quinta-feira, 31 de março de 2011

Sai de baixo

Hoje é quinta-feira e é bom já começar a programar o fim de semana.
Para quem mora em Cuiabá e gosta de música instrumental, a pedida é Bass family, no Teatro da UFMT, domingo, 20h.
Não troco esse show por nada e já garanti meus ingressos.
Depois de uma semana de trabalho intenso (nos textos sobre Aripuanã), vai ser bom sentar na poltrona do teatro e relaxar (não posso me esquecer de levar um casaquinho porque lá o ar é sempre polar).
Como disse num post anterior, não conheço o trabalho dos outros dois baixistas, mas sou fã de carteirinha de Ebinho Cardoso e tenho que confessar: tenho uma paixão nexplicável pelo baixo como instrumento, seja ele elétrico ou acústico (aquele contrabaixões maravilhosos).
Acho que o baixo (um instrumento que parece secundário em muitas bandas e conjuntos) tem uma personalidade interessante. Ele é sóbrio, intenso e obviamente grave. Não gosto muito de pessoas ou instrumentos muito estridentes. O baixo geralmente é assim, mas quando resolve aparecer, sai de baixo.
Dizem as boas línguas que Ebinho está deixando Cuiabá, vai morar em Boston (EUA). Tenho quase certeza de que depois dessa temporada norte-americana só teremos chance de assisti-lo raramente em terras cuiabanas. Então o jeito é aproveitar enquanto o moço está aqui. Tomara que ele se conserve humilde e sempre gentil.

quarta-feira, 30 de março de 2011

... e o pior de Cuiabá

Não era minha intenção fazer uma suíte do post de ontem, mas não resisti diante da notícia veiculada no telejornal Hoje sobre o desabamento de parte do teto da área de desembarque do Aeroporto Marechal Rondon, que não fica em Cuiabá e sim na vizinha Várzea Grande, mas que serve à capital mato-grossense. Uma vergonha, né?
Assim como é uma vergonha a água que escorre abundantemente na lateral do Hospital Jardim Cuiabá, no bairro do mesmo nome. Pensei em ir até o final da rua para apurar de onde jorrava a água que passava na entrada lateral do hospital (onde tem acesso para os consultórios médicos) e se empoçava perto da farmácia da Unimed na avenida das Flores (estava até difícil passar, sem se molhar ou escorregar). Como eu estava atrasada para minha consulta e não tinha máquina fotográfica (ou celular que tira foto com o aguerrido blogueiro Gabriel Novis Neves), não tive como registar esse desperdício do precioso líquido.
Outra vergonha é a obra mal feita na rua Estevão de Mendonça, a minha simpática rua que agora virou um caos nos horários de pico. Parece que é a única via de acesso para um monte de carros, além de passagem de ônibus e caminhôes. Pois bem, quando voltei de Aripuanã notei a declividade devidamente registrada em fotos por meu vizinho blogueiro. A cada dia a depressão aumenta mais, obrigando os motoristas a reduzir a velocidade e complicando ainda mais o tráfego no local.
É assim que "minha" cidade se prepara para ser subsede da Copa do Mundo.

terça-feira, 29 de março de 2011

O melhor de Cuiabá

Como é bom comer! Acabo de vir do coquetel de lançamento da sétima edição da revista Corpo e Arte, para a qual fiz um big frila: 13 matérias, entre artigos, reportagens e até uma entrevista com a apresentadora Ana Maria Braga.
Tinha muita coisa gostosa para comer, entre salgados e doces (hum, maravilhosos) e música boa de se ouvir, interpretada por músicos e cantores da Escola Som Maior de Cuiabá, dois deles companheiros meus do Madrigal do Avesso: Helberth Silva e Liliane Beyeler, com uma participação especialíssima da jovem Ana Rafaela.
Amanhã vai rolar a reabertura do Chorinho - o bar Choros & Serestas, que ia entrar em férias coletivas no final de fevereiro, mas teve suas férias antecipadas na marra por conta da Secretaria de Meio Ambiente de Cuiabá, que interditou o local por conta de supostas reclamações de vizinhos em relação ao som. Eu não questiono a bronca dos vizinhos e sim a forma como tudo aconteceu. Segundo os proprietários, que são meus amigos, não houve qualquer notificação ou advertência como as autoridades alegaram. Os fiscais chegaram acompanhados da PM numa quinta-feira, quando a casa estava cheia, e já anunciaram a interdição.
Para conseguir reabrir mais de um mês depois, os donos fizeram algumas intervenções no estabelecimento e tem um prazo de seis meses para se adequar à legislação.
O importante é que o Chorinho, com seus 18 anos de tradição de boa música vai reabrir, para a alegria de centenas de frequentadores e das 32 famílias que dependem do bar para viver.
Embora tenha viajando nesse período para o Rio de Janeiro e depois para Aripuanã, confesso que morri de saudades do Chorinho: dos amigos que fiz lá e que encontro sem precisar marcar, da música, dos garçons, do guardador de carros e de poder cantar meus sambas.
No domingo, vai ter um show maravilhoso no Teatro da UFMT: Bass Family, com o baixista norte-americano Grant Stinnett e os baixistas brasileiros Sérgio Groove e Ebinho Cardoso, por R$ 15 (inteira) e R$ 7,50 (meia). Não conheço os outros dois, mas Ebinho é de Mato Grosso e soube que vai alçar voos maiores em breve. É um músico maravilhoso, cujo talento notei desde a primeira vez que o escutei há uns seis ou sete anos. Tenho certeza de que o show de domingo será um espetáculo memorável, daqueles que a gente pode ouvir em qualquer lugar do planeta que tenha música de qualidade.
Resumo da ópera: Cuiabá tem coisas horríveis (como os políticos e o trânsito, por exemplo), mas tem coisas muito legais também (como os músicos).

