segunda-feira, 30 de novembro de 2009

Dinheiro na meia

Depois de um fim de semana recheado de emoções na tórrida Cáceres, eu me sentei diante da TV para assistir a cinco minutos do Fantástico enquanto comia um sanduíche e quase engasguei quando vi as imagens do atual presidente da Câmara Legislativa do Distrito Federal, Leonardo Prudente (DEM), imprudentemente colocando nas meias maços de dinheiro.
Fiquei chocada! Que país é este em que "autoridades" de alto escalão são mostradas em rede nacional recebendo dinheiro vivo em esquemas de corrupção? A gente já viu mala de dinheiro, dinheiro na cueca, mas ainda não tinha visto dinheiro na meia.
Não sei o que é mais deprimente ver as imagens da corrupção ou as desculpas esfarrapadas dos acusados.


quinta-feira, 26 de novembro de 2009

Cantos de amor e saudade


Há 15 anos conheci uma senhora em Cáceres que deu outro sentido à minha passagem pela cidade, terra natal de meus antepassados pelo lado materno. Ela se chamava Estella Rodrigues Ambrósio e tinha 87 anos.
Nosso encontro rendeu um livro - "Cantos de amor e saudade - a história de Cáceres contada através das lembranças de Estella", novas amizades e tantas alegrias que nem tenho como contar. E continua rendendo ...
Nesta sexta-feira, dia 27, a edição feita com o esmero e o carinho característicos do pessoal da Editora Entrelinhas, de Cuiabá, será lançada na Câmara Municipal de Cáceres (às 20h).
Confesso que o evento está mexendo comigo. Estou vivendo um turbilhão de emoções: alegria, orgulho e uma pontinha de medo de enfrentar a saudade - da minha vidinha em Cáceres, dos meus amigos, de D. Estella e muitas pessoas que já se foram e me ajudaram a escrever este livro.
Mas, parafraseando eu mesma, a saudade é bem-vinda porque me faz sentir viva, suspirar e acreditar num sentindo para minha vida.
Meu livro não quer "endeusar" o passado e sim resgatar o que ele tinha de belo. E trabalhar a saudade, que ainda aperta o coração e nos enche os olhos de lágrimas de vez em quando, resgatando os nossos ideais e sonhos da infância.

quarta-feira, 25 de novembro de 2009

"A implosão da mentira"

"Mentem, sobretudo, impune/mente.
Não mentem tristes. Alegremente
mentem. Mentem tão nacional/mente
que acham que mentindo história afora
vão enganar a morte eterna/mente."
Esses versos foram tirados de um poema maravilhoso de Afonso Romano Sant'Anna, "A implosão da mentira", e dizem respeito ao episódio do Riocentro - o caso da bomba que explodiu no colo de um militar no estacionamento de um centro de eventos onde se realizava um show de MPB em comemoração ao Dia do Trabalho. O caso ocorreu em maio de 1980, no governo do ex-presidente João Baptista Figueiredo, e os tempos eram outros. Shows do gênero ainda eram considerados atos políticos e podiam ser alvo de atentados à bomba.
Em cima do fato, foi armada uma farsa política em que os militares, por meio de um IPM (Inquérito Policial Militar), sustentaram a versão de que os dois militares tinham sido vítimas de um ato terrorista de esquerda, é claro. Ambos serviam no Doi-Codi no Rio de Janeiro. Um deles, o sargento Guilherme Pereira do Rosário morreu no local e o capitão Wilson Luís Alves Machado ficou gravemente ferido, recuperou-se, mas nunca comentou o assunto publicamente.
O poema de Sant'Anna retrata bem o choque entre as evidências do que tinha acontecido e a versão apresentada pelo governo militar.
Eu me lembrei dessa poema hoje, no supermercado, enquanto lia a chamada de primeira página de um jornal cuiabano dizendo que os seguranças envolvidos no caso da morte do vendedor ambulante Reginaldo Donnan, no Shopping Goiabeiras, sustentaram perante o juiz a versão de que ninguém o espancou. Sua morte teria ocorrido em consequência de uma queda na escada.
E quanto às imagens que cansamos de ver na TV em que o vendedor é levado num container até a viatura da PM (e que foram até alvo de uma "brincadeira" numa festa à fantasia realizada na capital há cerca de um mês)) e aos depoimentos de uma ascensorista e de um encarregado da limpeza que dizem ter visto um homem desfalecido e ensanguentado, e muito sangue nas paredes da sala para onde foi levado?

terça-feira, 24 de novembro de 2009

Me poupem!

O mundo inteiro fala sobre redução de emissões de gases de efeito estufa. O governo discute propostas a levar para a Conferência sobre Mudanças Climáticas (COP 15), que acontecerá em dezembro, em Copenhague (Dinamarca) e representantes de vários países trocam acusações sobre o não comprometimento de cada nação com a causa ambiental em prol da sobrevivência do Planeta, acuado pelo aquecimento global.
Mas leio nos jornais de hoje que o Brasil aumentou suas emissões. Chego em casa e vejo uma reportagem no Jornal Nacional sobre os impactos na economia e na qualidade de vida das pessoas do sufoco passado no transporte nosso de cada dia. Ouvi uma moça contando que passa cinco horas horas por dia no ônibus para ir e vir do trabalho e seis horas no serviço. Isso é uma loucura!
Um especialista diz que a solução para o problema está na melhoria do transporte coletivo e no fim do individualismo. No intervalo comercial sou bombardeada pela propaganda de carros e me lembro do nosso espanto (meu e das minhas filhas) diante da declaração de uma sobrinha (uma moça de pouco mais de 30 aos) que nunca sonhou em ter um automóvel próprio. Ela é personal trainer no Rio de Janeiro e vai de um trabalho para o outro de bicicleta, faça chuva ou faça sol. Durante esse encontro, ocorrido no domingo, falamos sobre o excesso de carros em Cuiabá e comentei que na casa de uma amiga minha - uma família de cinco pessoas - há quatro automóveis na garagem. Em breve, terá mais um, já que o pai prometeu dar um carro à filha caçula assim que passar no vestibular.
Em suma, muita gente se preocupa com o futuro da Terra, mas quantos de nós estão realmente dispostos a abrir mão do conforto de nosso carro com ar condicionado?
Salvar o Planeta não é tarefa fácil e depende muito mais de atitudes concretas e corajosas do que de discursos ou doações para ONGs ambientalistas.

