quinta-feira, 23 de janeiro de 2020

Noite de jazz em Cuiabá




Antes de qualquer coisa quero deixar claro que este texto nada tem de imparcial. 
A noite desta última quarta-feira foi muito especial. Meu amigo Jefferson Neves, regente-fundador do Coro Experimental MT, do qual muito me orgulho de fazer parte, participou como convidado da 3ª Noite de Jazz do Fuzuê Bar e Boemia. 
O lugar é relativamente novo e extremamente agradável. Fica localizado no Centro de Cuiabá, próximo à Praça da Mandioca. 
A noite começou quente e, por prudência, reservei um lugar para mim e meus amigos debaixo do toldo. Ainda bem! Choveu canivetes e a maioria dos presentes teve que correr para se proteger da chuva, que obrigou os músicos a mudarem de lugar. 
Mas nada disso é importante. O fundamental é falar da qualidade da música que se ouviu. Jazz é jazz! 
Convidado pelo guitarrista Pedro Oleare para se apresentar ao lado dos músicos Paulinho Nascimento (baixo) e Thiago Costa (bateria), Jefferson optou por um repertório de standards, ou seja, aquelas canções que quase todo mundo conhece e que nos remete a um mundo de sentimentos e lembranças. 
O que é jazz? Não é minha intenção aqui buscar uma definição para o termo, que pode ser encontrada facilmente com as ferramentas da internet.
Para mim, jazz é improviso, é uma construção melódica e rítmica especial, que torna muito subjetiva qualquer interpretação. São poucos os cantores que ousam se apresentar dessa forma.
Jefferson tem qualidade vocal - extensão, conhecimento musical e alma - para se lançar a qualquer desafio. 
Um amigo próximo fez um comentário divertido que ouso compartilhar aqui: antes de vir ao mundo, Jefferson entrou várias vezes numa imaginária fila de talentos. O cara escreve, compõe, faz arranjos, rege corais de todos os tamanhos e ainda canta muito bem!
Ouvi-lo desfiar um repertório delicioso foi uma experiência muito agradável que adoraria repetir. Ontem a chuva atrapalhou um pouco (embora a qualidade do som estivesse ótima) e, sobretudo, as vozes do público que lotou o bar me incomodaram bastante. Admito que também conversei durante a apresentação, mas tem pessoas que falam muito alto, como se estivessem numa reunião em casa.  
Uma amiga minha (Vera Maquêa, autora da foto que ilustra esta postagem) comentou que na França ouve-se jazz como se estivesse numa igreja: todos em silêncio respeitoso.
Não sei se é possível ter isso no Brasil, mas, com certeza, as pessoas poderiam falar e rir mais baixo em respeito aos músicos que estão se apresentando. 
Eu quero bis!!! 
Não posso deixar de destacar o fato de que o Fuzuê é um lugar muito gostoso, que está com essa proposta de uma noite de jazz por semana. O bar teve problemas por causa de denúncias de som alto. Sei que esse é um assunto delicado e o problema ocorrido há duas semanas acabou motivando vários músicos a buscarem uma solução, já que parece haver dois pesos e duas medidas para se avaliar o quanto os decibéis da música ao vivo estão incomodando os vizinhos.
A noite de ontem foi tranquila e a sensação - por estarmos num lugar tão bonito, arejado, com tantos amigos e ainda por cima com uma música diferenciada - foi quase de um sonho. 
Tomara que esse sonho aconteça mais vezes.
Aproveito este post para falar de outra noite musical maravilhosa, que aconteceu no Trigória, na terça-feira. Pela primeira vez, pude prestigiar um projeto bacana que vem acontecendo desde o ano passado: uma roda de choro, que reúne alguns dos melhores músicos de Cuiabá. Na terça, estavam lá meu querido Marinho Sete Cordas, Clau Simpatia no cavaquinho, Flair no violão e no bandolim, Andrew Morais nos sopros, Mônica Campos e Raul Fortes no pandeiro e outros músicos cujos nomes não sei. Foi muito lindo ouvir novamente alguns dos meus choros preferidos, conhecer outros e, sobretudo, acompanhar a destreza dos músicos em seus instrumentos e sua paixão pelo choro, que é uma espécie de jazz brasileiro. Vale a pena conferir!

