quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Santa Maria

Não posso deixar de registrar meu pesar em relação à tragédia de Santa Maria, mesmo que tudo esteja sendo dito em jornais, TVs, rádios, sites e nas mídias sociais. Será que está mesmo?
Muitos amigos meus, dos velhos tempos do bom jornalismo do JB (Jornal do Brasil, para quem não é da época em que o JB dava surra em O Globo em termos de credibilidade e estilo), têm criticado a espetacularização dos fatos relacionados ao incêndio na boite Kiss, que já matou 235 pessoas, causou a internação de 82 pessoas  (até agora) e provocou sintomas de pneumonia química em mais duas dezenas.  Os jornalistas veteranos dizem, por exemplo, que a tragédia nos telejornais da Rede Globo é tratada como um evento a mais em que sobram pieguice e jogo de cena, mas falta o que o telespectador mais quer: informação.
Hoje os jornais dizem que o fogo na boate produziu o mesmo gás usado por nazistas. Desde domingo, tenho pensado nisso: os jovens que não conseguiram sair da boate após o início do incêndio - porque os seguranças barraram sua saída, porque não havia portas de saída suficientes para situações como aquela, por falta de sinalização, etc, etc - provavelmente passaram por um sofrimento semelhante aos judeus que morreram nas câmaras de gás.
Esse pensamento é terrível. Como se fabrica e se permite instalar num local público um tipo de cobertura que provoca esse tipo de gás? A possibilidade de uma pane elétrica é sempre grande num local em que há muitos pontos de iluminação e equipamentos de som ligados.
O sofrimento das vítimas (as que já se foram e as que ainda estão padecendo nos hospitais) deve ser enorme e só posso lamentar por elas.
Quem é pai, mãe ou responsável por um jovem sabe o quanto cada saída para a balada é sofrida. Os riscos são enormes: brigas, tumultos, roubos, assaltos e/ou acidentes na volta para casa, mas se a gente ficar pensando nisso o tempo todo não dorme, não vive. A gente procura alertar os filhos para alguns riscos maiores, mas mesmo assim não consegue sequer imaginar a possibilidade da ocorrência de tragédias como a de Santa Maria, que por mais que encontrem explicações, culpados, continuarão inexplicáveis e extremamente dolorosas para todos que foram tocados diretamente por elas.

PS. Como a maioria dos brasileiros, sou fã do Corpo de Bombeiros, uma instituição sempre elogiada pela bravura e despreendimento de seus integrantes. Mas, lendo há pouco uma matéria sobre os jovens que tentaram loucamente quebrar as paredes da boate Kiss para tentar salvar as pessoas que não tinham tido a mesma sorte que eles (de sair da boate), constatei uma coisa que já tinha me chamado a atneção nas imagens exibidas pela TV: enquanto os rapazes usavam a marreta sem qualquer proteção contra o gás tóxico (muitos acabaram sendo hospitalizados), havia bombeiros  atrás observando o esforço deles. Tudo bem que eles podiam estar desempenhando outras funções, mas por que ninguém forneceu máscara para esses rapazes? Quais foram os passos e atitudes dos bombeiros após sua chegada ao local da tragédia? Será que não se poderia mesmo ter evitado um número tão grande de mortes?

