segunda-feira, 17 de março de 2014

Yamandu e OEMT


Foto Rai Reis
O concerto do violonista e compositor gaúcho Yamandu Costa com a Orquestra do Estado de Mato Grosso (OEMT), ao qual assisti no domingo, 16 de março, foi lindo, emocionante, arrebatador, inesquecível!
Desde o momento em que soube que Yamandu Costa iria se apresentar em Cuiabá fiquei alucinada com medo de não conseguir um ingresso, já que as entradas para os concertos da OEMT são sempre bem disputados. O preço é barato (R$ 10, a inteira), o que explica em parte o sucesso das apresentações. O fato é que a OEMT conseguiu formar um público bacana e fiel desde sua criação em 2005.
Sou apaixonada por violão e sei que Yamandu Costa é um dos mais importantes instrumentistas da atualidade do mundo inteiro. Aos 34 anos, esse ex-menino prodígio gaúcho conseguiu superar minhas expectativas. 
Ele é comunicativo (embora eu não tenha conseguido entender boa parte do que disse no palco), escrachado e se envolve de uma forma absurda com a apresentação. Como acontece com a maioria dos músicos geniais, Yamandu parece tocar violão com extrema facilidade."É uma força da natureza", como disse Marcus, um velho amigo do Rio de Janeiro.
É claro que isso deve ser fruto de muito trabalho, muito ensaio, mas o fato é que o cara nasceu para tocar violão. 
Ontem (e sábado), ele tocou composições suas: "Concerto de Fronteira" (estreia), "BachBarbaridade" e "Os Segredos da Vivência/Sarará". Interpretou também um Piazzolla ("Decaríssimo"). 
Sem o solista convidado, a OEMT apresentou "El canto de mi selva" do paraguaio Hermínio Gimenez e "Mburikao" de outro paraguaio, José Assunción Flores - duas peças muito bonitas, que evocam as raízes de quem nasceu, como eu, numa região de fronteira (Corumbá) e forte influência da música paraguaia.
Mas Yamandu era a grande atração da noite e confesso que estava ansiosa para assistir à sua apresentação. Como quase sempre ocorre quando ouço música instrumental (de concerto ou popular), fui levada numa viagem guiada por emoções despertadas pelo som do violão de Yamandu e dos demais instrumentos da OEMT (especialmente os violoncelos). 
Relembrei pessoas muito queridas da minha família que já se foram, pessoas queridas que enfrentam no momento graves problemas de saúde, antigos amores, minha vida passada e a atual, revi valores e atitudes. Como a música é poderosa!
Tento conservar essa emoção dentro de mim, mesmo que o mundo pareça igual com suas desgraças cotidianas.  Como pode um mesmo mundo produzir uma música tão inebriante quanto a do concerto deste final de semana em Cuiabá e, ao mesmo tempo, tantas tragédias, tanta brutalidade, como a morte da auxiliar de serviços gerais Claudia Silva Ferreira,  no morro da Congonha, em Madureira, mãe de quatro filhos e responsável por outras quatro crianças, assassinada com "uma bala perdida" durante um confronto entre policiais militares e traficantes, e arrastada por 250 metros pelo carro dos PMs que deveriam ajudá-la?
É claro que não tenho essa resposta e só posso agradecer pelo privilégio de ouvir Yamandu com a OEMT.
Que venham mais concertos! Não pretendo perder o concerto de abril, que terá a apresentação de uma peça do músico nordestino Danilo Guanais ("A Festa da Santidade") e participação de um coral de vozes masculinas em que se destaca André Villani (com quem trabalhei no grupo Cantorum e no Madrigal do Avesso).  O de junho, com a participação dos percussionistas Alex Teixeira e Tarcísio Sobreira (meu querido ex-aluno no curso de Comunicação que, felizmente, encontrou seu caminho profissional na música) também é imperdível.