sábado, 27 de outubro de 2018

Pra não dizer que não falei de eleições



Há vários dias planejo escrever sobre as eleições para a Presidência. Tenho lido tanto sobre o assunto, conversado bastante e acho até que tudo que eu disser será supérfluo, já que nesse momento a maioria das pessoas já decidiu em quem vai votar – ou em quem não vai votar.  Portanto, amigo, minha intenção não é fazer sua cabeça. Só quero expressar minha opinião neste momento tão crucial da nossa frágil democracia.
Eu tinha oito anos quando aconteceu o golpe militar, em 1964. Minha família foi favorável à intervenção militar naquele momento e eu não sei dizer exatamente em que momento e por que logo passei a associar os militares ao medo, ao terror, a torturas, ao que havia de pior no ser humano. Já adulta, acompanhei como jornalista alguns momentos da vida política do país em que a repressão policial se fez presente. Eu vi policiais militares arrebentando com cassetete a cabeça de parlamentares num ato em defesa da antiga sede da UNE na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e tive muito medo quando me vi em meio a policiais que atiravam em manifestantes. Como jornalista, acompanhei a visita a presos políticos e a volta dos anistiados; assisti ao comício das diretas já na Presidente Vargas. Foram momentos incríveis, que me encheram de esperança. Escutei e registrei nas páginas da revista Veja o depoimento de um militar reformado que foi o primeiro a denunciar a farsa criada pelo Exército para mascarar o assassinato por espancamento do deputado Rubens Paiva, no Quartel da PE, na Tijuca.
Nos últimos dias tenho sentido muito medo de perder tudo que conquistamos: a liberdade de expressão, a mobilidade social.  É claro que não tenho o país que gostaria, com segurança pública, saneamento básico, condições básicas de saúda para todos, mas ainda sim é um país viável.
Tenho me esforçado ao máximo para compreender as razões das pessoas de quem gosto que votam no candidato do PSL, mas não consigo. Tá, mas eles também não entendem como uma pessoa “inteligente”, bem informada como eu, vota no candidato do PT. Desde o primeiro turno, tenho dito que se o segundo turno fosse entre Alkmin e o 17, votaria no Alkmin. Se fosse Marina, Amoedo, até o Meirelles, eu votaria #elenão. Nem falo no Ciro porque foi minha escolha no primeiro turno.
Não voto no Haddad iludida ou acreditando que teremos a partir de 2019 o Brasil feliz de novo. Acho que, independentemente dos resultados das urnas neste domingo, enfrentaremos tempos difíceis. O mundo está complicado. Mas, de alguma forma, tudo que aconteceu me levou a perceber melhor a realidade, é como se muitas máscaras tivessem caído e eu mesma estivesse percebendo as minhas máscaras.
 Houve um dia que ficou claro para mim o quanto interessa a algumas pessoas a nossa divisão, que a gente discuta, brigue, se agrida por causa de política, de futebol, opção sexual, cor de pele. Então, estou me esforçando para ser tolerante, para tentar aceitar o outro, compreender seu ponto de vista, mas também quero e espero que ele aceite o meu.
E por mais que eu me esforce não consigo entender a opção por um candidato que não apresenta propostas, só destila ódio, muda de opinião como quem muda de camisa e cuja eleição levaria ao poder pessoas do naipe de um Alexandre Frota.
Minha opção é pela educação como caminho para a transformação, pela compaixão, por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Paulinho da Viola (meu quarteto fantástico), pela poesia, mas é também por saneamento básico, justiça social, oportunidade iguais para todos. E, com certeza,  não é pela violência e pela tortura como política de estado. 
Por isso, amanhã votarei 13 com convicção e esperança de um país com mais tolerância e harmonia. A corrupção é um mal, mas tenho certeza de que não nasceu com o PT. Esperávamos mais do partido? Claro. Mas acho mais possível melhorar o sistema com Haddad do que com o outro candidato, que até hoje só se beneficiou de tudo que ele diz querer mudar.



domingo, 30 de setembro de 2018

Merlí



Acabei de assistir a um episódio especialmente bom da série “Merlí”, da Netflix.  Chorei até. Para quem nunca viu, trata-se de uma série cujo cenário principal é uma escola pública de Barcelona, onde o protagonista é um professor de filosofia, Merlí Bergeron, um cara irreverente, surpreendente e que sempre se mete onde não é – e onde é – chamado. 
Cada episódio tem como título e tema condutor um filósofo, cujas ideias principais servem de pano de fundo para os acontecimentos envolvendo professores e alunos. O episódio ao qual me referi foi dedicado a Kierkegaard e o tema principal foi a morte, mas também o fato de todos nós errarmos. Acho que é isso que mais me agrada na série: todos erram, inclusive Merli. Amizades são desfeitas e refeitas, antigos inimigos se tornam aliados. Na vida também é assim, mas é difícil para nós admitirmos nossos erros e, eventualmente, pedirmos perdão. 
Os políticos também são seres humanos, mas por conta do ego, da sede do poder, eles querem nos fazer crer que são mitos, paladinos da justiça ou coisa parecida. Não são. Apenas, a maioria deles tem mais cara de pau do que nós, meros mortais.

