segunda-feira, 31 de março de 2008

Ressaca

Hoje estou meio de ressaca. Depois de uma semana de ensaios diários para a apresentação do Coro Cantorum no teatro do Sesc Arsenal (sexta, sábado e domingo), a gente fica com uma sensação estranha. Dá um misto de alívio, alegria (pelo trabalho realizado e elogiado por todos) e tristeza porque não vai mais cantar a "Missa de Alcaçus" (que não sai da minha cabeça; acho que estou enlouquecendo com tantas notas e frases em latim na minha cabeça) e porque vai ficar uma semana sem ver o pessoal do coral. São novos amigos, novas pessoas (nem sei o nome de muitas delas) com as quais compartilhei um momento singular e altamente emocionante.
Mas hoje é segunda-feira, fim de mês, eu me dou conta das contas a pagar e das coisas chatas que tenho para fazer (Imposto de Renda, etc). Mesmo assim, fica uma energia boa da participação no coro. O nosso regente, André Vilani, disse no sábado antes da apresentação, que o cantor é como um "médico da alma". Não sei se tenho a capacidade de fazer tão bem a outras pessoas, porém tenho certeza de que cantar me faz um bem enorme. Me dá um gás, uma vontade de seguir em frente enorme, de enfrentar novos desafios.
Há pouco li algumas notícias que me deixaram triste: a morte de uma menina de 5 anos em São Paulo, que caiu ou foi atirada da janela do apartamento do pai: a morte de um menino num brinquedo num parque em São Paulo, a morte de um adolescente num toboágua também em São Paulo e o assassinato de três crianças pelo pai nos EUA (ele disputava a guarda dos filhos com a ex-mulher). Toda notícia de morte envolvendo criança me deixa especialmente triste porque acho muito injusto. Para mim, nada justifica uma violência contra uma criança ou mesmo uma morte acidental: ela ainda não viveu o suficiente; é totalmente indefesa diante de seus algozes.
Quando eu era menor, uma de minhas irmãs não conseguia ter filhos e perdia os bebês com semanas ou meses de gestação. Ela era louca para ter um filho (conseguiu no final ter uma filha maravilhosa) e eu não conseguia entender por que Deus (nessa época eu ainda era católica praticante) não era bondoso e não dava um bebê para aquela minha irmã tão amorosa. Minha maior preocupação, entretanto, era com aqueles bebês que morriam antes de poder viver. Minha mãe dizia que eles iriam para o limbo se não vivessem o tempo suficiente para serem batizados e eu achava aquilo extremamente injusto. Acho que foi por essa e outras razões que fui deixando aos poucos de seguir a religião católica, tão cheia de dogmas e "não-me-pergunte-por que". (obs.: ando em conflito com as regras dos porques, juntos e separados, com acento ou sem)
Com o tempo, tentei ser espírita (também não consegui acreditar na reencarnação, embora ache a idéia mais justa), budista. Tudo em vão. Não posso dizer que não seja espiritual, porém volta e meia sou levada a concordar com os versos de Shakeaspeare na peça "Macbeth" :
Life’s but a walking shadow, a poor player
That struts and frets his hour upon the stage,
And then is heard no more. It is a tale
Told by an idiot, full of sound and fury,
Signifying nothing.
Após a morte da Lady Macbeth, Lord Macbeth, desesperado, diz que a vida é como um conto contado por um idiota, cheio de som e fúria, mas que nada significa.
É pesado, mas quem me garante que não é isso mesmo, enquanto nós ficamos tentando encontrar explicações para tudo?

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