sexta-feira, 30 de setembro de 2011

Faroeste caboclo 2

Sei que hoje é sexta-feira e é dia de relaxar, curtir, festar, mas não estou no clima, embora mais tarde vá ao lançamento do livro "Kyvaverá"  da editora para a qual estou trabalhando. Acho que vai ser legal. 
Mesmo assim queria falar um pouco sobre os últimos assassinatos de Cuiabá. Todo dia, acredito, alguém é morto em Cuiabá, mas alguns assassinatos chocam mais pelo fato do morto ser conhecido, pelas circunstâncias da morte, sua brutalidade ou mesmo proximidade.
Nessa relação incluo  a morte do jornalista Auro Ida, que continua misteriosa (até hoje a polícia não identificou quem foi responsável); a do empresário Adriano, executado de uma forma absolutamente estúpida por um segurança de banco (que está foragido); a do empresário assassinado por ladrões por volta de 2 horas da tarde pertinho da empresa onde trabalho; a do estudante africano Toni (espancado até a morte por três homens numa pizzaria) e, finalmente, a de um professor e dono de um cursinho da capital ocorrida ontem.
Ele foi executado com quatro tiros. por volta das 7h, por um homem que o esperava perto do estacionamento onde deixava o carro todo dia numa das avenidas mais movimentadas e nobres de Cuiabá. Pessoas ainda são executadas nesta capital em plena luz do dia, numa prova de que os pistoleiros não estão nem aí para a polícia e/ou a justiça.
Minha angústia é que esses crimes fiquem impunes. Não vejo um verdadeiro clamor na sociedade e, tampouco, alguma autoridade (prefeito, governador, vereador, deputado, etc), mostrando-se chocada com os acontecimentos.
É essa a cidade que se prepara para a Copa do Mundo de 2014?
É claro que sei que no Rio de Janeiro, São Paulo e outra capitais acontecem crimes terríveis, mas sinceramente, a violência em Cuiabá está muito próxima e cada vez mais desavergonhada.
Não sou dada à paranóia, mas juro que ultimamente tenho pensado duas vezes antes de sair de casa à noite.

PS. Eu me esqueci de contar que ontem aconteceu mais um assalto a banco numa cidade do interior, o pequeno município de Feliz Natal, no Nortão. O assalto foi da modalidade apelidada de Novo Cangaço, com ladrões fortemente armados e reféns. Eu discordo desse termo. Acho que nada tem a ver com o Cangaço, que imortalizou figuras como Lampião, Maria Bonita e Corisco.

quinta-feira, 29 de setembro de 2011

Fobias

Minha filha caçula me manda um torpedo de Jaboticabal (SP) dizendo: "Mãe, estou abrindo uma barata para analisar o sistema digestivo. Obs.: a barata veio do cemitério. Gostaria muito que vc estivesse junto comigo agora! Beijinhos!" 
Que meigo!
Essa mensagem é a prova inconteste de que fobias não são hereditárias. Minha mãe não tinha medo de barata. Tratava-as a chineladas. Eu tenho horror a baratas e minhas filhas não compartilham a minha fobia. Imagine se eu iria abrir uma barata para analisar o sistema digestivo dela! Não sabia que para estudar Agronomia precisava "abrir baratas".
Como não falei com minha filha ontem, não sei detalhes: como foi capturada a barata? Quem a matou?
Só sei que ela (minha filha) está organizando um insetário este semestre. Decididamente prefiro manter distância de insetos.
É engraçado: pererecas não me assustam. Anteontem mesmo, vi algo se movendo no banheiro da empresa onde trabalho e quando constatei que era uma perereca entrei numa boa. Se fosse uma barata ...
Nunca tentei descobrir o motivo do meu horror a baratas. É claro que isso me incomoda, mas convivo com ele há décadas.
Tenho um monte de histórias engraçadas (ou horríveis) para contar, dependendo do ponto de vista, e coleciono outras tantas. Geralmente quem tem medo de barata acaba ouvindo um monte de histórias por aí ...
Acho que vou morrer tendo medo de barata e, provavelmente, elas - é o que dizem os estudos - sobreviverão ainda por muitos e muitos anos.
Fico feliz e orgulhosa de saber que minha filha encara como curtição sua experiência de analisar o aparelho digestivo das baratas no laboratório da Unesp.  Se continuar na sequência, provavelmente a filha dela terá medo de barata como a avó.
Tomara que não!

terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ser jornalista

Hoje estive pensando: o que faz de uma pessoa jornalista? Antigamente, bem antigamente, que eu saiba, era o fato de trabalhar num jornal ou em algum tipo de publicação que cumpria a função de transmitir notícias e/ou ideias de forma periódica.
Quando dei aulas de História da Imprensa no Brasil no curso de Comunicação Social na UFMT, descobri jornalistas incríveis que, num passado não muito distante, publicavam seus próprios "jornais" na marra e escreviam com suas publicações a história da imprensa nacional. Alguns jornalistas eram escritores famosos e outros se tornaram escritores famosos (como Euclides da Cunha)
No final do século XIX, foram surgindo jornais mais estruturados que, com o tempo, tornaram-se verdadeiras empresas. Persistia a ideia do dono do jornal como alguém que gostava de escrever e cheguei a conhecer  - e trabalhar em jornais - com esse perfil: O Globo de  Roberto Marinho, Ultima Hora de Samuel Wainer e Tribuna da Imprensa de Hélio Fernandes.
Nessa época (anos 70 e 80) já eram grandes os embates entre empregados e patrões, mesmo que eles gostassem de ser chamados de companheiros. O jornalismo perdia aos poucos o romantismo dos primeiros tempos e os jornalistas, aqueles que eram assalariados, lutavam por uma carga horária mais justa, pagamento de horas extras e outros direitos trabalhistas, embora enfrentassem uma realidade em que vigorava a máxima de que jornalista que se preza tem hora para chegar, mas não tem hora para sair.
Passei praticamente 12 anos afastada do jornalismo (devido a uma mudança de Estado e estilo de vida). Muita coisa mudou nesse meio tempo. As condições de trabalho nas redações pioraram muito em vários aspectos e hoje quase todo mundo sonha com uma assessoria para se sustentar.
Com o advento da internet, ficou mais "fácil" fazer jornalismo e o fim da exigência do diploma (definida pelo STF) desvalorizou ainda mais essa profissão em termos financeiros. Entramos na era do ctrl c/ctrl v.
Hoje, há inúmeros sites, blogs (como este), revistas e o jornal impresso luta para sobreviver e pela atenção de leitores e patrocinadores. Acaba, na maioria dos casos, principalmente, nas cidades de menor porte, na dependência absoluta do poder público, com tudo que isso implica.
Não é minha proposta aqui fazer um artigo sobre o tema. Diga-se, de passagem, que pretendo fazê-lo. Na verdade, só dei tratos às bolas para uma pergunta que me acossou pela manhã: o que define um jornalista?
É o fato de dominar técnicas para transmitir bem uma notícia e contextualizar os acontecimentos? É o fato de trabalhar efetivamente (e depender disso para viver) na redação de uma empresa jornalística? É o fato de publicar artigos, crönicas rotineiramente em  jornais, revistas e sites?
Não pretendo dar uma resposta definitiva a essa pergunta agora, mas vou continuar pensando sobre o assunto.
Sou jornalista. Trabalho como jornalista num jornal diário, numa revista semestral e numa editora, onde atuo como jornalista (fazendo assessoria) e também como escritora. Também faço um bico como jornalista para uma sociedade médica (editando seu boletim). Gosto da minha profissáo, mas ando tão em crise com ela ...

