segunda-feira, 31 de agosto de 2009

O Santo Ofício de hoje

Neste fim de semana assisti a dois filmes muito interessantes em DVD. Um deles foi "O leitor", que deu o Oscar de melhor atriz a Kate Winslet. É um filme surpreendente e muito delicado, daqueles que a gente não esquece fácil. O outro, menos falado, foi "Sombras de Goya". Peguei correndo na locadora (que já estava praticamente fechada) sem ter ouvido nada sobre o filme, apenas porque sou meio fascinada por pintores como Goya.
Na realidade, o pintor espanhol é quase um espectador na história, cujo protagonista é o padre Lorenzo, interpretado por Javier Bardem. O filme é dirigido por Milos Forman - o mesmo de "Amadeus", "Hair" e "Estranho no ninho", três grandes filmes - mas não fez sucesso em termos de crítica ou bilheteria.
Gostei bastante de "Sombras de Goya", fora o estranhamento que causa uma história passada na Espanha em que os personagens falam inglês. (Aliás, também estranhei que em "O Leitor", cuja história se passa na Alemanha, a língua falada seja inglês e não alemão).
Não quero aqui fazer uma crítica do filme e sim falar dos temas principais de "Sombras de Goya": o obscurantismo, o fanatismo religioso e as atrocidades que se cometem em nome de Deus, a hipocrisia das pessoas que usam o poder (religioso ou político) para cometer violências.
Enquanto assistia ao filme, pensei em quantas situações semelhantes ainda ocorrem pelo mundo no século XXI. Pensei na prisão da base naval de Guantánamo e nos prisioneiros que estão mofando lá sem ter ao menos direito a um julgamento. Assim como era no tempo do Santo Ofício na Espanha de Goya. E a vida continua ...

domingo, 30 de agosto de 2009

Dúvidas dominicais

Depois de um fim de semana de muito trabalho, surge a dúvida: considerando que costumo cumprir o que me proponho a fazer, será que não consigo ir mais longe porque sou modesta nas minhas metas ou será que apenas sou realista e não me proponho a fazer nada que esteja além do que julgo ser minha capacidade? Será que devo ousar mais, desejar mais?

sábado, 29 de agosto de 2009

Passado, presente e futuro

Ontem minha filha Diana me perguntou sobre a "história da pererequinha" mencionada no texto que escrevi para o site agonia.net Escrevi essa historinha na minha velha máquina de escrever na época em que passava dias e dias na fazenda Recreio, no Pantanal.
Fui procurar a história pra mostrar a ela e me emocionei muito relendo meus escritos do tempo do Pantanal. Tem algumas poucas iniciativas de ficção e muitos textos/desabafo, uma espécie de blog datilografado, quando nem se sonhava com essa palavra.
Isso não tem tanto tempo - 20 anos. É quase o tempo de vida de Diana, minha filha mais velha. Para ela deve ser estranho pensar que a mãe é do tempo em que não havia computador, nem internet, orkut, msn, blog. Essas mudanças aconteceram muito rápido e eu, particularmente, adoro escrever no computador. Não precisa rasgar o papel e escrever de novo, ou rabiscar com caneta por cima da máquina quando a gente não gosta do jeito que escreveu. Em compensação, escrever à màquina ou à mão dá esse prazer de encontrar os velhos textos em papéis amarelados. Dá uma sensação única de que você tem chão, tempo de estrada, e isso é bom.
Reler esses textos me fez chorar, mas, ao mesmo tempo, resgatou uma coisa muito forte e profunda em mim. Fui extremamente feliz e às vezes infeliz nos primeiros anos em Cáceres e ainda quero escrever sobre isso. Em breve, vocês terão notícias sobre esse projeto.

sexta-feira, 28 de agosto de 2009

Crepúsculo

Resolvi escrever um post rápido sobre o pôr do sol e me vi numa sinuca de bico: como se escreve? Esse é uma boa questão para nossa revisora oficial. Como não disponho de muito tempo, recorri ao Google e encontrei um blog (Dicas e Tricas da Língua Portuguesa) em que o autor diz em 7 de julho de 2008 que não há unanimidade a respeito da grafia.
Mas acredito que haja unanimidade quanto à beleza e à poesia desse momento em que o sol nos dá a ilusão de que vai descansar depois de fritar nossos miolos (pelo menos, em Cuiabá) por algumas horas.
Pois, ontem, saindo do meu trabalho,descobri que tenho acesso ao põr do sol mais bonito que já vi de Cuiabá. Vou explicar: trabalho na revista Produtor Rural (como muitos de vocês já sabem) e estamos temporariamente instalados no prédio da Senar, enquanto reformam o da Famato, que fica do outro lado da rua no Centro Político Administrativo (CPA). Acontece que uma das fachadas do edifício (a do Cenarium Rural, espaço para eventos) fica voltada para o poente. Como estacionei meu carro desse lado e o dia estava esplendoroso vi um por do sol belíssimo, daqueles que dá vontade de parar e aplaudir, como fazem os cariocas na praia de Ipanema.
Mas eu precisava ir embora para fugir do engarrafamento que se forma por volta das 6h. Mesmo assim foi gostoso. Deu um sabor diferente ao meu final do dia. Desejos a vocês, principalmente quem está no Rio de Janeiro, que curta muito o por do sol neste fim de semana (ou o nascer do sol, se preferirem).

quinta-feira, 27 de agosto de 2009

Família que escreve unida ...

