quinta-feira, 20 de março de 2008

Sina

Esquizofrenia total! Hoje assistindo à minissérie "Queridos amigos", que estou adorando, descobri que tenho um problema de fragmentação de personalidade. Tem uma Martha que foi criada no Rio, foi leitora da revista "Realidade", sonhou ser jornalista para sair do seu pequeno mundinho pequeno burguês, participou do movimento estudantil, foi militante sindical, meio que desbundou, fez biodança, e uma outra que se apaixonou durante uma viagem de férias em Mato Grosso, se casou, encaretou, teve duas filhas, escreveu um livro sobre Cáceres, virou professora de literatura, de inglês, francês e jornalismo e trabalha numa revista de agronegócio.
As duas, obviamente, têm muito em comum, mas eu gostava bem mais da antiga Martha, idealista, sonhadora. A Martha atual é muita vezes amarga, deixou de acreditar nas pessoas e tem dias em que só consegue enxergar o lado feio e medíocre da vida. É cética, não crê em Deus, nem nos homens e morre de medo de envelhecer sozinha.
Mas tem alguma coisa da velha (ou seria nova?) Martha nesta que está aqui e que se aborrece com o cotidiano. Mais do que nunca ela percebe que não conseguiu fugir à sua sina de Marta, aquela que reclamou com Jesus de sua irmã Maria, que tinha escolhido a melhor parte (Marta e Maria eram irmãs de Lázaro, aquele que Jesus ressuscitou, segundo a Bíblia).
E essa Martha velha/nova que se emociona ao ouvir a trilha sonora de "Meus queridos amigos" e se ressente tanto de não ter com quem compartilhar suas lembranças, suas músicas preferidas, tudo que aconteceu nos anos 60/70 e 80, antes de vir para Mato Grosso.
Aqui, a maioria dos meus amigos ou tem menos de 50 anos ou então não viveu a mesma coisa que eu por morar no interior do Brasil. E sigo carregando essa solidão, não tendo com que compartilhar minhas emoções e me sentindo cada vez mais sozinha.

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