segunda-feira, 23 de novembro de 2009

Unemat

Fiquei alguns dias sem postar nada novo e sei que pelo menos uma pessoa sentiu falta. Desculpe o lugar comum, mas sou da geração que cresceu lendo e se emocionando com o livro "O pequeno príncipe", do escritor/aviador francês Antoine de Saint Exupéry. "Tu és eternamente responsável por aquilo que cativas". Acho que era mais ou menos isso que a raposa dizia ao pequeno príncipe e é assim que me sinto em relação aos leitores deste blog.
Andei em falta com eles nos últimos dias. Culpa do feriado, do calor, da preguiça, do ceratocone que me faz ficar "brigando" com as lentes de contato o tempo todo. Como meus óculos de grau quebraram (ainda não tive tempo de mandar fazer um novo par), ando "fugindo" da tela do computador e deixando de reproduzir neste espaço minhas divagações e reflexões.
Hoje, talvez, deveria falar sobre o fiasco inacreditável e lamentável do "maior concurso púbico do país" (274 mil candidatos inscritos), mas sinceramente nada tenho de novo a dizer, além do que já está publicado em jornais e sites mato-grossenses (aliás, achei tudo tão confuso quanto a organização do próprio concurso).
Lamento, sobretudo, o fato de a responsabilidade maior cair sobre a Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat), que se mostrou incapaz de organizar um concurso de tamanha envergadura. Seria a chance de Cáceres sair um pouco do ostracismo em que vive e ser protagonista de um episódio do qual o estado iria se orgulhar. Ocorreu exatamente o contrário. Por que a menção ao município de Cáceres? Por que é lá a sede administrativa da Unemat, foi lá que a instituição nasceu, cresceu e se estendeu por vários municípios de Mato Grosso.
Como trabalhei lá de 1993 a 2000, conheço muitos dos personagens envolvidos no imbróglio do concurso. Obviamente não tenho competência para julgá-los, mas uma coisa eu me sinto à vontade para dizer: a Unemat tem uma história muito bacana, é uma universidade muito jovem (o Instituto de Ensino Superior de Cáceres - IESC -, semente da Unemat, foi criado há 31 anos), que deu a oportunidade de crescer a muitos jovens do interior mato-grossense que não teriam condições econômicas de sair de suas cidades para fazer um curso superior.
Infelizmente, a Unemat também herdou os problemas crônicos que, na minha opinião, prejudicam demais o desenvolvimento de municípios como Cáceres e são típicos de outras universidades públicas mais antigas: o corporativismo, o interferência da política partidária mais rastaquera, a divisão por grupos que se engalfinham pelo poder. Aos amigos, tudo; aos inimigos, o ostracismo.
A Unemat trouxe coisas boas para Cáceres, mas poderia ter reflexos positivos muitos maiores para a comunidade, se tivesse uma política de extensão mais contundente e se cada um pensasse mais em termos coletivos e menos no crescimento pessoal.

quarta-feira, 18 de novembro de 2009

Lançamento

Não sei se falo hoje da minha felicidade ou da minha perplexidade diante de alguns acontecimentos globais. Vamos começar pela felicidade: acabo de falar ao telefone com o vereador Celso Fanaia Teixeira ( o professor Tetinho) que está promovendo o lançamento em Cáceres do meu livro "Cantos de amor e saudade", publicado pela Editora Entrelinhas. Será no próximo dia 27, às 20h, na Câmara Municipal.
Por que fico tão feliz? Porque voltarei a Cáceres, cidade que aprendi a amar e onde vivi por quase 15 anos; porque vou rever amigos queridos; porque terei a oportunidade de mais uma vez reverenciar a imagem de uma das pessoas mais lindas e íntegras que conheci (d. Estella, personagem principal do meu livro) e também de promover o meu trabalho.
Acho que são motivos suficientes para ficar feliz. É muito gostoso sentir o carinho e a empolgação de Tetinho, professor da Universidade do Estado de Mato Grosso (Unemat) e ex-secretário municipal de Educação de Cáceres, com quem trabalhei na época em que fui assessora de comunicação da Prefeitura local. À medida que a gente vai amadurecendo passa a valorizar mais esses momentos.
Quanto à minha perplexidade, infelizmente, as suas causas não deixarão de existir tão cedo. Vou deixar para comentar o tema em outra oportunidade.

terça-feira, 17 de novembro de 2009

No front cuiabano ...