quarta-feira, 22 de janeiro de 2020

Magno Jorge


Há pessoas que passam por nossa vida de forma tão suave que acabamos não lhes dando o merecido valor. Mas, às vezes, a vida nos dá uma segunda chance. Foi o que aconteceu recentemente com o repórter fotográfico Magno Jorge. 
Conheci Magno quando comecei a trabalhar como freelancer na saudosa revista Produtor Rural em Cuiabá, em 2003. Mais velho que eu uns oito anos, já tinha os cabelos grisalhos quando o conheci e muitos anos de estrada. Mas era muito discreto, humilde mesmo, e pouco falava sobre suas aventuras do passado. E eu perdi a oportunidade de perguntar ...
Magno não ficou muito tempo conosco e seguiu seu caminho. Nas poucas ocasiões em que nos encontrávamos, era sempre muito gentil, porém não aprofundávamos nossa relação. 
Fiquei anos a fio sem ter notícias dele até que em agosto de 2019 o jornalista Rodrigo Vargas entrou em contato comigo e outros antigos colegas de Magno solicitando apoio para uma "aventura" que nos uniu até o falecimento do valente fotógrafo em 5 de novembro de 2019.
Magno tinha um câncer na laringe, estava extremamente debilitado e morava na casa de sua filha em Barra do Garças (a 500 km de Cuiabá), sem condições de arcar com um bom tratamento. Rodrigo conseguiu trazê-lo para a capital e interná-lo no Hospital de Câncer de Mato Grosso (HCanMT). 
Nesses aproximadamente três meses, Magno viveu momentos difíceis, característicos da doença, que já estava em estado avançadíssimo. Talvez pudesse ter tido uma sobrevida maior se tivesse recebido os cuidados necessários com mais rapidez e a tempo, mas o fato é que seu caso já era muito grave quando chegou ao HCanMT e foi nítido para nós, leigos, o avanço do tumor. 
No início, ele falava com dificuldade e, aos poucos, foi utilizando cada vez mais cadernos, cadernetas, pedaços de papel para se comunicar. 
Mas o foco principal deste minha homenagem tardia ao amigo foi dizer que eu me senti mais próxima dele nesses poucos meses de convivência, apesar das dificuldades de comunicação, do que em vários meses de convívio na redação. 
Várias histórias ficaram pelo meio e eu até hoje morro de curiosidade para saber mais sobre o jovem Magno. Um dia lhe perguntei sobre uma enorme cicatriz em uma das pernas e ele respondeu: "Briga de rua". 
Sei que foi boêmio demais, sei que não conseguiu guardar dinheiro para os tempos difíceis (poucos jornalistas conseguem), mas Magno conseguiu a proeza de reunir amigos, ex-colegas de trabalho, parentes que, mesmo distantes fisicamente, procuraram ampará-lo nos últimos meses.  O objetivo de todos era lhe proporcionar um pouco de conforto em meio a tantos desconfortos provocados por essa doença terrível.
Fui testemunha do esforço sobre-humano da jornalista Fátima Lessa para coordenar e manter operante o time de cuidadores que zelava por Magno 24 horas por dia.  Acompanhei também os esforços de Mário Hashimoto, grande amigo de Magno, para encontrar formas de lhe fornecer o devido suporte financeiro. 
Lamento não ter conseguido ajudar Magno a concluir as histórias que começou a escrever num caderno e que pretendia transformar num livro.
Fiquei muito feliz de descobrir que ele era coautor da música "Pantan no quintal" (mais conhecida como "Sabiá laranja"), canção composta com o amigo Antonio Carlos Lima, que foi interpretada por Almir Sater e, soube depois, gravada por Divino Albués.
"Sabia que eu fiz uma canção que Almir Sater cantou num Festival de Inverno da Chapada? Ele até mandou um abraço para mim quando estava no palco" - me contou Magno em um nossos encontros no hospital. 
Com a ajuda de uma amiga cantora (Rita Cássia) descobri que essa música tinha sido interpretada por Amauri Lobo num show ao qual assistimos. Falei com Amauri e ele não só confirmou a autoria da música, como contou a história por trás dela e aceitou meu convite para uma visita ao velho amigo Magno, que ele chamava carinhosamente de Maguinho.
Foi um momento mágico,  emocionante, daqueles que a gente guarda sempre no coração, mas que o celular ajuda a gravar também.
Quantas histórias lindas as pessoas guardam e nem sempre encontram ouvidos (os olhos) para receber!
Em novembro, eu estava na Austrália, curtindo um momento de repouso com minhas filhas Diana e Marina na grama de um parque em Sydney, quando eu me lembrei de Magno e lhes contei sobre ele. Naquela noite, quando retornei a Brisbane (a cidade onde mora minha filha), recebi via whatsapp a notícia de que Magno tinha falecido.
Coincidência? Sincronicidade?
Lamentei não estar em Cuiabá para ver e rever as pessoas que se uniram em torno de seus últimos meses aqui. Mas sabia que ele não resistiria muito tempo, pois já estava muito debilitado. 
Não sei onde está, se está, mas passei a admirá-lo e gostar muito mais dele após esse breve encontro. 
Para que mais pessoas conheçam mais sobre Magno Jorge compartilho aqui o link de uma matéria muito legal publicada no jornal Folha de SP e assinada por Dhiego Maia: 
https://www1.folha.uol.com.br/cotidiano/2019/11/mortes-uniu-amigos-e-denunciou-em-fotos-destruicao-da-amazonia.shtml

