segunda-feira, 29 de outubro de 2012

Na contramão

 
 
 
Neste final de semana de muitas decisões nos municípios que tiveram segundo turno, o fato mais marcante para mim foi ter assistido, finalmente, ao filme "Incêndios", do canadense Dennis Villeneuve.
Valeu a pena esperar!
No ano passado, várias pessoas da minha família elogiaram o filme e eu fiquei muito a fim de vê-lo, mas nunca conseguia, até que na semana passada o rapaz da videolocadora Casablanca me ligou dizendo que o DVD tinha chegado. A dona da locadora comprou o DVD por sugestão minha.
O filme é tão impactante que vi na sexta-feira à noite e voltei a assisti-lo na tarde de sábado com uma amiga. Não me cansei nem por um segundo. Muito pelo contrário, consegui saborear melhor cada cena, cada detalhe do quebra-cabeça. Muito rico.
Contei a história para minha filha Diana e para sua avó e, nas duas vezes, me dei conta da riqueza de detalhes. O filme não é só o enredo, que até lembra uma telenovela de tão dramático, intrincado e surpreendente.
Cada cena, cada passagem é significativa por si só e tem sua beleza, mesmo que seja uma beleza de cortar o coração, como a cena inicial dos meninos tendo seus cabelos tosados ao som da belíssima canção do grupo Radiohead.
Os planos são longos, as cenas parecem demasiados longas e inquietam quem está por demais acostumado ao ritmo dos filmes norte-americanos. Mas, quando você realmente consegue controlar a ansiedade e entrar no clima, como tudo é bonito e se impregna na nossa mente, no nosso coração!
Acho que nunca me esquecerei desse filme, da dramaticidade da guerra que serve de pano de fundo para a história, da tristeza dos olhos dos personagens: a guerreira Nawal Marwan, seus filhos gêmeos Jeanne e Simon, o filho perdido Nihad e todos que eles vão encontrando pelo caminho em suas jornadas solitárias e dolorosas.
No filme, nunca fica claro em que país do Oriente Médio a história se passa, mas segundo os comentários que li, o filme é baseado numa peça do libanês Wadji Mouawad.
A gente pensa "que guerra mais besta" que destroi tantas vidas, quanta brutalidade, quanta destruição!
Mas o mais triste é pensar que tudo isso continua acontecendo na Síria, no Afeganistão, no Iraque, na Palestina e tantos outros lugares onde o ódio religioso serve de cortina para uma matança desenfreada e, na minha opinião, sem sentido e sem fim.
 
 