segunda-feira, 17 de setembro de 2018

Overdoze no Sesc Arsenal



Em meio à tensão da atual campanha presidencial, vivi momentos de imenso prazer no Sesc Arsenal, em Cuiabá, na quentíssima noite de sábado passado. 
Acontecia a programação do Overdoze - evento realizado como fechamento de Guaná 2018, Aldeia de Arte e Cultura. Afora a pouca divulgação de um evento de tamanha grandiosidade, só tenho elogios para o Overdoze deste ano.
Minha intenção inicial era assistir à apresentação da dupla Vera e Zuleika, artistas consagradas que raramente têm pisado num palco nos últimos anos, embora estejam quase sempre presentes nas plateias dos espetáculos realizados na capital mato-grossense. Detalhe: soube do show por indicação de uma amiga.
Como essa apresentação estava marcada para as 22h30, resolvi conferir o que aconteceria antes. Decidi ir às 20h30 para assistir aos shows de Luth Peixoto e banda, e da amiga Deize Águena. Ficaria para a apresentação de Vera e Zuleika e voltaria para casa. Pois, acabei deixando o Sesc depois das 2h da madrugada e ainda corria solta a incrível apresentação de Nega Lu e banda. Fui vencida pelo cansaço.
Adorei o show de Luth Peixoto, cujo talento aprecio desde que ele era atração fixa no saudoso Tom Chopin. Luth também é autor e fez uma apresentação vibrante e contagiante.
Em seguida, Deize, Rita de Cássia, Rusível de Jesus, Mônica Campos e Nilson Brito nos deliciaram com sambas memoráveis.  Peço desculpas se esqueci de mencionar algum músico.
Vera e Zuleika já subiram ao palco "causando". Que força têm essas "meninas" no palco! Em companhia de músicos excelentes (Rusível de Jesus no violão, Fidel Fiori no baixo e Josué de Carvalho na percussão), elas arrasaram com a originalidade de suas canções e vozes. Espero que não demorem tanto para se apresentar novamente.
Resolvi aguardar o show de Nega Lu, mas não sabia o que aconteceria em seguida. Rolou o som do Zabumba Beat, forró da melhor qualidade produzido por músicos de Mato Grosso. O tempo passou rápido! 
Logo depois subiram ao palco os três músicos do Trio Trinca Brasil de Brasília. Não tinha informação alguma sobre eles (e continuo sem ter, a propósito) e me apaixonei. Foi a grande surpresa da noite para mim. Eu amo música instrumental e os caras são músicos excepcionais. Gaita, violão e bateria se revezando em solos e arranjos que fazem bem à alma e nos fazem esquecer a maré de ódio e imbecilidade que varre este país. "Ponteio", "Trenzinho do caipira" e outros "clássicos" se juntaram a músicas autorais num repertório delicioso que proporcionou quase uma hora de êxtase, sentada na grama do jardim do Sesc Arsenal. 
A noite já estava menos quente e aí Nega Lu e seus músicos subiram ao palco apresentando repertório autoral. Dona de grande voz, Nega Lu me surpreendeu com a qualidade de seu trabalho, mas como disse antes eu já estava exausta e não consegui ficar até o final. Poucas pessoas ficaram e dava para perceber que havia muitos amigos e parentes da própria cantora, que é de Rondonópolis.
Imagino a loucura que deve ser organizar uma programação iniciada às 14h, mas eu questiono se o público de Cuiabá tem esse pique para acompanhar uma maratona de shows que vai até tão tarde. Fiquei um pouco triste vendo Nega Lu e seus músicos se apresentando para meia dúzia de gatos pingados! 
O público do Sesc Arsenal é bem família. A gente vê muitos pais com filhos, que aproveitam as atrações para o público infanto-juvenil e acabam voltando para casa razoavelmente cedo. Mas muita gente não tem o hábito de frequentar o espaço, sobretudo num horário mais tardio, até porque o Sesc Arsenal costuma fechar antes de meia-noite, ou seja, não há essa cultura de ir lá mais tarde. O lugar é lindo, a comida boa e barata, mas, na minha opinião, ainda carece de divulgação para um público mais amplo, sobretudo em ocasiões especiais como o Overdoze.
Em resumo, gostaria que mais gente tivesse aproveitado a oportunidade de apreciar tantos talentos e música de tão boa qualidade.
PS. Fotos gentilmente cedidas por Maria Teresa Carrión Carracedo, que me alertou sobre o show de Vera&Zuleika no Overdoze.