Anteontem, na minha pressa de ir embora pra Pasárgada acabei grafando errado o nome do lugar imaginado pelo poeta Manuel Bandeira e cuja sonoridade me persegue desde a infância.
Ainda bem que tenho entre meus leitores uma leitora fiel que, de vez em quando, "puxa" delicadamente "minha orelha" por telefone ou email. Para falar dessas e outras virtudes dessa minha irmã seria necessário mais que um post, mas meu objetivo aqui é falar da gostosa união que o mundo da escrita virtual está provocando na nossa família.
Somos uma família de letras, formada por leitores vorazes, verdadeiros devoradores de livros, jornais, revistas e qualquer coisa legível que apareça pela frente. Somos também uma família de escritores, um pouco tímida, é verdade. Mas, ultimamente andamos nos encontrando no meu blog, no blog de Dete (www.piassa-braziliansoul.blogspot.com) e, agora, no site que ela está ajudando a editar. Chama-se agonia (www.agonia.net) e tem uma edição em português, bem nova. Pois Dete convidou algumas pessoas da família que escrevem - eu, Valéria Piassa Polizzi, sua sobrinha e minha sobrinha neta, e Bel, que escreve com o nome Maria Baptista - para enviar textos inéditos ao site. Alguns de nossos textos estão lá para serem conferidos.
Dessa forma a gente se autoalimenta: a gente "se" lê, se inspira e se curte cada vez mais.
Ah, ia esquecendo de dizer, Jane, a irmã do início desse post, também participa ativamente dessa "farra literária", como revisora. Ela é craque nisso!

quarta-feira, 26 de agosto de 2009

Dúvidas matinais

Perguntinha rápida: os assuntos relacionados à Operação Pacenas, deflagrada pela Polícia Federal e que revolveu a lama sob as obras do PAC em Cuiabá e Várzea Grande, deveriam ser veiculados na editoria de política dos jornais locais ou de polícia?
Hoje, matéria do Diário de Cuiabá, de autoria de Juliana Scardua (ex-aluna da UFMT das mais queridas) fala da ligação do deputado federal Pedro Henry (PP-MT) com Dito Loro, "membro do staff municipal de Várzea Grande". Na conversa telefônica gravada pela Polícia em março de 2009, Henry pede a Loro para ir a seu apartamento em Cuiabá para "receber orientações de Brasília".
Há uns quatro ou cinco anos vejo o nome de Henry (velho conhecido de Cáceres) ligado a escândalos federais (nos dois sentidos da palavra). Até quando?
Há mais de 10 anos - se não me falha a memória - ele estava por trás de uma das ações mais sinistras a qual assisti de camarote: a destruição no meio da noite da centenária Ponte Branca sobre o córrego Sangradouro para construção de uma obra faraônica, que escondeu sobre toneladas de concreto esgostos que saiam das residências cacerenses e caiam in natura no rio Paraguai - cartão postal da cidade. Até hoje caem, mas a ponte não está mais lá.
Na época, defensores dos responsáveis pela obra - o prefeito Aloísio de Barros e o deputado, Pedro Henry, que conseguiu recursos por meio de emenda parlamentar - alegaram a necessidade de trazer o progresso para Cáceres.
Estranha definição de progresso tem essas pessoas: demolir uma parte da história sem o consentimento da maioria da população para construir uma obra que deve ter rendido milhões de reais aos envolvidos sem que se resolvesse o problema de saneamento básico ...
É um episódio triste que deveria ser melhor investigado e servir de lição.

terça-feira, 25 de agosto de 2009

Vou me embora pra Finlândia

Num momento de "recreio" - antes de passar à redação da próxima matéria - eu me distraio lendo dois emails enviados por um amigo. O primeiro fala sobre a servidora fantasma lotada no gabinete da senadora Serys (PT-MT), que mora nos EUA e é casada com um diretor do Banco Mundial. O email diz que ela tem um salário de R$ 12 mil (deve ser uma merreca para a esposa de um diretor do Banco Mundial).
A outra mensagem fala sobre a Finlândia, país que investe maciçamente em educação, não tolera a corrupção, é altamente industrializado e tem um nível de vida excelente. Ainda traz imagens belíssimas da Finlândia.
Se não fosse o fato de detestar o frio, acho que ia querer pegar um avião correndo pra Finlândia e pedir asilo lá. Será que eles oferecem abrigo a uma brasileira crédula, ingênua, que ainda fica perplexa de ver a transformação sofrida por militantes do PT que parecem totalmente deslumbrados com o poder?
Não sei se adiantar jogar pedra no PT. Qual é a solução: a cara-de-pau do PMDB, o esnobismo do pessoal do PSDB ou o xiitismo do pessoal do PSOL ou do PV? O jeito é ir pra Pasárgada ... ou pra Finlândia.
Se pelo menos se investisse mais em educação no Brasil ... Eu disse "educação" e não "prédios".

segunda-feira, 24 de agosto de 2009

Drag queen

Em Cuiabá, encontro ex-alunos nos lugares e situações mais surpreendentes. No sábado, fui a um chá de panela da nora da minha amiga animado por uma drag queen. Após seu show de apresentação, uma dança meio louca em que mexia a cabeça e as longas madeixas negras loucamente, ela chamou algumas das convidadas para uma brincadeira. Todo mundo procurou se esquivar, mas acabei sendo uma das chamadas de cara. Quando nos encontramos mais de perto, ela disse: "Eu conheço você!" E logo emendou: "Você foi minha professora".
Realmente, dei aulas por um semestre no curso de Jornalismo de uma universidade particular de Cuiabá e soube que um dos meus alunos era drag queen. Acabou o semestre reprovado não por ser drag queen, é claro, mas por nunca ir às aulas, não ter feito um trabalho sequer e ter ido mal nas provas. Ele mesmo me contou que era drag queen no final do semestre quando foi justificar suas ausências em busca da minha compreensão e complacência.
Uma vez feito o reconhecimento, cheguei a ficar com receio de que ele resolvesse se vingar da reprovação, mas meu ex-aluno foi super gentil, contou que está no 6º semestre (fui sua professora no 4º há dois anos) e que é muito requisitado como drag queen.
Não sei se ele tem alguma intenção mais séria com o jornalismo, mas acredito que já encontrou seu caminho como showman (ou seria showwoman?). De qualquer maneira, o diploma de jornalismo não vai lhe ter muita serventia, já que a obrigatoriedade do diploma caiu por terra por decisão do STF.