quinta-feira, 24 de janeiro de 2013

Autoavaliação

Hoje, cá entre nós, vou fazer aproveitar parte do meu horário de almoço, para fazer um post bem confessional.
Há alguns dias venho me fazendo a pergunta "o que eu não quero ver?" por sugestão de minha acupunturista.
Na terça-feira, acho que cheguei a uma resposta, que já foi devidamente comunicada à médica.
A resposta é meio louca, mas faz sentido.
Sou caçula, "raspa de tacho" e, portanto, fui muito mimada numa família de mulheres superprotetoras e extremamente afetuosas com filhos, sobrinho, netos, etc.
Quando meu pai morreu, eu tinha cinco anos e meio e passei a ser "a razão da existência" da minha mãe (juro que não inventei isso, ouvi ela falar algo assim diversas vezes).
Logo depois da morte de meu pai, duas das minhas irmãs se casaram, mas continuamos muito próximas e eu passei a morar com minha mãe e minha irmã 13 anos mais velha.
Na minha cabeça, eu deveria ser uma pessoa frágil e dependente. Pessoas frágeis e dependentes merecem - pelo menos na minha família - cuidados redobrados e mimos especiais.
Acontece que não sou isso. Quando era adolescente percebi que a independência financeira era algo valioso, inegociável - a chave para a liberdade. Fiz faculdade e comecei a trabalhar antes de me formar na profissão escolhida - jornalismo -, que podia não dar muito dinheiro, mas me parecia digna e muito atraente por me abrir as portas de um mundo totalmente novo.
Eu ia bem na profissão construindo uma carreira respeitável, mas eis que o trem da minha vida (licença, Dete) tomou um rumo inesperado, em direção ao Pantanal mato-grossense. Larguei emprego, casa, amigos para iniciar uma nova vida ao lado de um homem que trazia um sopro novo (ou seria um vendaval?). Por algum tempo, abri mão de minha independência financeira e pago um preço por isso até hoje.  Criei minha família, me lancei em novas experiências profissionais e me mudei novamente (sem o marido provedor e com as crias) para uma capital.
Aqui estou. O que eu não quero ver? Não sou fraca e fica ridículo fazer o papel de "coitadinha de mim". Fiz escolhas (algumas certas, outras nem tanto, mas a gente não tem como acertar em tudo, né?) e vivo as consequências de muitas delas. Poderia ter uma situação financeira mais estável? Claro que sim. Teria inteligência suficiente para estar em cargos mais desafiadores e bem remunerados? Acredito que sim, mas me faltou uma dose maior de coragem e autoconfiança.
Essa sou eu - uma pessoa cheia de contradições, que queria mudar o mundo, mas tem dificuldades para "se" mudar.
 

terça-feira, 22 de janeiro de 2013

Chapada dos Guimarães (Que turismo é esse?)