sábado, 11 de agosto de 2018

Coro Experimental apresenta Canção Postal

Foto Junior Silgueiro

Chegou o dia de apresentarmos "Canção Postal" - novo espetáculo do Coro Experimental MT.
Vi várias manifestações nos nossos grupos de whatsapp e não resisti à tentação de ressuscitar este espaço para compartilhar um pouco dos meus sentimentos.
Sobre o espetáculo em si e a história do grupo, várias matérias foram publicadas e vou usar esta como referência. 
Mas eu me permito ser mais subjetiva aqui. Disse há um ano que cantar nesse coral foi uma espécie de redenção, um resgate para a vida num mundo que considero bem conturbado. Atravessávamos - e ainda atravessamos - um momento especialmente complicado, com muitos embates (nada proveitosos), muita raiva, preconceito, egoísmo e pouca compaixão.
Cantar, para mim, foi uma espécie de remédio, uma maneira de me fazer presente, visível numa fase delicada da vida, em que as filhas crescem, seguem seus caminhos e se tornam menos dependentes (ainda bem), e algumas pessoas ao redor insistem em apontar o dedo e te colocar uma etiqueta: idosa.
Mas como idosa, se ainda tenho vitalidade, disposição, planos e sonhos? Vontade de amar, ser amada, viajar, descobrir novas pessoas. 
Cantar abre uma espécie de janela no coração da gente. Não é só a garganta que conta e que canta. É tudo. É corpo, é cabeça (para memorizar tanta letra, tantas notas e tantos ritmos), é coração.
Agradeço a cada colega que está ao meu lado no Coro Experimental, agradeço ao Gilberto Nasser por ter visto em mim um talento que desconheço e, é claro, ao Jefferson Neves, o regente mais incrível e ousado que conheci.
Diante disso, quero apenas convidar os amigos e as pessoas que  conhecem apenas a Martha jornalista e escritora para me ver junto com o Coro Experimental hoje e amanhã no palco do Cine Teatro Cuiabá. Críticas serão bem-vindas, é claro, mas os aplausos serão ainda mais especiais.  Venham de coração aberto para curtir o canto coral, uma prática apaixonante e cada vez mais acessível a todos.

domingo, 25 de março de 2018

Saudade

Sou uma pessoa muito sortuda. A vida me deu muitos irmãos e, com a maioria deles, tive (e ainda tenho) uma relação de quase filha por ser temporã.
O lado ruim disso é que, aos poucos, eles se vão. Em 1987, perdemos Zezinho, o único homem de uma prole de mulheres. Em 2013 (no dia 26 de março), perdemos July; em 2014, Jandira; em 2015, Anna Maria. 
Tivemos três anos sem perdas e ontem Lila se foi. "Ela descansou" - foi o mantra repetido por todos na família como consolo. Aos 95 anos muito bem vividos, ela sofria nos últimos meses com dores e muita falta de ar. 
A gente sentia que ela estava se apagando e eu queria, neste momento, ter a fé de muitos de meus sobrinhos e poder dizer que Lila está melhor agora, por ter reencontrado as pessoas que amou durante a vida e que se foram antes dela.
Longe de mim questionar a fé dos demais. Só quero neste momento prestar minha homenagem pública a essa irmã, cuja história sempre me intrigou quando eu era pequena. Era minha irmã, mas chamava minha mãe pelo nome? Aos poucos, pude compreender melhor, já que Lila tinha 10 anos quando minha mãe, uma jovem de 16 anos, se casou com meu pai, um homem experiente, de mais de 30 anos. 
Na minha infância, Lila morava com a família em Campo Grande e nossos contatos não eram frequentes, já que mudei com meus pais e irmãs solteiras para o Rio de Janeiro quando eu tinha dois anos. 
Posso dizer que conheci Lila realmente quando eu já estava moça e passei alguns dias com ela e Norberto, seu querido marido, em Campo Grande e na fazenda, nos anos 80. Foi tão gostoso! O casal me acolheu com tanto carinho, apesar de ser muito católico e conservador, e eu estar com o meu companheiro sem ser casada no papel ou na igreja.
Nessa oportunidade, pude conhecer melhor a história de Lila e me apaixonei perdidamente por ela. 
Depois disso foram muitos os nossos encontros. Ela era alegre,  elegante, muito gentil, uma verdadeira lady. 
Após a morte de Norberto, a gente ainda se encontrou várias vezes, no saudoso encontro da família Baptista realizado em Campo Grande, em 2011, e em outras ocasiões festivas, em que ela nos brindava com sua alegria, a vontade de dançar e celebrar a vida, a família, a nossa união.
A palavra que mais me vem à mente enquanto falo dela é "querida". Era como Norberto se referia a ela, num amor infinito e incondicional.
No final de janeiro, fui visitá-la em Campo Grande e saí da casa de sua filha Maria do Carmo com a sensação de que não a veria mais. Eu me senti extremamente honrada por ter sido recebida por ela com tanta alegria.
"Diz que tem alguém que veio de Cuiabá me visitar" - disse-me, faceira, por telefone antes de nos encontrarmos.
Embora ela já estivesse adoentada, conversamos muito, demos risadas e eu me atrevi a gravar alguns trechos de nossa conversa coletiva. Algumas passagens me comoveram muito. Ela me contou que não sabia como iria chamar a esposa de seu pai e nossa avó Maria do Carmo, que a criava, sugeriu que chamasse pelo nome (Nilzalina), já que era muito jovem para ser sua mãe.
Muitas décadas me separam dessa irmã mais velha e longeva, que viveu em outros tempos, enfrentou outros desafios, e que era uma referência para todos nós, Baptistas mais jovens. Lila deixa muitas saudades como Zezinho, July, Jandira e Anna Maria. 
Agora somos apenas três de uma irmandade em que, apesar das diferenças de idade, pensamento, crença, sempre houve - e haverá - muito amor. 
Obrigada, Lila, por fazer parte de nossa história e por tudo que você nos ensinou. 
 PS. Peço licença à Maria do Carmo, Mônica e Consuelo para publicar esta minha última foto com Lila, tirada em 28 de janeiro de 2018. No sábado, dia de nosso primeiro encontro, ela foi ao salão para lavar o cabelo e fazer escova.

