sexta-feira, 21 de novembro de 2014

Chorinho: 22 anos de música e amizade

 
Marinho Sete Cordas em foto de Marcos Lopes

Compartilho neste espaço o texto que fiz para a divulgação do 22º aniversário do Chorinho. Aqui eu resgato um pouco da história deste espaço que aprendi a amar. Hoje, posso dizer que faço parte da história do Chorinho.
Há 22 anos, um grupo de moradores de Cuiabá, que gostava muito de choro, seresta e samba de raiz, começou a se encontrar em alguns locais da capital. Eram encontros regados à cerveja e música da melhor qualidade, que reuniam pessoas de várias profissões – médicos, professores, jornalistas – e no qual despontava um cearense, mestre na arte do violão de sete cordas. Esse foi o berço do bar Choros & Serestas e essa história merece ser contada esta semana, quando Antônio Marinho de Souza Fortaleza, o Marinho Sete Cordas, vai comandar as comemorações do 22º aniversário do popular Chorinho.
Mais do que um bar, o Chorinho continua sendo ponto de encontro de vários músicos, cantores e amantes da boa música popular brasileira. Hoje, estabelecido na Rua Estevão de Mendonça, nº 869, no bairro Quilombo, o Chorinho é um patrimônio cultural e artístico de Cuiabá e, como todo bom patrimônio, independe de sua localização. O Chorinho é Marinho e todos os músicos – profissionais e amadores – que se dedicam à casa e têm nela um local de diversão e confraternização.
“Fico muito feliz de conseguir levar esse movimento à frente em meio a todos os modismos”, comenta Marinho, numa referência aos momentos de altos e baixos enfrentados ao longo de mais de duas décadas.
No dia 21 de novembro de 1992, o bar Choros & Serestas nasceu no bairro Jardim Tropical, onde permaneceu até 2012.  Durante anos, o bar instalado no sobrado do Jardim Tropical, que ganhou o apelido carinhoso de Chorinho, manteve um público fiel, formado pelos integrantes do grupo fundador – a chamada Velha Guarda.
Aos poucos, uma nova geração foi chegando e, no final dos anos 2000, o Chorinho virou point da moçada, que fazia fila às quintas-feiras e aos sábados. Na roda de samba tradicional do sábado, novos grupos – como Conversa de Botequim e Orquestra de Boteco – foram gerados e muitos novos talentos aperfeiçoaram seus dotes artísticos.
O movimento no bar Choros & Serestas foi tão intenso que acabou incomodando algumas pessoas e os proprietários foram forçados a se mudar. Encontraram a melhor opção num restaurante da rua Estevão de Mendonça (perto do Choppão) que não chegou a ser inaugurado. Desde 24 de abril de 2012, o Chorinho funciona ali.
No início, houve um certo estranhamento por parte do pessoal da Velha Guarda, mas, aos poucos, o samba de qualidade e o talento de Marinho Sete Cordas, além de seu dom para atrair e cativar novos músicos e cantores, levaram muita gente a frequentar o bar novamente.
“Para nós, é um motivo de orgulho levar essa bandeira do samba de raiz, do choro e da seresta na capital mato-grossense, embora sempre estejamos abertos ao novo”, comenta Fátima Campos, que está à frente da administração do bar e restaurante junto com Marinho.
Eles lembram que o Chorinho já trouxe artistas de renome nacional a Cuiabá – gente do quilate de Monarco, Elton Medeiros, Délcio Carvalho, José Renato – e vários sambistas que vêm à capital fazem questão de curtir o ambiente do bar, como o veterano Nélson Sargento, que visitou o Chorinho após sua apresentação no Projeto Pixinguinha.
Toda essa energia estará no ar na próxima sexta-feira, quando os proprietários do bar Choros & Serestas vão comemorar os 22 anos da casa cercados pelos amigos cultivados ao longo do tempo.
“Será uma noite memorável e não poderíamos celebrar de outra forma, a não ser com uma roda de samba especial onde não faltará lugar para todos os amigos conquistados nesses 22 anos”, conta Marinho.

