quinta-feira, 30 de setembro de 2010

Mudança

Desde que entrei nesta nova fase da minha vida - desempregada - várias pessoas me perguntam se pretendo me mudar de Cuiabá.
Nesses últimos dias de tanto calor, essa ideia até que é tentadora.
Isso - questionamentos sobre uma possível mudança de cidade - ocorreu também quando eu me divorciei, no início de 2000. Muitos me perguntavam se eu iria deixar Cáceres, a 210 km de Cuiabá, e voltar para o Rio de Janeiro, cidade onde morei a maior parte da minha vida.
Mudar de cidade nunca foi uma decisão fácil para mim. Cuiabá não é a minha cidade (hoje em dia, qual é?), mas tenho feito um esforço grande para me sentir bem, procurando sempre as coisas, os amigos e  pessoas que me dão alento, como a galera do Chorinho e, mais recentemente, do Madrigal do Avesso.
Mas é preciso trabalhar, sustentar minhas filhas que ainda dependem de mim e, por isso, não posso descartar totalmente a possibilidade de uma mudança.
Para aonde? Não tenho vontade de ir, nesta altura do campeonato, para um lugar onde já não tenha amigos ou parentes, a menos que surgisse uma possibilidade de trabalho fantástica. Ou seja, teria que compensar muito para eu largar os amigos feitos em Cuiabá e ficar longe de minhas filhas (já que ambas estão fazendo faculdade, uma em Cuiabá e a outra em Jaboticabal, no interior de São Paulo).
O Rio de Janeiro é sempre uma referência: lá estão amigos de infância e adolescência, boa parte de minha família e os lugares familiares. Seria muito bom me sentir novamente integrada ao Rio, porém as chances de trabalho na minha área são reduzidas, segundo meus colegas, e tem também o lance de que o Rio mudou muito nesses últimos 21 anos. A violência, a tensão, o desgaste do dia a dia são bem mais palpáveis, embora meus amigos e parentes continuem sobrevivendo bem, obrigada.
Uma notícia ontem deixou bem clara para mim essa mudança: um arrastão ocorreu durante o dia numa rua do bairro Jardim Botânico, a rua Faro, que tantas vezes desci de carro ou a pé para ir ao trabalho, ao supermercado, ao banco ou a algum restaurante, como o velho e bom Alface's (acho que era esse o nome).
Quantas vezes cheguei em casa sozinha de madrugada, parei o carro na rua Senador Simonsen (meu último endereço no Rio) e abri o portão do prédio? É claro que já naquela época fazia isso com medo, olhando dos lados (como faço hoje em Cuiabá), mas era um medo mais leve, se é que se pode dizer isso. Hoje, quando vou ao Rio de férias, sinto que meus amigos e parentes estão bem mais assustados.
Enfim, a ideia de voltar a morar numa cidade tão estressada pela violência, o trânsito, etc, não me seduz, como também não me seduz a ideia de morar em São Paulo, onde provavelmente teria mais condições de encontrar trabalho.
Por isso, por enquanto, por inércia ou comodismo, sigo em Cuiabá, curtindo os ensaios do madrigal, os encontros musicais, as caminhadas, as aulas de yoga, na expectativa de encontrar um trabalho que seja compensador sob todos os pontos de vista.
Mudanças, por enquanto, só internas.


quarta-feira, 29 de setembro de 2010

Iogurte com granola

Pelo título deste post dá para perceber que estou num dia light. E é verdade. O calor (apesar da chuvinha ontem) continua punk, porém, por alguma razão inexplicável, hoje estou me sentindo mais feliz.
É aniversário de uma das minhas irmãs (Junilza, que esbanja uma energia super positiva aos 77 anos) e, embora distante mais de mil quilômetros, congratulo-me com ela por mais um ano de vida. É claro que eu adoraria poder lhe dar um abraço pessoalmente, mas isso vai ter que esperar um pouco.
Mas há outros motivos que me fazem sentir menos oprimida. Falei há pouco com um grande amigo de Porto Alegre pelo skype - é tão bom poder ouvir uma voz amiga distante sem ficar pensando na conta telefônica - e fiz minha primeira entrevista na vida usando essa mesma tecnologia. Foi meio estranho. Por alguma razão não identificada, apenas a entrevistada, uma pesquisadora da Embrapa Pantanal (de Corumbá-MS) estava me ouvindo e eu não conseguia ouvi-la. Ela sugeriu ir respondendo às minhas perguntas por escrito e, por medo de perder a entrevista, concordei. Ou seja, ela ouvia minhas perguntas e comentários, e respondia por escrito. O timing da conversa ficou meio esquisito (como se fosse um msn maluco), mas aos poucos fomos nos entendendo e no final, quando contei que era de Corumbá (ela é paulistana, mas mora em Corumbá), rolou uma grande empatia entre nós. Ela disse que adora minha cidade natal que adotou como sua.
Encerrada a entrevista, estou aqui colocando a correspondência em dia, o que inclui atualizar o blog e, nesse momento, tive a ideia de tomar um iogurte de morango com a granola recém-comprada. Que delícia! Poucas coisas são mais gostosas do que iogurte com granola. Acredite se quiser! Adoro granola quando ela é pedaçuda, vem bem crocante e cheia de pedaços de castanhas e outros coquinhos.
Daqui a pouco vou para a aula de yoga e depois ao ensaio do Madrigal do Avesso. Mais tarde, quem sabe, um pouco de Chorinho para cantar sem a pressão do sábado.
Hoje, de manhã, enquanto caminhava no Parque Mãe Bonifácia, sozinha e sem iPod (fiquei sem bateria), só ouvindo a minha voz interna e os passarinhos, pensei em escrever um post sobre drogas, assunto barra pesada. Vou adiá-lo para amanhã ou outro dia. Hoje, vou me permitir um pouco de leveza, embalada por um artigo que acabei de ler, enviado por uma amigona do Rio de Janeiro. O texto chama-se "O inimigo dentro de nós", é assinado por Vilmar S.D. Berna e fala sobre " ser em vez de ter" como uma saída para a crise ambiental . Fala sobre a pressão do consumismo e da tendência a se medir a nossa felicidade pelos bens materiais que possuímos. Eu me identifiquei muito com o texto que, aliás, tem tudo a ver com a conversa recente com a pesquisadora da Embrapa Pantanal. Se quisermos conservar certas riquezas - como o Pantanal - é preciso rever certos conceitos e posturas vigentes, vencer a pressão econômica que é grande. O tema é riquíssimo e permite desdobramentos futuros.