segunda-feira, 19 de março de 2018

Maria Madalena


Assisti ontem ao filme "Maria Madalena", do diretor australiano Garth Davis. Como já fui aguardando um filme lento - por conta de comentários ouvidos -, não me chateei com o ritmo do filme. 
Pelo contrário, eu me deliciei com a paisagem, a trilha sonora de Johann Johannsson, que morreu em fevereiro passado, antes mesmo da estreia do longa; a interpretação dos atores (especialmente, Joaquin Phoenix e Rooney Mara), baseada em troca de olhares; os diálogos plenos de simbologia.
Quase tudo que diz respeito à história de Jesus Cristo é fruto de versões criadas a partir de testemunhas da época, entre eles, obviamente os quatro evangelistas: Lucas, João, Mateus e Marcos.
Como fui criada num ambiente católico, frequentei colégios católicos e a Igreja católica por muito tempo até perder a minha fé, aos 17 anos. Depois disso, juro que tentei seguir alguma religião, mas até hoje não consegui recuperar minha fé em Deus, embora não me considere uma pessoa ateia. 
Disse isso para justificar por que sou relativamente aberta a novas versões da história desse homem que transformou a história da humanidade. 
Os acontecimentos narrados no filme "Maria Madalena" subvertem a história tradicional (que ouvi desde a infância), que apresentam a personagem como uma prostituta que se arrependeu de seus pecados por amor ao Cristo. Essa versão justifica expressões como Madalena arrependida e é fruto do machismo da época. 
Chega a ser engraçado falar em "machismo da época" num momento em que ainda se defendem direitos iguais para homens e mulheres em pleno século 21, e um candidato à presidência aqui mesmo no Brasil afirma que mulheres deveriam ganhar menos que homens.
No filme de Garth Davis, Maria é uma moça que vive num clã familiar, numa aldeia à beira de um lago (ou à beira-mar), que seria a origem de seu segundo nome (Magdala). Ela não aceita o casamento arranjado pela família e tem um poder de persuasão e de acalmar as pessoas, expresso numa das primeiras cenas do filme.  A recusa ao casamento faz com que logo receba a acusação de estar possuída por demônios.
Para sua sorte, Jesus passava por sua aldeia e ela acaba decidindo segui-lo como outros discípulos, contrariando a vontade da família e até de outros discípulos como Pedro.
Há passagens lindas no filme, outras meio dúbias, mas é claro que não pretendo contar tudo. O Jesus interpretado pelo ator Joaquin Phoenix é humano por demais, demonstra raiva, medo, confusão ... É também estoico, forte, apaixonante. 
Judas também tem uma participação forte no filme, que foge aos padrões do traidor que entregou Jesus aos romanos em troca de dinheiro.
Li uma crítica no jornal El País que diz ser possível pegar no sono várias vezes no caminho do Messias a Jerusalém. Achei engraçado e exagerado, mas "Maria Madalena" não é um filme para todos. 
Não sei se por conta do momento atual - a recente execução da vereadora Marielle Franco e uma onda de obscurantismo que invade o país -, mas posso dizer que eu me emocionei em vários momentos do filme, e saí do cinema tocada por ele e pela mensagem de amor, compaixão e misericórdia passada por Jesus e Maria Madalena.