Neste fim de semana visitei a Chapada dos Guimarães (60 km de Cuiabá) com uma amiga e sobrinha. O passeio confirmou algumas coisas que eu já sabia:
1- A Chapada é linda!
2- Não é fácil fazer turismo na Chapada.
Vou começar pela estrada: para mim, que dirijo com alguma dificuldade por causa do meu ceratocone (sempre de dia, nunca à noite), o percurso entre Cuiabá e Chapada apresenta algumas dificuldades. O primeiro trecho - quase urbano - é feito numa via de mão dupla, bastante movimentada. Depois vem um trecho de duas pistas, porém a alegria dura pouco e logo nos deparamos com um trecho em obras e sem asfalto. É curto, mas está bem esburacado e irregular.
Depois a gente prossegue pela MT 251 (rodovia Emanuel Pinheiro) tradicional: muito bonita na maioria dos trechos, mas com alto risco  e incidência de acidentes.
Chegamos à Chapada por volta de 10h30 (um pouco tarde demais) e resolvemos checar nossas acomodações na Pousada Aurora Boreal, bem no Centro, onde já tínhamos uma reserva. Uma vez estabelecidas, saímos para dar uma volta e fomos até uma agência de turismo próximo. Lá descobrimos que não poderíamos fazer mais nenhum programa com guia, já que os passeios precisam ser agendados até 11h. Pegamos algumas informações e ficou meio combinado uma ida ao Circuito das Águas no dia seguinte. Almoçamos uma comida gostosa e honesta no restaurante Felipe e decidimos ir ao Espaço Aventura. Eu tinha conversado com um dos donos por telefone e entendi que lá havia uma cachoeira onde poderíamos tomar banho. Não tinha ou pelo menos ela não era acessível. O passeio foi gostoso, mas acabamos desperdiçando a oportunidade de um reconfortante banho de cachoeira.
O Espaço Aventura é legal e o pessoal é muito acolhedor e simpático. Percorremos a Sensitrilha - uma pequena trilha preparada para deficientes visuais, porém optamos por não desfrutar dos produtos disponíveis (arborismo, tirolesa, paint ball, arco e flecha, tiro ao alvo, etc). Quando resolvemos ir embora em busca da cachoeira começou a chover forte, o que nos obrigou a mudar os planos.
Passeamos pela cidade, comemos bolo no Centro (na simpática Anis) e conseguimos por sorte encontrar um guia independente que se dispôs a nos levar ao Parque (Circuito das Cachoeiras) no dia seguinte por um preço menor que o da agência.
À noite, tomamos cerveja, comemos empada e finalizamos com um caldo no restaurante Pomodori ao som da dupla Lorena Lye e Joelson Conceição (muito bom).
Fomos dormir felizes com a perspectiva da ida ao encontro das sete cachoeiras. Acordamos relativamente cedo e antes de deixarmos o hotel começou a chuva, que caiu sobre Cuiabá o dia inteiro. Chuva é importante, é bem-vinda, mas logo no dia em que eu queria tomar banho de cachoeira!  Movidas pela esperança, fomos de carro até a entrada do Mirante do Véu da Noiva para que o guia pegasse as chaves do acesso ao Circuito das Águas. Depois que o ICM Bio tomou conta do Parque é assim que as coisas funcionam: com visitas agendadas e sempre com o acompanhamento de um guia credenciado.
É claro que isso tem um lado positivo, mas juro que tenho saudades da época - há seis anos ou menos - quando era possível tomar banho nas cachoeiras do Parque Nacional sem tanta burocracia.
Nossa primeira caminhada foi até o Mirante do Véu da Noiva. Criaram uma trilha nova, "protegida" por telas de plástico laranja, que estão despencando em muitos trechos. Eu preferia o caminho antigo que passava na frente do restaurante, que continua ativo, porém bem menos movimentado.
Tivemos que retornar à guarita para voltar à rodovia e seguir alguns metros adiante (na direção de volta à Chapada) para passar pela porteira (aberta com a chave pega na guarita pelo guia) e seguir por 3,5 km de estrada de chão até o início da trilha do Circuito das Águas. O passeio começou por volta de 11h e durou cerca de quatro horas, debaixo d' água literalmente. Choveu o tempo todo. Tentei me proteger da chuva durante um tempo, mas depois desisti. Voltei encharcada. Meu tênis (ainda bem que era velho) desmanchou e ficou na pousada. Apesar da frustração pelo fato de o sol não ter mostrado a cara e a impossibilidade do banho (de cachoeira) pelo fato de todas estarem com água muito barrenta e com muito volume, o passeio foi gostoso.
Só não gostei muito de um pequeno susto: quando estávamos na última parada (uma caverna chamada de Casa de Pedra), ouvimos um som alto (voz masculina) e o guia achou melhor a gente ir embora rapidamente.Em tese, não deveria haver ninguém no parque (não havia registro de outros grupos de turistas), portanto, segundo o guia, essa(s) pessoa(s) que estava lá podia ser "do bem ou do mal". Na dúvida ... Confesso que fiquei assustada e queria sair de lá o mais rápido possível. Sorte que já estávamos bem próximos do local onde o carro estava estacionado. No caminho vimos rastros de bicicleta.
O carro estava intacto. Retornamos até a guarita do Mirante para devolver a chave e voltamos para Chapada. Logo depois, tomei o rumo para Cuiabá. Minha sobrinha decidiu ficar mais um dia, mas essa já é outra história que cabe a ela contar. Ou não.
Recebi hoje de manhã um email do ICM Bio me convidando para responder a uma pesquisa sobre satisfação com o passeio realizado.  Ainda bem que tinha um espaço para comentários, onde inclui algumas das questões abordadas aqui. Espero que alguém leia e leve minha opinião em consideração.
Já ia esquecendo de criticar mais uma coisa: fecharam (as autoridades) o Balneário da Salgadeira, que também faz parte do Parque, há um tempão. Situado bem no início do parque, era o local preferido pelo povão, a turma da farofa, que ficava bebendo cerveja e tomando banho junto aos bares e restaurantes instalados no local. Eu não gostava de ir lá e de ver tanta gente bebendo, sentada na murada junto à rodovia, mas acho muito triste ver toda área cercada por tapumes, sem que ninguém possa desfrutá-la.
Que turismo é esse?