segunda-feira, 28 de março de 2011

Reminiscências

Hoje estava pensando na aula de yoga sobre os motivos da minha felicidade no tempo em que passei no Pantanal mato-grossense no final dos anos 80/início dos anos 90.
Lá não tinha luz elétrica (só luz de motor por algumas horas), o banho era regrado porque não tinha muita água na caixa, e fazia um calor danado. Além disso, logo que comecei a ir para a fazenda tinha muita barata (enormes) e depois, durante um bom tempo, enfrentamos ratos (que roiam nossas roupas e foram combatidos com dois gatos) e morcegos (muitos, que aprendi a matar com espingarda de chumbinho). De vez em quando, aparecia uma cobra na casa e durante o dia era comum a visita de galinhas e de um carneiro muito louco. Fora os mosquitos, é claro.
E mesmo assim, como eu era feliz! Tudo bem que eu estava apaixonada e que tinha à disposição quase 24 horas um homem lindo que era louco por mim. Eu andava a cavalo, ia para o campo, tinha pouquíssimas obrigações e ... não me preocupava com contas a pagar, com o dinheiro que precisava durar até o fim do mês. Gastava pouquíssimo, não me preocupava com roupas, nem salão, e, por alguns anos  - pela primeira e única vez na minha vida adulta - entreguei o controle a um homem.
Tudo era um sonho e, como todo sonho, acabou. De repente, a receita da fazenda já não cobria as despesas; as filhas chegaram, as despesas da casa aumentaram, assim como as dificuldades para se ir para o Pantanal. Pouco a pouco, fui ficando cada vez mais na cidade (Cáceres) e construindo outra vida, um pouco menos interessante e com mais controle social. Diante das novas exigências, resolvi voltar a trabalhar e um novo ciclo começou. Na época eu não sabia, mas o meu casamento começou a acabar ali. Ou será que, por ser paixão, acabaria um dia de qualquer maneira?


domingo, 27 de março de 2011

Felicidade


 Hoje vou me meter num campo meio espinhoso: a filosofia. Ontem à noite, conversando com amigos sobre minha breve (porém intensa) convivência com o povo da floresta, a amiga questionou muito como essas pessoas que vivem na Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt podem ser felizes vivendo em situações tão precárias (sem luz elétrica, água encanada, com tanto mosquito, etc).
No meu post anterior a educadora ambiental Maria Betânia Figueiredo mencionou a questão da "liberdade". Ela também destacou a união dessas comunidades.
É claro que eu teria dificuldade de me sentir feliz lá se fosse transposta da realidade à qual estou acostumada, mas anteontem, quando eu voltava do caixa eletrônico do Banco do Brasil, onde fiz vários pagamentos, juro, eu me senti tão miserável, tão triste. Tantas contas a pagar (licenciamento do carro, seguro obrigatório, energia elétrica, telefone, condomínio, etc) para manter o meu status, o meu conforto, que nada tem de excepcional.
Eu fui criada nesse contexto e sinto que não conquistei mais conforto ao longo da minha trajetória, apenas me esforço para manter esse conforto: uma boa moradia, alimentação, um carro velho (em bom estado). Ou seja, eu vivo bem, sei que tenho mais do que muitas pessoas, mas esse pensamento mais do que me confortar me faz sentir triste pelas pessoas que não têm esse mínimo de conforto.
Talvez esteja aí a chave do entendimento: preciso parar de julgar as coisas sob a minha ótica. O que me parece terrível, insuportável, talvez não seja para o outro.
Prosseguindo: há um mês, terminei a leitura de um livro muito interessante, que se chama "Um homem mau" (autoria de Wilson Britto, publicado pela Editora Entrelinhas de Mato Grosso). Ao longo de quase 300 páginas, o autor fala sobre a busca da "plena" liberdade, paz e felicidade. Eu me propus a reler o livro para fazer uma resenha mais abalizada, mas de qualquer maneira eu me toquei há pouco que o povo da floresta que conheci tem tudo a ver com os conceitos apresentados pelo narrador do livro. Eles parecem livres, vivem em paz - sem a ansiedade e a pressão do povo da cidade - e, aparentemente, felizes. A pressão do ter, saber, poder não parece ter muito efeito sobre eles e a conquista (comida, ferramentas de trabalho, saúde, etc) tem um sentido coletivo. Ou seja, eles se sentem amparados, protegidos pela comunidade.
É claro que deve existir indivíduos que não se satisfazem com aquela situação e vão em busca de outras realidades, mas no pouco tempo que estive lá conheci pessoas que saíram, foram buscar trabalho em outras cidades e retornaram para constituir família e lutar pela comunidade, como Raimundo Nonato Constâncio de Almeida, o presidente da Associação Agro-Extrativista Resex Guariba-Roosevelt (Amorá), que foi a pessoa com quem eu mais convivi, já que viajei ao lado dele no barco durante cinco horas (somando as viagens de ida e volta à Comunidade São Lourenço). Ele nasceu na beira do rio Guariba, saiu, trabalhou em Tangará da Serra, retornou, casa com a antiga namorada, tem cinco filhos com ela (um sexto a caminho) e mora numa casa com a família na mesma "colocação" em que moram seus pais, que infelizmente não tivemos tempo de conhecer (de acordo com Raimundo, seu pai faz a melhor farinha de puba do mundo).

Raimundo Nonato, eu e o Canoeiro (ao fundo)
A vida deles, ressalto, está longe de ser um mar de rosas e até alguns anos atrás os ribeirinhos sofreram grande pressão de pessoas que queriam invadir a área. Segundo Raimundo, foi o período mais difícil que viveram, de possibilidade de confronto iminente, mas isso já é outra história.



