No início da noite desta primeira quarta-feira de
setembro, sob um calor enlouquecedor, corri para o Sesc Arsenal, no Centro de
Cuiabá, onde por aproximadamente 50 m, relaxei, ri e me emocionei com o
documentário “Filhote deste lugar”, dirigido por Juliana Capilé, que faz parte
do Projeto Mestres da Cultura – Uma homenagem à Vera Capilé.
Tenho o prazer de conviver com Vera mais assiduamente
desde 2017 quando nos tornamos colegas no Coro Experimental MT. Nesses últimos
quatro anos a gente se aproximou muito e conheci a Vera avó, mãe, irmã, esposa,
cozinheira, costureira, psicóloga, gerontóloga, que convive muito bem com a
Vera cantora, coralista, compositora, atriz e escritora. Que mulher danada!
Mesmo assim, eu me surpreendi com “Filhote deste lugar”,
que é também o título de uma das composições de Vera Capilé.
Como resumir 60 anos de carreira e 72 anos de vida em
cerca de 50 minutos? Pois Juliana Capilé e sua equipe conseguiram fazer isso
com maestria! É o tipo do documentário que dá vontade de ver e rever e rever
porque são tantos detalhes, é tanta informação, que se torna impossível registrar
tudo de uma vez.
Mas o mais importante é perceber a grandeza de Vera.
Ela é muito maior do que aparenta ser! A menina atrevida, travessa, que viveu
intensamente sua infância em Dourados (MS) e a juventude numa Cuiabá
provinciana e, ao mesmo tempo, cheia de vida, encontros, cultura, foi
acumulando diversas experiências ao longo das décadas.
Participou do saudoso Projeto Pixinguinha, com o qual
levou a cultura mato-grossense à Europa e a outros estados brasileiros; uniu-se
a vários parceiros artísticos e acabou aterrissando no Coro Experimental MT
para acrescentar uma vivência nova: a de ser coralista.
Disciplinada, generosa, abriu portas para novos
artistas e sempre foi muito amiga dos amigos, como o ator Liu Arruda (1957-1999)
– uma amizade que rendeu alguns dos momentos mais emocionantes do documentário.
Minha intenção aqui não é contar tudo. Não quero lhe
tirar, caro(a) leitor(a), o prazer de assistir a “Filhote deste lugar”. Mas aproveito
para destacar a qualidade técnica do documentário, com fotografia e som
impecáveis, sem falar, é claro, da trilha sonora. Uma legião de artistas e
amigos de Vera, de Mato Grosso e de outros estados (e até do exterior), desfila
no documentário em depoimentos que se entrelaçam e se complementam com um único
objetivo: contar um pouco da carreira de Vera Capilé e mostrar por que ela
merece como poucos o título de Mestre da Cultura.
O documentário “Filhote deste lugar” foi produzido com
recursos da Lei Aldir Blanc da Secretaria de Estado de Cultura, Esporte e Lazer
de Mato Grosso (Secel-MT), graças ao projeto apresentado e coordenado por
Tatiana Horevicht. Nessa quarta-feira foi distribuído ao público um livro como
parte da homenagem à Vera Capilé e ele traz como inovação um QR Code, que
permite o acesso ao álbum comemorativo “Vera Capilé – 60 anos de Carreira”.
Nessa mesma noite a homenageada autografou seu livro “De
Matto-Grosso a Mato Grosso – Das fronteiras paraguaias ao centro geodésico da América
do Sul: a trajetória de um caminhante” (Entrelinhas Editora – 2021), também
publicado com recursos da Lei Aldir Blanc. Nesse livro, ela conta a história de
seu pai Sinjão Capilé, que faleceu em 2015, aos 99 anos, e é até hoje sua grande
inspiração.
É ou não é uma mulher danada?
PS. Fotos e arte do projeto são de autoria de Fred
Gustavos.