domingo, 23 de agosto de 2009

Relatividade

Minha filha de 19 anos chega chocada da festa de sábado porque sua amiga "ficou" com um menino mais novo.
Pobres meninas, ainda vão demorar para entender como essa questão de idade é relativa.

sexta-feira, 21 de agosto de 2009

Experiências de vida

Hoje, num intervalo da Bienal dos Negócios da Agricultura, encontrei com uma ex-aluna do curso de jornalismo da UFMT que trabalhou oito meses como professora voluntária em Angola. Queria saber mais sobre sua experiência e sugeri a ela que escrevesse um livro relatando-a, a exemplo de um que li há alguns anos e cujo nome não me recordo (foi um presente de Dete, minha sobrinha dos EUA, e emprestei para uma amiga que mora no Rio). Nesse livro, a narradora, uma canadense vive uma situação parecida em Mianmar, antiga Birmânia, um pequeno país localizado no Sul da Ásia, controlado pelas forças armadas. É muito interessante acompanhar os contrastes culturais enfrentados pela protagonista e sua dificuldade inicial para entender e aceitar o jeito de ver a vida dos habitantes locais.
Minha aluna diz ter vivido situação semelhante em Angola no que diz respeito à relação das pessoas com o tempo - bem menos ansiosa do que a sua.
Penso em quanta coisa incrível esse vasto mundo nos oferece. Hoje, durante o almoço com alguns produtores rurais, falávamos sobre felicidade e tempo de vida. Uma produtora disse: "A gente sempre diz: 'vou ser feliz quando ...', supondo que a nossa vida é infinita". Não é. Ou é?
Por enquanto, sei que é infinita enquanto dura, parafraseando o verso famoso de Vinícius de Morais em seu "Soneto de Infidelidade". Como não sei como terminar este post meio viajado, recorro a outro poeta, Fernando Pessoa, citado por uma amiga quando decidi trocar o Rio de Janeiro por Mato Grosso. "Tudo vale a pena quando a alma não é pequena". É verdade.

quinta-feira, 20 de agosto de 2009

Nota de pesar

Não posso deixar de registar aqui nota de pesar dinate da decisão do Conselho de Ética do Senado pela absolvição do presidente da casa, José Sarney(PMDB-AP). São momentos em que a gente questiona se o Brasil está realmente evoluindo.

Tomara!

Acabei de sair de uma coletiva de lançamento do Movimento Pró-Logística, que tem como meta resolver os eternos problemas de logística de Mato Grosso. Para quem não mora aqui ou não acompanha regularmente os problemas provocados pela deficiência na infraestrutura para o vaivém dos produtos (primário e industrializados), fica difícil entender como essa questão é vital para o desenvolvimento da região.
Meu objetivo aqui não é me aprofundar sobre o tema e sim louvar (de boa) a iniciativa de entidades produtoras de unir esforços em torno não só de conseguir recursos para realização das obras necessárias, mas, acima de tudo, de superar os entraves (ambientais, etc) e fiscalizar a aplicação dos recursos. Várias autoridades disseram na coletiva que não faltam recursos e sim bom projetos. Falta também vergonha na cara de quem fica responsável por geri-los e aplicá-los, mas falta a sociedade (ou seja, nós) se mexer para acabar de uma vez por todas com a cultura do "rouba mas faz". O pior que em muitos casos o pessoal nem faz, só rouba.

quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Bom conselho

Hoje estou apertadíssima de tempo, mas estou animada. Tive uma curiosa conversa com um homem de negócios ontem à noite (não posso dar mais detalhes sobre a pessoa) sobre a oportunidade de trocar ou não de carro. Ele me aconselhou a arrumar o meu carro velho (um Paglio 2000), zerar qualquer dívida e não contrair novas. Disse para eu entrar num consórcio assim que tiver um pouco mais organizada financeiramente e recomendou que eu use meu 13º para amortizar parcelas do consórciol Deu ainda conselhos de ordem doméstica, do tipo "mande a empregada embora" e contrate uma diarista, etc. E é claro: mandou eu economizar 10% do que ganho como uma poupança para o futuro. "E se você for demitida amanhã?" - indagou.
Ele deve ter razão, afinal, é rico e eu não. Prometo que vou pensar melhor no assunto. Uma coisa é certa: estou um pouco menos ansiosa em relação à compra do carro e não vou ficar olhando comprido para os carros lindos que vejo no estacionamento da empresa onde trabalho ou nas ruas. Por que será que sou tão incompetente em termos de finanças pessoais? (Eu e boa parte da humanidade, né?)

terça-feira, 18 de agosto de 2009

Frio na barriga

Sabe aquela coisa que os atores veteranos dizem sentir: o tal frio na barriga antes da estreia? Pois é mais ou menos isso que estou sentindo. Estou trabalhando numa matéria que vai abrir um especial da revista Produtor Rural abordando as diversas regiões do estado e não estou nem um pouco tranquila. Até aí tudo bem: todo mundo diz que um bom texto depende 10% de inspiração e 90% de transpiração (acho que é mais ou menos isso), portanto nada mais natural que eu sinta as dores do parto, mesmo?
Estou tão concentrada nisso que nem estava muito inspirada para postar nada hoje, mas eu me sinto cada dia mais compromissada com este blog e meus leitores - os visíveis que simpaticamente se colocam como "seguidores" e os mais virtuais. Alguns eu já conheço de longa data e outros vou descobrindo aos poucos.
Como já disse em outras ocasiões, este blog ajuda-me a colocar pensamentos e sentimentos em ordem. Geralmente eles voltam a ficar embaralhados logo depois, mas por alguns instantes eu me sinto numa espécie de oásis mental (ou espiritual), amparada pelo fio invisível que me liga a meus leitores, assíduos ou eventuais.
Quando dei aulas de literatura norte-americana no curso de Letras da Unemat, em Cáceres, aprendi a gostar da poesia da escritora norte-americana Emily Dickinson. Uma vez li que ela não gostava de mostrar seus poemas e desejava que eles fossem publicados só após sua morte. Fiquei admirada! Como escrever, para mim, é uma forma de expressão, sinto uma necessidade imensa de ser lida, de saber que consegui compartilhar o meu íntimo com outras pessoas. Sinto também que preciso evoluir muito nesse sentido, mas acredito estar no caminho.