sexta-feira, 25 de março de 2011

Sabedoria da floresta

Não consigo me esquecer do povo da floresta que conheci às margens do rio Guariba, em Aripuanã.
Agora mesmo fui resolver umas coisas aqui perto de casa e caminhei pensando no fim de semana surreal que passei por lá.
Confesso que eu não queria ter ido porque sabia que as condições da estrada estavam horríveis e olha que eu nem sabia que seria atacada por piuns. Mas fico feliz que eu tenha ido por força do trabalho para a Energética Águas da Pedra.
Mas o que eu contar aqui é que o pessoal de lá, mesmo as mulheres, quebram com os dentes a castanha que eu não conseguiria quebrar nem com um martelinho. Quando chegamos à primeira colocação, como eles chamam os lugares onde estão instaladas as casas e roças dos ribeirinhos, por volta de 14h, estávamos morrendo de fome e a primeira castanha que comi me foi dada por Adriana Santos de Freitas, professora da Escola Trilha do Saber da Comunidade Serra Azul, que a quebrou com os dentes. Estava uma delícia!
Da esq. para dir., Adriana, a filha Tamires, a cunhada Cleonice, e Valquíria (mãe de Adriana e parteira) 
Ao longo da viagem de barco até a Comunidade São Lourenço, que durou cerca duas horas, comi muitas castanhas, que foram quebradas com uma espécie de martelinho por Gi, editor do documentário que está sendo feito na região.
As castanhas, mais um montão de farinha de puba (ou farinha d'água) que alguém ganhou dos ribeirinhos, me ajudaram a matar a fome para esperar a janta servida na São Lourenço: churrasco com carne trazida da cidade, macarronada (com ingredientes que trouxemos) e peixe ensopado da região, que comi com medo por causa das espinhas.
Hoje, conversando por telefone com a ecóloga, artista plástica e educadora ambiental Maria Betânia Figueiredo, que fez um trabalho bacana em Aripuanã, como consultora da oscip GAEPAC - PRÓYBY, falamos sobre a alegria desse povo da Resex, que dispõe de tão pouco conforto e vive longe das cidades. Perguntei a ela, que passou mais tempo com os ribeirinhos, a que abribui essa alegria.
"A maior felicidade deles é a liberdade" - respondeu.
Ela mencionou outro aspecto que me saltou aos olhos: a união deles. No pouco tempo que fiquei lá fiquei impressionada, por exemplo, como todos (homens e mulheres) se dividem na tarefa de cuidar dos bebês (duas gêmeas, cuja mãe já está grávida de novo).
É um tema e tanto para qualquer filósofo, sociólogo ou pensador de plantão.


quinta-feira, 24 de março de 2011

Minha vida é um blog aberto

A frase do título não é minha e sim do meu amigo Eugênio (ex-colega da ECO-UFRJ) referindo-se à minha vida. Adorei!
Realmente, nos últimos dias, eu sabia que, pelo menos, algumas pessoas - entre amigos e parentes - estariam monitorando minha vida por meio deste blog.
Ontem li um artigo interessante no site Comunique-se falando sobre "o declínio" dos blogs diante das novas mídias sociais. A autora, cujo nome não me recordo agora, disse algumas coisas muito pertinentes e comparou essa situação ao embate entre outras mídias mais tradicionais (TV x cinema, TV x rádio). Disse ainda que o número de leitores de blogs entre as pessoas mais velhas não está caindo, pelo contrário.
Em resumo, as novas mídias, como Twitter e Facebook, atraem internautas mais jovens, enquanto os blogs continuam fascinando os mais maduros. 
Estou longe de estar entre os internautas mais jovens, e sou usuária do Orkut, Twitter e Facebook (que adoro), porém não abro mão da redação do meu blog e leitura de outros blogs. Acho que escrever no Twitter é um bom exercício, mas não dá espaço para a intimidade do blog.
Eu me policio para não escrever muito neste espaço, que considero adequado para relatos de experiências e reflexões rápidas.
Tenho usado Twitter e Facebook para divulgar meu blog, que é a minha identidade, e também para trocar de informações e fotos (no caso do Face) com amigos e pessoas da família.
Estou curtindo especialmente a interação que está rolando no grupo da família Baptista no Facebook. Minha família é imensa e espalhada e o Face está nos ajudando a nos conhecer (né mesmo, Dete?)
Da minha parte, pretendo continuar contando um pouco da minha vida aqui. Cá entre nós, tem sido uma experiência maravilhosa.
A propósito, o Madrigal do Avesso fará sua estreia em abril. Aguardem maiores informações.

quarta-feira, 23 de março de 2011

Blog de um tema só

Há dias escrevo sobre Aripuanã e suas variações, e teria muito mais a escrever. Não dá para fazer uma viagem dessas impunemente. Só hoje, por exemplo, consegui visualizar no espelho grande de casa os estragos dos piuns no meu corpo. Levei um susto! Ainda bem que não coça mais, só não posso ir à piscina. Como não estou com tempo mesmo para isso, tudo bem.
Tenho vontade de compartilhar cada detalhe com as pessoas. Minha irmã Jane sugeriu que eu escrevesse um livro. Acho que não tenho material para tanto, mas posso usar o que vi e aprendi em reportagens e num livro de crônicas de viagem um dia. Quem sabe?
O que mais me comoveu de modo geral foi a garra de algumas pessoas que conheci - brasileiros que migraram para Amazônia com o sonho de ter seu pedaço de terra e enfrentaram dificuldades enormes, a começar pelas estradas.
Não estou falando de grandes fazendeiros e sim de sitiantes como sr. Romeu, um capixaba que migrou para Rondônia e em 2002 seguiu para o município de Aripuanã.
Seu Romeu cria um tiquinho de gado e planta de tudo em seu sítio no distrito de Conselvan, a cerca de 80 km da sede de Aripuanã. É o que chamamos de um agricultor familiar, que cultiva sua terra com a ajuda de dois filhos e a mulher.
Não quero falar aqui sobre a produção de seu Romeu, que é um tema mais propício para publicações especializadas, e sim compartilhar uma das histórias que ele contou no domingo, quando visitamos seu sítio e passamos alguns momentos de boa prosa e muitas risadas. 
Quando veio para Aripuanã pela primeira vez seu Romeu trouxe o filho mais velho, na época um garoto de 14 anos, e três empregados de sua confiança. Enquanto cuidava de outras coisas, deixou os rapazes trabalhando para um agricultor da região na colheita de arroz. Quando os reencontrou (acho que poucas horas depois), segundo ele, o sangue minava dos braços e dos rostos dos rapazes por causa das picadas de piuns e outros insetos. Seu Romeu ficou tão indignado que retirou imediatamente seus meninos do trabalho.
A vida pregou outras peças nesse produtor rural, mas por alguma razão inexplicável e ele se manteve ativo e confiante. Foi tocante o entusiasmo com a qual ele nos mostrou sua plantação de café e de frutas, como melão, num final de tarde de domingo. Inesquecível.




terça-feira, 22 de março de 2011

No ar

Já estou em casa, sã e salva, de volta aos problemas e neuras habituais.
Ainda estou com a cabeça meio no ar - efeito dos comprimidos de Dramavit que resolvi tomar a partir de sábado, quando comecei a sentir os efeitos da viagem no meu estômago. Para evitar sofrer mais do que o necessário, comprei por R$ 2 uma cartela com quatro comprimidos na farmácia de Conselvan, onde conheci Marcos Dyony (foto) e seu padrasto, o dono do estabelecimento.