PS. Assisti a um segundo debate entre os canditatos ao governo de Mato Grosso e simplemente dormi.  Nem precisa comentar, né?

terça-feira, 28 de setembro de 2010

Ao pé do ouvido

Hoje foi um dia estranho. Ou melhor, continua estranho. Houve um momento que quis atualizar o meu blog, mas estava com tanta calor que achei que não ia sair nada de bom, a não ser reclamações sobre o clima cuiabanao que já viraram lugar comum.
Não estou muito inspirada, mas queria registrar aqui o início do julgamento dos acusados pela morte do vendedor ambulante Reginaldo, que morreu no ano passado em consequência de uma sessão de espancamento no Shopping Goiabeiras. 
Os quatro acusados - todos seguranças do shopping na época - estão sendo julgados por júri popular. Hoje o noticiário da TV Centro América só mostrou trechos de depoimentos de algumas testemunhas: médicos que atenderam a vítima no Pronto Socorro, uma faxineira do shopping que lavou a sala suja de sangue, um dos PMs que foram chamados ao local e, estranhamente, algemou um cara grogue depois de tanta pancada e com nariz sangrando porque um segurança disse que "ele era agressivo e tinha tentando agredi-los com um estilete".
Acho a história toda muito triste e torço para que os acusados tenham uma punição exemplar, embora nada vá devolver a vida de Reginaldo, nem diminuir o sofrimento de sua família.
Na verdade, torço para que casos como esse não se repitam, embora eles ocorram - com maior ou menor gravidade - o tempo todo. Hoje mesmo li, incrédula, sobre a morte de uma menina de 5 anos no Rio de Janeiro, aparentemente vítima de maus tratos por parte do pai e da madrasta. Uma história tão estranha, testemunhada por uma mulher contratada para ser babá dela e de outras duas meninas.
Não me julgo melhor do que os outros, mais sou incapaz de fazer mal deliberadamente a uma pessoa, quanto mais a uma criança. Não falo de exageros do tipo criar uma lei proibindo a palmada. Qualquer um é capaz de perder a cabeça uma hora e dar umas palmadinhas num filho, mas como alguém é capaz de bater numa criança para machucar ou cometer outros tipos de violência psicológica?
Por isso fico imaginando que tipo de ser humano é capaz de  tanta maldade e se existe alguma justificativa para isso. Ou o mundo é  sórdido mesmo?

segunda-feira, 27 de setembro de 2010

Chez moi

Estou vivendo uma infeliz coincidência. Estou em casa, tenho que trabalhar em casa (na preparação de aulas, frilas e contatos profissionais) e está um calor terrível.
Geralmente, tenho vontade de ir embora de Cuiabá nos meses de agosto, setembro e outubro. O céu cinzento, o calor sufocante e a paisagem de filme de fim de mundo me deixam agoniada, quase à beira de um ataque de nervos. Tenho que usar todo meu lado racional para me manter calma e acreditar que um dia as coisas vão melhorar - que vai chover, por exemplo. Mas, aí fico angustiada imaginando aqueles temporais que enchem tudo e deixam a cidade de pernas pro ar.
Ontem, por exemplo, ao final de um almoço festivo, quase perdi as estribeiras com um cara que mal conheço que, sabendo que eu era jornalista, veio arrasar com a classe dos jornalistas. Tudo bem que tem muito jornalista safado, que só olha pro seus próprios interesses, mas isso não seria uma característica de muito ser humano em geral? Não aguento essa mania de generalizar, ficar atacando todo mundo. Quando ele viu que fiquei irritada, ficou pedindo desculpas, o que me deixou constrangida.
Este ano, como todos já sabem, a temporada de seca está pior do que nunca e se junta a isso o fato de eu não ter um local de trabalho, ou seja, estar desempregada. Em anos anteriores, eu reclamava, comentava sobre o calor com os colegas e depois o nosso grande problema passava a ser onde deixar o termostato do ar condicionado para que ninguém ficasse com frio demais.
Constato que minha casa não foi organizada para o trabalho. Muito pelo contrário, nos últimos anos, tirei o ar condicionado do escritório porque precisei dele num outro quarto. Enfim, preciso reorganizar o meu espaço de trabalho e fico com medo de gastar, já que a situação ainda está nebulosa.
Trabalhar em casa, como muitos já disseram e experimentaram, tem suas vantagens e desvantagens. É preciso muita autodisciplina, manter o foco e controlar a ansiedade. O mais difícil para mim está sendo me confrontar comigo mesmo e decidir para aonde quero ir, qual é o meu objetivo. É claro que quero e preciso ganhar dinheiro, mas minha eterna utopia é achar que posso ganhar dinheiro fazendo o que eu gosto (no momento, para ser sincera, só estou gostando de cantar). Tenho pago um preço por isso. Será que vou continuar nesse mesmo trilho ou vou escolher um caminho diferente?