segunda-feira, 17 de agosto de 2009

Esperança

Não consigo começar pra valer meu dia de trabalho sem antes postar alguma coisa neste espaço. Quero falar rapidamente da impressão deixada pelo filme "Milk" ao qual assisti ontem em DVD. Para quem não sabe, trata-se da história real do ativista norte-americano Harvey Milk, que iniciou uma luta em defesa dos direitos civis dos gays e outras minorias nos anos 70 e morreu assassinado.
Quem assiste hoje às paradas gays alegres e festivas de Cuiabá deveria conhecer a trajetória de Milk, maravilhosamente interpretado pelo ator Sean Penn (ele ganhou o Oscar de melhor ator por esse papel).
Mas não quero falar do movimento gay em si neste momento e sim da mensagen mais forte do filme dirigido por Gus Van Sant: a esperança. Numa cena muito bonita do filme, em que Milk tem sua primeira noite de amor com Scott quando completava 40 anos, o protagonista diz que acha que não iria viver até completar 50 anos e que não tinha feito nada na vida até então de que pudesse se orgulhar.
No depoimento que deixa gravado, Milk enfatiza a importância de passar esperança para as pessoas. Trazendo isso para os dias atuais, acho que é isso que falta na maioria das pessoas: a esperança de que as coisas podem ser diferentes, de que não temos, por exemplo, que suportar políticos corruptos, pessoas corruptas e sem qualquer moral como um fato definitivo, ou ainda respostas do tipo: "E assim porque sempre foi assim e ponto final. Não questione".
Milk era sensível, inteligente e demonstrava uma coragem incrível nos momentos mais difíceis. Eu disse coragem, isto é, a consciência de que é preciso ser forte e vencer o medo naquele momento por uma causa maior pela qual vale a pena viver - e morrer.

domingo, 16 de agosto de 2009

Cantar

Tenho que compartilhar este feito com meus leitores, sobretudo com os mais fiéis. Ontem eu cantei no Chorinho! Para mim, com toda sinceridade, é um feito tão grande quanto - sei lá - marcar um gol.
Foi a segunda vez que tive que coragem de pedir o microfone num sábado, dia em que o Chorinho fica lotado. Nem sei explicar como tive coragem (é verdade que a cerveja ajuda).
Eu tinha resolvido que não ia cantar mais no sábado porque é um dia muito cheio e com uma certa pressão. Por isso resolvi que só iria cantar nas noites de quarta-feira quando o clima é mais semelhante aos dos sábados do passado, aquela coisa mais íntima, no verdadeiro espírito do Chorinho. Mas ontem só tinha homem cantando e o meu lado feminino falou mais alto, achei que a voz feminina tinha que marcar presença. Eu me levantei, pedi para o cara que tinha acabado de pegar o microfone me passar depois e fiquei ali do lado dele, morrendo de ansiedade, mas tentando não sofrer por antecipação.
Na hora H, não vacilei, peguei o microfone e comecei com "Sem compromisso", já que minha primeira opção, "A Rita", foi cantada por meu antecessor. Continuei com "Brasil Pandeiro" e "Foi um rio que passou em minha vida" ( como sempre tem muita gente querendo cantar aos sábados, ficou convencionado que cada pessoa deve cantar no máximo três números para que todos tenham oportunidade de se apresentar).
Olha, acho que mandei bem porque várias pessoas vieram me cumprimentar, entre elas, o Ferreira, um cara que sempre canta lá com a maior pinta de profissional, e o Elis, o melhor dançarino do Chorinho e uma das primeiras pessoas que conheci lá., fora os amigos, é claro.
Valeu!

Ai que preguiça!

Agora ando com mania de escrever pro blog no domingo. Se eu não ligasse o notebook para trabalhar talvez ficasse com preguiça de escrever, mas já que tive que abrir o blog funciona como um aperitivo antes de encarar o batente. É, desde que peguei um extra pra fazer, são raros os domingos em que posso me dedicar ao dolce far niente (os italianos têm um jeito bonito de falar da preguiça).
Ligo o rádio numa estação que só toca música boa, não tem anúncios, nem locutor falando (isso existe em Cuiabá) e me sento diante do notebook com o sentimento de culpa de ter acordado tão tarde (ah essa mania de dormir que não me abandona ...) Dizem que as pessoas vão acordando cada vez mais cedo quando vão ficando mais velhas. Se isso é um sintoma de envelhecimento continuo uma adolescente. Adoro dormir!
Tem tantas coisas que gostaria de fazer: viajar mais, escrever uns dois livros (um deles baseado nas minhas experiências no Pantanal), dar aulas de redação e alfabetização como voluntária, cantar mais, abrir mais meu coração pra vida e acreditar que ela vale a pena. Mas o tempo passa tão rápido ...
Minha filha mais velha me disse ontem que sou enrolada ... Pior que sou mesmo. Não tenho tempo a perder se quiser realizar alguns desses meus projetos. Mas sabe de uma coisa? No fundo fico muito feliz de ainda ter projetos. Sinal de que estou viva e cada vez mais integrada comigo mesma.