Hoje quero comentar duas notícias de política - ou seria justiça? Ou seria polícia?
A primeira é animadora: a Câmara Municipal de Cuiabá cassou ontem o mandato do vereador Lutero Ponce, (PMDB) por quebra de decoro parlamentar. Segundo o jornal Diário de Cuiabá, "após 90 dias de trabalho a Comissão Processante, criada para apurar o suposto desvio de R$ 7,5 milhões do legislativo cuiabano, deu parecer favorável à cassação". Detalhe: as fraudes teriam ocorrido no período em que Ponce presidia a Câmara. Ainda de acordo com o diário, ele foi o segundo vereador a ter seu mandato cassado na história da Câmara Municipal de Cuiabá e isso ocorreu três meses após a cassação de Ralf Leite (PRTB) - aquele que se envolveu com um travesti menor de idade.
Pela primeira vez, desde que moro em Cuiabá há seis anos, começo a botar fé na Câmara Municipal e pretendo agora acompanhar mais de perto os trabalhos do legislativo cuiabano. Ontem, quase atendi ao convite enviado por email para participar de uma vigília cívica em frente à Câmara por causa da sessão que julgaria Lutero Ponce. O relator do processo foi o vereador Lúdio Cabral (PT), meu candidato nas últimas eleições.
A segunda notícia é desalentadora, foi veiculada no portal Terra e replicada pelo blog O Filtro: a justiça proibiu dois blogs cuiabanos de opinarem sobre os processos contra o atual presidente da Assembleia Legislativa, José Riva (PP), contra quem correm - pasmem! - 92 ações por improbidade administrativa e 17 ações criminais. Os blogs censurados pertencem à economista Adriana Vandoni e ao jornalista Enock Cavalcanti. Riva é uma espécie de "imperador" no Nortão mato-grossense e há anos vem se perpetuando no poder, apesar de tantas acusações.
É por essas e outras que tenho tanta dificuldade de convencer minhas filhas de 17 e 19 anos que a política é coisa séria.

segunda-feira, 16 de novembro de 2009

O mundo do possível

Acabo de receber mais evidências de que a Conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que acontecerá em Copenhague (Dinamarca), em dezembro, foi esvaziada. De acordo com nota publicada pelo blog O Filtro, um acordo global com metas assumidas pelos diversos países participantes de redução de emissões de gases de efeito estufa não será possível, por enquanto. A maioria dos países está mais preocupada em não barrar a retomada do crescimento econômico. Ou seja, o meio ambiente que se dane. Aquecimento global, derretimento da calota polar, secas, enchentes, tudo isso deve ser esquecido em nome da (re)aceleração da economia.
O que me entristece é ver que muitas dessas questões são usadas apenas como instrumento de marketing. Fica a constatação mais uma vez de que o que move o mundo é a grana ("Money makes the world go around" - lembram-se do musical "Cabaret"?) Alguma dúvida disso?

domingo, 15 de novembro de 2009

Bom demais!


Parecia até sonho: eu na Chapada dos Guimarães ouvindo música instrumental da melhor qualidade e ainda por cima de graça!
Quem foi para Chapada dos Guimarães neste fim de semana certamente não se arrependeu e teve o privilegio de presenciar o nascimento de um evento que promete ter vida longa. O 1º Festival da Jazz de Chapada dos Guimarães começou com pé direito.
Na primeira noite, sexta-feira, chegamos à rua dos restaurantes por volta de 20h, horário previsto para o início da programação e tinha pouquíssima gente nas cadeiras colocadas diante do palco. Mais tarde, o curador do festival, o contrabaixista Ebinho Cardoso, me contou que também se preocupou se o público viria prestigiar o evento. Ainda bem que veio. No sábado, então, veio muita gente de Cuiabá para assistir a um festival que já nasceu grande, incrivelmente bem organizado, mas com aquele sabor de intimidade que tanto convém ao jazz. Quase todos os músicos que se apresentaram fizeram questão de conversar com a plateia, destacar o nome de Ebinho, desejar sucesso à iniciativa e falar de seu prazer de estar tocando ali.
E foi isso que todo mundo passou: muito prazer de estar tocando um tipo de música de público ainda restrito, principalmente no interior do país. E olha que o 1º festival de jazz da Chapada reuniu muitas feras: foram três apresentações diferentes por noite - a quantidade ideal para que o público pudesse absorver o máximo daquela oportunidade rara.
A primeira noite começou com a dupla Nélson Faria, na guitarra, e José Namen, no teclado. Eles apresentaram alguns temas clássicos do cancioneiro popular como "Chão de estrelas", em interpretações bem suingadas e com excelente domínio da linguagem jazzística. Em seguida, o clima esquentou com o Celso Pixinga Trio, formado pelo veterano contrabaixista Celso Pixinga e dois rapazes muitos jovens no teclado (Bruno Alves) e na bateria (Giba Faveri), e a noite terminou com o som alegre, vibrante e brincalhão do Galinha Caipira Completo de Brasília. A chuva que caiu e o nevoeiro típico da Chapada deram um toque especial à noite.
A segunda noite começou suave com o som dos irmãos Eduardo e Roberto Taufic. Com 10 anos de diferença, os dois irmãos mostraram um entrosamento fantástico. Eduardo, o mais jovem, mora em Natal, Rio Grande do Norte, e Roberto mora na Itália, mas conserva o sotaque nordestino. Apresentaram temas belíssimos como "Fotografia" de Antonio Carlos Jobim. Mais ou menos como na noite anterior, o jazz mais intimista da dupla foi sucedido por uma apresentação mais pauleira e autoral do saxofonista brasiliense Ademir Júnior, que tocou com três músicos mato-grossenses: o próprio Ebinho, o guitarrista Sidnei Duarte e o baterista Sandro Souza. Foi muito bom! Para fechar a noite, o jovem pianista David Feldman apresentou um trabalho que revive o som do lendário Beco das Garrafas, um dos templos da bossa nova no Rio de Janeiro. Ele tocou acompanhado de dois músicos da pesada: o baterista Márcio Bahia e o contrabaixista - cujo nome não me recordo lamentavelmente, mas vou procurar descobrir para registrar aqui - que chegou a tocar no Beco das Garrafas, em Copacabana.
As duas noites foram tão boas que, se me pedissem para escolher qual apresentação gostei mais, teria dificuldade para responder. Foi tudo tão harmonioso, tão agradável que só me resta agradecer o privilégio de poder ter assistido ao início de mais um festival de jazz (sem querer comparar, tive a sorte de ver nascer no Rio de Janeiro o Free Jazz Festival, nos anos 80) e torcer para que venham muitos outros.
Apenas uma observação: os restaurantes da "rua dos restaurantes" não parecem ter se preparado para o evento. O dono de um deles me disse que "não sabia que ia ter mesas na rua". Acho estranho porque eu, que vim de Cuiabá, já sabia que ia ter. Com isso, a gente tinha que ir até o balcão pagar pela bebida ou comida e optava por ir buscar o pedido em alguns minutos ou ficar horas esperando.