sexta-feira, 24 de setembro de 2010

Geleia geral

Hoje meu assunto não pode ser outro a não ser a indecisão do STF sobre a Lei do Ficha Limpa. Seria cômico se não fosse sério. O jornal O Globo diz que o empate na análise do recurso de Joaquim Roriz deve permitir que candidatos "sub judice" disputem as próximas eleições.
Roriz já definiu sua estratégia e parece que vai renunciar em favor da mulher (que tem um nome estranhíssimo). Isso é palhaçada!
Eu me preocupo com os candidatos fichas sujas de Mato Grosso, especialmente, com o deputado cassado candidato à reeleição Pedro Henry.
O STF perdeu a chance de fazer história tomando uma decisão de fato e de direito como cabe a um órgão superior.
Hoje conversei sobre eleições com pessoas diversas e ouvi opiniões interessantes. Entre outras opiniões controversas, um professor universitário e pesquisador disse  que a  candidata Marina Silva é um "Bush de saias" e que não dá para confiar em alguém que é contra a pesquisa com células-tronco. Ele disse que até quer que o Pedro Taques se eleja senador para ver sua "máscara" cair. O professor é eleitor de Dilma, Silval para governador, e Blairo e Abicalil para senador.
Gostei muito de conversar com minha nova diarista - uma líder comunitária de um bairro da periferia de Cuiabá. Ela elogiou o trabalho do ex-prefeito Wilson Santos em sua comunidade, mas disse que acha que vai votar em Mauro Mendes. Ela concorda comigo: Wilson pisou feio na bola quando disse que concluiria seu segundo mandato na Prefeitura de Cuiabá, o que obviamente não fez.
A diarista também vai votar em Pedro Taques para o Senado e é fã do presidente Lula. Disse que seu filho conseguiu concluir um curso superior e perguntou: "Quando que um filho de uma pessoa como eu ia conseguir terminar a faculdade?" Mas reclamou que as casas construídas no programa de habitações populares do governo federal não são feitas para os pobres e sim para a classe média.
Enfim, minha conclusão (se é que posso chamar isso de conclusão) é que ninguém é tão ruim ou tão bom como insiste em mostrar a propaganda eleitoral. O professor universitário acredita que o Brasil está evoluindo politicamente e que uma evolução para valer depende de uma reforma política ampla. Será?
O fato é estou sentindo meus miolos cozinharem neste setembro 40 graus e juro que quanto mais ouço e leio, mais confusa fico. Acho que nunca fiquei tão indecisa às vésperas de uma eleição.

quinta-feira, 23 de setembro de 2010

Libertinagem

Ontem, após o ensaio do Madrigal do Avesso (é esse nosso nome), fui ao Chorinho matar saudades do clima gostoso e tranquilo das noites de quarta-feira. Não estava assim tão tranquilo - tinha dois aniversários sendo comemorados -, mas estava uma delícia. Cantei bastante, revi amigos e fiz novos amigos.
Em um determinado momento conversávamos sobre as (péssimas) perspectivas para a humanidade. Um dos interlocutores era totalmente pessimista e eu me vi sem argumentos para enfrentar seu pessimismo. Ele disse que faltam pensadores no mundo atual e outro amigo na roda disse que os pensadores de hoje são os que controlam a tecnologia.
Isso tudo regado à cerveja e samba, o que me fez questionar por alguns segundos o sentido de estar ali, procurando me distrair e divertir diante de um fim de mundo tão próximo e cruel. Mas, o questionamento acabou diante da possibilidade de pegarmos o microfone e nos entregarmos ao prazer de cantar.
Essa introdução é para explicar meus pensamentos e sentimentos conflitantes. Sinto que é peciso fazer alguma coisa para tornar esse mundo melhor e viável para meus filhos e netos num futuro bem próximo. Mas, sinceramente não sei como fazer. Estou cansada de tanta hipocrisia e do marketing em cima de conceitos como sustentabilidade e  meio ambiente, e desconfio das reais intenções da maioria das pessoas.
Quantos de nós estamos dispostos a abrir mão de um tiquinho que seja de nosso conforto e hábitos consumistas em prol do outro e, principalmente, do interesse coletivo? 
Diante de tanto egoísmo e mentira, volta e meia, acabamos caindo no pessimismo e atraídos pelo niilismo.
Nesse contexto, felizes os que têm fé em Deus ou seria a fé apenas mais um estratagema para fugir do desespero?
"Uns tomam éter, outros cocaína.
Eu já tomei tristeza, hoje tomo alegria."
Se até o melancólico Manuel Bandeira se permite alguns momentos de devaneio no poema "Não sei dançar" (do livro Libertinagem), quem sou eu para me impor a tristeza?
Acredito no amor, na compaixão e na lealdade. Ai de mim, se deixar de acreditar!

quarta-feira, 22 de setembro de 2010

Setembro negro

É difícil manter o astral alto num período como este em Cuiabá. Hoje, véspera da chegada da primavera, a cidade já amanheceu acinzentada. Fui caminhar no Parque Mãe Bonifácia e mal conseguia enxergar os prédios mais próximos. O Centro de Eventos do Pantanal estava invisível, embora situado a poucos metros do parque. 
No telejornal Hoje, imagens desoladoras de incêndios tomando conta de fazendas e assentamentos em Mato Grosso e no Maranhão, e assustando turistas no Hotel Sesc Pantanal (a cerca de 140 km da capital mato-grossense) - lágrimas, suor e muito sofrimento de animais e pessoas assoladas pelo fogo.
Leio agora no jornal Diário de Cuiabá matéria sobre uma pesquisa apresentada pelo professor Ageo Mário Cândido da Silva, coordenador do curso de Saúde Coletiva da UFMT, associando o nascimento de crianças com peso baixo à incidência de fuligem http://www.diariodecuiaba.com.br/
Até quando? Como se pode pensar no futuro de um estado, encher a boca para falar de turismo numa região do país devastada pelo fogo por um período de três meses por ano?
Sei que este ano fatores climáticos tornaram a situação mais dramática do que em anos anteriores, mas essa bola (a seca, o perigo do aumento de focos de calor) foi cantada no início de maio passado. No dia 17 daquele mês já tinha incêndio no Parque Nacional da Chapada dos Guimarães e tinha havido um aumento de 236,33% nos focos de calor na Região Centro-Norte em comparação com o mesmo período do ano anterior. Isso foi notícia na edição de junho da revista Produtor Rural, em jornais, sites e telejornais de Mato Grosso.
Estamos terminando o mês de setembro em farrapos, sonhando com uma chuva redentora. E o mal que esse fogo e suas consequências (fuligem, destruição) provocaram em milhares de pessoas?
O dia 3 de outubro está chegando e é mais uma oportunidade para fazermos um exame de consciência e ver que tipo de estado queremos construir. Ou será que a fuligem já deixou nossas mentes tão embotadas que não conseguimos mais pensar e enxergar um centímetro além de nosso próprio umbigo?

terça-feira, 21 de setembro de 2010

Era uma vez ...