segunda-feira, 26 de setembro de 2011

Vaias e (in)justiça

Li numa nota no site http://www.olhardireto.com.br/ que o secretário de Estado de Saúde, Pedro Henry, e o presidente da Agecopa, Eder Moraes, foram vaiados na solenidade de premiação da Seleção Brasileira de Vôlei, que aconteceu ontem, no Ginásio Aecim Tocantins. 
Juro que queria estar lá para curtir a cena. Sei que isso não muda muita coisa, mas que dá um gostinho bom dá.
Certos políticos parecem ter o rei na barriga e se acham acima do bem do mal. Será que estão?
Pode ser que nunca paguem pelos erros e irregularidades cometidos, mas um arranhão na imagem e na vaidade deles sempre incomoda.
No Rock in Rio, o presidente do Senado, José Sarney, também mereceu apupos do público sob o comando do vocalista do Capital Inicial, Dinho.
Só espero que essas manifestações não sirvam apenas para lavar a alma dos eleitores e que se reflitam nas urnas na hora de votar. É uma pena que Sarney foi se escorar lá no Amapá para se manter no poder.
Precisamos usar a internet não apenas para dizer "bom dia, boa tarde, boa noite", mas também para divulgar os fatos que dificilmente serão mostrados no Jornal Nacional.
A propósito, ontem li uma notícia triste no Diário de Cuiabá: matéria assinada pelo veterano repórter Adílson Rosa conta que prescreveu o crime cometido em fevereiro de 1995 pelo então vestibulando Sérgio Leonardo de Campos Braga.
Eu já tinha ouvido falar desse crime: Sérgio, segundo a matéria, saía de uma feijoada e colidiu com seu carro no fusca do eletricista João Bezerra, que voltava do trabalho. Discutiram e Sérgio teria pedido para amigos buscarem em casa a arma com que matou o trabalhador. Fugiu do flagrante, contratou um advogado dos mais prestigiados na época e nunca foi preso. Detalhe, Sérgio pertence a uma família poderosa de Mato Grosso. Hoje, ele é advogado. Essa é a justiça brasileira.
Infelizmente não é de hoje que a violência urbana e a injustiça mancham a bela capital mato-grossense.

sábado, 24 de setembro de 2011

Kyvaverá

"Kyvaverá é um nome índio/Branco não sabia pronunciar". Assim fala o médico e escritor Ivens Cuiabano Scaff,  no poema que dá nome ao livro "Kyvaverá", a ser lançado na próxima sexta-feira, às 19h30, no jardim do Sesc Arsenal.
Fico feliz por trabalhar na Entrelinhas Editora e poder participar desse momento tão bonito, numa época em que Cuiabá está tão asfixiada pela violência e notícias sobre corrupção, inoperância do poder público, etc.
Ivens vive nesta capital há quase 60 anos (vai fazer aniversário no dia 30) e consegue ver poesia em muita coisa.
Posso dizer que o conheci há três, quatro semanas, mas é uma figura formidável, alto astral, sempre cheio de causos e histórias engraçadas.
No livro, ele faz um inventário da Cuiabá de sua infância e mocidade, reconduzindo o leitor a uma cidade afável, divertida, aconchegante.  Fala de "verdureiros em seus carrinhos de mão, de padeiros carregando imensos cestos de vime, de empregadas reclamando da algazarra de passarinhos".
"(...) Não
não são as noites
são as manhãs

As minhas manhãs
As minhas manhãs que estão vazias (...)

Buzinas finalmente quebram o encanto
 Abriu o sinal" (Não são as noites).