sexta-feira, 16 de março de 2018

Por quem os sinos dobram




Nas últimas horas foi difícil pensar em outra coisa que não fosse o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro. Eu me envolvi em debates, me decepcionei com algumas pessoas relativamente próximas que insistem em não compreender a diferença entre uma execução (os algozes de Marielle nem tentaram disfarçar isso) e o rol de mortes brutais de pessoas em meio à violência que brutaliza minha cidade do coração (o Rio de Janeiro).
Poemas foram escritos para louvar a luta de Marielle, charges emocionantes foram feitas. Milhares de pessoas foram ao seu velório na Cinelândia, no Centro do Rio; outras tantas homenagearam Marielle e o motorista Anderson em várias cidades no Brasil e no exterior. 
Até agora, não temos ainda os nomes dos responsáveis pelo crime cometido numa capital sob intervenção federal. Diga-se de passagem que essa intervenção era questionada por Marielle. 
Na minha cabeça misturam-se dezenas de fatos recentes: a execução da juíza Patrícia Aciolly que condenou PMs do batalhão de São Gonçalo, um dos mais violentos do Rio. A política de pacificação das favelas que deu certo em algumas comunidades e foi um fracasso em outras. A entrevista do traficante Nem da Rocinha, publicada esta semana no jornal El País, onde ele defende a legalização das drogas para acabar com o tráfico.
Mas é inegável que a população mais pobre é a que mais sofre com tudo isso. Abandonada à própria sorte, ela fica refém do tráfico e acuada pela polícia. 
Há uma banda podre na política fluminense (e de boa parte do país) que se locupleta com os lucros do chamado crime organizado. A quem interessa essa violência toda? Quantas empresas de segurança, fabricantes de arma ganham com o medo instaurado nos bairros de classe média e alta? Interessa acabar com tudo isso?
.Hoje, não tenho respostas. Só perguntas e muitas dúvidas. 
Não conhecia Marielle, uma liderança jovem, e obviamente não votei nela, mas respeito sua luta, sua força e lamento muito a sua morte, assim como a de Anderson, seu motorista naquela noite.
Que estas mortes não tenham sido em vão, como tantas outras! 
É difícil viver num país sem esperança e sem compaixão. onde a gente não consegue mais acreditar em ninguém e se choca ao saber quão duro e indiferente pode ser o coração de um colega ou mesmo de um parente.
Por isso, depois de muito me indignar, escolhi a frase tirada do livro "Por quem os sinos dobram" de Ernest Hemmingway para dar título a este post. 
"Não me pergunte por quem os sinos dobram
Eles dobram por ti".
Hoje eles dobram por Marielle e Anderson. Amanhã??? Podem dobrar por mim, por ti, por nós.

quarta-feira, 14 de fevereiro de 2018

Carnaval em Vila Bela da Santíssima Trindade


Meu carnaval foi muito bom e diferentão. Na madrugada de sábado (às 4h) eu estava acordada e, antes das 5h, minha carona passou (Amarília, que eu nem conhecia, teve a delicadeza de me pegar em casa). Seguimos rumo ao posto da PRF no Trevo do Lagarto para nos encontrar com os demais companheiros do grupo Amigos da Trilha para a aventura rumo à Vila Bela da Santíssima Trindade (a 520 km de Cuiabá). 
Desde que voltei a morar em Mato Grosso, há 30 anos, sou louca por conhecer a primeira capital mato-grossense. Situada às margens do rio Guaporé, na divisa com a Bolívia, Vila Bela foi fundada em 19 de março de 1752 com esse lindo nome e foi uma cidade próspera até a capital da então Capitania de Mato Grosso ser transferida para Cuiabá, em 1835. Ficaram para trás os escravos, cujos descendentes são até hoje responsáveis pela fama do lugar, principalmente pela celebração da festa do Congo em julho. 
Mas Vila Bela também é famosa por seus atrativos naturais situados no Parque Estadual da Serra de Ricardo Franco, pivô de sucessivos escândalos. Essa história vamos deixar para outro momento.
Chegamos à Vila Bela por volta de 13h e seguimos direto para nosso primeiro passeio, realizado sob chuva fina. No percurso até a primeira cachoeira, conhecida como Cachoeirinha, tivemos uma ideia dos desafios que nos esperavam, com travessias de córregos cheios de pedras escorregadias. 
Primeira lição da guia Luzia Abich: nunca se jogar e dar um passo sem sentir que está pisando em "pedra firme". Só que na pressa nem sempre a teoria funciona na prática e as mãos dos rapazes do grupo fizeram toda diferença. Feminismo nessa hora pra quê?
A gente se banhou nas águas geladas da Cachoeirinha e como desejei um pouco de sol naquele momento! 



Após uma meia hora de descanso, seguimos para a Cachoeira dos Namorados, mais bonita e talvez até um pouco mais gelada. Nesse dia, o destaque ficou para uma integrante do grupo, dona Janete, de 68 anos, que superou bravamente os obstáculos com a ajuda do filho Fernando, dos guias Luzia e Heitor, e de outros integrantes do grupo.