sexta-feira, 14 de agosto de 2009

Bem Brasil

Hoje, de manhã, assisti (por dever de ofício) a uma audiência pública em Cuiabá. O tema era o novo Código Ambiental, que em tese deve ser votado até o final deste ano.
A mesa de honra foi pequena para abrigar as autoridades presentes: senadores, deputados federais e estaduais, prefeitos, secretários de Estado, etc. Não tenho muita experiência em audiências públicas, mas acho que se perde muito tempo com os saramaleques típicos da política (cumprimentos, etc) e acaba ficando pouco tempo para a discussão propriamente dita e para que o público faça suas sugestões e recomendações ao projeto de lei em questão. Ou será que não peguei o espírito da coisa?
O momento mais tenso de uma audiência morna foi proporcionado por um "agricultor" que chegou com o pessoal da Fetagri-MT (Federação de Trabalhadores na Agricultura no Estado de Mato Grosso) e estava visivelmente bêbado, expressando em alto e bom som seu desconforto com o discurso longo da palestrante. O casal que estava sentado a seu lado se levantou, percebi uma movimentação dos seguranças, mas os próprios companheiros do moço inconveniente conseguiram controlar sua insatisfação. Logo depois o grupo se retirou. Perguntei a uma moça que chamava os companheiros espalhados pelo auditório do Centro de Eventos do Pantanal por que já estavam indo (o grupo não chegou a ficar uma hora no local). "É só balela", respondeu.
Em sua fala, o presidente da Fetagri-MT, Adão da Silva, justificou que o pessoal estava cansado porque vinha de uma semana de manifestações em Cuiabá e precisava retornar às suas cidades.
Quanto à audiência pública, vocês querem mesmo saber?

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

O crime não compensa ???

Acabo de saber que o empresário Paulo Roberto de Andrade, aquele que enganou meio mundo com a lorota do Boi Gordo - quebrou em 2004 e deu um calote de R$ 2,5 bilhões no mercado -, não será punido criminalmente. O Supremo Tribunal de Justiça anulou a ação penal contra Andrade - segundo OFiltro, o boletim eletrônico da revista Época - e reconheceu sua prescrição.
O crime não compensa? Pode ser que não compense para os pequenos, os ladrões de galinha, mas quanto aos de "boi gordo" não sei não ...
Essa notícia me lembra uma cena assistida anteontem no Jornal Nacional: o bispo Edir Macedo, fundador da Igreja Universal do Reino de Deus, ensinando outros pastores a "tirar" dinheiro dos fiéis.
Será que os fiéis continuam seguindo a Igreja depois de ver uma cena dessas ou são iguais aqueles personagens de telenovela que continuam acreditando no amante/namorado/marido/sócio, etc depois de mil evidências apresentadas pelos amigos de que ele está aprontando ? (Esse é o caso da personagem da atriz Ingrid Guimarães na novela "Caras e bocas")
Após notícias como essa, sempre me pergunto: o que dizer pra minhas filhas? Tenho certeza de que elas nunca serão capazes de roubar ou mentir para lesar outras pessoas. Mas não basta ser honesto, temos que fazer alguma coisa para dar um basta a essa imoralidade, já que estamos todos no mesmo barco e não dá pra pular fora.

PS. Ia me esquecendo de comentar um outro aspecto dessa história: na matéria do JN sobre Edir Macedo foi ouvido seu advogado, Arthur Lavigne. Eu me lembrei do final dos anos 70/início dos anos 80 quando Lavigne era um dos advogados mais atuantes na defesa dos presos políticos.
PS 2. Acabo de ler no blog do Noblat (www.noblat.com.br) que o ex-presidente e hoje senador (claro, onde mais ele poderia estar?) Fernando Collor de Mello, autor de um único livro não publicado, será eleito membro da Academia Alagoana de Letras. O que diria a respeito o escritor Graciliano Ramos?

quarta-feira, 12 de agosto de 2009

Os subterrâneos do PAC

Estava viajando e pouco li os detalhes do caso de corrupção envolvendo as obras do PAC em Cuiabá.
Peguei um jornal para ler há pouco e comecei a ficar com nojo. A gente conhece boa parte dos envolvidos, pessoas que vivem nas colunas sociais e tem se mantido no poder (ou na fronteira dele) há muito tempo. Sabe também que provavelmente acontecerá com eles o que aconteceu com muitos que já estiveram sob o foco da mídia e da polícia em outras ocasiões, ou seja, nada. Eles continuam numa boa, ainda no poder. Ou seja, mais ou menos como acontece no Senado em Brasília, onde Renans, Sarneys e Collors nunca perdem a pose ou o poder, apesar dos fatos tenebrosos envolvendo seus nomes.
Enquanto isso, moradores das ruas atingidas pelas obras do PAC continuam sofrendo com a poeira e o desconforto provocado pela movimentação das máquinas, hoje, totalmente paradas, segundo os jornais. Até quando?
Hoje, de manhã, procurando no rádio uma estação para ouvir durante o banho fui surpreendida por um belíssimo choro solado no clarineta. Para minha surpresa, a programação inusitada vinha de uma tal Rádio Senado, operando em caráter experimental em Cuiabá. Fiquei pensando: será que eles querem com isso atenuar a má imagem do Senado e nos levar a ter algum sentimento bom em relação àquele covil de cobras criadas?
Seja como for, temos que acreditar que as coisas podem melhorar. Não acredito sinceramente que eu vá viver para ver um mundo sem corrupção em que a política seja vista como uma arte nobre usada em benefício da maioria da população como convém numa democracia. Nem por isso vou desejar - como algumas pessoas - a volta da ditadura. Até porque a corrupção é do ser humano; existem ditadores corruptos (e quantos!) e "democratas" corruptos. Cabe a nós, enquanto sociedade, ser menos submissos, coniventes e egoístas.