 

quinta-feira, 17 de janeiro de 2013

Anjos

Sei que a acupuntura nada tem de mágica. A medicina ocidental já incorporou esse conjunto de conhecimentos e práticas ao seu dia a dia e há evidências do quanto pode ser benéfico se submeter ao tratamento com agulhas.
Na minha família, algumas pessoas têm uma relação boa e produtiva com a acupuntura, principalmente para o tratamento de dores (coluna).
A primeira vez que tive um contato mais duradouro com a acupuntura foi há uns 25 anos quando morava no Rio de Janeiro e queria me livrar da minha asma e outras complicações de fundo alérgico e emocional. Comecei a frequentar o consultório de uma acupunturista de origem oriental (não me lembro se era japonesa ou chinesa). Ela condicionou qualquer êxito no tratamento a uma dieta rígida, à qual me dediquei de corpo e alma por mais de um ano. Eu não comia carne vermelha, embutidos, queijo amarelo, nem tomava bebidas alcóolicas ou refrigerantes, ou seja, seguia uma alimentação bem natural, com muito consumo de proteínas de soja, grãos e vários alimentos integrais. Eu me lembro de que emagreci bastante e fiquei com um corpo ótimo e uma disposição de fazer inveja. Não sei ao certo o quanto melhorei das asma e da rinite, já que também fazia tratamento com homeopatia.
A questão é que abandonei totalmente minha dieta quando vim morar em Mato Grosso em 1988. Ninguém me forçou a nada. Simplesmente era impossível não comer carne vermelha passando temporadas longas numa fazenda do Pantanal, que tinha na carne bovina sua principal fonte de alimento. Era dificil para mim me adaptar à cultura local sem cair de boca nos churrascos. Aos poucos, voltei a ser carnívora. Esqueci de dizer que já tinha voltado a beber antes disso.
O fato é que luto até hoje com meus problemas de alergia, embora esses não sejam, na minha opinião, minha principal preocupação em termos de saúde.
Em 2007, tive a segunda experiência duradoura com a acupuntura. Na época, tinha passado por um baque emocional forte e estava imensamente triste. Uma amiga pediatra, Márcia, sugeriu que eu procurasse a dra Satico, que ela conhecia de um curso de especialização em acupuntura.  Consegui marcar a primeira consulta e frequentei seu consultório por mais de um ano. De origem japonesa, Satico nunca me exigiu nada em termos de dieta e me ajudou muito a superar aquele momento doloroso. Ela colocava agulhas para me reequilibrar e conversava muito comigo, era quase uma terapeuta. Eu chorava ... Tudo isso a um custo praticamente zero, já que as sessões eram pagas pelo plano de saúde.
Quando eu me senti mais fortalecida e cansei um pouco de ir lá toda semana, parei.
Uns três anos depois tive vontade de voltar, mas não consegui vaga. A gentil secretária da dra Satico disse que ela só estava abrindo vagas para casos muito graves ou de muita dor. Não era o meu caso. Ela me indicou outro profissional que cheguei a frequentar, mas não fiquei satisfeita.
No ano passado, por volta de outubro, estava tão desesperada com minha vista que resolvi ligar para a dra Satico, já que meu oftalmologista - de quem gosto muito - me disse que não havia nada mais a fazer em relação ao desconforto provocado pelo ceratocone. Meus olhos viviam irritados, com a sensação de areia... Era um tal de tira a lente, bota a lente, põe corílio, sem muito sucesso.
Quando eu estava para terminar minha primeira fase com a Satico ela me contou um dia que tratava de ceratocone. Meu oftalmologista não botou fé, porém achei que eu não tinha nada a perder.
Consegui a promessa de uma vaga em janeiro e ontem recomecei o tratamento. Foi tão bom! Ainda não sei o que vai acontecer, mas a dra Satico já me passou um dever de casa: fazer uma espécie de massagem nos dedos médios e procurar resposta para uma pergunta: o que eu não quero ver?
Raramente coloco o título de um post antes de escrevê-lo e neste eu fiz isso: "Anjos" é o título. Eu não acredito em anjos, mas eles existem. Creio que a dra Satico é um deles. Com sua aparência frágil, ela é uma pessoa boníssima, uma médica que realmente faz bem às pessoas como, aliás, muito médicos que já conheci em Cuiabá: profissionais dedicados, estudiosos, que conseguem estabelecer um vínculo afetivo com o paciente, mesmo que seja numa consulta de plano de saúde.
A dra Satico, ao dr Marco, à dra Zuleide, à dra Rafaella, ao dr Luiz Augusto, à dra Keyla, à dra Marta e, especialmente, ao dr Gabriel, todos de Cuiabá, agradeço o carinho e a atenção dedicados. Meus agradecimentos também a todos os médicos que já cuidaram de mim, principalmente, o dr Nestor (de Cáceres, já falecido), e o dr Marcos Bicudo (do Rio de Janeiro).
Para conhecer um puco mais sobre acupuntura, clique em http://saude.hsw.uol.com.br/acupuntura.htm