O jantar aconteceu no restaurante que funciona junto ao Hotel Guaporé. A comida estava uma delícia e o atendimento da família, cujo nome infelizmente não sei, foi sempre nota 10. Depois de uma noite de sono razoavelmente reparador, o domingo foi de nossa grande aventura: a subida até a Cachoeira do Jatobá, considerada a quarta maior do Brasil e a maior de Mato Grosso.
Logo no início do percurso, fomos brindados com a travessia do rio Jatobá, que foi difícil, mas superada facilmente com a ajuda da turma mais valente. E começamos a caminhada, que foi suave até iniciarmos a subida propriamente dita. 
O meu primeiro pensamento foi: "Estou com um pouquinho de dor de cabeça. Devia ter trazido minha Neosaldina". Esse pensamento me martelou por um tempo até que foi substituído por outro: "Não trouxe a Neosaldina e agora o jeito é encarar. Não vou ter dor de cabeça e vou conseguir chegar ao topo". Nesse percurso, cujo tempo de duração desconheço (estava sem relógio e sem celular), não consegui pensar em mais nada, a não ser em me agarrar com uma mão na corda e guardar todo fôlego possível para aguentar a subida, me lembrando de cada momento de minhas aulas de Yôga. "Respire sempre pelo nariz!" - diziam meus professores. Quando consegui chegar num ponto que não era tão íngreme, foi um alívio. De repente, já estava até conversando com meus companheiros de trilha. 



Antes de alcançarmos a visão maravilhosa da Cachoeira do Jatobá, avistamos a Cachoeira dos Macacos, um pouco menor, mas muito bonita também. Quando chegamos ao ponto máximo da subida, paramos para lanches, fotos e fomos surpreendidos por uma névoa, que não tirou a beleza da vista. 
Seguimos adiante até um local onde pudemos nos banhar nas águas geladas do Córrego Arvaíde, que forma a Cachoeira do Jatobá. Foi delicioso! 



Não demorou para chegar a hora do retorno e a lembrança de que a descida também seria árdua e difícil para todos, principalmente para quem não tem um joelho tão 100% (rompi o ligamento cruzado do direito há décadas). 
Por sorte, no caminho, consegui um cajado e aí me senti muito melhor, com o apoio da terceira perna. Tudo correu maravilhosamente bem a não ser por um momento em que me desentendi com o cajado, que pulou da minha mão, ferindo meu rosto, que chegou a sangrar. Segunda lição da viagem: cuidado com a ponta de cima de seu cajado! Eu me senti como o personagem de Mickey Mouse como o Aprendiz de Feiticeiro no desenho animado "Fantasia".
Uma vez tendo chegado à base do morro, o grupo resolveu conhecer um pequeno canyon e também a Cachoeira do Degrau, que foi simplesmente divina. Foi um momento de relax profundo e muita alegria para todos. 



Ainda bem! Acho que isso nos preparou para o que veio em seguida. Quando finalmente alcançamos o rio Jatobá - aquele onde tudo começou -, ele tinha se transformado num rio caudaloso e ruidoso, impossível de atravessar.  



A gente via as pessoas do outro lado e elas também nos viam, o que era um consolo, mas, aparentemente, não havia muito a fazer, a não ser aguardar que as águas baixassem. Tínhamos ainda um pouco de lanche, água (a minha tinha acabado, mas outros colegas tinham) e a certeza de que ainda teríamos algumas horas de luz. 
Nesse meio tempo, acompanhamos aflitíssimos (eu mesma não consegui ficar olhando até o desenlace final) o resgate de três rapazes surpreendidos pela tromba d'água num paredão. Foi tenso.



Depois de algum tempo, o guia de outro grupo de turistas, com a ajuda de moradores locais e de nossos próprios guias, conseguiu encontrar um local onde o rio não parecia tão raivoso. Foi iniciada então a operação resgate com a ajuda de cordas. 
Até pensei em invocar meu direito de cidadã acima de 60 anos para atravessar logo, mas o medo de ser uma das cobaias me fez afastar essa possibilidade (brincadeirinha, jamais faria isso naquela circunstância).
A operação-resgate demorou cerca de duas horas porque havia muita gente a ser resgatada (mais de 50) e nosso grupo ficou por último. O bom disso é que, aos poucos, a tecnologia utilizada pelos nossos anjos da guarda foi se aperfeiçoando e a travessia em si foi "quase gostosa". Ninguém caiu e nossas bolsas e mochilas atravessaram o rio sem se molharem. É claro que nós nos molhamos, mas isso era apenas um detalhe naquela altura do campeonato.



Chegamos à Vila Bela por volta de 20h e, após um breve banho (num filete de água que saía do chuveiro), fui almoçar/jantar no mesmo restaurante, onde bebemos cerveja e rimos muito das aventuras do dia. 
Meu relato está quase chegando ao fim. Se você leu até aqui, tenha só mais um pouquinho de paciência. 
O terceiro dia previa o passeio ao canyon que se forma abaixo da Cachoeira do Jabotá, mas diante dos riscos de uma nova tromba d'água (o tempo permanecia cinzento e ameaçador), nossa guia propôs um percurso mais curto. Pode ter sido frustrante para alguns integrantes do grupo, mas para mim, depois da experiência da véspera, a ideia de ser surpreendida pela subida das águas era muito assustadora. Confesso que fiquei tensa quase o tempo todo, já que boa parte da trilha foi feita sobre pedras, cruzando o rio várias vezes. 
Nesse dia, não consegui acompanhar o ritmo do grupo e acabei ficando um pouco para trás junto com meu "anjo da guarda", Heitor. 