sexta-feira, 13 de novembro de 2009

Vida e morte

Ao contrário da sexta-feira passada, quando chovia torrencialmente em Cuiabá e eu me angustiava com a viagem da minha filha caçula (que já voltou), hoje está um sol de rachar e estou animada com as perspectivas para o fim de semana por causa do festival de jazz em Chapada dos Guimarães.
Isso não impede que a gente se angustie com os temporais malucos que deixam pessoas desabrigadas em várias cidades do Brasil e que pode chegar por aqui a qualquer momento. Junte-se a essa possibilidade a dengue sempre presente, a gripe suína e o caos na saúde pública e pronto, temos uma receita de infelicidade e tragédia.
É impressionante como vida e morte andam tão próximas. Uma das minhas irmãs me contou esta semana que sua filha chegou para trabalhar num prédio do Centro do Rio, onde funcionam os serviços de uma imponente instituição pública federal, e uma funcionária tinha acabado de cair no poço de elevador e morrer. Minha sobrinha chegou a pensar que poderia ter sido ela caso tivesse chegado 20 minutos antes.
No mesmo dia vimos imagens impressionantes na TV da mulher, supostamente bêbada, que caiu nos trilhos do metrô nos EUA e conseguiu sair andando pois os espectadores da cena conseguiram parar o trem que se aproximava.
Isso nos leva àquela velha questão: cada um tem seu dia de morrer e, portanto, não vale a pena a gente esquentar? Ou tudo é imprevisível e ilógico mesmo?
Difícil de saber ... Nesses casos, ter fé ajuda muito.
Discussões à parte, quero aproveitar o espaço para divulgar o show dos amigos do grupo Alma de Gato que acontecerá neste domingo, no Teatro do Sesc Arsenal, em dois horários, às 18h30 e 20h30. Como já disse num artigo publicado no jornal Folha do Estado há uns dois meses, o grupo canta muito bem e é engraçado pra caramba. O grande desafio dos rapazes é equilibrar o aspecto musical com o cênico. Vale a pena conferir!

PS. Mal acabei de publicar esta postagem, recebi um email informando sobre a morte de um advogado de 67 anos, Allan Kardec dos Santos, diretor de uma das empresas de transportes mais conhecidas de Mato Grosso (a Tut), vítima de dengue hemorrágica. Segundo a família, a doença foi contraída em Cuiabá, mas o falecimento ocorreu no Hospital São Luiz, em Cáceres.

quinta-feira, 12 de novembro de 2009

Dor e humilhação

Mais do que tentar explicar, quero tentar entender o caos instalado no setor da saúde em Cuiabá. Acabo de assistir novamente à reportagem da TV Centro América (afiliada da Rede Globo na capital mato-grossense) sobre a fila para cirurgias ortopédicas. A repórter Malu Prado entrevistou o secretário municipal de Saúde, o promotor, diretores de hospitais conveniados com SUS e pacientes. Juro que não consegui entender os motivos da fila (gigantesca), mas consegui me comover com a humildade de um porteiro entrevistado no Pronto Socorro de Várzea Grande (o de Cuiabá está em obras), que disse depender da "bondade" dos médicos e do poder público para ser operado, já que não tem dinheiro para pagar uma cirurgia.
A reportagem, se alguém se interessar, está disponível no site da TVCA (rmtonline.globo.com).
Ontem conversei informalmente com a responsável pela administração de um desses hospitais conveniados e perguntei por que o estabelecimento só dispõe de um ortopedista. para atender a tanta demanda por cirurgias numa cidade campeã em acidentes de trânsito. Ela me disse que ninguém quer trabalhar como ortopedista para o SUS para receber R$ 150 por uma cirurgia. Perguntei incrédula: "R$ 150?" Ela confirmou.
A mesma pessoa me contou o caso de um garoto de 15 anos que estava rodando há dias atrás de um diagnóstico para o seu problema. Ele conseguiu fazer um ultrassom e o resultado foi apendicite aguda. Conseguiu, por sorte, ser operado no hospital administrado por minha conhecida. E se não conseguisse? Quantos não têm a mesma sorte? Por ter sido operada de apendicite aguda este ano (por meu médico e com custos cobertos integralmente por meu plano de saúde), consigo imaginar o sofrimento e a angústia desse menino e de seus pais.
O que me dá mais raiva é ter que ver logo após o noticiário da TV a propaganda do governo Wilson Santos dizendo que nunca se fez tanto pela saúde em Cuiabá. Será que os responsáveis acham que o povo é idiota? É terrível porque as pessoas se vêem desamparadas no momento em que estão mais vulneráveis (com dor, machucadas). Gritar, xingar, espernear só vai reduzir ainda mais as chances de serem atendidas. É muito injusto.
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quarta-feira, 11 de novembro de 2009

Imperdível!