segunda-feira, 14 de janeiro de 2013

Música do Mato


Ontem assisti a um espetáculo daqueles de lavar a alma. O teatro do Sesc Arsenal estava lotado e o público entusiasmado, super sintonizado com os artistas no palco.
O show começou com a apresentação de Branco Barros, músico que traz em suas composições o clima do Araguaia. Muito comunicativo, convidou de cara a plateia para entrar no clima do Araguaia. Cantou o rio, um romance entre a Terra e a Lua, os índios Karajá, a luta pela terra ... Sua apresentação durou cerca de meia hora e teve direito a um bis. A noite começava bem ...
Em seguida, veio o músico Jabas Bueno, de Rondonópolis, e seus amigos, Jhuan (cantor, compositor e violonista) e Jean (percussionista). Para mim - e a maior parte do público - era tudo novo e não é que o som dos caras era bom pra caramba! Eles apresentaram umas oito canções, tudo de larva própria (era essa a proposta do festival). Como definir o som? Pop? Rock? Blues? MPB? Algumas canções falavam de coisas corriqueiras: brincadeiras de criança, a mania que certas mulheres têm de comprar sapatos que nem sempre vão usar e levar pra casa uma muda da planta da vizinha. O show foi muito bom e também conquistou o público.
Lá pelas nove horas começou o show do grupo mais esperado da noite: Monofoliar. Quem aprendeu a gostar do som de Estela Ceregatti, Jhon Stuart e Juliane Grisólia fica meio bobo, viciado mesmo. É uma música tão bonita e sempre tão surpreendente aque pega a gente pelo pé, pelo ouvido, pelo corpo todo ... Tem música instrumental, música com letra, mas tudo vem embalado com arranjos sofisticados, inovadores.
Estela, com sua voz poderosa e gestual forte, meio que domina a cena, mas faz questão de frisar a importância do grupo nas composições e arranjos. Talvez seja por isso que o trio funcione tão bem, como um triângulo que tem um vértice e duas pontas firmes e não menos importantes: a percussionista Juliane, sempre precisa e criativa, e o multi-instrumentista Jhon, que se divide entre piano, contrabaixo, percussão e escaleta.
Alguns temas já são familiares ao público mais habituado às apresentações do grupo, mas ontem tivemos surpresas como uma nova canção, recém-parida, como anunciou Estela.
Foram duas horas de espetáculo totalmente de graça. Dizem que no sábado o show do Festival de MPB Música do Mato - Didi Ruelles, Joelson Conceição e Vítor Meirelles - também foi magnífico.
Bom saber que tem tanta gente boa produzindo música do mato da melhor qualidade.

PS. A tempo, quero registrar alguns aspectos positivos do show de domingo: a presença das esculturas em barro de Rosylene Pinto (a mulher mais versátil e cheia de energia de Cuiabá) e do poeta - vou atrás do nome dele para registrar aqui - maravilhoso, que realmente domina a arte de declamar, surpreendendo o público a cada verso.