No caminho sobre as pedras, o cajado não era de grande ajuda. Mas, de qualquer maneira, fiz o percurso no meu ritmo e me banhei num poço lindo que encontramos pelo caminho e também nas águas que ficam na entrada do canyon que não atravessamos por cautela. 





Retornamos ao ponto de partida por volta de 13h e nos apressamos a ir à cidade almoçar, comprar Canjinjin (a deliciosa aguardente típica de Vila Bela) na casa de dona Gogoia e tirar algumas fotos nas célebres ruínas da catedral, cuja construção foi interrompida com a mudança da capital.





O passeio foi lindo, inesquecível; o grupo era maravilhoso e fiz ótimos amigos, mas confesso que fiquei triste de ver a cidade Vila  Bela. A situação das ruínas diz tudo: o local está coberto por fezes e penas de pombos, que dão bem a medida do abandono de um lugar que merecia maiores cuidados por parte das autoridades responsáveis em promover o turismo em nosso estado.
O abandono, que aconteceu há mais de 180 anos, persiste.

quinta-feira, 8 de fevereiro de 2018

The Post - A Guerra Secreta


Confesso que estou com um friozinho na barriga por escrever sobre o filme "The Post - A Guerra Secreta". Sabe quando você se sente pequeninha diante de gigantes? Pois é assim que me sinto.
O filme reúne profissionais de peso do cinema norte-americano: o diretor é Steven Spielberg, Tom Hanks e Meryl Streep encabeçam o elenco primoroso e a história é totalmente baseada em fatos reais.
A história de "The Post ..." antecede o célebre caso Watergate. Infelizmente, boa parte dessas informações que influenciaram a vida da geração que está na casa dos 60 é desconhecida da maioria dos norte-americanos e dos brasileiros por tabela.
Pouca gente sabe que já se praticou jornalismo de excelente qualidade na terra de Donald Trump, onde outro presidente republicano (Richard Nixon) acabou enxovalhado (a pá de cal foi o caso Watergate). 
Tudo é bastante complexo para resumir em poucas linhas como convém aos tempos atuais, mas o importante é frisar como "The Post" é importante por mostrar a engrenagem por trás da emblemática Guerra do Vietnã, o quanto governantes (republicanos e democratas) esconderam a verdade em nome do establishment, da indústria bélica, da supremacia norte-americana no pós-guerra (nesse caso, a divisão mundial após a 2ª Guerra Mundial).
Personagens como Katherine Graham (Meryl Streep, indicada a seu centésimo Oscar) e Ben Bradlee (Tom Hanks), dona e editor do jornal The Washington Post, brilham em defesa do bom jornalismo (competiam com The New York Times, por leitores e investidores) e da importância de se levar a verdade aos leitores. O que está em jogo é um bem precioso para qualquer jornalista de respeito: a liberdade de imprensa.
Para quem é jornalista como eu - e sonhou um dia fazer esse bom jornalismo e até conseguiu fazer um pouco -, sobram nostalgia, lágrimas nos olhos e uma pergunta aflitiva: há esperança num mundo controlado pela indústria de armas, pelo capitalismo selvagem, onde um boçal como Donald Trump é eleito presidente da maior potência mundial?

