sábado, 27 de outubro de 2018

Pra não dizer que não falei de eleições



Há vários dias planejo escrever sobre as eleições para a Presidência. Tenho lido tanto sobre o assunto, conversado bastante e acho até que tudo que eu disser será supérfluo, já que nesse momento a maioria das pessoas já decidiu em quem vai votar – ou em quem não vai votar.  Portanto, amigo, minha intenção não é fazer sua cabeça. Só quero expressar minha opinião neste momento tão crucial da nossa frágil democracia.
Eu tinha oito anos quando aconteceu o golpe militar, em 1964. Minha família foi favorável à intervenção militar naquele momento e eu não sei dizer exatamente em que momento e por que logo passei a associar os militares ao medo, ao terror, a torturas, ao que havia de pior no ser humano. Já adulta, acompanhei como jornalista alguns momentos da vida política do país em que a repressão policial se fez presente. Eu vi policiais militares arrebentando com cassetete a cabeça de parlamentares num ato em defesa da antiga sede da UNE na Praia do Flamengo, no Rio de Janeiro, e tive muito medo quando me vi em meio a policiais que atiravam em manifestantes. Como jornalista, acompanhei a visita a presos políticos e a volta dos anistiados; assisti ao comício das diretas já na Presidente Vargas. Foram momentos incríveis, que me encheram de esperança. Escutei e registrei nas páginas da revista Veja o depoimento de um militar reformado que foi o primeiro a denunciar a farsa criada pelo Exército para mascarar o assassinato por espancamento do deputado Rubens Paiva, no Quartel da PE, na Tijuca.
Nos últimos dias tenho sentido muito medo de perder tudo que conquistamos: a liberdade de expressão, a mobilidade social.  É claro que não tenho o país que gostaria, com segurança pública, saneamento básico, condições básicas de saúda para todos, mas ainda sim é um país viável.
Tenho me esforçado ao máximo para compreender as razões das pessoas de quem gosto que votam no candidato do PSL, mas não consigo. Tá, mas eles também não entendem como uma pessoa “inteligente”, bem informada como eu, vota no candidato do PT. Desde o primeiro turno, tenho dito que se o segundo turno fosse entre Alkmin e o 17, votaria no Alkmin. Se fosse Marina, Amoedo, até o Meirelles, eu votaria #elenão. Nem falo no Ciro porque foi minha escolha no primeiro turno.
Não voto no Haddad iludida ou acreditando que teremos a partir de 2019 o Brasil feliz de novo. Acho que, independentemente dos resultados das urnas neste domingo, enfrentaremos tempos difíceis. O mundo está complicado. Mas, de alguma forma, tudo que aconteceu me levou a perceber melhor a realidade, é como se muitas máscaras tivessem caído e eu mesma estivesse percebendo as minhas máscaras.
 Houve um dia que ficou claro para mim o quanto interessa a algumas pessoas a nossa divisão, que a gente discuta, brigue, se agrida por causa de política, de futebol, opção sexual, cor de pele. Então, estou me esforçando para ser tolerante, para tentar aceitar o outro, compreender seu ponto de vista, mas também quero e espero que ele aceite o meu.
E por mais que eu me esforce não consigo entender a opção por um candidato que não apresenta propostas, só destila ódio, muda de opinião como quem muda de camisa e cuja eleição levaria ao poder pessoas do naipe de um Alexandre Frota.
Minha opção é pela educação como caminho para a transformação, pela compaixão, por Chico Buarque, Caetano Veloso, Gilberto Gil e Paulinho da Viola (meu quarteto fantástico), pela poesia, mas é também por saneamento básico, justiça social, oportunidade iguais para todos. E, com certeza,  não é pela violência e pela tortura como política de estado. 
Por isso, amanhã votarei 13 com convicção e esperança de um país com mais tolerância e harmonia. A corrupção é um mal, mas tenho certeza de que não nasceu com o PT. Esperávamos mais do partido? Claro. Mas acho mais possível melhorar o sistema com Haddad do que com o outro candidato, que até hoje só se beneficiou de tudo que ele diz querer mudar.