A poesia de Ivens é assim, feita muitas vezes no meio da rua, entre o abrir e o fechar do sinal de trânsito.   Tem horas que lembra Manuel Bandeira, outras que lembra Carlos Drummond de Andrade e Vinícius de Morais.
É de simples leitura, mas não é descartável. Você tem vontade de ler e reler ...
Isso aqui era para ser só uma "palinha" do livro "Kyvaverá". Quem viver verá...

sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Barbárie



Toni Bernardo da Silva, 27 anos,  veio para Cuiabá estudar economia na UFMT há cinco anos, pelo Programa Estudante Convênio de Graduação (PECG).
Hoje, está morto, à espera dos trâmites burocráticos que talvez permitam que seja enterrado em sua terra natal, a Guiné-Bissau.
É claro que não tenho como contar cada pormenor dos anos vividos na capital mato-grossense. Dizem que abandonou o curso por conta do uso de drogas e que tem quatro passagens pela polícia, por tentativa de furto, pertubação da ordem pública e ameaça
Porém nada justifica a forma covarde e brutal como foi assassinado na noite de ontem numa pizzaria super simpática do bairro Boa Esperança, próximo ao campus da UFMT.
Testemunhas citadas no noticiário dizem que ele pedia dinheiro no local e teria abordado a namorada de um de seus agressores. Outros relatos dizem que ele escorregou e acabou esbarrando na tal namorada.
O fato é que o incidente acabou provocando uma enxurrada de socos e pontapés do tal namorado, um empresário filho de um policial aposentado, e dois PMs que estavam de folga e à paisana. Três homens agrediram Toni, que, segundo laudo do IML, morreu por asfixia causada por lesão na traqueia.
Uma de minhas irmãs disse que falo muito de casos de polícia aqui. Mas não posso me omitir diante de mais um caso tão absurdo, que escancara a brutalidade de uma parte da sociedade em que vivemos. 
O fato tem que ser apurado e  os responsáveis não podem ficar impunes, mas isso não é suficiente para evitar novas cenas de barbárie.
Nem sei o que dizer ... Lamento profundamente a morte desse rapaz, defendo a punição exemplar dos envolvidos e me manifesto em favor de uma cultura de paz, que parece uma utopia, mas a gente tem que acreditar nela se quiser sobreviver nesse mundo.

quinta-feira, 22 de setembro de 2011

Pais e filhos

Vou voltar hoje a um tema recorrente em minhas preocupações: qual o papel que pais ou outros adultos (ou crianças mais velhas) exercem na formação de uma criança?
Estou falando de educação, limites, de criar seres humanos razoavelmente equilibrados e incapazes de se fazerem mal ou fazerem mal a outras pessoas deliberadamente.
A pergunta voltou à minha cabeça ontem e é reforçada por alguns acontecimentos pescados no noticiário diário. O que leva um menino de 10 anos a atirar em sua professora e depois se matar?
O que leva pais a largarem dois bebês (duas meninas de um e dois anos) sozinhas em casa? O fato ocorreu em Várzea Grande e, segundo o jornal onde li a notícia (acho que foi no Diário de Cuiabá), as crianças estavam com fome e sede, e a mais velha tinha um hematoma nas costas, causado segundo o pai pelo fato dela ter passado inesperadamente no momento em que ele dava uma cintada no gato!
Minha primeira reação é odiar esses pais, mas fico me questionando se eles também conheceram alguma forma de cuidado, amor? Claro que nada justifica judiar, maltratar crianças tão indefesas (nem o gato merece uma cintada), mas tento entender o porquê de um comportamento tão cruel.
Para mim, crueldade é colocar os nossos desejos de adulto acima das necessidades dos filhos, é não dar um mínimo de rotina e conforto a um bebê, obrigá-lo a acompanhar o ritmo dos adultos, em matéria de decibéis e outras coisas.
Eu escolhi o momento de ter minhas filhas e por isso, ainda bem, pude me dedicar bastante a elas quando eram bebês, principalmente no primeiro ano de vida. Foi cansativo, mas como foi gostoso também! Sei que nem todo mundo deseja ter filhos e os tem na hora que quer.
Nunca vou me esquecer de um livro de Aldous Huxley que li na adolescência. Chamava-se "A Ilha" (1962) e tenho muita vontade de lê-lo novamente. Entre outras coisas interessantes, ele fala de uma sociedade que vive numa ilha, onde um náufrago vai parar. Eu me lembro de que lá as crianças não tinham pais, nem mães, e eram criadas pela comunidade. Na época, aquilo me causou muito estranhamento. Como viver sem o meu pai e a minha mãe? Mas achei bacana porque nesse caso as crianças deixam de viver um monte de problemas, traumas, causados por pais e mães, entre eles, o fato de não ter eventualmente conhecido seu pai ou mãe (ou ter sido rejeitado por eles) numa sociedade onde se cultua tanto a paternidade e a maternidade, e, ao mesmo tempo, pratica-se tanto a paternidade e/ou a maternidade irresponsável.

terça-feira, 20 de setembro de 2011

No chão

Hoje acordei meio preguiçosa, desanimada e aí pratiquei um pouco de yoga para me animar. Já estava bem mais alegre quando tocou o interfone. Alerta! Era a vizinha do apartamento de baixo dizendo que o vazamento voltou.
Há três ou quatro meses tive que quebrar chão e parede do box de um dos meus banheiros para localizar a origem de um vazamento. De novo? Bueno, tentei não perder o bom humor recém recuperado e liguei imediatamente para o encanador. A sorte é que ele é muito simpático e se comprometeu a fazer o serviço na sexta. Sugeriu que eu fechasse o registro de um dos banheiros e usasse apenas um para reduzir o vazamento e facilitar a identificação da origem do problema. Ele acha que se trata de um problema diferente do ocorrido da última vez. Veremos.
Recuperado em parte meu bom humor, fui à rua resolver coisas e, numa descida do carro para ir ao banco depositar uma grana (mais um motivo de bom humor), levei um tombo!
Prefiro revelar publicamente meu tombo do que guardar esse vexame para mim. Estou bem, mas como é desagradável cair na rua! Acho que ninguém viu meu tombo. Foi numa rua sem movimento (ou, pelo menos, estava naquele momento), paralela à Avenida Getúlio Vargas.
Tropecei (ou tropiquei, como diz o povo do Pantanal) numa espécie de batente idiota no meio de uma calçada. Caí de joelhos e naturalmente me apoiei numa das mãos (a direita).
Quando fui ao chão, eu me virei e fiquei sentada alguns segundos para sentir a extensão das consquências. Por sorte, estava de calças compridas, o que deve ter protegidos meus joelhos, que não ficaram ralados, apenas doloridos (principalmente o esquerdo).
A mão também ficou ardendo um pouco assim como o dedão do pé esquerdo, mas nada aconteceu de grave. Fui ao banco, fiz o que tinha que fazer e aceitei com alegria a ajuda da estagiária para digitar os números do código de barra de um boleto que o caixa eletrônico não quis ler.
Voltei para casa meio chateada, com uma sensação de enjoo e sono, mas estou bem.
Provavelmente, muita gente vai dizer: "Bem-vinda ao clube". Que clube? Das pessoas que tropeçam e levam tombos nas calçadas de Cuiabá e de outras cidades brasileiras.
Ah, consegui manter o bom humor e daqui a pouco vou ao lançamento do livro "mundo cerrado" do amigo Lorenzo Falcão.