terça-feira, 11 de agosto de 2009

Lar doce lar

Sempre gostei de viajar e, de volta ao lar depois de seis dias fora, sinto um estranhamento que me é familiar. É uma mistura de alegria e tristeza, de satisfação de rever e poder abraçar minhas filhas, dormir na minha cama, tomar banho no meu banheiro,e, ao mesmo tempo, uma sensação de saudade do que ficou para trás: das pessoas que conheci e que talvez nunca mais vá rever, da sensação boa de voltar pro quarto do hotel e tomar uma ducha relaxante depois de um dia de trabalho, de tomar café da manhã no hotel (eu adoro!) e, principalmente, de estar indo sempre em busca do novo.
A rotina é confortante num certo aspecto, mas entediante em outros - e olha que meu dia não é exatamente um mar de previsibilidade.
É isso que quero conservar hoje: a minha curiosidade, a minha capacidade de curtir a novidade, mesmo que uma parte de mim tenha sido criada para assumir a rotina de uma vida de dona de casa.
Hoje meu colega de viagem observou uma coisa interessante: comentávamos que na ida eu estava enjoada, com dor nas costas e com os olhos me incomodando por causa das lentes de contato. Hoje, depois de vários dias de trabalho, eu não estava nem um pouco enjoada, tinha melhorado das costas e lidado razoavelmente bem com o problema dos olhos, apesar da poeira. Na opinião dele, isso tem a ver com a ansiedade que pode ter rolado antes da viagem, já que deixei Cuiabá muito ligada a alguns problemas domésticos, me sentindo culpada por deixar minhas "meninas" sozinhas e preocupada com a matéria que ia fazer. À medida em que fui me afastando de casa e vendo que as coisas caminhavam bem com elas - apesar da minha ausência - e com o trabalho, relaxei. Faz sentido.

segunda-feira, 10 de agosto de 2009

Fim de reportagem

Hoje terminei minha reportagem na região centro norte de MT. Terminei é modo de falar, o mais certo seria "dei por encerrada". A gente sempre tem o que apurar, mas conseguimos bom material e temos limite de tempo e espaço.
O dia foi bem variado. A manhã começou meio angustiante porque eu não conseguia entrar em contato com as duas pessoas com quem eu tinha ficado de falar em Sinop. Acabei me encontrando com eles no Sindicato Rural. Depois demos um giro na cidade com o secretário de Meio Ambiente e Desenvolvimento Sustentável, que é também produtor rural. Fomos ao Horto Florestal para fotografá-lo e fiquei encantada com o lugar. Até peguei uma arara! O Zé Medeiros tirou a foto e assim que ele me passar, provo para vocês. Fiquei com medo de ter uma arara nos braços, mas ela parecia tão calma e amistosa que me atrevi a viver essa experiência. Depois que o Zé fez a foto quis passá-la para o braço da supervisora do Horto, mas ela - a arara - não quis ir (acho que ela gostou de mim). O jeito foi me aproximar do ferro da lata de lixo e aí ela resolveu mudar de poleiro.
Percorremos outros lugares para que o secretário Rogério nos mostrasse várias provas do esforço da atual administração para resolver o problema do fogo na cidade, que disputou num passado recente a triste liderança em número de focos de incêndio no período da seca.
Após o almoço numa churrascaria, fomos visitar um assentamento rural (a Gleba Mercedes) - mais um caso de abandono pelo Incra. Conheci pessoas incríveis como o seu Valdemar e sua mulher, na casa de quem comemos queijo. Ouvi uma fala linda sobre o que é sustentabilidade. São pessoas como ele que deveriam estar nos eventos falando sobre o tema e não gente que vive na cidade, no maior conforto.
Retornamos ao hotel por volta de 7h da noite bem cansados e amanhã volto pra casa. Estou feliz por rever minhas filhas e retomar algumas coisas da minha rotina, mas, sinto que vou estranhar voltar a Cuiabá, aquela cidade grande e hoje abalada pelo escândalo dos políticos e empresários presos sob acusação de roubo nas obras do PAC. Gente graúda e que costumo encontrar (alguns dos acusados) sempre ligada ao poder e a muita grana. Será que ficarão presos? Será que devolverão o dinheiro roubado? Enquanto isso, pessoas como seu Valdemar ralam pra caramba para sobreviver como assentado.

domingo, 9 de agosto de 2009

O maior pé de soja solteiro do Brasil

Domingão, dia dos Pais, e cá estou em Sinop, a "capital" do Norte de Mato Grosso. É uma cidade bonita e na frente do hotel onde nos hospedamos, Ucayali - outro nome indígena, cujo significado ainda não sei - tem uma praça bonita, onde vi jovens reunidos no final da tarde. Mas, agora, apesar de estar no quarto fechado e com o ar condicionado ligado, ouço o som do pancadão, provavelmente vindo de algum carro da moçada. Argh!
O meu dia foi bastante rural, embora tenha almoçado na cidade numa cantina italiana, onde pretendemos comer algo daqui a pouco. Saímos de Sorriso não muito cedo e viemos parando para que o Zé - o fotógrafo José Medeiros - tirasse fotos das obras na BR-163, que liga Cuiabá a Santarém (PA) e é estratégica para o agronegócio mato-grossense.
Fomos direto para Santa Carmem, município situado a 32 km de Sinop, onde conhecemos e fotografamos o "maior pé de soja solteiro" do Brasil. Imagine se fosse casado! Maiores detalhes dessa e outras histórias poderão ser conhecidos na reportagem que estou fazendo para a revista Produtor Rural.
A ideia era almoçar em Santa Carmem e nosso anfitrião, o secretário de Agricultura local, nos largou na porta de um "restaurante" e ficou de nos encontrar mais tarde (afinal, era Dia dos Pais). Só que a dona disse para nós que não tinha mais comida (detalhe: era meio dia). Outros restaurantes vistos no caminho estavam estranhamente fechados e por isso o jeito foi voltar para Sinop.
Mais tarde o secretário me ligou tentando me convencer a deixar a reportagem para amanhã, porém já tínhamos assumido outros compromissos em Sinop para amanhã e resolvemos ir sozinhos a um assentamento rural onde alguns agricultores familiares estão tendo sucesso num plantio de pepino para conserva. Foi muito legal! O Zé fez fotos maravilhosas (pra variar) e encontrei bons personagens, gente rodada, desgastada pelas agruras da vida e pelo trabalho de sol a sol, porém surpreendentemente feliz e animada com as perspectivas, apesar de todas as dificuldades impostas pela burocracia, pela omissão do Incra, etc.

