?
Ontem, domingo, trabalhei tanto que nem tive tempo de atualizar o blog. Como o meu companheiro fotógrafo precisava fazer fotos para uma outra reportagem em Lucas do Rio Verde (no caminho de volta para Cuiabá), Sérgio, o editor da revista Produtor Rural, sugeriu que eu voltasse de ônibus de Alta Floresta assim que terminasse meu trabalho. Nunca uma viagem de ônibus me deixou tão feliz! Não aguentava mais ver estrada pela frente.
Como viajei à noite, dormi praticamente o tempo todo (apesar da falta de posição na poltrona), só desci numa lanchonete de beira de estrada em Jangada, a cerca de uma hora de Cuiabá, onde coloquei minhas lentes de contato e comi alguma coisa, me preparando para a chegada. Saímos de Alta Floresta pontualmente às 19h e chegamos antes das 8h à rodoviária de Cuiabá. A viagem foi muito boa.
Há 9 anos estive em Alta Floresta como professora de uma etapa das Licenciaturas Parceladas da Unemat. Meus colegas e eu ficamos lá uma semana e quando retornei a Cáceres, não me senti voltando para casa. Sabia naquele dia que a minha etapa em Cáceres estava terminando. Hoje não tive a mesma sensação. Fiquei feliz de retornar a Cuiabá, ao meu apartamento, à possibilidade de rever amigos (minhas filhas estão em Cáceres por causa do feriado), caminhar mais tarde no Parque Mãe Bonifácia, fazer compras no Big Lar e, quem sabe, até pegar um cineminha. Apesar de muito cansada, vai ser legal retornar à redação da revista amanhã e começar a escrever a reportagem realizada no Norte e Noroeste de Mato Grosso.
Acho que fiz um bom trabalho, apesar da tensão da viagem, da preocupação de não chegar aos destinos programados. Só lamento muito não ter levado uma máquina fotográfica para registar os momentos, as pessoas e os lugares que considero especiais. É claro que o José Medeiros fez um montão de fotos, muitas delas maravilhosas e que estarão disponíveis na revista e no livro que pretendemos fazer no início de 2010.
Queria trazer também as minhas impressões, a minha visão. Por enquanto, vou dar tudo de mim para registrar em palavras essas impressões e trazer para um número maior de pessoas as histórias das pessoas que conheci por lá. É isso que eu mais gosto no jornalismo. A gente pode até não ganhar uma fortuna, mas é o que eu gosto de fazer: conhecer outras realidades e reportá-las, mesmo que às vezes isso me assuste um pouco.
Acabei nem falando sobre o dia de ontem: só vou dizer que fomos atrás de um pessoal que estava participando de uma cavalgada de Alta Floresta e Paranaíta. No caminho, encontramos uma boiada com tudo que tem direito (vaqueiros, berrantes, chicotes). Almoçamos na comunidade Cascata, em Paranaíta, e conhecemos alguns personagens maravilhosos.

PS. Achei a cidade de Alta Floresta muito bonita! É incrível como a cidade mudou em nove anos. A impressão que tive foi de uma cidade bem sinalizada e organizada.

sábado, 10 de outubro de 2009

Alta Floresta

Estou em Alta Floresta depois de mais de 12 horas de viagem em estrada de chão, com direito a uma travessia de balsa no rio Juruena, durante a qual descobri que tenho um primo que mora em Cotriguaçu, onde é defensor público. A descoberta se deu numa conversa com um passageiro da balsa que me disse que morava em Cotriguaçu com um rapaz de Cáceres, que é meu primo em segundo grau. Essa mundo é pequeno, não?
Depois de seis dias de viagem, a única coisa de que tenho certeza é de quanto sou pequena. Fico pensando nas pessoas que conheci e vi em Colniza e meu coração se enche de tristeza. Não sei explicar por que. Conheci pessoas muitos felizes em Colniza e provavelmente elas estão mais felizes do que muita gente que mora nas grandes cidades. Mas elas estão tão longe da chamada civilização. Se alguém quebra um braço tem que andar horas numa estrada de chão em busca de médico.
A sensação que me vem é um pouco semelhante a que Chico Buarque relatou na música "Gente humilde". A gente, na nossa concepção besta de classe média, acostumada com conforto e criada cheia de mimos, morre de medo de tudo e acaba acreditando em valores muito superficiais. Aí vê aquelas pessoas que vivem de uma forma tão diferente da nossa e sofre por elas, mas nem sabe exatamente por que.
Fiquei tão comovida de ter sido cercada ontem em Colniza por pequenos produtores que vieram falar de seu companheiro assassinado como se eu fosse resolver o problema deles. Mal sabem eles que eu posso tão pouco. Vou escrever a história deles, mas nada vai mudar.

sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Gente de Colniza

Tive um dia cheio hoje em Colniza, que começou às 6h e ainda não terminou. Começou com uma ida à escola onde estava se realizando o Mutirão Arco Verde Terra Legal, onde encontrei o secretário de Agricultura, que designou um técnico agrícola para nos acompanhar nas andanças em campo.
Tomamos café com leite e comemos bolo na propriedade de um produtor de leite, o mineiro Antônio, e almoçamos palmito de babaçu, salada de couve e pepino, arroz e feijão na casa de outra mineira, Maria da Penha, agricultora familiar de um dos vários assentamentos de Colniza. Ela não tem título da terra, água encanada ou energia elétrica, mas parece tão feliz. Estava organizando uma festa para o Dia das Crianças com o marido que fez uma promessa à Nossa Senhora de Aparecida.
Após um banho para espantar o calor, retornei ao local do Mutirão para conversar com a prefeita e ver o que ia rolar mais. Acabei participando de duas reuniões com assentados onde foi exposta a triste situação da falta de regularização fundiária no município, apontado por todos como o principal problema local. Conversei com presidentes das associações de pequenos agricultores e fiquei triste de vê-los tão abandonados pelo poder público (estadual e federal). Essa história é comprida e vou contá-la na minha reportagem. Não posso furar eu mesma.
Conheci muita gente bacana em Colniza. Juro que vou sentir saudades. A propósito, fiquei sabendo no final da tarde que mataram uma pessoa num desses assentamentos.

quinta-feira, 8 de outubro de 2009

Colniza

Finalmente estou em Colniza. Provavelmente a maioria das pessoas que lê este blog nunca ouviu falar em Colniza. É uma cidade de MT que volta e meia aparece na mídia como a mais violenta do Brasil por causa de um ranking em que se mediu a taxa de homicídios por habitantes. O pessoal da terra diz que a fama é injusta. Como estou aqui há poucas horas (chegamos no final da tarde depois de quatro horas de viagem em estrada de chão), não posso dar minha opinião ainda.
Só sei que estou no hotel muito simples (o mais simples em que já me hospedei em muitos anos), mas bastante familiar. O seu José, o dono, um paranaense tranquilo, veio no meu quarto ligar a TV e me garantiu que aqui não tem barata (uma obsessão minha). A roupa de cama é daquelas que nada combina com nada (fronhas, lençois de cobrir e forrar), mas estou me sentindo bastante bem. Tenho ar condicionado e internet wireless! Um luxo!
Amanhã poderei dar uma opinião mais embasada sobre o lugar. Hoje, após o jantar "no melhor restaurante da cidade", o dono e um freguês comentavam que nos últimos dias ocorreram muitas mortes na cidade. Não sei o motivo, mas uma moça que nos atendeu numa lanchonete na estrada disse que "quem procura acha". Entendi que ela quis dizer que só morre quem busca confusão.
De qualquer maneira, meu objetivo aqui é verificar o potencial do município e sentir o que as pessoas locais esperam do futuro. Amanhã, bem cedo, vou procurar a prefeita e o secretário de Agricultura na busca de encontrar bons personagens para a matéria.Tomara que eu consiga fazer um bom trabalho que justifique minha vinda até aqui.

quarta-feira, 7 de outubro de 2009

Aripuanã

Sempre tive curiosidade de conhecer Aripuanã e achava que seria impossível. Este noite vou dormir em Aripuanã no Hotel Pingo de Ouro. Tem ar condicionado, um banheiro que é um ovo, mas é simpático. Acabamos de jantar no Morena II - restaurante de uma mulher chamada Roseli, que conhecemos hoje à tarde na Vila Morena, no caminho entre Juína e Aripuanã.
Nossa viagem durou cerca de seis horas, incluindo uns 40 minutos que usamos para almoçar, numa biboca de beira da estrada, onde comemos uma comidinha boa e honesta. O começo da viagem foi tenebroso - a estrada estava péssima e quando o dono desse estabelecimento onde almoçamos disse que pra frente estava pior ficamos preocupados. Mas acho que ele exagerou. A estrada foi ficando melhor e cada vez mais bonita em meio à floresta amazónica. Caramba, estamos na Amazônia! Eu estava me sentindo como uma personagem do filme "Bye bye Brasil", de Cacá Diegues.
A partir da Vila Morena, distrito de Aripuanã, a estrada ficou bastante boa e seguimos embalados por Zeca Pagodinho, Legião Urbana, Milionário e José Rico, Maria Cecília e Rodolfo, e Vítor e Leo. Estou decorando as letras e em breve estarei pronta para ir a um show dessas novas duplas e acompanhar todos os seus sucessos. Estou me apaixonando por Vítor e Leo.
Em Aripuanã só tivemos tempo de correr até a cachoeira das Andorinhas para ver o visual do fim de tarde. Vamos voltar lá as 6h da manhã para conferir o despertar das andorinhas. O Zé (José Medeiros, o fotógrafo que me acompanha nessa viagem ao Nortão e Noroeste de MT) disse que é um espetáculo lindo. Apesar da preguiça de acordar tão cedo. não quero perder essa oportunidade. Não sei quando voltarei a Aripuanã.
Vamos procurar personagens para nossa reportagem e seguimos no horário de almoço para Colniza, encarando mais 150 km de estrada de chão. E dá-lhe Vítor e Leo, Maria Cecília e Rodolfo, Zeca Pagodinho, etc. Quem mandou não trazer os CDs de casa?
Não sei se terei conexão em Colniza. Aqui em Aripuanã, logo que chegamos, a internet não funcionou. Estamos na Floresta Amazônica!