segunda-feira, 19 de setembro de 2011

mundo cerrado


É com muita alegria que comunico aqui o lançamento do livro "mundo cerrado" (Entrelinhas) de Lorenzo Falcão. Estou fazendo a divulgação do evento pela Entrelinhas Editora e sou uma das últimas a postar a notícia. Não importa, o que importa nesse caso é divulgar, espalhar que mais um livro de poesia está sendo lançado aos quatro ventos.
Conheci Lorenzo em 2002 quando ainda morava em Cáceres. Ele lançou seu livro de contos "Motel Sorriso" na Sematur, onde eu trabalhava na época e me foi apresentado por uma amiga em comum, Vera Maquea.
Pouco tempo depois vim morar em Cuiabá e ele atendeu a um convite meu para bater um papo sobre jornalismo cultural com meus alunos do curso de Comunicação da UFMT. Foi muito gostoso.
Em 2008, cantamos juntos algumas tardes de domingo no coral do Sindjor, Na boca do povo. Acabei saindo do grupo e fiquei um ano sem ver Lorenzo até que este ano entrei em contato com Fátima Sonoda, sua mulher, por conta de uma matéria na Reserva Extrativista Guariba-Roosevelt para a revista Bio  e ela me convidou para almoçar em sua casa, num domingo. Nesse dia surgiu o convite para trabalhar como repórter do caderno Ilustrado do Diário de Cuiabá. Comecei no dia 12 de maio e ainda estou por lá.
Nossa parceria seria perfeita se não fossem alguns problemas que independem de nós e não vem ao caso.
O que importa é que Lorenzo é um grande cara (em todos os sentidos) e estou muito feliz por ele estar lançando seu livro de poesia. O lançamento no jardim do Sesc Arsenal promete ser animadíssimo: seus pais vieram do Rio para o evento (assim como sua filha) e o pai vai fazer uma breve apresentação com o coro SescCanta, do que Lorenzo e Fátima participam.
Lançamentos de livros costumam ser eventos divetidos: você encontra um monte de gente interessante, ainda come e bebe de graça. De quebra, leva o livro para casa.
E este, vale a pena levar. Não sou uma leitora de poesia, mas adorei ler os poemas de Lorenzo e peço licença para publicar um poema como aperitivo:
seja eu
faça os meus poemas
se for capaz.
aproprie-se do meu espaço
      cerebral
onde a combinação das palavras
gera versos e se acumula
             em poesia.
faça-o, se você for mesmo
            rei ou rainda da cocada preta,
e pare de brincar de mba,
comerciante de tuperware frustrado,
seja menos você e mais cobras e lagartos.
seja eu!

sábado, 17 de setembro de 2011

Monofoliar



Juliane, Jhon e Estela em foto de Juliana Segóvia


Assisti anteontem ao show "Monofoliar" no teatro do Sesc Arsenal, durante a mostra Guaná Aldeia Sesc de Arte e Cultura. É curioso, parece que faz tempo que conheço Estela Ceregatti, mas na verdade eu comecei a conhecê-la no início do ano passado, quando assisti à estreia do grupo Urutau e fiquei impressionada com sua voz e presença cênica.
Aos poucos, descobri que ela tinha sido vocalista do grupo Bionne (samba & choro) e também participou dos Novos Chorões - um grupo de jovens instrumentistas, liderado pelo casal Pio e Ellen Toledo (seus tios), que gerou muita gente boa.
Ou seja, Estella, como música, não nasceu ontem. Ela é ainda jovem (23 anos) e é claro que tem muito chão para percorrer (ainda bem), mas percebo nela um talento muito grande e uma personalidade musical muito forte.
O show "Monofoliar" não se resume à Estela, embora ela seja a figura central. As presenças de Juliane Grisólia na percussão, violão e vocal (sua parceira em várias apresentações) e de Jhon Stuart (contrabaixo, piano e percussão) são fundamentais. É bonito ver a parceria e o entrosamento dos três! Aliás, adorei a música "Três", composta pelo trio e apresentada na noite de quinta-feira.
Fui ao show meio na marra (é complicadíssimo ir ao Sesc Arsenal em noite de bulixo), mas resolvi aceitar o convite de Estela e fechar os olhos para ouvir o som que rolava.
Foi muito bom! Foi especialmente interessante ver o teatro do Sesc lotado (tudo bem que a entrada era franca, mas quantos espetáculos gratuitos não reúnem tanta gente!) e um público tão entusiasmado. É claro que muitos dos presentes são amigos de longa data, gente que vem acompanhando o trabalho de Estela há muito tempo, mas se vão assistir e vibram tanto é porque gostam.
Como já assisti a algumas apresentações de Estella este ano, algumas canções ("Céu reduto", "Segundo quarto", por exemplo) já me soam familiares e permanecem na minha cabeça.
Mas como é bom ouvir uma canção pela primeira vez e perceber que ela desce bem!
Quando a cantora e compositora Simone Guimarães esteve em Cuiabá, no final do primeiro semestre, ouviu o trabalho de Estela, Juliane e Jhon e pareceu bem impressionada, tanto que chamou-os para fazer uma participação especial no seu show no Jardim do Sesc Arsenal. Simone e Novelli (aquele do Clube da Esquina) fizeram alusão na época ao surgimento do grupo capitaneado por Mílton Nascimento.
É isso que sinto em relação a trabalhos de pessoas como Estela e seus parceiros musicais, Paulo Monarco e outros músicos mato-grossenses que estou vendo surgir: uma força criativa imensa que mostra como a música é linda e permite possibilidades infinitas na melodia e na poesia.
Desejo muito sucesso a todos eles e que tenham sabedoria para superar as armadilhas da vida (e do sucesso)! O mundo é bem mais vasto que Cuiabá.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Alegria, alegria