Marcos na varanda de sua casa, que fica nos fundos da farmácia

O Dramavit me deixou meio grogue, certamente, ajudou-me a encarar a viagem de uma forma mais zen. Consegui até dormir e sonhar enquanto meus companheiros de viagem se desdobravam para tirar uma caminhonete do atoleiro e preparar o caminho para a outra passar num dos momentos mais críticos de nossa viagem.

Como gostei da experiência, tomei mais um comprimido na volta e hoje também optei por tomar outro para encarar a viagem de volta de avião, de duração de três horas (incluindo uma breve parada em Juína para embarque e desembarque de passageiros e carga), que foi tranquila, apesar das nuvens ameaçadoras. Uma retificação: o avião da Asta comporta nove passageiros.  O espaço interno é tão pequeno que até eu, que sou pequena, tive que andar encurvada, mas o pessoal da empresa é super gentil.
Um advogado que viajava ao meu lado gentilmente me emprestou seu iPad por um bom tempo para que eu ouvisse música. Ouvi Nana Caymmi, Ivan Lins, Chico Buarque, relaxei, mas não cheguei a dormir.

"Nossa" aeronave pousando em Aripuanã

Chegamos a Cuiabá sob chuva e enfrentamos de cara ruas inundadas no trajeto. Mas foi bom chegar em casa e ser recebida por minha filha mais velha, a quem relatei alguns episódios da viagem a Aripuanã enquanto almoçávamos no Goiabeiras Gourmet, o restaurante a quilo que fica do lado de nosso prédio.
Agora vou à aula de yoga para me alongar e esticar minha coluna, que se comportou muito bem graças aos alongamentos e posturas que fiz ao longo da viagem. As marcas das picadas dos borrachudos ainda estão visíveis nos meus braços e outras partes do corpo. Amanhã conto mais sobre Aripuanã.




segunda-feira, 21 de março de 2011

Fim de semana radical

Tive um fim de semana bem diferente do convencional como vocês podem ver por essa imagem.
Saí de Aripuanã às 5h da madrugada de sábado e só à cidade depois de meia noite de domingo.
Nosso destino foi a Comunidade São Lourenço, numa reserva extrativista à margem do rio Guariba. A distância em quilômetros não foi tão grande, mas a viagem de ida nos custou cerca de 12 horas, das quais as duas últimas foram feitas num barco com motor de rabeta.
Ainda estou em Aripuanã (voltarei para Cuiabá amanhã) e estou fisica e mentalmente exausta depois de um longo dia de trabalho, colhendo depoimentos para a revista da Energética Águas da Pedra, empresa constituída para gerir a construção da Usina de Dardanelos.
O que posso dizer da minha estadia na comunidade São Lourenço (uma noite e parte da manhã seguinte)? Foi assustadora e, ao mesmo tempo, linda. Conheci pessoas fantásticas - adultos e crianças - que vivem em condições em que a maioria de nós não suportaria. Imaginem um lugar com muito mosquito, pois lá tem mais mosquito do que vocês podem imaginar.
A estadia só foi um terror porque os mosquitos de lá (uma espécie de borrachudo, conhecida como pium, que não está nem aí para os  repelentes) surpreendentemente nos deram trégua enquanto o barco estava em movimento e durante a noite. Jantamos, cantamos e nos confraternizamos com a maior tranquilidade. Dormi na rede numa casa que abriga a escola e onde é celebrada a missa, com os demais companheiros de viagem. Até que dormi muito bem, apesar dos roncos e do barulho da turma que acordou bem mais cedo.
O mais complicado para mim foi lidar com a falta de luz (ainda bem que não choveu à noite e tinha lua cheia) e banheiro (na verdade, tem uma casinha lá, mas minhas cicerones iniciais, três meninas extremamente gentis, meio que me desestimularam a usá-lo). Como fiquei poucas horas lá, consegui evitar uma visita à casinha, por motivos óbvios. Escovar os dentes à beira do rio Guariba pela manhã foi uma experiência inesquecível: os borrachudos voltaram ao ataque com força total.

Três das minhas amigas da Comunidade São Lourenço
Conheci muita gente legal, que certamente não vou esquecer jamais. Gente, como o Canoeiro, que me emprestou uma camisa de algodão branca e de mangas compridas, bem apropriada para o ambiente. Fiquei com ela até o último minuto e a devolvi antes de pegarmos as caminhonetes para retornar a Aripuanã, com uma parada no distrito de Conselvan, onde jantamos no sítio do seu Romeu. Mas isso já é uma outra história.


Genivaldo, o Canoeiro, é o de camisa branca


sexta-feira, 18 de março de 2011

Dardanelos e eu


Dardanelos: salto e parte da usina (à direita)

Consegui! Depois de várias tentativas, consegui inserir uma imagem minha tirada por Gi (colega de viagem) diante de Dardanelos. A foto foi feita ontem logo depois do almoço de um mirante situado num bar de Aripuanã.
Como estou muito cansada, não vou me alongar muito nesta postagem.
O dia foi bom, embora um pouco cansativo. O que mais me deixa doida aqui são os borrachudos que não respeitam o repelente Off. Quando me dou conta já estou com aqueles calombões. Hoje fiquei cheia de camadas de repelente, protetor solar e uma pomadinha que passo depois que o mosquito faz o serviço, mas estou sobrevivendo.
Tenho comido maravilhosamente e vou me acostumando aos poucos a meus companheiros de viagem.
Quem disse que vida de jornalista era fácil?