sábado, 8 de agosto de 2009

Meu pé de laranja lima

Hoje, por volta de 2 horas da tarde eu estava percorrendo um confinamento de bois sob o sol tórrido da região centro norte de Mato Grosso. Eu podia estar na praia no Rio de Janeiro ou num cinema com ar condicionado, mas estava numa fazenda no município de Sorriso. E por mais incrível que pareça, adorei meu sábado!
Foi cansativo. Saímos do hotel por volta de 7h, buscamos um entrevistado para tirar umas fotos junto a silos enormes e abarrotados de grãos, depois seguimos para Nova Ubiratã, onde estivemos (o fotógrafo José Medeiros e eu) com o secretário de Agricultura, o prefeito, o presidente do Sindicato Rural e uma família de agricultores familiares maravilhosa. A mulher, uma gaúcha de forte sotaque alemão, acorda às 4h da madrugada, trabalha como uma moura e está super feliz. Diz que não tem a menor vontade de voltar pro Sul.
Almoçamos num restaurante indescritível (Carga Pesada) no meio de uma estrada poeirenta (é assim que se escreve?), onde tirei, lavei e recoloquei minhas lentes de contato com a ajuda de uma mocinha que pegou e segurou um pedaço de espelho. Fiz "amizade" com um cara que me perguntou se eu era psicóloga (não sei o motivo da confusão) e tive que aguentar a gozação do meu companheiro fotógrafo.
Passamos a tarde na fazenda de um mega produtor (um dos mais respeitados da região) que planta algodão, soja, milho e "boi", isto é, ele faz Integração Lavoura-Pecuária, uma tendência da região. Chupamos laranja lima tirada do pé (pelo próprio dono da fazenda) e bolo de chocolate quentinho quando retornamos à sede.
Tomei um banho delicioso no hotel (ainda em Sorriso) para tirar o pó e amanhã seguimos rumo a Sinop, com uma parada num município chamado Santa Carmem.

sexta-feira, 7 de agosto de 2009

Opuka

Hoje descobri que o nome do hotel onde estou hospedada - Opuka - quer dizer "sorriso" em tupi guarani.
Hoje meu dia começou às 7h, quando dois produtores rurais vieram nos buscar no hotel para ir a um Dia de Campo numa fazenda a cerca de 40 minutos da cidade. Almoçamos por lá e retornamos à cidade pouco depois das 3h.
Como minhas unhas estavam horríveis e eu só tinha uma entrevista depois das 5h30m, resolvi ir a um salão. Fiquei encantada com o salão de Sorriso: muito chique. O salão indicado pela moça do hotel fica ao lado de uma academia de ginástica e o mais divertido foi meu papo com a manicure. Ela me disse que ia sair mais cedo porque precisava visitar a avó no hospital. Imaginei uma velhinha entrevada na cama do hotel. Perguntei o que a avó tinha e ela me disse que era pedra na vesícula. Perguntei, então, se ela era muito idosa e a moça respondeu que ela tinha 47 anos! É claro que perguntei em seguida: "E você quantos anos tem?" Achei que ela teria uns 27 anos, mas ela tinha 17. Comentei: "Mas você não tem filho, tem?" Ela tem um filho de 3 anos, ou seja, a avó dela de 47 anos é bisavó! Isso significa que eu poderia ser bisavó! Não consigo me imaginar avó, quanto mais bisavó.
Bom, pelo menos ela me disse que vive feliz com seu marido, que tem 23 anos e trabalha num supermercado.
Depois de fazer uma entrevista com o produtor Nélson Piccoli, um dos mais atuantes da região, fomos jantar num bistrô super agradável, onde comemos patas de caranguejo à milanesa e bacalhau com batatas - um cardápio altamente improvável para o interior de Mato Grosso. Sorriso é chique, bem!

quinta-feira, 6 de agosto de 2009

Sorriso

Faltam 15 minutos pra meia noite e só agora consegui me sentar pra escrever. Estou em Sorriso, a cerca de 400 km de Cuiabá na direção norte. É minha primeira parada de uma viagem que deve prosseguir até Sinop, mais ao norte, passando por outros municípios.
A viagem foi tranquila, fora uma dor nas costas e um pouco de enjoo. Acho que estou ficando velha pra essas aventuras, mas não dormi um instante sequer e aguentei firme ao lado do meu companheiro, o fotógrafo José Medeiros. O pior trecho foi entre Lucas do Rio Verde e Sorriso por causa de obras na estrada. Andamos um bom tempo no acostamento e quase não dava pra enxergar nada por causa da poeira. Fiquei tensíssima e, uma hora (não contem pro Zé que eu contei ...) ele meio que errou a estrada. Mas, de modo geral, mandou bem.
Sorriso é uma graça e meu quarto no hotel Opuka é muito bom. Nem parece que estou tão longe de Cuiabá. Também pudera, Sorriso é um município dos mais ricos de Mato Grosso, de grandes produtores de soja. É o que chamamos aqui de município consolidado. A cidade é cheia de construções novas e muito bonitinha.
Chegamos aqui às 5 horas da tarde (a gente acabou saindo tarde de Cuiabá) e fomos direto para o Sindicato Rural começar nossa matéria. Jantamos com o pessoal do Grupo Araras (tema de uma de nossas reportagens) num restaurante enorme (Camelu's - o nome é ridículo) e voltamos para o hotel porque temos que estar prontos para ir a uma fazenda às 7h de amanhã.