Há muito e muitos anos,  quando ainda era jornalista no Rio de Janeiro, conheci o Partido dos Trabalhadores (PT).  Era diferente de tudo que conhecíamos e todos meus amigos - e as pessoas de quem eu mais gostava ou em quem mais confiava - tornaram-se adeptos do PT na época.
Votei várias vezes em candidatos do PT - partido que representava o novo na política partidária, como se isso pudesse existir.
Quando me mudei para Mato Grosso em 1988 eu me senti como um peixe fora d'água e naturalmente meu ex-marido fazendeiro não tinha simpatia pelo PT
Continuei votando no PT, inclusive votei em Lula em todas as eleições para presidente. Mas alguma coisa já tinha mudado. Eu via o pessoal do PT na cidade do interior onde morava e achava tão estranho: era um povo tão marrento que parecia estar mais preocupado em resolver sua própria vida do que mudar os destinos da nação.
Eu pensava, entretanto, que aquele jeito de fazer política, de uma forma egoísta, nepotista e atrasada, era uma característica dos quadros do PT no interior - uma espécie de deformação.
Hoje, com pesar, vejo que estava enganada. Os companheiros que chegaram ao poder, com raras e nobres exceções, são "normais": tem suas limitações, visam seus interesses (e de seu grupo familiar e político acima de tudo) e não diferem em nada das velhas raposas da Arena ou do PMDB.
Isso me lembra o genial livro do escritor inglês George Orwell,"Animal Farm" ("A revolução dos bichos", na versão em português), que trabalhei tantas vezes com meus alunos de Literatura Inglesa no curso de Letras da Unemat, em Cáceres. Trata-se de uma fábula com críticas claras à revolução russa. No início, todos os bichos são iguais e devem trabalhar duro para construir uma nova sociedade após se livrarem do homem/patrão. Com o tempo, alguns trabalham cada vez mais enquanto outros (os porcos) trabalham cada vez menos, porém usam argumentos políticos e a força (o medo) para mostrar que está tudo "certo" até um momento em que os submissos não conseguem mais distinguir os porcos dos homens, com os quais finalmente os primeiros se juntaram.
Para mim, o "livrinho" de Orwell (mais conhecido pelo romance "1984" e a criação de The Big Brother, transformado em mais um produto pela sociedade midiática) é uma obra-prima. Triste, porém altamente reveladora da natureza "humana".

segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Escolhas

Ontem, ao final de dois almoços festivos e regados à cerveja bem gelada, tive uma conversa interessante com uma mulher que conheço do Chorinho (o bar Choros & Serestas, em Cuiabá) e com quem nunca troquei mais que sorrisos e beijinhos. A gente conversou sobre escolhas.
Somos quase da mesma idade, temos filhos quase da mesma idade e ela me contou que sempre quis ser funcionária pública. Via sua mãe trabalhando como funcionária pública e achava bonito. Fez alguns concursos e hoje está prestes a se aposentar com uma bela remuneração. Ela me contou que as pessoas lhe perguntam o que vai fazer após aposentadoria. Ela não se inquieta, quer curtir a vida, a casa, a família, fazer ginástica, ter tempo pra jogar conversa fora.
E eu? Aí vem a parte mais difícil deste post. De repente eu me toquei que fiz escolhas tão disparatadas!
Minha mãe, uma pessoa maravilhosa e bem mais velha que eu, não era o meu modelo. Eu não queria me sentir tão sozinha aos 50 e poucos anos, ficar tão dependente afetivamente dos filhos após a perda do companheiro, preparando refeições deliciosas à espera de que alguém viesse almoçar ou jantar comigo. Eu não queria ficar ralhando com as empregadas que nunca faziam o serviço de casa da forma desejada. Eu não queria fazer crochê, nem tricô, queria ter meu trabalho, uma profissão arrojada, cheia de aventuras que me levasse longe do mundo doméstico e me desse dinheiro suficiente para não depender de ninguém.
De repente, jogo tudo para o alto e sigo que exemplo? O da minha mãe. Venho morar em sua terra natal, me casar, ter filhos e brincar de casinha. Estranho, né? 
Porém não consegui seguir exatamente o modelo materno, criei um caminho diferenciado, que acabou me trazendo novamente para o início: ter uma profissão, ser independente, porém, agora, com duas filhas.
Tenho praticamente a idade que minha mãe tinha quando tomei minhas primeiras decisões. E sinceramente acho que fiz tudo pela metade: não fui coerente com o caminho que escolhi, não tive força suficiente para ir fundo na minha decisão inicial e não consegui encontrar o companheiro ideal. Em outras palavras, não sou uma dona de casa perfeita como minha mãe e tampouco consegui minhoa independência financeira. É assim que me sinto, frustrada.
Talvez esse post incomode algumas pessoas, decepcione outras, mas aqui eu me permito ser sincera, olhar num espelho que nem sempre revela o meu melhor ângulo.
A vida está me dando a chance de um novo recomeço, que é doloroso como qualquer recomeço.
Que modelo quero seguir? Será que ainda preciso de modelos?


 

sexta-feira, 17 de setembro de 2010

Café da manhã com Silva Freire

Sabe aqueles dias em tudo parece que vai dar errado? O meu hoje começou desse jeito. Do nada, minha diarista me comunicou assim que acordei que não viria mais na próxima semana. As razões? Seu neto está com catapora e ela precisa cuidar dele, e arrumou outro serviço onde não precisa cozinhar. Diante da incongruência das duas razões (afinal, ela vai ficar com o neto ou vai trabalhar em outro lugar?), nem argumentei porque se ela quisesse ficar tentaria conversar e não me comunicaria sua decisão. Acho que ela saiu porque estou ficando mais em casa e, por isso, controlando mais o seu serviço, cobrando mais (coisa que nunca faço). Enfim ...
Saí de casa para ir ao Centro dar entrada no seguro desemprego. Tentei estacionar na Faixa Verde - uma invenção chatíssima da administração do ex-prefeito Wilson Santos e da Câmara dos Dirigentes Lojistas (CDL) -, mas fiquei num impasse com a funcionária, já que não tinha os R$ 2 necessários para pagar por uma hora de estacionamento. Eu tinha que ir ao banco pegar o dinheiro, mas ela disse que ia segurar pra mim, mas depois me perguntou qual era mesmo o meu carro (eu tinha acabado de estacionar) e não senti firmeza. Já estava brava porque anteontem uma funcionária desse mesmo Faixa Verde me "levou" R$ 2 a mais em frente à CEF da Avenida do CPA e achei melhor procurar vaga em outro lugar.
Parei um pouco mais longe, mas não tive que pagar. Fui direto ao Ganha Tempo na Praça Ipiranga, conforme sugerido pelo funcionário da DRT no dia da homologação, mas fui informada que só é possível dar entrada no seguro desemprego no Sine, que já não funcionava ali há quatro meses. Legal... E onde fica o Sine? Perto do Pronto Socorro, ou seja, eu teria que pegar o carro de novo para ir lá. Como eu já não estava me sentindo com muita sorte, achei que não valia a pena ir ao Sine, correr o risco de chegar lá e enfrentar uma fila enorme. Por isso resolvi prestigiar o lançamento do Circuito Cultural Silva Freire no Palácio da Instrução, a poucos passos do Ganha Tempo, que não fez jus ao nome.
Ainda bem que segui minha intuição. O evento foi bem legal: teve café da manhã (salada de frutas, bolo de queijo, sucos, etc), encontrei pessoas simpáticas e fiquei sabendo que vai rolar uma programação bacana a partir da próxima segunda-feira, às 19h, no próprio Palácio da Instrução. A noite de abertura da homenagem ao advogado, jornalista e poeta Benedito Sant'Ana da Silva Freire - que, segundo o release distribuído, nasceu em Mimoso, terra natal de Rondon e distrito de Santo Antonio de Leverger -, promete!