domingo, 9 de novembro de 2014

Domingo no parque




Há alguns anos minha "eterna vizinha" Camila Caetano me falou pela primeira vez sobre a dança circular. No início deste ano, ciente de que ficaria sem minhas filhas por um tempo, estava em busca de novas experiências e, quando a jornalista Liana Menezes me falou da dança, não pensei duas vezes.
Cheguei a frequentar o grupo de dança circular durante um mês numa academia, mas como o dia das aulas coincidia com o do meu curso de técnica vocal, acabei deixando o grupo, porém comecei a participar da roda que acontece um domingo por mês no Parque Mãe Bonifácia.
Confesso que no primeiro domingo fiquei meio envergonhada no início, já que dançamos sob os olhares de dezenas de pessoas que caminham na ampla área de lazer da entrada principal do parque. Mas, aos poucos, fui me esquecendo das pessoas e me entregando ao prazer da dança e da música.
Muita gente ainda desconhece a dança circular. Tenho um  pouco de dificuldade para explicar o que é e nem é meu objetivo aqui, mas posso garantir que é uma experiência mágica!
As pessoas sempre dançaram ao longo da história da humanidade e eu sempre invejei quem conseguia dançar apesar das dores, da tristeza, das incertezas do mundo, da escravidão, do apartheid e todas as formas de opressão.
A dança circular resgata essa capacidade do ser humano de dançar como um ritual, uma forma de comunhão, de união - com sua tribo, a natureza, o mundo, o seu self ... 
As músicas e os ritmos dançados são variados e de várias origens. As coreografias variam também, mas não há passos rebuscados e, tampouco, uma preocupação em se exibir ou dançar certo. 
Em geral, aos domingos, a roda é eclética e não raro abriga pessoas que nunca participaram da dança circular. Sol, nossa mentora, professora, sei lá o quê, explica pacientemente os passos e geralmente termina o "ensaio" dizendo que quando tocar a música tudo se encaixa.
Neste domingo, ela estava especialmente inspirada e até as coreografias que dizia serem simples pareceram mais complicadas. Às vezes a gente trombava com  o companheiro - ambos indo na direção errada ... Porém, tudo ficava divertido, intenso, a ponto de nos esquecermos totalmente de quem passava em volta e estranhava aquelas mulheres malucas (há homens no grupo, mas são sempre minoria, é claro) dançando uma dança maluca.
É uma dança solidária em que quem tem alguma dificuldade especial (como a adolescente deficiente visual, que está sempre sorrindo) é amparada por alguém mais seguro, experiente e paciente. 
É uma dança receptiva em que quem está de fora é bem-vindo, seja de qualquer idade.
É uma dança revigorante, que não cansa e estimula os sentidos do tato, visão e audição, e, nossa capacidade de percepção de espaço, do outro, de si próprio.
Hoje fiquei especialmente tocada porque Sol se lembrou de minha paixão por uma dança celta e nos convidou a executá-la citando meu nome. Uma honra muito grande para mim. É uma dança linda, com uma simbologia fantástica em que buscamos uma água imaginária numa fonte e depois nos banhamos com ela diversas vezes. Quando danço essa música eu me sinto como se estivesse numa montanha ou na clareira de uma floresta, num tempo muito remoto, fazendo alguma dança ritual. É muito comovente e fico louca para fazer essa coreografia novamente.
Em dezembro, não estarei aqui no segundo domingo do mês para reencontrar meus companheiros de roda, mas em janeiro estarei de volta e, se depender de mim, não perderei um só encontro, mesmo que ainda me custe um pouco acordar antes das oito no domingo de manhã. 
Mas vale a pena ... ah, como vale.
Dedico este texto à Liana, que me chamou para a roda, à Sol e as outras meninas responsáveis pelo nosso encontro e a todas as pessoas que atendem ao convite para alimentar a dança circular no Parque Mãe Bonifácia.

segunda-feira, 3 de novembro de 2014

Ame-o ou deixe-o

Este ano descobri o tal do WhatsApp. É uma beleza! A gente troca mensagens rápidas, instantâneas e gratuitas com filhas e outros membros da família, amigos e colegas de trabalho.
Só que junto com a facilidade do aplicativo vêm os grupos. Não faço parte de muitos, mas os poucos dos quais faço parte já me causam irritação. 
Decididamente não sou uma pessoa de grupos. Acho que nunca fui. Não tenho a menor paciência para os KKKs, bom dias, vídeos e mensagens diárias de autoajuda. 
Para piorar as coisas, grupos criados com propósitos específicos - e aos quais aderi ou fui incluída - transformaram-se nos últimos tempos em pontos de difusão de propaganda política. Por esse motivo, estou quase abandonando alguns deles. 
Alguém pode argumentar que é bacana essa troca de ideias acerca de situação política do País. O problema é que os grupos se tornam microcosmos do Facebook. Se o Face já anda um pé no saco, imagine alguns grupos publicando os mesmos vídeos e mensagens como se fossem a última novidade do pedaço.
Na minha opinião, as pessoas não estão se informando e sim reforçando suas crenças, seus preconceitos e medos, numa repetição do que acontece na chamada grande mídia (leia-se revista Veja) e no Face. 
No Face, pelo menos, você pode excluir os "amigos" com posições muito extremadas e que nada acrescentam em termos de entretenimento ou informação, mas no grupo isso é impossível. É meio na base do "ame-o ou deixe-o".
De alguma forma, o acompanhamento dos grupos no WhatsApp está me fazendo acreditar cada dia menos na humanidade. As pessoas retransmitem informações infundadas (como, por exemplo, mensagens oferecendo serviços de utilidade pública, que são desmentidas depois) e replicam vídeos que fazem apologia da violência e de baixaria.
E por falar em baixaria, ontem desliguei a TV imediatamente quando ouvi as chamadas para o programa "Fantástico". Uma delas era a respeito de reportagem sobre o amor-bandido da Suzane - aquela ex-milionária que armou para que seus pais fossem assassinados. Que falta de assunto e que curiosidade mórbida em torno do romance de duas criminosas que se encontraram na cadeia! 
E assim a humanidade segue: com pouco tempo e oportunidade para assistir a espetáculos bacanas ou ler livros que façam alguma diferença em sua vida, mas com tempo sobrando para se entreter com bobagens (como as videocassetadas do "Domingão do Faustão") e toda a sorte de vídeos e reportagens bizarros.
Sei que estou parecendo uma velha rabugenta reclamando de tudo e de todos ... 
A propósito, parei de assistir à novela "Império" pelo excesso de violência e de personagens que abusam do direito de serem chatos, porém continuo resistindo a seguir os conselhos de amigos para dizer um adeus definitivo à TV aberta...