A alegria é louca, declara Maria bel Baptista em seu blog DiáRio de MaRias http://diariodemarias.blogspot.com/. Mas "é melhor ser alegre que ser triste", complementa Bel, citando o famoso verso de Vinícius em "Samba da Benção" (com Baden Powell).
Li isso ontem à noite e fiquei com a frase na cabeça. Bel deve ter razão.
Ontem fui buscar minha filha mais velha na UFMT à noite e ela quase teve um ataque de riso quando saiu no elevador porque quase fomos surpreendidas por alguém que entrou inesperadamente. Eu estava cantando e ela, olhando-se no espelho, pra variar.
É bom rir, mas não sou muito dada a gargalhadas. Sou econômica nas minhas manifestações de alegria e, hoje, mais uma vez enquanto nadava, fiquei pensando nisso, durante a minha psicanálise aquática.
Não me dou muita permissão para rir. Acho que é coisa de gente vulgar. Mulheres finas apenas sorriem, não riem alto, não gargalham. E morro de inveja de quem ri bastante, embora no meu íntimo tenha vontade de perguntar: está rindo de quê? Tem certeza de que você tem motivos suficentes para rir desse jeito?
São as contradições da vida: dizem que temos que agradecer por tudo que temos, mas rir demais provoca suspeitas, parece coisa de gente boba, que não leva a vida a sério.
Ultimamente várias pessoas têm me dito para levar a vida menos a sério. Está sentindo o peito oprimido? Vá ao cinema, divirta-se,  disse-me um médico há alguns dias.
Hoje estava decidida a buscar a alegria, o belo. Quando chegava ao trabalho, vi movimento de carro de polícia, mas desviei meu caminho para não passar em frente da confusão. Agora há pouco fiquei sabendo que ladrões mataram o empresário Índio do Brasil Ferreira Araújo, 51 anos, dono do pet shop situado a poucos metros de onde trabalho.  Fiquei chocada. Assim não dá para ficar alegre.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Chapada in Jazz

Só para fazer inveja aos leitores que não moram em Cuiabá, publico aqui a resenha que fiz sobre uma noite do Chapada in Jazz (veiculada hoje no Diário de Cuiabá).
As fotos foram cedidas por Rai Reis.

Leo Gandelman
Antes de tudo quero deixar bem claro que meu propósito não é fazer uma crítica ao Chapada in Jazz, que aconteceu em Chapada dos Guimarães, no último fim de semana. Até porque só tive condições de estar presente a uma noite do evento. Quero apenas como repórter (de folga) transmitir algumas impressões sobre o festival para quem não teve o prazer de acompanhá-lo.

Sou apaixonada por jazz e tive o privilégio de acompanhar as primeiras edições do Free Jazz Festival como repórter da revista Veja nos anos 80. Mesmo assim tenho dificuldades para definir o que é jazz. Precisa? O que posso dizer, de coração, é que jazz é magia e não é qualquer um que faz esse tipo de música: é preciso muito conhecimento para acompanhar o ritmo dos outros músicos no palco (o jazz é coletivo, por essência) e para comandar a banda, considerando que geralmente há um líder no palco.

Por outro lado, é uma música que qualquer um pode ouvir, desde que o ouvinte relaxe e se entregue à energia do som que está rolando. Foi isso que aconteceu na noite de sábado em Chapada dos Guimarães. O palco foi armado de costas para a praça, na confluência da rua dos Restaurantes e do calçadão Quinco Caldas. O público se instalou (meio apertado) nas mesas colocadas em frente ao palco e nas laterais da rua dos Restaurantes ( só ali era possível ter acesso ao serviço dos bares). Encontrei gente conhecida nos restaurantes que ficou por lá por não ter conseguido lugar perto do palco.

Sem considerar esses detalhes – afinal, meu objetivo era ouvir música – eu diria que foi uma noite memorável e aproveito para parabenizar o músico Ebinho Cardoso e Viviene Lozi, respectivamente, curador e produtora executiva do festival. O clima estava perfeito e a lua majestosa. Quer ambiente melhor para ouvir jazz? Só faltou alguém entoar “There`s a moon over Bourbon Street tonight...”

O primeiro grupo a se apresentar foi uma rapaziada muito nova de Brasília. Pedro Martins, o band leader, tem apenas 18 anos e acaba de lançar seu primeiro CD autoral, “Sonhando Alto” (Selo Brasiliano). Com seu quinteto e seu jeito de menino, ele apresentou uma meia dúzia de temas e impressionou o público demonstrando sensibilidade para a composição e muita habilidade na guitarra. Parecia tomado por alguma divindade da música no palco!

APOTEOSE

A atração seguinte foi o saxofonista Leo Gandelman. A qualidade de seu sopro é indiscutível e Gandelman deu um show de simpatia e descontração no palco. Mesclou temas mais antigos de sua autoria, como “Solar” e “Furuvududé” (ambos em parceria com William Magalhães), com músicas inéditas, convidou a platéia a “viajar” olhando a lua e ouvindo o tema “Luz Azul”. Deixou clara sua preferência futebolística, tocando alguns acordes do hino do Botafogo como música incidental e apresentando um tema composto em homenagem ao ponta-direita Jairzinho (ídolo do alvinegro na década de 70 e da Seleção Canarinho), em parceira com o pianista David Feldman.

Aliás, o entrosamento com os músicos – David, o baixista André Vasconcellos e o baterista Alex Buck – foi incrível. “A música é um grande prazer – corporal, espiritual. Quando o lance é legal é um prazer total”, afirmou Gandelman ao final de sua apoteótica apresentação, encerrada com “Maracatu Atômico” (Nélson Jacobina e Jorge Mautner) . Muito à vontade, Gandelman desceu à rua com seu saxofone e passeou entre a plateia, convidando algumas pessoas para cantar a frase mais conhecida da música: “Manamaê Ô”.