No coração da Amazônia

Estou frustradíssima: não consegui baixar as fotos que fiz em Aripuanã. Não sei se não trouxe o cabo certo ou se apenas sou burra. Vou tentar descobrir isso amanhã.
Hoje trabalhei muito desde cedo. Fiz muitas entrevistas com pessoas de vários setores. Meu dia de trabalho começou na Secretaria de Agricultura e terminou num Posto de Saúde da Família. Uma das entrevistas mais legais foi com um professor de História que coordena um projeto de cinema na cidade, um desses malucos maravilhosos que fazem as coisas por idealismo.
No final da tarde aproveitei que não estava chovendo para fazer uma caminhada e desci a avenida principal de Aripuanã, cujo nome não sei, para ir até o mirante da Cachoeira das Andorinhas.
Cheguei lá por volta das 6h da tarde, morrendo de medo. Fazia tempo que não sentia tanta adrenalina. O barulho da cachoeira e o mato me assustavam e, ao mesmo tempo, me atraíam. Eu não tinha coragem de voltar para trás. Vi um bichinho saindo do mato (como não enxergo bem não identifiquei o que era) e fiquei com mais medo, mas segui em frente pela trilha até chegar no mirante propriamente dito. Tinha tanto vapor da cachoeira devido ao imenso volume d`água que quase não consegui ver nada. Peguei o caminho de volta rapidinho e respirei aliviada quando me deparei com outras pessoas.
De volta ao hotel, assisti ao penúltimo capítulo da novela Ti-ti-ti que adoro e depois fui jantar com o pessoal.  Não estava muito a fim de ir, mas fiquei com medo de sentir fome mais tarde. Para minha surpresa, a noite fui agradabilíssima e eu, que estava me sentindo meio peixe fora d`água, acabei batendo um papo muito interessante com uma das pessoas da equipe.
Amanhã vamos à usina para entrevistar pessoas da Energética Águas da Pedra. Vai ser bacana conhecer melhor a dinâmica da usina construída no Salto de Dardanelos. No fim de semana vamos para a zona rural. Uma experiência pra lá de radical, considerando que estamos na Amazônia, no período das chuvas.

quarta-feira, 16 de março de 2011

Um voo muito legal

Hoje o dia foi cheio de altos e baixos. Começou às 3h30m da madrugada quando acordei na expectativa de ser apanhada pela equipe da produtora entre 4h e 4h30m. Na minha lerdice matinal, ainda não tinha tomado banho quando o interfone tocou. Faltavam 15 minutos para 4h. Por que é sempre assim? Quando a gente está adiantada, as outras pessoas se atrasam e vice-versa.
Acabei de me arrumar em menos de 10 minutos e desci antes das 4h. O pessoal me recebeu simpaticamente e seguimos para o aeroporto. O embarque aconteceu por volta de 5h45m e, apesar de meus temores, a viagem - num avião modelo C-208B Grand Caravan, monomotor, com 14 lugares - foi ótima. Chegamos a Aripuanã antes de 9h depois de uma breve parada em Juína, onde desceu uma passageira e entraram duas mulheres e um recém-nascido.
Conheci uma pessoa muito simpática no voo. Uma gaúcha de 65 anos - a única mulher a bordo além de mim no primeiro trecho da viagem - que mora perto de Florianópolis e está indo visitar amigas missionárias em Colniza, que fica além de Aripuanã. Perguntei a ela se tinha noção do que a esperava em cerca de 400 km de estrada de chão em péssimo estado por causa das chuvas. Ela sequer sabia que podia chegar em Aripuanã de avião e teve que descer em Juína porque não tinha lugar para ela no restante do voo. Mas a funcionária da Asta (a companhia aérea) ou do aeroporto de Juína que nos recepcionou ficou de ajudá-la a encontrar vaga num voo fretado para Colniza, comum nesta época do ano. Tomara que tenha conseguido.
Heloísa, minha companheira de voo, me contou muitas histórias que naturalmente não poderia contar aqui, mas o que mais me impressionou foi sua vivacidade, otimismo e fé. Ela é adepta da aplicação de heiki, uma técnica de cura por meio da energia das mãos. Contei-lhe que sou iniciada no heiki (ela já tem o terceiro nível) e que alterno fases de muito entusiasmo com outras de esquecimento total. Nosso encontro de alguma forma reacendeu minhas expectativas em relação ao heiki e lhe prometi que voltarei a aplicar.
Heloísa era tão simpática e generosa que fez questão de me presentear como uma das toalhinhas que trouxe de Santa Catarina para dar às suas amigas de Colniza.
De Aripuanã, não tenho muito a contar por enquanto. Conheci mais detalhes sobre o trabalho que vou fazer (textos para uma revista sobre a Usina de Dardanelos), meus companheiros de jornada (a equipe que vai fazer o vídeo) e visitamos a usina. Bacana, muito bacana!
Daqui a pouco vai rolar um churrasco na chácara do dono do hotel onde estamos hospedados que é também nosso motorista na cidade e um cara muito divertido. O pessoal é alegre e ri bastante. Como sou nova no grupo, às vezes fico meio tímida e me sinto meio peixe fora d`água, mas tenho fé que terei dias interessantes pela frente.
Eu sabia que esse trabalho seria uma experiência nova. É claro que preferia poder dormir esta noite na minha caminha, mas já que estamos na chuva (literalmente) é pra se molhar. A paisagem é quase sempre linda e as pessoas que tenho encontrado pelo caminho muito simpáticas.