Do fundo do coração

Enquanto aguardo meu colega José, o fotógrafo, retornar de um voo pela região de Juína, patrocinado pelo pessoal do Sindicato Rural, tento em vão afastar a sensação de angústia que me invade. Tudo está bem, mas subitamente eu me sinto inadequada e insegura.
Embora esteja acompanhada de dois colegas, eu me sinto sozinha. Acho que é a distância de casa. Fico pensando como vai ser se ocorrer de minhas duas filhas estudarem em outra cidade em 2010. Eu vou ter que me reinventar. Acho que elas são dependentes de mim, mas acho que eu sou dependente emocionalmente delas. É tão bom reencontrá-las no fim da tarde, frescas, risonhas e cheias de alegria e esperança. Eu me cobro por não ter conseguido que sejam mais organizadas e menos bagunceiras, mas sei o quanto elas são boas pessoas, têm bom coração. São pessoas do bem.
Fico angustiada por não saber sinalizar formas mais concretas de situá-las no mundo. Não basta ter boas intenções ou bom coração, é preciso fazer alguma coisa mais. Mas sei também que elas terão que seguir seus caminhos por si próprias e fazer essas descobertas sozinhas. Queria poder protegê-las mais e me sinto incapaz de fazê-lo.
Quero, entretanto, poder estar por perto para poder afagá-las sempre que for necessário e poder também receber os seus afagos.

terça-feira, 6 de outubro de 2009

Um homem de valor

Continuo em Juína, onde tive um dia cansativo, mas interessante. Em companhia de diretores do Sindicato Rural do município, visitei agricultores familiares pela manhã e à tarde andamos cerca de 80 km para visitar uma fazenda de gado. Tive uma leve ideia do que me espera, já que daqui para frente só teremos estradas de chão. Cheguei ao hotel quebrada. Acho que estou ficando velha para isso, mas gosto de viajar, de conhecer pessoas diferentes!
O personagem mais interessante que conheci foi um produtor rural de café, guaraná e mel, que, além de tudo, é músico profissional. Um senhor de uma disposição para o trabalho e a vida de fazer inveja. Comprei mel puro e três potes de guaraná em pó dos bons (dois para levar de presente para minhas irmãs no Rio de Janeiro). O guaraná de seu Rubi tem um cheiro delicioso. Como ele mesmo disse, ele tem nome de pedra preciosa e é realmente um homem de valor, daqueles que dá gosto conhecer.
A propósito, comentei com os dirigentes sindicais que tinha ficado muito impressionada com a história dos mutilados pelas serrarias da região. Eles disseram desconhecer o fato e um deles ficou de me colocar em contato com o presidente do Sindicato das Indústrias Madeireiras. Não vi nenhum mutilado na rua, mas de qualquer maneira fiquei muito mal impressionada ontem.
Amanhã seguimos em direção à Colniza, com uma passada por Aripuanã.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Tristes trópicos