O público se entregou totalmente à performance do grupo, mas quando o guitarrista Filó Machado subiu ao palco, quase à meia noite, havia ainda muito energia. Natural de Ribeirão Preto (SP), Filó é daqueles caras que exala musicalidade por todos os poros e que certamente é mais valorizado no Japão, nos EUA e na Europa do que no Brasil. Ele surpreendeu o público do Chapada in Jazz com uma apresentação onde a voz foi um instrumento ao lado da guitarra, da bateria, do baixo, etc.

Interpretando muitas canções populares, como “Encontros e Despedidas”, “Flor de Liz”, “Maracangalha” e “Mais que nada”, e outras menos conhecidas (como parcerias suas com Djavan e Jorge Vercilo), Filó conquistou os mato-grossenses com seu talento e sua emoção, que transpareceu na forma como contava algumas histórias entre uma música e outra. Com domínio total da voz e um timbre, que ora lembrava Milton Nascimento, ora o próprio parceiro Djavan, ele comandou a plateia numa brincadeira em que convidava todos a reproduzirem uma frase musical, que ia se complicando aos poucos em termos de ritmo e notas até que nós, simples mortais, não dávamos conta de acompanhá-lo. Foi uma apresentação maravilhosa de um artista que começou a tocar profissionalmente aos 10 anos e hoje está com 61 anos! Que venha logo a terceira edição do Chapada in Jazz...

Filó Machado


segunda-feira, 12 de setembro de 2011

A força da cultura popular

Ruth, Teresa,  Emília e Maria Conceição. Quatro "paneleiras" rodopiando pelo palco do teatro do Sesc Arsenal na noite de domingo, enquanto entoavam os cantos da Banda de Congo Panela de Barro do Espírito Santo - terceira atração do projeto Sonora Brasil, que este ano tem como tema "Sagrados mistérios - vozes do Brasil".
Foi uma apresentação muito especial, aberta pelo coral SescCanta (sob a regência do maestro Carlos Taubaté). De forma didática, mestre Valdemiro Sales ia explicando tudo para nós: falou sobre como nasceu a banda de Congo (em 1938), como surgiu o nome Panela de Barro, como é a comunidade Goiabeiras (onde todos moram). Contou que é filho de "panelereira" (pelo que entendi um dos incentivadores da banda era dono de um galpão onde se fabricavam as tradicionais panelas de barro capixabas). Falou sobre a devoção a São Benedito, a lenda que a cerca, sobre Folia dos Reis e a dança do boi.
Quando parava de falar, soprava o apito que tinha no pescoço e recomeçava a cantoria e o rodopio das "meninas". O percussionista Marcos Pereira, também da comunidade, fez uma fala simples e bonita sobre a importância de se valorizar a cultura "não global".
Ao final da apresentação, fui cumprimentar os artistas e fiquei muito feliz. Todos eram muito simpáticos e me contaram que tinham corrido à banca para comprar vários exemplares do jornal Diário de Cuiabá por causa da matéria que fiz para o caderno Ilustrado.
Acabei não resistindo à curiosidade e perguntei a idade das cantadeiras: a mais jovem tinha 66 anos e as duas mais velhas, 72! São verdadeiras artistas, que provavelmente nunca estudaram música, nem dança. Fazem aquilo por devoção, tradição e como parecem felizes, realizadas! As mulheres têm uma graça tão grande dançando! Quero chegar aos 70 como elas!

sábado, 10 de setembro de 2011

Excesso de zelo

Isso me acontece de vez em quando. Sinto o peito oprimido, o coração batendo rápido demais (e não é por motivo de paixão, infelizmente), uma leve sensação de enjoo e penso nos sintomas clássicos de enfarte e/ou AVC (fiquei muito impressionada com o caso do técnico Ricardo Gomes).
Minha família é hipertensa e meus pais morreram de coração. Já não sou nenhuma criança. É natural, portanto, que eu me preocupe.
Após um dia sentindo esses sintomas, resolvo procurar o PA de um hospital particular de Cuiabá.
A sala de espera está cheia no início de noite, chego a pensar em ir embora, mas e se eu estiver à beira de um ataque de coração? Fico mais aliviada quando o recepcionista me pergunta que tipo de médico quero. Eu me senti diante do balcão do Bob's decidindo o que queria para o meu lanche.
- Quais são as opções?- perguntei.
- Clínico, ortopedista, pediatra.
- Então, salta um clínico - tive vontade de responder.
Constato então que o clínico é meu conhecido, um médico que sempre associo à marca de um tradicional fabricante de fogos de artifício. Gosto dele. Acredito que não vai me deixar na mão se eu estiver enfartando ou tendo um AVC.
Enquanto espero a consulta, puxo conversa com uma moça que me pareceu simpática. Ela está com o pé inchado e conta que acha que machucou de novo o dedão quebrado (e já tratado) há pouco tempo. Pergunta o que tenho. Diante da minha resposta, conta uma longa história sobre um aneurisma sofrido 33 dias após o nascimento de seu segundo filho. Fiquei assustada com o relato e, ao mesmo tempo, consolada: se ela teve um aneurisma, foi operada, ficou na UTI e está aqui tranquilamente contando sua história, eu vou sobreviver.
Minha vez chegou antes da dela (o ortopedista do plantão estava atrasado) e não vi mais "minha amiga".
Minha consulta foi rápida. Não tive coragem de dizer ao médico com todas as palavras que estava com medo de morrer, mas ele sorriu quando eu disse que estava ali "por excesso de zelo". Tirou minha pressão, que estava ótima, e pediu um eletro "por excesso de zelo". 
Quando veio o resultado, disse que eu não iria morrer de coração naquela noite. Disse que estava tudo ótimo e me mandou ir ao cinema para me distrair.
Saí mais aliviada. Não fui ao cinema, mas fui comer no "árabe da esquina" com minha filha e meu sobrinho que estava hospedado lá em casa.
Resumo da ópera: preciso aprender a relaxar e temer menos o futuro.