quinta-feira, 16 de setembro de 2010

Estômago

De repente eu me sinto pequenininha diante de tantas denúncias envolvendo a ex-ministra da Casa Civil, Erenice Guerra, seu filho, irmão, a parentada toda, e naturalmente a candidata à presidência pelo PT, Dilma Roussef, já que a matriarca da família Guerra era pessoa de sua total confiança.
Eles que aprontam e eu que fico mal? Isso não está certo. O problema é que fico chocada diante de tanta  sacanagem - em Brasília, no Amapá, em Mato Grosso, Alagoas - e perdida como um cego no meio de um tiroteio.
Estou enojada dessa campanha, mas por mais cansada que esteja do estorvo da propaganda eleitoral gratuita na TV, da bagunça de cabos eleitorais nas ruas e do lixo de tanta papelada jogada fora, estou torcendo por um segundo turno: para presidente do país e governador em Mato Grosso.
Acho que é uma oportunidade para todo mundo refletir melhor e para impedir que uns e outros se achem, supondo que são os reis do Brasil ou de estados como Mato Grosso.
A propósito, ao assistir ontem a reportagem do Jornal Nacional no ar uma cidade de Alagoas, destruída pelas enchentes recentemente, fiquei deprimida: é dos estados mais pobres do país e com maior índice de violência. Fico imaginando quanto as oligarquias como a dos Collor de Mello já roubaram daquele povo sofrido. 
E pensar que o ex-presidente Fernando Collor de Mello está no poder de novo - e, segundo dizem, próximo do Partido dos Trabalhadores -, enquanto tantas pessoas sofrem as consequências de uma miséria que poderia ser evitada. É de dar embrulho no estômago.

quarta-feira, 15 de setembro de 2010

"Passione"

Hoje é um daqueles dias em que eu poderia falar de tudo e mais um pouco ... Cinema, política, música, gente, tudo me interessa de alguma forma. Mas vou tentar focar um pouco, pois quero compartilhar aqui uma notícia bastante divulgada nos jornais e sites de Mato Grosso: o confisco pela Justiça dos equipamentos da TV Descalvados, afiliada do SBT em Cáceres (a 210 km de Cuiabá), de  propriedade da família Henry - do deputado cassado mantido no poder por força de liminar e pretenso candidato à reeleição Pedro e seu irmão, o ex-prefeito Ricardo.
O confisco é resultante de uma ação movida pela ex-secretária de Ação Social, Gisele Fontes, mulher do prefeito Túlio Fontes. Para quem está de fora a história é meio complicada, mas vale a pena conhecer.
Em 2001, Túlio era prefeito e Gisele ocupava a Secretária de Ação Social. Como assessora de Comunicação dessa administração, posso dizer sem sombra de dúvida que Gisele era uma secretária séria e extremamente dedicada, tendo se empenhado ao máximo para levar a Cáceres, um município empobrecido, vários projetos sociais, tipo Peti (Programa de Erradicacão do Trabalho Infantil).
Como Túlio rompeu com Pedro Henry, que fora vice de seu pai, Antonio Fontes, no começo dos anos 90, teve início uma espécie de guerra entre os dois, que se arrasta até hoje, infelizmente, porque a população de Cáceres e região é a maior prejudicada.
Os Henry sempre usaram e abusaram de seu poder político na mídia local e, através da TV Descalvados, e de sua cria, o apresentador Edmílson Campos, começaram a atacar despudoradamente a secretária Gisele, por suposto desvio de recursos, chamando-a de "ladra". Gisele entrou com uma ação por danos morais, ganhou e o confisco de ontem nada mais é do que o ato (final?) de uma ação que se arrasta há nove anos. Os Henry perderam em todas as instâncias e o confisco é uma forma de garantir o pagamento de parte da indenização, hoje fixada em R$ 480 mil.
A história é sórdida e eu poderia me alongar sobre o assunto. É curioso ler os comentários dos leitores nos sites que divulgaram a notícia, já que quando o assunto é a briga Fontes x Henry, ninguém consegue ficar neutro. Eu sou Fontes, mas sinceramente não me manifestaria se não tivesse discernimento para comentar o assunto. Neste caso, como profissional de comunicação, acho importantíssimo o fato de uma pessoa que se sentiu injustamente acusada de desonestidade ter conseguido provar na justiça que foi caluniada e merece reparação. Assim como sempre achei absurda a forma como os Henry usaram a TV local, de maneira sensacionalista, irresponsável e totalmente voltada para seus interesses políticos.
Vamos aguardar os próximos capítulos dessa novela tão eletrizante - para quem conhece os personagens - quanto "Passione", o dramalhão de Sílvio de Abreu exibido pela Globo.