segunda-feira, 22 de outubro de 2012

O anjinho e o diabinho

Hoje li um artigo muito interessante do diretor do Instituto de Estudos do Comércio e Negociações Internacionais - Ícone (http://www.iconebrasil.org.br/pt/), André Nasser, em que ele faz um contraponto entre o que lhe sopra aos ouvidos o "anjinho" e o "diabinho" sobre assuntos variados, tais como mensalão, bolsa-família, combate ao crime e o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).
No final, diante dos argumentos otimistas do "anjinho" e das críticas do "diabinho", ele acaba optando por ouvir o segundo, sob o argumento de que "apontar os desafios, portanto, é mais importante que ovacionar cegamente as conquistas".
É mais ou menos assim que me sinto em relação a Cuiabá, a Mato Grosso, ao Brasil e ao mundo em geral.
Estamos na última semana de campanha para a Prefeitura de Cuiabá, em que o segundo turno foi inevitável, colocando em confronto o simpático candidato do PT com seus aliados assustadores (o governador Silval Barbosa, o senador Carlos Bezerra e o ex-secretário Eder Morais, sem falar nas lideranças nacionais do PT) e o esforçado candidato do PSB, o empresário Mauro Mendes, uma incógnita em termos políticos e com fama de administrador competente.
Ouvindo a propaganda dos dois, a gente chega a achar que seremos mais felizes independentemente de quem ganhar, tantas são as promessas, os sorrisos e as esperanças despertadas.
Mas, aí, parodiando André Nassar, chega o diabinho para atrapalhar tudo, lembrando que em época de eleições é sempre assim, a gente sempre acha que a cidade vai ficar um tiquinho melhor se um dos vencedores fizer a metade do que prometeu, mas desde que estou aqui (há nove anos) é decepção atrás de decepção.
Que me desculpem os bairristas, mas Cuiabá está cada dia pior. Há carros demais, trânsito caótico, engarrafamentos a toda hora, crateras em todas as ruas, calçadas cheias de lixo e obstáculos, insegurança por todo lado. Falta planejamento e sobra caos por todos os lados! 
Há um mês a Prefeitura instalou jardineiras em seis rotatórias das cidades. A ideia é boa: eles pegaram sucatas de carros e convidaram artistas para pintarem as "latas-velhas", que foram decoradas com flores e folhagens com um efeito meio tropicalista. A ação de vândalos está colocando o projeto em risco.
Moral da história? Acho que é por isso que não tenho tido muita vontade de escrever no blog: o diabinho anda mais forte e me deixa muito pessimista em relação a quase tudo. Só que hoje, lendo o artigo de Nasser, percebi que o diabinho não precisa ser do mal ou um chato, ele pode ser apenas um agente que leva a gente a pensar, a questionar e não aceitar tudo com resignação.
Talvez eu precise acreditar mais na minha sensibilidade e inteligência e na capacidade de dizer não sem parecer uma chata de galochas. A gente pode (e deve) dizer não, mas tem que dar opções, tem que vislumbrar opções. Caso contrário, a gente se sente morrendo um pouquinho a cada dia.
 
 

domingo, 14 de outubro de 2012

Saudade

A minha saudade é uma coisa estranha ... 
Minha filha caçula veio passar o feriado comigo. Numa decisão de última hora pegou o ônibus, enfrentou cerca de mil quilômetros de estrada e veio ficar quatro dias conosco.
Ainda ontem eu aguardava com ansiedade sua chegada à rodoviária de Cuiabá e agora já está quase na hora de levá-la de volta. E aí a saudade, que andava adormecida, volta a incomodar - uma sensação estranha de tristeza e vazio.
Amanhã, voltarei à rotina e pouco a pouco as coisas vão se encaixando novamente porque sei o quanto ela está feliz em Jaboticabal, com seus amigos de faculdade e de república.
Passamos dois dias em Cáceres - a cidade onde vivi alguns dos anos mais difíceis e mais felizes da minha vida. Sempre me pergunto quando vou lá se me acostumaria novamente a viver naquela cidade, embora isso esteja totalmente fora de cogitação. Essa é uma elocubração que me permito. Vejo as ruas vazias, o silêncio quase absoluto da rua onde ficava a casa onde me hospedei (que hoje pertence a meus cunhados, mas pertenceu por muito tempo a uma prima e uma tia muito queridas) e me pergunto se trocaria a agitação de Cuiabá por Cáceres novamente. 
Adoro a balbúrdia dos pássaros nos quintais, as casas enormes e confortáveis, mas já estou  habituada novamente à praticidade de um apartamento.
Vivi um sonho feliz em Cáceres, uma história de amor que parecia que era para sempre e acabou faz tempo, deixando-me belas lembranças e duas filhas maravilhosas. Dei aulas na universidade, escrevi um livro do qual me orgulho, fiz muito amigos. 
Fico um pouco triste por conseguir encontrar poucos deles quando vou lá. A vida segue e as pessoas vão tomando outro rumo, fazendo novas amizades, novas conexões, mas isso não pode apagar o prazer que cada amigo me deu numa determinada época da minha vida.
Desta vez reencontrei um amigo que não via há anos e foi um encontro muito feliz.
Não adianta: tenho meu lado melancólico e, em vez de fugir dele ou criticá-lo, devo aceitá-lo como uma prova de sensibilidade.

PS. Parece que a despedida é mais triste quando acontece numa rodoviária ...
 