sexta-feira, 9 de setembro de 2011

Ney Matogrosso em Cuiabá

Tive o privilégio de assistir ao show "Beijo Bandido" com Ney Matogrosso e banda na noite de terça-feira. Por causa do feriado, não tive como fazer qualquer registro sobre o espetáculo para o Diário de Cuiabá. Mas não gostaria de ficar sem tecer alguns comentários sobre ele até como um exercício crítico. 
Posso começar dizendo que Ney está cantando muito! Seu timbre inconfundível continua belíssimo e ele passeia pelas notas musicais com facilidade. Sua dicção é quase perfeita na maior parte do tempo. Os músicos que o acompanharam - Leandro Braga (piano), Lui Coimbra (cello e violão), Alexandre Casado (violino e bandolim) e Felipe Roseno (percussão) - eram ótimos e os arranjos maravilhosos e instigantes.
Um show perfeito? Não, longe disso. Tecnicamente achei o show bom. Quis saber a opinião de outras pessoas que assistiram: uma amiga cantora disse que sentiu falta de mais interação com o público. "Faltou ele cantar alguma coisa mais conhecida",  disse. Outro amigo médico comentou que "aquela dancinha dele está muito datada", referindo-se aos requebros do cantor.
Para mim, faltou emoção. Ney parecia de muito mau humor. Como não o conheço de outros carnavais, não sei se ele é sempre assim. Não cumprimentou o público, apresentou os músicos da banda protocolarmente, sem sequer dar um tempo para que o público os aplaudisse como mereciam e resmungou alguma coisa sobre a fumaça lançada no palco.
Quando o show acabou, os aplausos vieram, mas ninguém se levantou para aplaudir o artista, mesmo assim a plateia pediu bis e o Ney voltou ao palco para mais três números.
Foi um show bonito, mas não inesquecível. Apesar de sua bela voz, de estar com um físico invejável aos 70 anos, Ney não me conquistou. Talvez ele não estivesse a fim, mas é um artista e artistas vivem muito de um jogo de sedução com o público. Quando Ney fazia seus requebros - e parte do plateia vibrava - ele parecia estar fazendo aquilo maquinalmente para não fugir totalmente à imagem que muita gente faz de Ney Matogrosso. Acredito que ele seja mais que isso.
Quanto ao espaço, o Buffe Leila Malouf, foi a segunda vez que estive lá. É um lugar bonito, mas não considero que seja adequado para shows desse tipo. O palco é pequeno, meio baixo, e mesmo que os garçons tenham parado de servir durante o show (o ingresso caríssimo dava direito a open bar), há pessoas que não entendem que devem parar de conversar durante a apresentação de um artista. É uma coisa que me irrita muito: em qualquer show, seja no Centro de Eventos do Pantanal, no jardim do Sesc Arsenal, tem gente que não consegue parar de conversar durante o espetáculo.
Por isso, o teatro - da UFMT, do Sesc ou o Cine Teatro - continua sendo o melhor lugar, na minha opinião, para assistir a espetáculos musicais em Cuiabá.
Também senti falta de um programa no show do Ney, já que ele não apresentou músicas, nem compositores.

quinta-feira, 8 de setembro de 2011

Balanço

Ontem, feriado de Sete de Setembro, tive um dia intenso e feliz junto a amigos do Madrigal do Avesso. Um almoço/jantar regado à piscina, cerveja e música de fundo da melhor qualidade: Mílton Nascimento (Clube de Esquina), Chico Buarque (Construção) e novos cantores, como Euterpe, cujo CD levei para mostrar a meus amigos madrigalescos.
Houve muitas conversas interessantes, mas num determinado momento alguém comentou sobre seu desejo de que sua filha seja um ser humano melhor, com hábitos mais saudáveis, inclusive.
Fiquei com isso na cabeça: seria tão simples se a humanidade toda pensasse assim, cada um tentando criar seres humanos melhores! 
Como considero difícil essa tarefa!
No turbilhão de emoções e pensamentos que surgiram dentro de mim, cheguei à conclusão de que minha principal tarefa até hoje foi a de educar dois seres humanos, que hoje caminham com suas próprias pernas. E eu me questiono sinceramente se dei o melhor de mim, se estava devidamente preparada para educá-los.
Sempre tive medo de ter filhos - acho que já disse isso aqui. E até uma certa fase da minha vida (20 e poucos anos) sequer sabia se queria tê-los, ao contrário de outras mulheres com quem compartilhei a adolescência. Achava que o mundo era muito hostil para que eu tivesse vontade de dar minha contribuição para a continuidade da humanidade.
Hoje curto a ideia de que dei minha contribuição (ainda que modesta, ainda que falha): tive minhas filhas que pela lei natural das coisas ainda estarão por aqui quando eu me for, plantei algumas árvores (pelo menos duas sei que estão lá, diante de minha casa em Cáceres) e escrevi livros, que também estão circulando por aí.


terça-feira, 6 de setembro de 2011

Espelho partido

Acabei de descobrir a causa das minhas mazelas. Há uns 20 dias, minha filha mais velha e eu fizemos algumas mudanças na casa e, nesse afã de mudar móveis do lugar, acabamos quebrando o espelho do corredor.
Ele não se partiu em mil pedaços, mas a marca do acidente está lá, terrível, ameaçadora, como uma aranha de vidro.
Agora minha diarista acabou de me dizer que tenho que mudar esse espelho porque não é bom ficar com espelho quebrado em casa. Eu respondi: sei disso, mas no momento meu orçamento não me permite comprar outro espelho grande.
Sete anos de azar... Essa é a superstição que corre em relação a espelhos quebrados.
Por enquanto, estou tentando ignorá-la e testar minha capacidade de racionalizar os fatos. Porém, desde que o espelho se quebrou, ando num baixo astral! Cheguei a pensar: pior do que está não pode ficar.
Claro que pode, sempre pode ficar pior.
Posso estar dura, desanimada, decepcionada com certas pessoas, mas estou com saúde, alimentada, tenho trabalho (muito) para fazer, minhas filhas estão bem. Enfim, a vida corre em seus trilhos, meio enfadonhos, a meu ver, mas razoavelmente protegidos.
Sorte ou azar? Tudo é questão de ponto de vista. Os otimistas conseguem ver o lado bom até na morte de alguém; já os pessimistas veem sinais negativos num simples pneu furado.
Eu preferia estar sempre no time do otimistas, mas de vez em quando resvalo para o outro time. Mas (quase) nunca perco o meu bom senso. Ah, também me esforço para não perder o bom humor.