terça-feira, 15 de março de 2011

Rumo a Aripuanã

Recebi comentários muito interessantes e pertinentes a respeito do post publicado no domingo e gostaria de dizer que eles de alguma maneira me confortaram.
É claro que continuo em dúvida sobre a minha capacidade de me reinventar, mas estou partindo na madrugada de amanhã para uma aventura diferente.
Vou fazer um frila para uma produtora de cinema & vídeo. Não é jornalismo no sentido mais estrito da palavra, mas é um trabalho que, como jornalista, estou mais do que habilitada a fazer.
Vou entrar estar em contato com pessoas diferentes em Aripuanã, no extremo noroeste de Mato Grosso, a 1.050 km de Cuiabá. Vou e volto de avião.
Conheci Aripuanã no segundo semestre de 2009 e dormi lá apenas uma noite, mas e curti muito a cidade e meu post sobre a minha estadia foi replicado num site de lá. Até recebi um email dos donos do hotel onde me hospedei e achei muito simpática a atitude deles.
Aripuanã tem uma das cachoerias mais lindas que já conheci: a cachoeira das Andorinhas e pretendo desta vez ver o espetáculo da revoada dos passarinhos em todo seu esplendor.
Se der (tem internet lá, mas na época em que visitei a cidade o pessoal disse que o sinal não era muito estável), pretendo atualizar meu blog diariamente. Também vou levar máquina fotográfica.
Hoje o dia está meio corrido por causa dos preparativos para viagem, mas só quero dizer aos que me acompanham que estou bem, pronta para o que der e vier.

domingo, 13 de março de 2011

Caindo na real

Há alguns dias escrevi um post sobre as dificuldades que venho identificando na profissão de jornalista.
Recebi comentários muito interessantes e num deles, enviado por mensagem através do facebook,  um amigo distante, que não vejo há décadas, disse que talvez eu devesse olhar mais para outras profissões antes de falar da minha. Entendi que as coisas também não andam muito fáceis em outros campos profissionais. 
Concordo que minha visão pode estar um tanto limitada.
No meu caso, misturam-se duas coisas: a falta de um trabalho que me assegure uma renda razoável a esta altura da vida e o fato de ter dedicado boa parte dela a uma profissão que considero hoje fadada ao insucesso.
Outro amigo sensível disse estar percebendo novamente uma certa dose de desânimo nos meus textos. Admito que estou desanimada. Estou tocando a vida, porém não sei exatamente para aonde. Amo minha família, especialmente minhas irmãs e filhas, e gostaria muito de ser um exemplo para minhas meninas. Mas no momento, sinceramente, acho que sou um exemplo do que não se deve ser ou fazer.
Sei que não posso me dar ao luxo neste momento de elocubrações poéticas ou filosóficas. Preciso muito ganhar dinheiro. Acho que não nasci para ser empresária, não sei valorizar meus talentos e competências, e, tampouco, investi a minha suposta inteligência num emprego público que me garanta o mínimo necessário para sobreviver. 
É engraçado: aos 17 anos, eu tinha a noção exata da importância de ter independência financeira para buscar a minha felicidade. Por que deixei minha vida saír dos trilhos? 
Faz seis meses que estou desempregada. Achei que era o momento de dar uma chacoalhada na vida e descobrir novos caminhos para mim. 
Acho que essas coisas só acontecem em filmes e romances.
Nesse meio tempo fiz vários frilas (alguns bem legais), ensaiei uma sociedade, mas na verdade fui usando a grana do meu FGTS para bancar despesas básicas e outras nem tanto. Esta semana, mesmo vou fazer um frila diferente, para uma produtora.
E agora? Está na hora de reunir o que me sobrou de valentia e encarar o touro de frente.  

quinta-feira, 10 de março de 2011

Rio, eu gosto de você

Confesso que ando meio preguiçosa para escrever. Não estou de férias (desempregada não tem férias), mas é como se estivesse.  Ando meio desligada de tudo.
Hoje descobri uma novidade besta sobre o Rio de Janeiro. Os ônibus estão mudando. A Prefeitura mandou pintar todos os ônibus de branco. As pessoas que me alertaram para esse fato estão revoltadas com a decisão.
Eu não tinha percebido porque muitos ônibus ainda mantém a pintura original, mas depois que fiquei sabendo comecei a prestar atenção e vi vários ônibus brancos passando.
É muito estranho. Sei que uma das coisas que mais marcam a cidade de Londres são os ônibus vermelhos de dois andares. Segundo um de meus sobrinhos, a maioria das cidades tem ônibus de uma cor só, mas a variedade na cor - todos à nossa mesa concordaram - não só facilita a vida de pessoas com deficiência visual e analfabetas, como também faz parte da identidade carioca.
Como imaginar o 154 da minha infância sem suas cores originais, o 434, o 157, os circulares, só para citar alguns ônibus mais familiares?
Para quem chega ao Rio pela primeira vez não faz diferença, mas para quem vive na cidade ou já viveu como eu é muito estranho.
Enfim, algum técnico ou burocrata de plantão inventou essa história (provavelmente alguém que não anda de ônibus) para justificar seu salário e pronto, lá se vai embora um pouco da história e da tradição cariocas.
Sempre que venho ao Rio ando bastante de ônibus e metrô, e de táxi, que é razoavelmente barato aqui. As pessoas que conheço ou não tem carro ou deixam o carro na garagem.
Hoje conheci uma mexicana muito simpática no metrô. Ela está morando no Rio com a família e resolveu aproveitar a folga dos filhos adolescentes para passear no Saara,  o comércio tradicional da rua da Alfândega, no Centro. Estava voltando de metrô para sua casa na Barra da Tijuca com uma amiga norte-americana e a filha (colega de seus filhos). O grupo desceu na estação General Osório em Ipanema (onde também desci) e pegou o metrô de superfície (um ônibus) para seguir até a Barra, tudo isso por R$ 2,80.
Adoro andar de metrô no Rio. No carnaval pegamos um metrô lotado de foliões fantasiados, alguns com fantasias pesadas a caminho da Marquês de Sapucaí.
Tudo isso é Rio de Janeiro - esta cidade que adoro, faça chuva ou faça sol (mas vamos combinar que com sol é bem melhor). 