terça-feira, 14 de setembro de 2010

O voto do não

Estas eleições estão muito estranhas. A propaganda eleitoral - para todos os níveis de candidatos - está chatíssima, pelo menos aqui em Mato Grosso. Não vejo ninguém empolgado com as eleições, a não ser quem trabalha para algum candidato e está ganhando dinheiro com as eleições.
Converso com meu povo do Rio de Janeiro e todo mundo anda desanimado. Nem a campanha do Fernando Gabeira, que levantou o Rio há dois anos, está animando meu pessoal.
Quase ninguém conversa sobre política e quando toco no assunto com alguém, em geral, a pessoa diz "não vou votar de jeito algum em ..."
Ontem uma amiga, pessoa bacana, batalhadora, disse-me que vai anular seu voto de cabo a rabo sob o argumento de que de nada vale uma maçã boa num cesto de frutas podres. Para vocês verem a que nível chegou a desilusão de algumas pessoas na classe política do país.
Respondi que vou votar no ex-procurador Pedro Taques para senador - o único voto que ouso anunciar, já que os demais ainda estão indefinidos. Mas não tenho coragem de pedir votos para ninguém.
Outro amigo, um cara também maduro, me disse que vai votar em qualquer candidato que não seja da base do PT. Não deixa de ser um critério, embora ache um critério frágil.
Enfim, era para ser uma eleição bacana, empolgante, a primeira depois da Lei da Ficha Limpa, mas até ela está sob risco! Tem candidato barrado (como Pedro Henry, deputado federal envolvido em todos os escândalos recentes) que continua pedindo voto na TV na certeza da impunidade.
Quando vejo carros em Cuiabá com os rostos sorridentes de gente como a ex-vereadora Chica Nunes e o ex-deputado José Riva, cassados, porém candidatos, tem um lado meu que sente vontade de jogar pedra ou, no mínimo, dar uma banana ou mostrar a língua pro motorista.
Estamos na era da internet, dos sites que apontam as improbidades dos políticos e indicam os candidatos Ficha Limpa, clamando pelo voto consciente, mesmo assim nunca vi uma eleição tão chocha.

segunda-feira, 13 de setembro de 2010

Tudo novo de novo

Uma das melhores coisas da vida, acredito, é a possibilidade de mudanças. É como andar de montanha russa ou galopar: dá um frio na barriga, mas é gostoso.
Faz tempo que não ando numa montanha russa ou a cavalo, por outro lado, tenho vivido outras emoções, algumas delas no aspecto profissional.
Como vocês já sabem, estou desempregada! Mas hoje minha vida deu nova guinada. Desisti de meu plano inicial de dar sequência à revista Produtor Rural numa versão eletrônica.
Nem vou tentar explicar os motivos dessa reviravolta, mas asseguro que estou feliz. É claro que não estou 100% certa de que tomei a melhor decisão do mundo, mas segui minha intuição. Acho que não estou preparada para ser empresária, nem para iniciar uma sociedade. Desejo sucesso ao meu ex-futuro sócio, que continua disposto a tocar o projeto. Mato Grosso precisa da revista Produtor Rural.
Quanto a mim, se pudesse seria só cigarra: cantaria em corais, madrigais e em qualquer lugar onde houvesse alguém disposto a me escutar; daria aulas de graça - de inglês, francês,  redação, história, geografia - a qualquer pessoa que estivesse disposta a aprender e buscaria fazer o bem, simplesmente.
Porém a formiga não pode se aposentar.
Já comecei a fazer alguns contatos profissionais e hoje mesmo tive um retorno legal.
Nesses últimos dias recebi palavras de incentivo e uma grande amiga me disse acreditar que "quando a gente se acomoda muito, Deus vem e dá um bom tapa na nossa bunda pra gente levar um tombo e se restabelecer de uma outra maneira".
Adorei! Mesmo que a gente tire "Deus" da história (ainda não consegui chegar lá) a ideia de uma sacudidela é bem interessante: faz a gente se sentir meio criança de novo, dá uma noção de que nada é para sempre, que é assustadora e fascinante ao mesmo tempo.

sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Mea culpa

Apesar de ter feito meu exame de saúde demissional hoje de manhã e do dia estar mais enfumaçado que nunca, estou de bom humor. Vai entender ...
O médico da empresa contratada para fazer o exame (uma formalidade no nosso caso) foi surpreendentemente simpático e até criticou o excesso de burocracia do processo. Fez várias perguntas, tirou minha pressão e me desejou "saúde e sucesso". Agradeci de coração. É disso que preciso: saúde e a sensação de que o outro se importa comigo, mesmo que esse outro seja um estranho que faz parte do meu processo demissional. 
O dia está extremamente quente, um forno! A fumaça toma conta da paisagem. A cidade, as pessoas, tudo fica feio! Fico me perguntando: até quando? Até a próxima chuva. Aí reclamaremos das enxurradas, das casas inundadas, do trânsito mais atrapalhado, dos carros estragados por causa das inundações. 
De alguma forma somos todos culpados por isso: pelo fogo, pelo lixo jogado em lugares inapropriados, pelas construções feitas em locais inadequados, pelo modelo de cidade que adotamos como padrão.
Tenho minha parcela de culpa, nem que seja pela omissão, mas os administradores têm uma parcela dobrada, como cidadãos e gestores dos recursos, muitas vezes mal aplicados ou desviados; pelas empresas contratadas em licitações irregulares para fazer as obras necessárias (ou simplesmente tapear a opinião pública).
Por isso, todos que estão aí pleiteando nossos votos, acusando os adversários e fazendo promessas a torto e direito são culpados, entre eles, o ex-prefeito de Cuiabá, Wilson Santos, o ex-governador de Mato Grosso, Blairo Maggi, e o atual Silval Barbosa, candidato à releição.
Como podem ter a cara de pau de não chamar para si sua parcela de responsabilidade por este setembro negro e asfixiante?
Acorda Martha! Eles são políticos. Profissionais.

quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sem rotina

Está sendo muito estranho ficar sem rotina. Meu trabalho como jornalista nunca teve uma rotina rígida, porém fora as semanas em que eu viajava (geralmente, uma vez por mês) posso dizer que estava habituada a uma certa rotina em termos de tempo e lugar.
Com o fim do meu emprego, fiquei meio sem chão. Isso é muito recente e está sendo difícil lidar com essa sensação. Tento me apegar a algumas rotinas mantidas, como, por exemplo, minhas aulas de yoga e meu ensaio do madrigal. Mas, não consegui mais atualizar meu blog no horário de almoço. Hoje e ontem almocei em casa em companhia de minha filha Diana e, como tive compromisso logo depois do almoço, não pude escrever no horário habitual. Não pude fazer a digestão ao blog.
É estranho perder meu trabalho na revista. É como se eu tivesse perdido um pouco da minha identidade e tivesse que me redescobrir. Isso é fascinante e, ao mesmo tempo, assustador. De repente me vejo lidando com fantasmas e feridas antigas, que pareciam superados e cicatrizados. Não estão.
Penso nas pessoas que trabalham anos e anos num lugar e são demitidas de uma hora para outra. Penso num pai de família, numa pessoa que vestiu a camisa da empresa e se vê de repente nu. Deve ser muito difícil superar essa perda.
Aconteceu mais ou menos isso com o marido de uma pessoa de quem gosto muito e até hoje, muitos anos depois da demissão, ele não se recuperou psicologicamente, segundo a mulher.
Salvo engano, eu me lembro de ter vivido essa sensação de perda de um trabalho três vezes: a primeira, quando não fui contratada após um período de estágio no Jornal do Brasil, embora tivesse me esforçado bastante e me saído bem a ponto de ter sido elogiada por um chefe temido por todos; a segunda ocorreu muito anos depois, quando a nova direção do JB resolveu acabar com o recém-criado Caderno de TV e demitiu a pequena equipe do suplemento (eu fazia parte). Fiquei arrasada na época, mas acabei descolando um emprego na sucursal carioca da Veja por sugestão de um amigo e passar pela revista foi um marco na minha vida profissional.
A terceira experiência do gênero ocorreu em Cáceres quando todos os professores substitutos antigos da Unemat (éramos muitos) foram sumariamente dispensados (sem direito a qualquer indenização) porque a reitoria foi "obrigada" a cumprir a legislação estadual, ou seja, só contratar professores substitutos por um período máximo de dois anos e após um teste seletivo. A medida era uma exigência legal, mas foi muito triste a forma como tudo ocorreu: quem servia para dar aula já não servia mais de uma hora para outra. Na época, acabei me redescobrindo na Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente de Cáceres, a saudosa Sematur, onde aprendi muito e fiz belas amizades.
Ser dispensado de um trabalho - mesmo quando você não está 100% satisfeita - é doloroso: é como se você fosse obrigado a mergulhar e não sabe quanto tempo vai ter que ficar debaixo d'água. A gente sabe que vai voltar à superfície e respirar novamente, porém isso não evita a angústia.
Todos me dizem que vou conseguir superar isso - mais uma vez.  Eu vou. Já ia me esquecendo de dizer que já descolei um bico como professora de inglês num curso de línguas e estou desenvolvendo meu lado de empresária.

quarta-feira, 8 de setembro de 2010

O primeiro dia do resto de nossas vidas

Hoje é o primeiro dia do resto da minha vida: estou oficialmente desempregada, ou melhor, cumprindo o aviso  prévio!
 Exageros à parte, é mais ou menos assim que me sinto: como se estivesse iniciando uma nova etapa da minha vida.
Sei que sou capaz, um monte de gente já me repetiu aquele papo de quando "Deus fecha uma porta, abre outra" (não sei se é uma porta ou uma janela; o importante é ter a abertura) e blá-blá-blá, mas que dá um frio na barriga dá. 
Começar de novo de novo? Nesta altura do campeonato? Tudo bem que a gente não tem começar do começo, já que o caminho está meio andado e nessas horas é muito boa a sensação de ter deixado portas (ou janelas) abertas ao longo do tempo, sentir que as pessoas gostam de você e confiam no seu trabalho (e no seu caráter).
Na verdade, queria ter um pouco mais de autoconfiança, mas convenhamos que isso é um pouco complicado num país em que a gente vê tantas pessoas crescendo, ganhando uma grana preta, sem ter trabalhado para isso de uma forma ética e construtiva.
Mas eu não estou aqui para chorar pitangas, nem vale a pena ficar amarga nessa altura do campeonato. Tenho que arregaçar as mangas até porque nossa intenção (minha e do Sérgio, editor da revista Produtor Rural) é dar continuidade à revista, de uma forma bem diferente.
Aguardem.

segunda-feira, 6 de setembro de 2010

Alma brega

Apesar de hoje ser um semiferiado, por pouco não tive tempo de atualizar o blog. Fiquei horas numa sala de espera de um consultório médico (só não fui embora porque ia dar muito trabalho arrumar outro horário, mas fiz questão de deixar claro o meu desconforto quando finalmente fui atendida), resolvi coisas de casa (banco, buscar eletrodoméstico no conserto, etc), conversei sobre possibilidades de trabalho à tarde e depois fui à aula de yoga (maravilhosa, como sempre).
Não sei por que estou detalhando meu dia (amanhã terei ensaio/confraternização do madrigal; como é o meu primeiro encontro do gênero com a turma, estou curiosa), já que meu objetivo hoje é falar do show do grupo Alma de Gato, ao qual assisti ontem no teatro do Sesc Arsenal.
Acompanho o Alma de Gato há uns quatro anos e fico super feliz de ver como o público do grupo vem crescendo - e como esse público é fiel!
O show Populares em Geral - o melhor da MPBrega lotou o teatro nas três apresentações e será reapresentado no próximo dia 12 no Teatro da UFMT, que é bem maior.
Ele vem sendo preparado há meses e atendeu às minhas expectativas. Os figurinos estão quase sempre impagáveis, com destaque absoluto para os do baixo Renato Marçal, irresistível numa espécie de macacão estampado e com o cabelão ouriçado.
A escolha do repertório é ótima com direito a clássicos da música brega, como "Eu não sou cachorro não", "Pare de tomar a pílula", sucessos de Wando ("Você é luz, é raio, estrela e luar..."), Wanderley Cardoso, Diana e muitos outros intérpretes.
Os sketches entre os números musicais (quase sempre pout-pourris) são engraçados, ao estilo Alma de Gato (com algumas piadas pesadas), que aprendi a apreciar. Os rapazes continuam cantando muito e, desta vez, surpreendentemente, resolveram apelar para microfones individuais, talvez porque o estilo de música exija mais esforço dos intérpretes (estilo vozeirão).
Na minha opinião, o espetáculo só peca quando tenta se levar a sério, ou melhor, convencer a plateia da qualidade musical daquelas canções que marcaram época, comoveram, divertiram, mas são apenas clássicos ... do cancioneiro brega. O brega pode ser chique, divertido e ponto final.
Para provar sua tese de que a chamada música brega não era de má qualidade, o Alma faz um pout-pourri divertidíssimo (e bisado no final) com alguns sucessos da música popular recente que consideram de mau gosto, recorrendo a sucessos do grupo É o tchan e do funk (Creo, Eguinha pocotó,  etc). O resultado leva o público ao delírio graças à interpretação escrachada dos rapazes.
Para mim, muitas das canções interpretadas como pérolas da música brega (e que não seriam de mau gosto, de acordo com o Alma de Gato) poderiam tranquilamente estar nesse pout-pourri.
Mas não importa! O que importa é que o público deixa o espetáculo com a alma lavada depois de curtir um último pout-pourri que mistura as vinhetas dos programas que marcaram época e consagraram ícones da música brega, como Cassino do Chacrinha, Bolinha e Sílvio Santos.
Mais um sucesso na carreira no Alma de Gato!