Hoje mudei de sala no meu trabalho mais uma vez e mudanças me deixam meio dispersiva, por isso vou ser bem objetiva e apenas divulgar a programação do evento que vai acontecer a partir de depois de amanhã na Chapada dos Guimarães (a cerca de 62 km de Cuiabá).
Gente, vai ter festival de jazz! É bom demais pra ser verdade. Eu tinha ouvido falar desse festival há uns dois meses, mas depois não ouvi mais nada e achei que tinha dançado. Ontem recebi por email a programação (através da assessoria do jornalista João Negrão) e fiquei muito feliz. Fiquei mais feliz ainda quando soube que é tudo de graça e o curador do festival é o músico Ebinho Cardoso - uma garantia de qualidade e seriedade.
Na sexta-feira, a partir de 20h, apresentam-se José Namen e Nélson Faria e, em seguida, Celso Pixinga Trio e Galinha Caipira Completa. No sábado, a programação segue com Roberto e Eduardo Taufic, continua com Ademir Júnior Quarteto e se encerra com David Feldman. Tudo vai acontecer na "rua dos restaurantes". Dessa turma, já ouvi o trabalho de José Namen (mineiro radicado em Mato Grosso), do baixista Celso Pixinga (SP) e do saxofonista Ademir Júnior (de Brasília).
Maiores informações pelo blog www.chapadainjazz.blogspot.com

terça-feira, 10 de novembro de 2009

A força da net

Volta e meia tenho abordado o tema da força da internet que nem sempre é bem explorada. Acabo de ler uma notícia no jornal Diário de Cuiabá que comprova esse poder. Um shopping de Cuiabá, o Três Américas, inventou de cobrar R$ 1 a mais por cada hora-extra no estacionamento, sendo que o preço inicial é de R$ 3. De acordo com a reportagem, a cobrança gerou protestos na internet e ontem a direção do Shopping voltou atrás.
O consumidor tem esse poder, de promover e divulgar movimentos de boicote a estabelecimentos ou produtos que não sejam do seu agrado.
Ontem recebi por email uma lista de parlamentares ficha suja com seus nomes, partidos e crimes pelos quais respondem. A mensagem, é clara, pense bem antes de votar em qualquer um deles. Com certeza, nenhum deles estará na lista dos meus candidatos (sorry, Genoino).
Hoje em dia, com toda essa rede de informações, a gente pode se queixar de tudo, até do excesso de informação, mas não pode alegar ignorância dos fatos. A comunicação é fundamental na vida e é estranho que, apesar de tudo, ainda nos comuniquemos tão mal.

segunda-feira, 9 de novembro de 2009

Minissaia

Não dá pra ficar sem comentar. É surreal essa história da aluna da Uniban (Universidade Bandeirante) expulsa depois de ter sido perseguida e xingada por outros estudantes por causa do seu vestido curto. Embora tenha visto o vídeo, custo a acreditar nessa história.
Já dei aulas em três universidades (Unemat em Cáceres, UFMT e Unic em Cuiabá) e vi coisas incríveis: alunos que querem passar de ano sem ter assistido às aulas ou feito os trabalhos (alguns conseguem se formar por incrível que pareça), alunos dormindo em sala de aula, professores que enrolam mais do que tudo, mas nunca percebi qualquer forma de discriminação por causa da altura das saias ou da profundidade do decote das alunas. Será que somos assim tão liberais em Mato Grosso?
A direção da Uniban demonstrou falta total de bom senso. A justificativa de que Geyse Arruda foi expulsa por "desrespeitar os princípios éticos, a dignidade acadêmica e a moralidade" seria cômica se não fosse séria. Agora entidades como a UNE, OAB, MEC, saíram em defesa da estudante . Menos mal. Pelo menos o assunto serve para desnudar preconceitos que a gente julgava inexistentes no país do Tchan, da boquinha da garrafa, do funk e de outros ritmos que desafiam o limite do bom gosto.

domingo, 8 de novembro de 2009

Melhor idade?