quarta-feira, 5 de agosto de 2009

Rumo ao Norte

Amanhã vou viajar a serviço da revista. Sigo em direção ao Norte de Mato Grosso. No roteiro, cidades já mais conhecidas e estruturadas como Sinop e Sorriso, e outras menos conhecidas - mesmo entre os mato-grossenses - como Nova Ubiratã, Santa Carmen e Feliz Natal.
Minhas parentes que moram em outros estados se divertem quando menciono nomes das cidades que visitei ou vou visitar. Adoraria ter o prazer de poder dizer que conheço os 141 municípios mato-grossenses, mas estou longe dessa marca. Mas agora estamos iniciando um projeto na revista Produtor Rural que, se der certo, poderá me levar literalmente a conhecer um pouco de todas as regiões do estado.
Torço para que dê certo.
A ideia de ficar fora de casa por alguns dias me seduz e me angustia, ao mesmo tempo. Adoro viajar e sair da rotina, mas me aflige um pouco me afastar de casa e deixar minhas "meninas" (duas moças de 17 e 19 anos) por sua própria conta, mesmo que eu saiba que, nessa idade, muitas mulheres já são mães e cuidam de suas próprias casas.
É isso aí. Vou levar o notebook e tentar atualizar o blog, como num diário de bordo.

Seu Cléber

Volta e meia uso este meu espaço para falar de música.
No sábado, fui ao Chorinho, que já não é mais o mesmo aos sábados (tudo muda, por que o Chorinho não haveria de mudar?) depois que muita gente andou descobrindo a melhor roda de samba de Cuiabá. Imagine que quando fui embora (por volta de 23h) tinha fila de gente para entrar! E pensar que há uns três anos o Chorinho ficava às moscas depois das 10h nas noites de sábado.
Mas a melhor surpresa deste último sábado foi o seu Cléber. De repente, um velhinho de fartos cabelos brancos chegou no nicrofone com seu pandeiro e começou a cantar sambas antigos e gostosos, da lavra paulistana ("Saudosa maloca", etc). O público que, a princípio ficou meio cabreiro diante do desconhecido, foi ao delírio. Depois de consultar seu "cardápio" (uma cola com o nome das músicas que iria cantar), o velhinho saiu todo lampeiro avisando para todo mundo que encontrava no caminho: "Tenho 83 anos". Foi o que ele me disse com uma cara de menino que acaba de fazer travessura.
Consegui descobrir que ele se chama Cléber (não sei se com cê ou ka) e que nasceu em São Paulo. Não entendi - por causa do barulho - se ele está de passagem por Cuiabá para visitar a filha ou morando na cidade. Tomara que esteja morando e retorne em breve ao Chorinho.

domingo, 2 de agosto de 2009

Agenda cultural

Quero registrar aqui alguns ótimos espetáculos que acontecerão em Cuiabá esta semana. Infelizmente, não poderei assistir à maioria deles porque vou viajar a trabalho na quinta-feira e só devo retornar na terça seguinte.
A dica é de Rejane De Musis, que, entre outras coisas, é responsável pela programação musical do Sesc Arsenal e apaixonada por música instrumental como eu.
Na terça-feira e na quarta, às 20h, acontecerá o espetáculo "coxipó pampulha" com o músico mineiro José Namen - vencedor do Prêmio Sharp de Música em 1992 - na série Sesc Instrumental.
Na quinta começa o festival Baixo Brasil com uma programação, a partir de 19h, de dar água na boca: na quinta, Ebinho Cardoso e Wellington Andrade de Mato Grosso e Adriano Gifanni do Rio de Janeiro; na sexta, Saulo Vila Nova, Paulo Isidoro e Samuel Smith de MT e Frank Negrão e Arthurzinho Aguiar da Bahia; e no sábado, Fidel Fiori (grande Fidel!) de MT, Joel Mocorvo (BA) e Celso Pixiga de São Paulo.
Tudo de graça! Imperdível, ?

A gosto do freguês

Acho que estou viciada no blog. Aliás, estou descobrindo aos 53 anos o prazer de escrever. É engraçado como sempre tive uma relação meio esquisofrênica com a escrita. Sempre admirei e fui estimulada em casa a admirar os grandes escritores, porém, ao mesmo tempo, criei uma crença dentro de mim (não sei o motivo) de que o fato de escrever - primeiro na escola, nas aulas de redação; mais tarde, nos jornais e revistas por onde passei - era uma coisa meio banal, desprezível diante de outras escolhas profissionais, como ser médico, engenheiro ou qualquer outro profissional que lidasse com números ou as tais ciências exatas.
Escrever é pra qualquer um. Não precisa estudar pra escrever bem. Claro que hoje sei que não é bem assim, mas a minha razão sabe, enquanto meu emocional continua acreditando nas velhas crenças.
Curiosamente, hoje li num livro do artista nordestino José Francisco Borges (Memórias e contos de J.Borges) que seu sonho sempre foi aprender a ler e escrever ("O que eu mais almejava na vida era aprender ler e escrever ..." - diz na página 39). Ele passou apenas 10 meses estudando e aprendeu o básico. Virou "poeta, escritor de literatura de cordel e, pela necessidade de ilustrar a mesma virei xilógrafo-gravador popular", admirado por ícones da cultura brasileira como Ariano Suassuna.
De repente, descubro que escrever pode ser extremamente prazeroso, além de garantir o meu sustento. Por meio da escrita posso expressar meus sentimentos, compartilhar angústias, descobertas e temores. Posso criar uma ponte entre o meu eu mais verdadeiro e o mundo. Pra quê?
Não importa! Pra dizer que estou viva, para deixar minha pegada na Terra.
Pra variar, não era nada disso que eu pretendia escrever. Meu objetivo hoje era apenas fazer uma agenda cultural para semana. Acho que vou ter que escrever outro post.