sexta-feira, 3 de setembro de 2010

Novos rumos

Hoje é o meu último dia de trabalho na Famato, onde trabalho há mais de sete anos, na revista Produtor Rural, inicialmente como prestadora de serviço e como funcionária registrada desde 1º de setembro de 2008. 
Cheguei a imaginar como seria triste escrever esse post, mas no momento meu sentimento não é de tristeza. Talvez, de apreensão. É sempre difícil mudar e enfrentar o novo.
Saio de uma zona de conforto e parto rumo ... ao novo. Não quero (nem posso) neste momento adiantar que rumo é esse (quem sabe na segunda?), porém é minha intenção manter este espaço de atualização do Cá entre nós na minha nova "rotina", que ainda terá que ser construída. 
Peço aos que me acompanham que torçam por mim. Apesar de não frequentar igrejas, acredito na força do pensamento positivo. Ou, pelo menos, tento acreditar. Sabe aquele velho papo de "no creo en brujas, pero que las hay, las hay"?
Por hoje é só. Preciso esvaziar minhas gavetas e me (re)organizar. E não sou muito boa nisso ...

quinta-feira, 2 de setembro de 2010

Em quem acreditar?

Uma notícia local me chamou atenção no noticiário de hoje: um assalto (ou foi uma tentativa de?) ocorrido na porta de um dos prédios mais chiques de Cuiabá, o Ravenna Park, onde mora, inclusive, o ex-prefeito e candidato a governador Wilson Santos. 
Mais que o fato em si o que quero comentar é a discrepância das informações: na matéria do site http://www.gazetadigital.com.br/, que traz até uma foto de um dos assaltantes, dois bandidos faziam um arrastão pela rua Marechal Floriano Peixoto, no bairro Duque de Caxias, pouco depois de 19h30m, e acabaram presos por dois irmãos policiais civis, "que estão em férias e passavam pelo local na hora do 'arrastão'". Um dos bandidos foi preso na hora e outro foi preso por PMs perto da Rodoviária, algumas horas depois. 
Mas, a primeira matéria que li, veiculada pelo site MidiaNews, falava na tentativa de assalto a um procurador, na entrada do prédio citado. Como a vítima se assustou e arrancou com o carro, os bandidos teriam tentando abordar outro veículo estacionado em frente ao edifício, onde estavam dois seguranças de Wilson Santos. Um deles foi preso em flagrante e outro teria fugido.
Vou checar detalhes dessa notícia na internet e surpresa! Verifico que a notícia agora publicada no site Midianews  http://www.midianews.com.br/?pg=noticias&cat=3&idnot=30376 é semelhante a que está publicada no site da Gazeta, mas a original está lá na newsletter que recebi do site Midianews no meu email pessoal (aliás nem sei por que estou recebendo).
Moral da história: a internet trouxe muita mobilidade aos meios de comunicação - a tal da notícia quase em tempo real  -, mas como é instável e sujeita a chuvas e trovoadas! Ou seja, a credibilidade da informação é mínima e é muito fácil para o autor da matéria e/ou editor alterar os dados rapidamente ou porque o repórter apurou mal ou porque alguma informação veiculada não deve sê-lo (por razões políticas e/ou econômicas).
Se eu ainda desse aulas para estudantes de jornalismo, seria um prato cheio para discussão.

quarta-feira, 1 de setembro de 2010

Pelas ruas de Cuiabá

Hoje teria muitos assuntos a comentar ...  Vou seguir a ordem cronológica: percebi durante a caminhada matinal que detonaram a calçada de uma rua, cujo nome não sei, mas que passa numa das laterais  do quartel do 44º Batalhão de Infantaria Motorizado, no bairro Goiabeiras, em Cuiabá. 
É uma daquelas ruas inacreditáveis que existem na capital mato-grossense: tem mão dupla, passa ônibus, tem um tráfego intenso de veículos e pessoas, e muita gente estaciona dos dois lados (e em cima da calçada) para ir à academia ou caminhar na pista do 44º BIMtz. 
Fazia dias que não passava lá e não vi quem detonou a calçada, mas pelo jeito vão ampliar a rua e reduzir a calçada, ou seja, mais uma vez privilegia-se o tráfego de veículos e se sacrifica o pedestre. Mesmo que a via seja alargada, provavelmente ainda será perigosa, já que o fluxo de veículos e pessoas será intenso e muita gente continuará estacionando dos dois lados. Por que não se deixa a rua com mão única?
Enfim, não entendo de trânsito, mas entendo que está cada vez mais difícil se viver em Cuiabá para motoristas e principalmente pedestres. Calçada sem buracos, desníveis e veículos estacionados é coisa rara. 
Por outro lado, a Prefeitura agora está construindo rampas em algumas das principais esquinas. É uma iniciativa louvável, porém fico imaginando como deve ser o percurso de um cadeirante ou de alguém empurrando um carrinho de bebê pelo bairro Goiabeiras (um dos melhores da cidade): a pessoa vai poder utilizar a rampa para atravessar a rua, mas terá que contar com muita sorte para não ser atropelada pelos motoristas que raramente respeitam as faixas; logo adiante terá que vencer obstáculos como desníveis gigantescos, buracos, etc.
O outro assunto que me inspira hoje, e que vou guardar para outro post, é o fim da versão impressa do Jornal do Brasil.