De vez em quando penso nesse conceito de "melhor idade". A intenção, reconheço, foi boa. Dar algum alento aos que passam dos 60 anos.
Ontem caminhando com duas amigas, mais jovens que eu, uma delas comentou que morre de medo de chegar aos 60 anos. Eu, que já estou na faixa dos 50, respondi que tudo é relativo. É engraçado: a ideia dos 60 não me assusta. Penso nas vantagens (aliás, esse foi o ponto de partida de nossa conversa): pode pagar meia entrada no cinema, teatro e shows; andar de graça no metrô e ônibus, ter fila privilegiada no banco e supermercado, e, principalmente, aproveitar as vagas para idosos nos estacionamentos de shoppings e supermercados.
Fora isso, tem aquela sensação de estar acumulando dores (mas, vamos combinar, tem muito jovem por aí que vive com dor) e problemas: artrose, artrite, reumatismo, problemas nos joelhos em geral, na vista (catarata, glaucoma, etc), osteoporose, hipertensão, taquicardia, angina e uma grande lista de doenças crônicas que vão chegando à medida em que a idade avança. Minha ex-professora de Yoga dizia que era a idade do "condor".
E ainda tem a questão espiritual/existencial: o fato de não ter encontrado ainda (na maioria dos casos, acredito) as respostas para as perguntas básicas da vida e não saber para aonde está indo. O medo de deixar coisas mal resolvidas, de abandonar as pessoas que ama e supostamente dependem de você. A sensação de não ter realizado seus sonhos e ideais - aqueles que a gente alimentou na juventude.
Caramba, que papo bravo para um domingo, hem? Provavelmente vou seguir a minha com todas essas (in) certezas, mas vou procurar valorizar um pouco mais cada minuto que eu tiver. A gente se preocupa com muita bobagem, muito detalhe pequeno. Passa a vida carregando um monte de quinquilharia moral que foi acumulando ao longos dos anos.
A única certeza que tenho neste momento é a importância do afeto e dos laços que me unem às pessoas da minha família, que me amam e me conhecem (?) desde pequena (os mais velhos, é claro).
Quanto aos meus planos ... Estou tentando estabelecê-los diante da constatação terrível de que as coisas na minha vida acontecem de uma forma totalmente não planejada. Por enquanto, só tenho alguns: continuar trabalhando, cantando, dançando e fazer yoga/caminhada e, se possível, natação, até o fim dos meus dias. Ah, continuar cultivando este blog.

sexta-feira, 6 de novembro de 2009

Ninho vazio

Hoje foi um dia especialmente corrido e tenso. Choveu muito em Cuiabá, o tráfego estava pior do que nos dias normais e tive que correr para resolver problemas pessoais no horário de almoço. No trabalho, muita pressão, várias demandas - algumas resolvidas satisfatoriamente e outras nem tanto.
O pior de tudo foi a sensação de angústia - que ainda persiste - por causa da viagem da minha filha mais nova, que foi para Ribeirão Preto prestar vestibular para a Unesp. Esse é o primeiro dos dois vestibulares que ela vai prestar fora de Cuiabá e, se ela passar ... (suspiro) ... bom aí não sei como será. Só esse pensamento é suficiente para encher meus olhos de lágrimas, mas acho que não tenho o direito de lhe cortar esse desejo: de sair de casa, de ir embora de Cuiabá. Minhas "filhotas" estão querendo voar com as próprias asas, embora ainda dependam tanto da mãe.
Em meio a essas pensamentos, durante o bom tempo que passei presa no trânsito, pensei nos pedestres sob a chuva e também nos feridos e doentes de Cuiabá que se amontam no Pronto Socorro de Várzea Grande por causa da crise da saúde que se arrasta há um tempão e das obras no PS da capital. Pensei no major norte-americano que saiu atirando na base militar de Fort Hood. Se o psiquiatra está assim, imagine os demais ...
Tive mais vontade ainda de conservar minhas filhas perto de mim e protegê-las, Mas quem há de nos proteger?
"O acaso vai me proteger enquanto eu andar distraído" - cantam os Titãs e a gente tenta se apegar nessa possibilidade (mas um dos integrantes do grupo, o guitarrista Marcelo Fromer, morreu atropelado por um motociclista em São Paulo).
Já são mais de 6h da tarde e acho que já está na hora de parar de dar corda aos pensamentos. Como se fosse fácil fazer a nossa mente e nosso coração se aquietarem.

quinta-feira, 5 de novembro de 2009

Impunidade

Sempre tive o maior respeito pelo deputado José Genoíno (PT-SP), que agora é réu no processo de mensalão que tramita no STF. Mas quando ele ataca o projeto de lei de iniciativa popular que pretende impedir a candidatura de quem tem ficha suja está naturalmente legislando em causa própria e, na minha modesta opinião, misturando alhos com bugalhos ao associar a proposta à ditadura militar.
Puxa vida, vivemos no país da impunidade, da falta de limites. Não se pode falar ao celular enquanto se dirige, mas todo mundo fala, eventualmente é multado, mas depois a gente descobre que grande parte das pessoas que teve a carta de motorista cancelada simplesmente continua com o documento porque a lei (foi o que eu entendi) diz que cabe ao infrator entregar a carteira quando atinge o limite de pontos. A maioria não faz isso.
Esse exemplo só demonstra que - vamos botar a mão na consciência - ainda perdura a ideia do jeitinho, de levar vantagem, de burlar a lei, afinal, "por que vou ser tão certinha se tem tanto político roubando, tanto policial corrupto, etc?"
Então, a iniciativa do PL é válida sim. Enquanto o candidato a candidato estiver sob suspeição, não pode ser candidatar e ponto final. Quem sabe assim os políticos profissionais (que vivem pendurados nas tetas do poder) não vão se movimentar para que a Justiça seja mais célere de modo a provar sua "inocência"?
Eu, pelo menos, não aguento mais ouvir falar de deputado, senador, prefeito acusado, condenado, preso por peculato, roubo, assassinato, etc.