Magno Jorge é o segundo da esquerda para a direita nesta foto, entre Beto Velosa, Mário Hashimoto e Amauri Lobo. Foto de Mary Juruna.


segunda-feira, 20 de janeiro de 2020

Cuiabá tem blues e jazz, sim senhor!

Quase sempre que falo bem de Cuiabá é para me referir ao movimento musical da cidade. 
Apesar da fama de que aqui só tem espaço para o estilo sertanejo, estou sempre sendo agraciada com apresentações diversificadas e, muitas vezes, escrevo aqui sobre esses programas. Gostaria de escrever para um público maior, mas como quase não há espaço na mídia tradicional para fazer resenhas sobre shows e outros espetáculos, vou me virando como posso.
Hoje, quero falar sobre dois espetáculos aos quais assisti recentemente num espaço pouco conhecido do grande público: o Gabinete Antes do Café. Não me perguntem o motivo desse nome inusitado, pois até hoje não entendi. O Gabinete, como é conhecido, funciona numa galeria simpática na Rua 24 de Outubro, no Centro de Cuiabá, e pertence à Soraia Mourão e Juliana Albernaz. É uma espécie de bistrô, que abre geralmente para almoço.
Eventualmente, são realizados eventos culturais no horário noturno para poucos e fieis frequentadores. Por sorte e graças à dica de uma amiga, assisti na semana retrasada a uma apresentação especial dos músicos Joandre Camargo e Paula Valente, com participação especial do bluesman Mr Resner (Robson Resner). Já tinha tido a oportunidade de ouvir Joandre, violonista e cantor com carreira internacional, que de vez em quando dá o ar da graça em Cuiabá para visitar a família. Não conhecia Paula, flautista, saxofonista e líder da big band  feminina Jazzmin's, e também não conhecia Resner, gaitista e cantor. O show foi uma delícia, generoso, versátil - uma verdadeira joia rara.
No último sábado, retornei ao Gabinete para assistir a uma apresentação de blues com o músico João Fortes, que se apresentou com o guitarrista Lupe Costa e o pianista Valter Demberk. Nessa noite, o show aconteceu no interior do Gabinete para aproximadamente 30 afortunados ouvintes. Foi inebriante! Não conhecia o João, que fez sucesso recentemente no Geodésica in Blues Festival, realizado em Chapada dos Guimarães em novembro passado (eu não estava em Mato Grosso na ocasião). 
Soube que João é cuiabano de nascimento, foi criado no Paraná e viveu um tempo em Chicago, onde conviveu com grandes bluesmen
Apesar de amar vários estilos musicais (samba, rock, jazz, MPB, etc), sou visceralmente apaixonada por blues e me orgulho de ter assistido a um show inesquecível do grande BB King com sua lendária guitarra Lucile. O blues realmente mexe comigo e quem conhece um pouco a história desse ritmo associado aos negros norte-americanos e às plantações de algodão do sul dos EUA, com certeza, entende o que estou dizendo. 
Infelizmente, não consegui assistir a nenhuma edição de um projeto intitulado Blues de Terça, que estava acontecendo no finado Tampa Conveniência.
Mas não posso deixar de saudar outro projeto bacana, que começou este ano no Fuzuê Bar e Boêmia, na Praça da Mandioca: Noite do Jazz. Nesta quarta-feira o cantor, arranjador e meu queridíssimo amigo Jefferson Neves, regente do Coro Experimental MT, estará se apresentando ao lado dos músicos Pedro Oleare, Paulinho Nascimento e Thiago Costa. 
Só torço para que o projeto vingue apesar dos problemas que anda enfrentando por conta de denúncias de som acima do permitido por lei. 
Mas isso é assunto para outro post ... Não entendo por que os decibéis de ritmos como jazz, blues e outros incomodam tanto, enquanto os de música sertaneja e outros que tomam conta da Praça Popular, uma área residencial, parecem não incomodar. 