quarta-feira, 9 de março de 2011

Quarta-feira de cinzas

A Quarta-feira começou com gosto de cinzas. Não bebi tanto, mas ontem comi um belo almoço numa churrascaria de Ipanema em homenagem ao aniversário da minha filha caçula. Comi regiamente e vai saber o que não caiu bem.
Fora isso, o sol finalmente deu as caras e vou encarar uma praia vespertina.
O carnaval, sinceramente, me decepcionou um pouco. Muita muvuca, muita gente na rua, mas acho que eu não estava com o espírito tão carnavalesco assim.
Cheguei à conclusão que tenho uma certa fobia de multidão (estou em dúvida sobre o nome certo da minha fobia). Sempre que me vejo num lugar cercada de gente e não consigo vislumbrar uma boa rota de fuga fico agoniada, não consigo relaxar. É o que acontece o tempo todo no carnaval do Rio: para participar dos blocos é preciso estar no meio da multidão e quando isso acontecia eu ficava ansiando por um espaço mais livre.
Posso estar enganada, mas acho que o carnaval do Rio não me pega mais, a menos que eu venha para assistir ao desfile na Marquês de Sapucaí na mordomia.
Agora quero curtir mais uns dias na cidade, revendo amigos e curtindo o clima gostoso, antes de retomar a rotina.
Hoje meu cunhado me perguntou : "Você está de férias?" Não - respondi - estou desempregada e fazendo frilas, o que me permite certa flexibilidade. Na próxima semana, se tudo correr bem, tenho um frila novo me esperando.
Mas, confesso que estou meio agoniada com essa vida de frilas. 

segunda-feira, 7 de março de 2011

Folia carioca

Estou no Rio, de novo. Estar no Rio é sempre bom, mesmo que o tempo não esteja o ideal. Mas pelo menos não estã chovendo.
Ontem, jã cheguei no meio da tarde e, de noitinha, após uma rápida passada na Praça São Salvador, onde estava rolando um som legal, mas pouco carnavalesco, pegamos o metrô (lotadaço) para o Centro. Desembarcamos em plena Cinelândia e ficamos quase quatro horas por lá, andando, curtindo o povo, à espera de blocos carnavalescos que desceriam a Avenida Rio Branco.
Achei a parte dos blocos muito desorganizada - ninguém para informar, som de má qualidade. Toda vez que avistávamos alguém do bloco Cacique de Ramos, tradição do carnaval carioca, a gente perguntava a que horas ia desfilar. As informações eram desencontradas: "Só Deus sabe", respondeu um dos "caciques".
Esperamos até depois de meia noite e vimos fragmentos do Cacique. Cinco mulheres num carro abre-alas (e uma menininha fofa), alguns índios esparsos e nada mais. Preferia ficar com a memória do Cacique da minha infância: aquele mar de índios de Ramos (os caras usavam "cabelos" compridos como apaches norte-americanos, bem típico dos anos 60, e batiam tamancos de madeira que levavam nas mãos).
Mas, fora essa decepção, foi legal ver o carnaval pacífico do Centro do Rio. Muita gente fantasiada, blocos e blocos de pessoas com as fantasias mais elaboradas. Chamou minha atenção um grupo de mariachis e de cawboys saídos do desenho animado Toy Story, além de muitos Clóvis.
Não vi um tumulto sequer em todo tempo que estive lá. O pessoal passa, mexe, mas só isso. Tinha muita família, bebês em carrinhos.
Hoje, daqui a pouquinho, vou a um bloco diferente que só toca música dos Beatles em ritmo de samba. Pra começar. Depois conto mais.

sexta-feira, 4 de março de 2011

Lamaçal

Acabei de ver imagens tristes do povo nas estradas que vão para o extremo noroeste de Mato Grosso. A TV Centro América (afiliada da Rede Globo) enviou uma equipe de reportagem (gente valente!) e exibiu reportagens nos telejornais do dia mostrando o drama de quem tem que enfrentar os atoleiros nas estradas estaduais que ligam Juína a Aripuanã e este município a Colniza.
Na verdade, é um eufemismo falar em "atoleiros". As estradas são um mar de lama e crateras praticamente intransitáveis. Para mim, faltou o repórter mostrar o veículo utilizado pela equipe para superar obstáculos que parecem intransponíveis.
Algumas pessoas foram entrevistadas: motoristas de caminhão e ônibus, e passageiros. É estranho que eles falam da situação com uma certa resignação, sem raiva. A reportagem mostrou até uma mulher que passou por uma cirurgia e está viajando num desses ônibus.
Faz duas semanas que a TVCA fala em municípios desabastecidos por conta da dificuldade de tráfego nas estradas. O municipio responsabiliza o governo pelo estado das estradas e o governo ora diz que mandou recursos para o município arrumá-las, ora diz que está mandando patrulhas para resolver o problema.
Mas não aparece um representante do governo, da Secretaria de Infra-estrutura falando alguma coisa decente. O que me aborrece mais é saber que o governo Blairo Maggi e de seu vice Silval Barbosa (seu sucessor) gastou uma fortuna em equipamentos (o tal escândalo do maquinário) a serem entregues aos municípios justamente para conservação das vias públicas.
A história por conta do suposto superfaturamento das máquinas virou uma confusão e, sinceramente, tenho que confessar que nem sei se os equipamentos foram entregues a quem devia. Sei que o dinheiro (superfaturado ou não) não voltou aos cofres públicos.
No final de 2009, percorri essas estradas (pouco antes do período intenso de chuvas) a serviço da revista Produtor Rural. Na época não enfrentamos problemas de atoleiro (só demos uma atoladinha na volta de Colniza), mas dava para imaginar o terror que seria enfrentar aquelas estradas sob chuva.
Conheci pessoas bacanas ao longo da viagem (donos de restaurantes à beira da estrada, assentados, produtores rurais).  É nelas que penso com compaixão especial quando vejo esses municípios praticamente ilhados. Municípios com pouquíssimos recursos em termos de médicos e hospitais em que vários dos entrevistados falaram sobre as dificuldades enfrentadas no períodos das águas. A parcela mais rica da população sempre pode recorrer ao recurso do avião, mas o que dirá da parcela mais pobre, que prevalece nesses municípios?