Estou em Juína (no noroeste de Mato Grosso) e minha conexão está irritantemente lenta. Estou no hotel, pronta para dormir depois de rodar mais de 700 km. A viagem foi muito tranquila e sem sobressaltos. Compramos um monte de CDs piratas numa pastelaria em Jangada (quatro por 10 reais) e viajamos ouvindo uma seleção bem eclética: Zeca Pagodinho (foi o único de samba que consegui), Roberto Carlos, Michael Jackson, Legião Urbana e muita música sertaneja - algumas até legais, outras podres. Mas é melhor do que ficar olhando a paisagem o tempo todo. Não dormi um segundo sequer.
Não posso falar muito de Juína porque chegamos aqui praticamente à noite e só saímos para jantar. Amanhã vamos trabalhar de fato. Mas deu pra sentir que as coisas aqui estão muito difíceis por causa do esfriamento da atividade madeireira e do fechamento do frigorífico Independência. Me cortou o coração ver aquela estrutura toda parada.
No jantar ficamos conversando com um advogado conhecido de Cuiabá (Mato Grosso é pequeno, até em Juína a gente encontra conhecidos) e ele nos contou histórias tenebrosas de pessoas mutiladas em serrarias que entram com ações de indenizações contra seus ex-patrões. Barra pesada!
Estou curiosa em relação ao dia de amanhã e um pouco apreensiva. Já deu pra sentir que aqui não é Lucas do Rio Verde, nem Nova Mutum. Os banheiros dos restaurantes são feios, não tem papel higiênico (tive que pedir pra moça do balcão), nem assentos nos vasos. Não vi uma válvula Hidra, só aquelas descargas com cordinhas horrorosas. Daqui pra frente esse tipo de coisa só deve piorar. Segundo o José, fotógrafo e companheiro de jornada, isso aqui é o Brasil. Tristes trópicos!

sexta-feira, 2 de outubro de 2009

Vitória brasileira

Blog é momento. Se eu tivesse postado algo pela manhã falaria da conclusão do inquérito policial do caso Reginaldo, aquele vendedor ambulante assassinado a pancadas por seguranças do Shopping Goiabeiras. O inquérito policial confirma que a vítima não reagiu, não estava alcoolizada, nem drogada e foi vítima de uma violência bestial e sem qualquer justificativa. É assustadora a capacidade de ferir e maltratar dos seres dito humanos.
Eu teria falado, em seguida, de outra notícia lida no jornal (A Gazeta) sobre um espancamento sofrido no ponto de ônibus por um rapaz de 15 anos. Dois homens o atacaram com barras de ferro e impediram que outras pessoas em volta o defendessem. O espancamento só parou porque o conselheiro da escola (sim, pasmem, tudo aconteceu quase em frente a uma escola pública) ameaçou filmar tudo com o celular. Segundo a notícia, o rapaz teria sido espancado no lugar de outro que teria agredido o filho de um dos agressores. Nenhum dos agressores está preso.
Mas, como agora já sabemos que o Rio de Janeiro sediará as Olimpíadas 2016 não poderia deixar de celebrar a vitória brasileira. Ouço uma colega comentando que os recursos investidos nas Olimpíadas poderiam ser melhor empregados. Se fôssemos um país absolutamente sério, poderia ser, mas já cheguei a uma idade em que estou certa de que não é por falta de dinheiro que as coisas não acontecem. Não é por falta de dinheiro que há pessoas passando fome ou sem saneamento básico.
Portanto, que venham as Olimpíadas: empregos serão gerados, mais atletas brasileiros serão incentivados, mais gente trocará o crime por algum ideal de vida, policiais serão treinados e talvez tratem os cidadãos com rigor, porém com mais civilidade. E tudo isso acontecerá porque o COB estará de olho, o mundo estará de olho no Brasil. A esperança de ter um país mais justo, menos violento e com mais oportunidades para todos se renova. É preciso acreditar nisso.

quinta-feira, 1 de outubro de 2009

Um "tsunami" chamado Enem

Hoje não tem outro assunto a não ser o cancelamento do Enem - o Exame Nacional do Ensino Médio. Que país é este? Que lição nossos filhos estão tendo: o exame que vai "decidir" o futuro deles é cancelado quase na véspera das provas por suspeita de fraude! O detalhe é que muitos estudantes - como minha filha de 17 anos - ficaram sem férias por causa da mudança das regras do jogo no transcorrer do mesmo, já que no primeiro semestre deste ano algumas universidades como a UFMT decidiram que o Enem substituiria o tradicional vestibular, ou seja, o resultado do Enem que era um item a mais na avaliação passou a ser o único.
Com a mudança no calendário, como vai ficar a agenda de estudantes que já pagaram inscrições e estão se programando para fazer vestibular em outras cidades?
E finalmente: quem garante a lisura e a credibilidade do processo?
Tudo isso é lamentável porque, particularmente, acho o Enem uma proposta bacana que, em tese, substituiria a roleta do vestibular, mas dando uma de Polyanna - aquele personagem que persegue as mulheres da minha geração - é melhor esse "tsunami" moral do que enfrentar um tsunami de verdade como o povo da Indonésia. Fiquei chocada com o depoimento do surfista brasileiro no Jornal Nacional do ontem: ele foi obrigado a surfar a onda gigante e ainda socorreu duas crianças que pediam socorro na praia, mas relatou o desespero de outras tantas que não tinham a quem recorrer.