quarta-feira, 7 de fevereiro de 2018

A Forma da Água



Assisti a dois filmes incríveis nos últimos dias: "The Post - A Guerra Secreta" e "A Forma da Água", ambos concorrentes ao Oscar na categoria Melhor Filme.
Meu objetivo aqui não é dizer qual é o melhor. São propostas muito diferentes e deixo essa tarefa aos membros da Academia, embora admita uma ligeira torcida em favor do segundo. 
"A Forma da Água" é encantamento puro, apesar de ter eu ter ficado bem tensa em várias passagens. No final do filme, eu tremia! Não sei se de frio ou de nervoso. 
Hoje li uma matéria sobre uma acusação de plágio (na verdade, duas) ao diretor e co-roteirista, Guilhermo del Toro, o que me deixou com uma pulga atrás da orelha. 
De qualquer maneira o filme é fabuloso, como atestam várias críticas já publicadas. O desempenho dos atores, a história da moça muda que, desafiando todas as expectativas, bola um plano ousado para salvar a vida do homem-peixe por quem se apaixona - tudo é maravilhoso! 
A trilha sonora é deliciosa e se enquadra perfeitamente ao clima anos 60 do filme, cujo pano de fundo é a guerra fria entre EUA e URSS. Há também menções ao racismo descarado dos EUA da época. 
Porém, o mais incrível para mim é mostrar que pessoas comuns, até medrosas, podem ousar e transformar suas vidinhas sem maiores emoções, saindo assim do limbo onde são deixados os menos bonitos, deficientes, mais velhos (alijados do mercado de trabalho), enfim, aquelas pessoas que, aparentemente, servem apenas para as tarefas mais triviais, como limpar banheiros ou o sangue deixado pelos poderosos. 
Há um "diálogo' entre Giles (Richard Jenkins) e a "forma" que me tocou profundamente. Acostumado a ter como única companhia a amiga muda, ele abre seu coração com aquele ser estranho (e, às vezes, selvagem) que veio das profundezas das águas. 
As cenas de  Elisa  (Sally Hawkins) com a colega e amiga Dalila (Octavia Spencer) - a voz de  Elisa no laboratório onde ambas trabalham como auxiliares de limpeza - são deliciosas. A atriz Sally Hawkins dá um banho de interpretação em todas as cenas. Não é por acaso que tanto ela quanto Octavia e Jenkins são candidatos ao Oscar em suas respectivas categorias.
Confesso que sou totalmente ignorante em termos da filmografia de Guilhermo del Toro e já estou me coçando para assistir a outros filmes dele, como "O Labirinto do Fauno".
Ah, pesquisei sobre o ator por trás do homem-anfíbio que é o cerne do filme "A forma da água" e soube que o nome dele é Doug Jones - um norte-americano de 57 anos que emprestou seu corpo e olhar expressivos a outros personagens criados por Del Toro, inclusive o Fauno do filme citado.
E quanto a "The Post"? Fica para um próximo post. 

terça-feira, 16 de janeiro de 2018

Os cães ladram e "Caravanas" passa

youtube.com
Tive o privilégio de assistir ao show "Caravanas" de Chico Buarque de Hollanda no antepenúltimo dia de minha temporada no Rio de Janeiro. 
A última vez que vi Chico num palco foi provavelmente em janeiro de 1999, no finado Canecão. Foi lindo, mas agora, acredito, que consegui saborear mais cada momento. Afinal, não sei se terei novamente a chance de ouvir Chico ao vivo novamente. 
Ele está com 73 anos, caminhando para 74, mas fiquei muito feliz de constatar sua vitalidade no palco. A voz continua firme e plena; e Chico até arriscou uns passinhos como sambista para homenagear o amigo e parceiro Wilson das Neves, que faleceu em 2017.
Para mim, o show foi impecável. A banda que o acompanha é sempre magistral. O cenário de Hélio Eichbauer, reforçado pela iluminação criativa de Maneco Quinderé, dá o tom do espetáculo: belo e elegante como Chico.
O show é um desfile de antigas e novas canções do CD "Caravanas", que lhe dá título. Confesso que não estava familiarizada com as novas canções, como seria de esperar de uma "chicólatra", mas mesmo assim me deliciei com composições como "Massarandupió" (parceria com o neto Chico Brown), "Cantiga", "Blues para Bia" e "As Caravanas", entre outras.
Eu me reencontrei em canções mais antigas como "Retrato em branco e preto" e, especialmente, na bela e injustiçada "Sabiá", responsável pela enorme vaia recebida por Chico e Tom Jobim no Maracanãzinho em 1968*.  
Entremeadas às novas composições, brotaram canções que moram no meu coração como "As vitrines", "Todo o sentimento" e "Futuros amantes".  E o que dizer de "Mambembe", "Partido alto", "Homenagem ao malandro" e "Gota d'água", entre tantas outras?
No início, procurei não cantar junto para não atrapalhar artista e outros espectadores, mas, aos poucos, é impossível não se entregar/integrar ao coro da plateia, formada por gente de várias idades. "Geni e o zepellin" foi uma espécie de catarse coletiva: como não cantar o refrão a plenos pulmões junto com ele?
Como nossa mesa era a última de uma fileira, pude me permitir ficar em pé na maior parte do show. Assim me livrei do embaraço de garçons que não param de atender o público um segundo sequer e, por tabela, pude dançar livremente nos momentos mais animados 
Tem gente que pede a conta no meio do show e aí você tem na sua frente um garçom com uma lanterninha explicando a conta ao freguês. Me poupe! É bem chato ter que assistir a uma apresentação de Chico num local como o Espaço Vivo, com esse movimento de garçons. 
Ah, teve um momento em que me levantei e pedi a dois seguranças que estavam de pé logo atrás de nossa mesa para falarem mais baixo. Dá para acreditar?
Mas, apesar dos pesares, foi uma experiência intensa e inesquecível. 
Os cães ladram e a caravana passa!  Chico continua sendo o maior artista brasileiro em atividade, na minha opinião. Oxalá se conserve assim!

* Para os mais jovens fica aqui a explicação: a reação do público foi motivada pela nítida preferência da plateia por "Caminhando" ou "Pra não dizer que não falei de flores" de Geraldo Vandré, que ficou com o segundo lugar nessa edição do FIC. 


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