quinta-feira, 3 de março de 2011

Folia carnavalesca

O carnaval já começou pra muita gente. Confesso que não estou assim animadíssima para a folia, mas pretendo ficar.
Desembarco domingo no Rio de Janeiro em plena folia e vou me integrar ao bloco das Baptistas - eu e minha caçula que vai chegar de Jaboticabal (SP) e fará 19 anos em plena Terça-feira Gorda. Acho que vai ser gostoso.
A mais velha acabou de embarcar num ônibus com mais três amigos rumo a Sinop (cerca de 500 km ao Norte de Cuiabá) onde um dos amigos faz faculdade. Foi animadíssima como sempre.
É engraçado esse lance de carnaval. Sou de uma família de gente que adora carnaval. Minhas irmãs mais velhas e meu único irmão sempre adoraram carnaval, que era animadíssimo - e ainda é - em Corumbá, nossa cidade natal. Meu pai gostava de carnaval (contam que ele estava num baile quando uma das minhas irmãs nasceu). Não sei se minha mãe gostava muito de carnaval.
Quando eu era pequena, amava carnaval. Tanto gostava de ir para as matinês do Fluminense, no bairro carioca das Laranjeiras, quanto passear no Centro do Rio (principalmente na avenida Rio Branco) com meu cunhado César. Ver os blocos de sujo, os desfiles de blocos como Bafo da Onça e Cacique de Ramos (até hoje me emociono quando me lembro daquele mar de gente fantasiada de índio com os tamancos de madeira nas mãos).
Quando cheguei à adolescência, curtia os carnavais nas cidades do interior: Barra Mansa, Cabo Frio, Ubatuba, Guarapari. Mais tarde, deixei de curtir carnaval e o feriado era aproveitado para fugir para uma praia ou uma cidade serrana. 
Nos últimos anos que morei no Rio, carnaval foi sinônimo de trabalho: quatro ou cinco anos seguidos fui para Marquês de Sapucaí acompanhar os desfiles das escolas de samba. Era bom, mas era puxado. Virar duas noites seguidas e ainda ir para a redação na quarta-feira para escrever tudo era uma experiência bem radical. Deixou saudades.
Depois que mudei para o interior de Mato Grosso, voltei a curtir carnaval de clube. Hoje mesmo estava me lembrando como era bom tomar escaldado de madrugada na saída do baile.
Após a separação, tenho alternado carnavais gostosos e outros nem tanto. O deste ano deverá entrar para o rol dos carnavais que deixam saudades. Amanhã já começo a esquentar na Praça da Mandioca com o bloco Imprensando o Bebum, organizado pelo Sindicato dos Jornalistas de Mato Grosso.
Se der, em meio à folia, vou contando as novidades no blog.

  

quarta-feira, 2 de março de 2011

Lamento

Hoje estou tão cansada que estou até com preguiça de ir ao ensaio do Madrigal do Avesso. E olha que amo cantar!
Vou ver se tomo um banho, faço uma posição invertida (da yoga) para recuperar as energias.
Tive que dirigir bastante (o que me cansa muito), fui a vários lugares, fiz algumas entrevistas e no meio de tudo isso resolvi problemas de trabalho e domésticos.
Acordei às 6 para dar conta do que precisava fazer e tive uma grande alegria: tive em mãos por alguns minutos o resultado de um trabalho longo que há dois meses parecia impossível de ser concluído. É bom fechar os processos. Fiquei feliz.
Por outro lado, quando saía de uma entrevista na UFMT (que foi muito agradável), me deu um certo banzo. Conversando sobre a valorização de outra profissão (objeto da minha reportagem), eu me dei conta de quanto a minha está desvalorizada.
Quero voltar a esse tema com a cabeça mais descansada, mas é fato: nunca pensei que veria a profissão de jornalista tão desvalorizada. Minhas filhas nem pensaram em seguir jornalismo, mas se tivessem num momento de decidir carreira hoje e me pedissem opinião acerca da minha, eu as desestimularia a seguir meus passos.
Qualquer profissão é digna e vale a pena se for o que você ama fazer, mas o jornalismo não está valendo a pena. Digo isso com pesar, mas é o que sinto.
Ou então, sou muito incompetente, mas desconfio que não sou.

terça-feira, 1 de março de 2011

Maternidade

Todo mundo fala tanto de amor, pois eu quase não falo de amor neste espaço, pelo menos de uma forma tão explícita.
Sempre tive muito medo de amar. Freud explica? Medo de perder, de ser rejeitada, de me decepcionar. Meu novo "guru", Wilson Britto, em seu livro "Um homem mau", diz: as pessoas não nos decepcionam, a gente é que espera coisas delas que elas não estão preparadas ou dispostas a nos dar.
É tão simples essa mensagem e mesmo assim a gente foge dessa verdade como o diabo na cruz. Como sempre tive um alto padrão de exigência,  sempre tive tendência a idealizar demais o objeto do meu amor, seja um amigo, um parceiro sentimental ou mesmo um membro da família. A recíproca dessa postura é: tenho que ser perfeita para que a outra pessoa continue me amando. Missão impossível.
Ultimamente um pensamento meio triste vem me perseguindo: nunca mais vou conseguir amar outro homem como amei os homens do meu passado ... Mas isso é um outro assunto que merece uma reflexão mais profunda.
O que quero dizer agora é que amo perdidamente minhas filhas. Às vezes sou exigente demais com elas, outras, complacente demais. Como é difícil encontrar esse equilíbrio!
Ontem minha filha mais velha voltou de viagem. Ela chegou doentinha, com problemas que acredito que devem se resolver hoje naturalmente, e como foi gostoso poder me dedicar um pouco a ela. Ser mãe. Vivenciar em meio a outros afazeres e preocupações o simples - e, ao mesmo tempo, complexo - ritual de ser mãe.
Eu tive uma mãe maravilhosa, dedicada, amorosa e agora tenho filhas maravilhosas. Será que posso me queixar de alguma coisa?