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Jogos mortais

Acabei de ler uma notícia no jornal O Globo sobre o lançamento do sexto filme da série "Jogos mortais". "Quem ainda aguenta os filmes da série?" - esse é o título da matéria que se refere a esse tipo de filme como "torture porn", traduzido como "pornô da tortura".
Adorei o termo! Eu, que passo longe desse tipo de filme e não consigo imaginar que tipo de gente gosta de vê-lo, não conhecia esse termo e fiquei mais aliviada de saber que na Espanha "Jogos mortais VI" teve sua exibição restrita a salas dedicadas a filmes pornográficos. Tudo bem que muito jovens vão assisti-lo em casa em DVD ou cópias baixadas na internet, mas pelo menos há um questionamento em relação à finalidade de um filme onde cenas de sangue, mutilação e dor são mostradas em todo seu "esplendor".
Mesmo que eu não goste de filmes pornográficos, tenho que respeitar que haja gente que goste.
Estou cada dia mais fresca e vou acabar assistindo somente desenhos animados do Walt Disney (daqueles antigos, tipo "Bambi" e "Fantasia"). Brincadeiras à parte, mesmo que meus amigos recomendem como "ótimo cinema" não gosto de assistir àqueles filmes que abusam da violência. Mas abri uma exceção para ver "O lutador", que rendeu prêmios ao ator Mickey Rourke. Tenho horror a filmes de luta (embora tenha visto "Touro indomável" e "Menina de ouro"), mas uma amiga (Mônica) disse que valia a pena e que as cenas de luta não eram assim tão terríveis.
Ainda bem que vi o filme em casa porque eu me levantei nas sequências de luta, porém realmente valeu a pena assistir. Mickey Rourke (que apreciei em clássicos dos anos 80, como "Coração Satânico", "O selvagem da motocicleta" e, é claro, "Nove semanas e meia de amor") está realmente fabuloso e é de cortar o coração seu discurso final. Ele está falando como Randy, mas parece que está contando a sua própria história. "Já fui mais bonito", diz, entre outras coisas. O contraste entre a sensbilidade e a explosão de brutalidade é incrível. Muito interessante também acompanhar os bastidores das lutas, as combinações dos golpes, os jogos de cena e criação de personagens abordados num artigo célebre do semiólogo francês Roland Barthes.
Gostei muito do filme, mas continuo não entendendo como pessoas fazem da luta uma profissão e o que mais me intriga: como tem gente (homens e mulheres) que gosta de ver as pessoas se torturando, se autoflagelando e sangrando. Há gosto para tudo num mundo onde até hoje crucificações e apedrejamentos são espetáculos públicos.

terça-feira, 3 de novembro de 2009

Uma pitada de otimismo

Não poderia começar a semana (de fato) sem comentar as imagens (incômodas e que não saem da minha cabeça) das cenas de tortura num presídio de Santa Catarina. Como não vi a matéria completa, só hoje fiquei sabendo que as imagens seriam de fevereiro de 2008. Vi o governador de Santa Catarina dizendo que os responsáveis devem ser punidos rigorosamente, mas fiquei com uma sensação de déjà vu.
Todo mundo está careca de saber que esse tipo de coisa acontece rotineiramente nas delegacias e presídios do país. Há muitos anos li um livro que até hoje não esqueci: "Lúcio Flávio - o passageiro da agonia", escrito pelo jornalista José Louzeiro, um dos melhores livros-reportagens que conheço. As descrições das torturas e humilhações sofridas pelo assaltante - que tinha uma inteligência acima da média e foi o primeiro a questionar a diferença entre policiais e bandidos - são de embrulhar o estômago de qualquer um. A cultura da violência persiste e o que me espanta é ver as autoridades fazendo uma cara de surpresa como se vivêssemos em outro mundo.
Mas, de qualquer maneira, acho que é sempre é válido (embora doloroso) que essas notícias venham á tona. Quem sabe um dia essa cultura deixa de existir ou realmente se torne um traço de um passado vergonhoso?
Gostaria de comentar uma notícia bacana: li em O Filtro que "as principais entidades civis contra a corrupção estão se mobilizando para lançar em 2010 uma campanha, pela internet, contra os candidatos ficha suja e contra fraudes e desvios de dinheiro em campanhas eleitorais". É uma iniciativa muito boa porque a parte da sociedade que não rouba, não corrompe e não se beneficia das safadezas não pode ficar dependendo da boa vontade do atual Congresso e nem permanecer calada, simplesmente se queixando da política e dos políticos. Política, polícia se tornaram sinônimos de coisa ruim, mas a gente tem que acreditar na possibilidade de resgatar e reforçar o lado bom da sociedade. A internet pode ser uma arma poderosa nesse sentido.
Será que estou sendo excessivamente otimista?