Corra, Lola, corra


Há alguns dias uma amiga de longa data que mora há décadas nos Estados Unidos me alertou para a importância de ressaltar o lado bom da vida e não reclamar tanto nas redes sociais.
Concordei em parte com ela, pois acredito que tenho produzido ou (re)produzido postagens bacanas, que nos levam a ainda acreditar na humanidade. Mas é inegável que também reclamo muito, principalmente dos absurdos do atual (des)governo federal. 
Minha amiga destacou especialmente o fato de eu quase não publicar coisas positivas sobre Cuiabá, a cidade onde moro há exatos 17 anos!!! 
Eu juro que me esforço para gostar de Cuiabá, apesar do calor (hoje mesmo a apresentadora Maju Coutinho voltou a se referir à capital de Mato Grosso como "Cuiabrasa" no telejornal Hoje) e de um sem número de problemas. Muitos deles, reconheço, são comuns à maioria das cidades brasileiras.
Nos últimos quatro dias, caminhei muito por meu bairro - um ótimo bairro de Cuiabá, diga-se de passagem - e adjacências levando a cachorrinha da minha filha Marina para passear. 
Aqui cabe um parênteses rápido para explicar a natureza desses passeios: adotada há pouco mais de um ano, Lola é o animal mais dócil e apaixonante que conheci nos últimos anos e adora passear. Acho que é um resquício de sua vida como vira-lata. Sempre levo ela na guia, porém deixo - na medida do possível - que escolha seus próprios caminhos e é muito divertido "trotar" pelas ruas dos bairros Popular, Goiabeiras, Quilombo, Jardim Cuiabá, guiada por Lola. 
Sim. não sou eu quem a guio, quem me guia é ela. E como é ligeira a bichinha!  Sempre agradeço quando chego em casa inteira porque morro de medo de tropeçar nos inúmeros obstáculos que encontramos pelo caminho.
Quando encontramos uma calçada razoavelmente segura, nós praticamente corremos. Mas, na maior do tempo, são subidas e descidas, degraus, buracos de toda espécie e tamanho.
Juro que me esforço para ver a beleza das vias que percorremos, mas Lola não me dá tempo. Para um segundo para demarcar território e, pronto, já sinto o puxão na guia novamente.
E assim vamos nós descobrindo quintais inacreditáveis, repletos de cachorros que latem desesperadamente quando veem Lola passar. Baixinha e de rabo empinado, ela raramente dá bola. Quando encontra "um colega" pelas ruas, rola sempre um ritual de cheiração e estranhamento rápido, sem muitas delongas. Lola não perde tempo com outros cachorros. O negócio dela é passear, seguir em frente. Sempre.
De vez em quando, ela para e fica meio em dúvida sobre que caminho seguir. Nesses momentos, eu intervenho.
Esta postagem era para ser sobre as coisas positivas de Cuiabá, mas acabou sendo sobre Lola, de quem estou morrendo de saudade, pois ela voltou para Primavera do Leste, onde mora com suas duas "mães".
Já que acabei falando sobre buracos e obstáculos, vou aproveitar para relatar um fato ocorrido há poucas semanas. Eu saía inebriada do show da cantora Mônica Salmaso  e do músico Nélson Ayres com a Orquestra CirandaMundo, realizado no Teatro do Cerrado Zulmira Canavarros, e não vi pequenos fragmentos de concreto deixados no chão do estacionamento. Resultado: levei um tombaço. Na hora, minha única preocupação foi me levantar rapidamente antes que alguém me visse no chão. Fiquei com o pé esquerdo (o que torceu) bem dolorido, mas já fui ao médico, tirei raio X e parece que tudo está OK. Se eu tivesse quebrado ou machucado, teria que processar a administração da Assembleia, já que é nítido que o trabalho de instalação do poste de luz do estacionamento foi mal feito. 
Mas, sinceramente, prefiro estar com o pé inteiro. Se não estivesse, como estaria levando Lola para passear pelas ruas imperfeitas de Cuiabá?

segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Mais valia

Entrei hoje numa loja de uma grande rede de drogarias em Cuiabá, por volta de 11h30. Caminhei até o fundo em busca de atendimento e uma mocinha, que estava atrás do balcão e olhava o celular, me disse que não era atendente. Não me ocorreu na hora lhe perguntar o que estava fazendo ali com uma camiseta que tinha a logo da drogaria. 
A única pessoa que poderia me ajudar estava atendendo um senhor e a conversa parecia interminável.
Mesmo assim, resolvi esperar e, alguns minutos depois, ela veio me socorrer. Comentei que aquela loja era muito grande para ter somente uma atendente. Ela me explicou que uma atendente estava de folga e a outra em horário de almoço. Ponderei que não estava chateada com ela e sim com os administradores da drogaria que, aparentemente, não estão preocupados em atender bem o público.
Sempre que entro nessas grandes drogarias, que proliferam nas capitais que nem baratas, fico me perguntando se dá tanto lucro manter estruturas tão amplas em tantos locais da cidade. Sei não.
Mas voltando à cena de hoje, a atendente foi muito gentil apesar da fisionomia cansada e, enquanto refazia meu cadastro, outros clientes foram chegando. Uma moça até desistiu quando viu que tinha outra pessoa já aguardando atendimento.
A atendente finalizou minha compra e foi comigo até o caixa. Comentei que em outras épocas havia até dois caixas funcionando nessa drogaria e agora a mesma pessoa que atendia tinha que responder pelo caixa. 
"É a mais valia" - comentou a moça. 
Trocamos um sorriso cúmplice, tímido e amarelo.
Eu me lembrei dos meus tempos de adolescente e estudante quando fui apresentada ao famoso conceito de "mais valia", ponto-chave da teoria marxista elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels. De acordo com o site politize.com.br, mais valia representa a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo trabalho. Em outras palavras, é a diferença entre o que o trabalhador recebe e o que efetivamente entrega como produção.
Em resumo, é a exploração da mão de obra, que, infelizmente, continua existindo. Hoje, o trabalhador é levado a crer que é "abençoado" por ter um emprego, já que muita gente não tem. As condições estão longe de serem as ideais, ele sofre assédio moral, sexual (às vezes), mas tem que agradecer ao patrão por lhe "dar" o salário que lhe permite sobreviver. 
Num mundo em que o termo empreendedorismo esconde muitas vezes a precarização das condições de trabalho e onde os sindicatos perderam a força (eles também têm sua parcela de culpa ao se tornarem meros caça-níqueis ou capachos dos patrões), não deixa de ser curioso ver uma funcionária de uma farmácia em Cuiabá utilizar um termo marxista para descrever sua situação.