segunda-feira, 5 de setembro de 2011

Triste

Quando iniciei este blog em 2008, pretendia compartilhar observações cotidianas, pequenas e grandes alegrias e, eventualmente, tristezas. Pretendia ser também uma espécie de agenda cultural, apontando espetáculos, livros, filmes e outros produtos de qualidade ou comentando o que rola por aí.
Fiz um pouco de tudo isso, mas sinto que fica sempre mais fácil escrever quando estou feliz e tenho boas notícias para compartilhar ou quando estou revoltada e consigo externar um pouco da indignação geral.
Mas tenho ficado meio tolhida quando estou triste e quero simplesmente desabafar. É como se eu temesse decepcionar certas pessoas que me leem.
Sinto muito, porém hoje estou sem esperança.
Se eu pudesse - e conseguisse - ficaria pelo menos um fim de semana sem ouvir ou ver notícas, sem ligar computador.  É tanta notícia ruim, tanta violência e, ao mesmo tempo, tanta perda de tempo. Juro que ando maio enjoada do face, daquelas mensagens tipo levanta astral ou que não levam a lugar algum.
Estou precisando me desligar, buscar forças em algum lugar.
Hoje uma pessoa me disse que tem muita fé em Deus e sabe que se as coisas acontecem de uma certa forma é porque têm um propósito maior. Como deve ser bom acreditar nisso ...
Hoje, eu queria sumir ... Queria ter a capacidade de transformar minha tristeza em versos, como os poetas, em alguma forma de arte. Mas sou certinha demais para isso.
Como é ruim quando a gente está de mal com a gente.

sábado, 3 de setembro de 2011

Enquanto eu nadava

Enquanto nadava, eu pensava: o mundo não tem jeito ... A gente assiste ao noticiário da TV ou dos sites e vê tantas notícias ruins: mortes em tentativas de assaltos no meio da tarde em Cuiabá, mais um assalto a banco no interior de Mato Grosso, absolvição de deputada federal pega em flagrante recebendo grana de um esquema de mensalão, mulher espancada até a morte por companheiro em Cáceres, lutas que se transformam em espetáculos em que duas pessoas se esmurram até que uma seja nocauteada e denúncias de menores torturados em instituições que deveriam reeducá-los.

É tanta violência, tanta brutalidade que fico me indagando se realmente a humanidade evoluiu nos últimos séculos.

Alguns dirão: claro que sim! Hoje temos curas milagrosas, a expectativa de vida da população aumentou e temos a internet, entre tantas outras novas tecnologias.

É verdade, a vida melhorou em muitos sentidos, ficou mais confortável, mas para quem, cara pálida?

Incomoda-me pensar que muita gente não dispõe do mesmo conforto que eu, não pode correr para o dentista se um dente lhe dói com a certeza de que será (bem) atendida e, tampouco, será assistida por um médico de sua confiança se tiver uma apendicite. Sem falar que muitos não podem sequer sonhar com um prato de comida todo dia ou beber água quando têm sede ou ainda tomar um banho de verdade - esse prazer incomparável no clima escaldante de Cuiabá!

E, ao mesmo tempo, sinceramente, não sei o que fazer para que o tal estado de bem-estar social (do inglês welfare state) beneficie a sociedade como um todo e não apenas uma parcela mais privilegiada.

Há pessoas morrendo de fome na África. Como podemos ficar indiferentes às imagens de crianças e adultos esqueléticos e com a pele ressecada pela sede e pela fome?

Mas há tantos passando fome bem mais perto. Há gente sendo violentada, espancada, escravizada e humilhada o tempo todo, e há muita gente roubando, mentindo, usando o nome de Deus e outras palavras bonitas, como cidadania e solidariedade, para enganar e, muitas vezes, tirar dinheiro de quem pouco tem.

Às vezes eu acho que o inferno ou o purgatório - ou seja lá que nome tenha - para muita gente é aqui mesmo...

Eu pensei tudo isso enquanto nadava. Quando terminou o horário da natação, tirei a touca e os óculos, me alonguei e me aprontei para iniciar mais uma jornada de trabalho.

Obs. Esse artigo foi escrito para a seção de Artigos do Diário de Cuiabá e publicado na edição de ontem. Ele sintetiza minhas sensações ao longo da semana.

quinta-feira, 1 de setembro de 2011

E se...?

Hoje, conversando com um sobrinho sobre o que diferencia a deputada federal Jaqueline Roriz, flagrada recebendo dinheiro do mensalão, dos ladrões comuns que assaltam bancos e pessoas nas ruas e em casa, ele respondeu na lata: a difererença é que ela sai para jantar às nossas custas depois de cometer seus delitos.
Essa história da Jaqueline ainda está atravessada na minha garganta, assim como a confusão em torno da Lei da Ficha Limpa - aquela que parecia a redenção e acabou se tornando um grande engodo nas eleições passadas.
Já se passaram mais de duas semanas da execução da juíza Patrícia Acioli e busco em vão por notícias concretas sobre a prisão de seus assassinos.
Não quero me tornar chata ou pessimista, mas estou naqueles dias em que não consigo identificar sinais de mudança no horizonte.
Dizem que a mudança tem que começar com cada pessoa e que se cada um fizer a sua parte, etc, etc, ok, mas e se a mudança acontecer para o lado inverso: e as pessoas forem se habituando (e se acovardando) diante da execução anunciada dos que combatem as milícias, da inoperância da polícia e da corrupção nos vários níveis do poder e acharem que isso é o normal?