segunda-feira, 2 de novembro de 2009

Calango

Acordei me coçando para escrever sobre a noite de ontem no Festival Calango. Foi muito legal! Como eu queria assistir a uma série de apresentações que começava às 20h e terminaria por volta de meia-noite, e contava com atrasos habituais nesse tipo de evento, cheguei à Praça das Bandeiras pouco depois das 8h. Encontrei uma multidão! O vocalista de uma das bandas que se apresentou falou num público de cerca de 3 mil pessoas. Tentei lembrar os velhos tempos de repórter de geral e calcular o público presente, mas nunca fui boa nisso. Mas vamos lá, acredito que deveria ter nesse momento umas 1.200 pessoas, porém considerando o público circulante, eu diria que nunca fui a um evento com tanta gente em Cuiabá.
Como cheguei sozinha, fiquei meio assustada procurando meus amigos que ficaram de ir. O público era muito jovem (menos de 20 anos) e bastante animado. Consegui localizar um amigo jornalista que se destacava pela altura e me juntei ao grupo, depois fui encontrando outras pessoas amigas.
Para minha surpresa a apresentação da Lu Bonfim começou logo depois, quase na hora marcada. Ela fez um show ótimo, com sua presença e voz marcantes, porém teve a missão espinhosa de tocar entre duas bandas de rock. Ou seja, o público que estava na frente não queria saber de samba naquele momento, mas ela deu conta do recado.
Depois teve mais três bandas de rock: uma de Cuiabá (Os Inimitáveis) e duas do Sul (Newilton do Paraná e Cassim e Barbaria de Santa Catarina). Não prestei tanta atenção (estava encantada com os rapazes que ficam dançando break), mas achei o som bem legal, principalmente de uma das duas sulistas (acho que foi a de SC) que mandou uma citação musical de Hermeto Paschoal e falou do músico para um público que praticamente o desconhece.
O mais incrível é que as apresentações se sucediam numa rapidez impressionante, já que foram montados "dois" palcos num só, ou seja, quando um grupo estava se apresentando, a equipe de produção já ia preparando a estrutura para o próximo. Show de bola!
Quando Paulo Monarco começou a se apresentar, meus amigos e eu nos aproximamos do palco e aí deu pra sentir a mudança gradual do público. Os meninos sem camisa, que ficam pulando e a gente fica sem saber se estão dançando ou brigando, foram indo embora e ficou o pessoal mais velho ou alternativo. Paulo Monarco foi ótimo como sempre (é incrível como ele cresce no palco) e mandou as composições conhecidas de seu público (estava com saudades de ouvi-lo).
Logo depois entrou Toninho Horta. Não sabia o que esperar, pois fazia tempo que não o via. Na apresentação de mais ou menos meia hora (foi o padrão), tocou músicas que eu conhecia: "Beijo partido", "Manuel o Audaz" e outras cujo nomes não me lembro, mas que fazem parte do disco "Terra dos pássaros". Foi muito gostoso relembrar aquela sonoridade que embalou parte da minha juventude e engraçado ver o Toninho (cinquentão? sessentão?) no palco. Ele estava bastante simpático e comunicativo e falou de um trabalho novo que está fazendo com músicos da nova geração. Quando terminou a apresentação (sem bis!) havia a possibilidade, segundo a organização, de falar com os músicos, tirar fotos. O amigo que estava comigo até sugeriu que eu fosse, mas fiquei com preguiça. Falar o que? Preferi aguardar a apresentação de Ebinho Cardoso - outra grande presença no palco. Ebinho é alto e sem grande esforço domina a cena com seu baixo e sua voz. A surpresa ficou por conta do tecladista que o acompanhou (cujo nome não gravei). Muito bom! Os outros músicos (o baixista Samuel Smith e o baterista Sandro Souza) mostraram o talento de sempre.
Depois dessa apresentação, fizemos o último deslocamento da noite para assistir ao show do Marku Ribas. Muito bom! Confesso que não conhecia nada desse músico. Ótimo cantor, ótima presença no palco, ótima banda e suas músicas - uma mistura de ritmos brasileiros - conseguiram fazer dançar a plateia que, naquela altura do campeonato (1 hora?), já não era tão numerosa. Depois dele ainda teve uma banda local (Linha Dura), mas não fiquei para assistir.
A se criticar apenas a falta de iluminação nas vias laterais da Praça das Bandeiras e de policiamento do lado de fora. Mesmo assim não vi uma briga sequer. Outra crítica: só vi quatro banheiros químicos, que ficam totalmente escuros. Ah, a latinha de Skol custava R$ 3!
Em compensação, o vento estava uma delícia e, por alguns instantes, tive até a ilusão de que estava no Rio de Janeiro. O tremular das bandeiras que dão nome à praça davam um encanto especial e me ajudavam a lembrar que eu estava em Cuiabá mesmo. Mas seria ótimo se Cuiabá tivesse mais eventos como esse.

domingo, 1 de novembro de 2009

Última chance

Ontem à tarde vi um filme muito gostoso, daqueles estilo sessão da tarde. Foi uma indicação de uma amiga, Mônica. Apesar da despretensão da proposta, ele fez me pensar e tocou fundo no meu coração. Chama-se "Tinha que ser você", um título bobo que nada tem a ver com o original "Last chance Harvey" - alguma coisa como "Última chance (no sentido de oportunidade) Harvey".
Harvey é o nome do protagonista, interpretado por Dustin Hoffman. Ele está tão fofo! E a "moça" da história é Emma Thompson, uma atriz inglesa fabulosa. Só a interpretação dos dois vale o filme, dirigido por um novato, Joel Hopkins.
Trata-se da história de um sessentão solitário, profissionalmente fracassado, desajeitado, que sofre um rude golpe quando vê a única filha escolher o padrasto para levá-la ao altar. Ele acaba conhecendo por acaso uma quarentona também solitária e os dois acabam vivendo uma história de amor. Não é uma história de amor arrebatadora, é mais uma amizade que vai se transformando em amor.
O filme me fez pensar em como é difícil começar uma história de amor depois de uma certa idade. Você deixa de acreditar no outro e também em si mesma. É mais "cômodo" ficar na posição já conhecida por mais que a gente deseje e sonhe com outro amor. É como se tivesse uma vozinha interna dizendo: "Você já teve suas chances, portanto ..."
Nos filmes e romances, a gente acompanha com ansiedade os encontros e desencontros, as frases ditas e os olhares que muitas vezes falam mais do que as palavras, e torce por um final feliz. Nem sempre ele vem (como no filme "O lutador", ao qual assisti hoje e que comentarei em outra oportunidade) ou, pelo menos, vem a tempo. Mas na vida real é tão difícil lidar com os silêncios, o desaparecimento do outro e com a nossa própria dificuldade de se lançar numa relação. Cautela? Prudência? Medo de amar e se decepcionar? Sim, mas o que vale a vida sem o risco? Quando a gente sabe que tem a última chance?