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Futuro nebuloso

Às vésperas das eleições municipais, meu sentimento, infelizmente, é quase de apatia. Não estou triste, mas desesperançosa. Ontem, nem tive disposição para perder tempo do meu sono e assistir ao último debate entre os candidatos a prefeito em Cuiabá. Pelos comentários que vi hoje, nada perdi. O debate foi morno.
Nem vou ficar falando sobre as características de cada candidato, que já comentei superficialmente aqui. O que me assusta é ver como as pessoas em geral se entusiasmam tanto com a candidatura do médico Lúdio Cabral (PT), que tem voz e fisionomia calmas e cativantes, porém está cercado das forças mais tenebrosas da política mato-grossense, na minha opinião.
Se eu fosse chargista, faria uma charge assim: Lúdio, com sua aparência angelical, com asinhas de anjo e coroa de santo, cercado pelas sinistras figuras do atual governador Silval Barbosa, do presidente do PMDB, Carlos Bezerra, e do ex-superpoderoso da Agecopa, Eder Morais.
Também não suporto esse discurso de que todos os empresários são maus e só querem o mal do povo. Que papo mais antigo, quase pré-histórico! Como se todos os demais - médicos, funcionários públicos, juízes, advogados - fossem a fina flor da humanidade!
Nos últimos dias andei pensando sobre Cuiabá: que cidade temos, que cidade queremos. A cidade tem um trânsito caótico, ruas estreitas misturadas a avenidas largas; as ruas estão esburacadas e as calçadas, ah, as calçadas, são um campo minado em grande parte desta capital; transporte coletivo que só é usado por quem realmente não tem condições de se movimentar de carro ou  motocicleta; a saúde pública é um caos e acabei de ler no blog do dr Gabriel Novis Neves (Bar do Bugre) que vão acabar com a Policlínica do Verdão por causa das obras da Copa do Mundo; a violência e a insegurança pública são cotidianas e afetam pessoas de todas as classes sociais.
Não vi qualquer dos candidatos a prefeito falando com propriedade e seriedade sobre esses temas que afetam nosso dia a dia. Não consigo me convencer de que teremos uma cidade melhor a partir da administração de fulano ou sicrano. Mas alguém tem que administrar a "casa", tocar o barco e eu decidi votar em Mauro Mendes. Confesso que tenho curiosidade de saber como ele - o super empresário tão bem sucedido - vai se sair administrando uma capital tão problemática.
Quanto a vereador, decidi votar no Jaime Okamura, um cara que conheci nos bons tempos do Festival Internacional de Pesca em Cáceres. É uma pessoa focada no turismo, na beleza, sangue novo na Câmara. Quem sabe ele consegue emplacar alguns bons projetos e alterar um pouco a péssima imagem da Câmara Municipal de Cuiabá?
Não posso deixar de registrar aqui um acidente terrível que aconteceu esta semana perto de Cáceres, alías, dois. O primeiro matou uma moça que foi uma das primeiras pessoas que conheci na cidade no final dos anos 80, Sophia, e deixou gravemente ferida sua amiga - ambas atropeladas quando passeavam de bicicleta por um carro desgovernado e dirigido por um homem sem habilitação.
O outro, ainda mais trágico, matou sete pessoas, quase todas estudantes universitários que viajavam de ônibus a caminho da faculdade em Cáceres. Todos eram moradores do município de Curvelândia. O ônibus parou por causa de outro acidentes ocorrido na MT 175 e uma caminhonete Hilux que vinha em alta velocidade acabou atropelando uma leva de pessoas. O motorista está preso e alegou que a estrada estava mal sinalizada, porém não justificou sua velocidade altíssima numa rodovia precária. Nada vai devolver a vida dos que morreram, jovens universitários que provavelmente estavam realizando o sonho de pais pequenos produtores rurais.
Se todos fossem menos inconsequentes na direção, ocorreriam menos tragédias como essa, mas esperar que isso aconteça, isso sim é uma ilusão. Por isso, infelizmente, tem que haver punições mais exemplares para quem as causa, embora eu acredite que levar na consciência o remorso de ter provocado tantas mortes já é uma punição bem grande.