sexta-feira, 11 de janeiro de 2013

O Bêbado

O Bêbado demorou para descer do ônibus. Já fazia algum tempo que o ônibus descansava na plataforma da rodoviária de Primavera do Leste. Aparentemente estava vazio até que surgiu o Bêbado, tão bêbado que mal conseguia descer as escadas do ônibus.
Ele desceu, tomou posse da bagagem retirada do bagageiro (mala e mochila) e ficou desorientado bem perto do ônibus. Mal se aguentava em pé e tentava sem sucesso se comunicar com as pessoas por perto.
Era um homem de 40 anos, com a aparência típica de trabalhadores rurais. Estava limpo, bem vestido e não chamaria atenção se não fosse por sua postura cambaleante.
O ônibus demorou para seguir viagem. O motorista tinha saído para jantar.
O Bêbado permanecia próximo ao ônibus, tentando se comunicar.
Finalmente, alguém chegou com uma informação para ele: em breve sairia outro ônibus para uma cidade mais ao norte, provavelmente seu destino final. O moço lhe deu as informações sobre o guichê onde deveria comprar a passagem.
Perguntei ao moço:
 -Será que ele consegue chegar lá?
- Não sei. Também não sei se vão deixar ele embarcar nesse estado.
O Bêbado pegou a mala e a mochila e seguiu cambaleante na direção apontada pelo outro.
Perguntei ao funcionário do ônibus se o Bêbado já estava bêbado quando embarcou.
- Sim, mas ele não deu trabalho. Dormiu o tempo todo.
-Mas pode embarcar desse jeito?
-Não pode ...
Subi no ônibus para voltar a Cuiabá - confesso que estava aliviada por não ter que dividir espaço com um bêbado - e acabei sabendo por outros passageiros que o Bêbado deu trabalho sim. Não queria parar quieto e um moço acabou prendendo-o no banco com o cinto de segurança.
- Ele achou que eu era da Polícia - contou o rapaz.
- O moço que pega a bagagem disse que ele não deu trabalho ...
- Não deu trabalho? Não deu trabalho para ele que não estava aqui ...
Segui minha viagem pensando no Bêbado e até hoje, sinceramente, ainda penso nele. Será que chegou a seu destino? Será que chegou a algum destino? Por que será que bebeu tanto? Será que ele bebe tanto sempre?
Ele é só mais um bêbado entre tantos outros trabalhadores do campo, da cidade, que gastam em bebidas alcóolicas boa parte dos salários ganhos com muito suor. 
 

quinta-feira, 10 de janeiro de 2013

As três mortes de Adrielly


Não posso me furtar a registrar aqui a triste história de Adrielly - a menina que morreu três vezes: a primeira quando foi atingida por uma bala perdida na noite de Natal, num bairro qualquer da Zona Norte carioca; a segunda quando aguardava por um neurocirurgião no Hospital Salgado Filho, no Méier, e o médico escalado para o plantão, Adão Crespo, preferia celebrar o Natal em família.
Ele alega ter pedido demissão, mas as informações mais recentes da polícia indicam que recebia sem trabalhar cerca de R$ 4,5 mil mensais. Deve ser uma quantia insignificante para um neurocirurgião, mas seria bem significativa para a família de Adrielly. Talvez se o pai de Adrielly recebesse essa quantia por mês não precisaria ficar à mercê de plantonistas irresponsáveis.
A terceira morte de Adrielly, definitiva, aconteceu na última sexta-feira (04/01).
Nada vai devolver a vida à Adrielly, nem apagar o sofrimento de sua família, que se desesperava enquanto tantos de nós festejávamos o Natal.
Espero sinceramente que essa morte e essa omissão não fiquem impunes. Se o dr Adão recebeu sem dar plantão e faltava ao serviço sistematicamente, ele tem que pagar: ser exonerado, devolver o dinheiro ao Município, doar para a família de Adrielly, a um fundo de vítimas como ela.  Sei lá.
Se ele está dizendo a verdade, seus superiores precisam ser penalizados.
Hoje li que um funcionário do hospital pediu uma ambulância para transferir Adrielly na falta do neurocirurgião plantonista. A ambulância não chegou.
Adrielly não pode ter morrido três vezes em vão. Infelizmente, algo me diz que ninguém será punido pela morte da menina. Mas, pelo menos, poderia haver por parte das autoridades da área de Saúde um controle maior sobre o quadro dos plantonistas de um hospital público, assim como sobre a assiduidade de tais cidadãos.
As informações mais recentes sobre o caso da menina Adrielly dos Santos, de 10 anos, estão no seguinte link:http://g1.globo.com/rio-de-janeiro/noticia/2013/01/policia-confirma-que-medico-do-caso-adrielly-fraudava-folha-de-ponto.html

quarta-feira, 9 de janeiro de 2013

A barata

Ontem, cheguei em casa feliz e relaxada após minha primeira aula de yoga do ano. Trazia sacolas da compra feita no supermercado antes da aula.
Quando abri a porta, vi que tinha um inseto enorme na parede. No meu bom humor, imaginei que podia ser uma mariposa. Não era. Era uma barata, imensa, escura, assustadora.
Larguei as compras correndo em cima da mesa, fechei a porta e desci os dois andares de escada aos saltos na esperança de encontrar um salvador.
Como não encontrei, fui pedir ajuda ao porteiro. Fernando, meu novo heroi, prontificou-se a largar seu posto para me socorrer. Subimos as escadas correndo e mostrei a ele onde estava a barata, dizendo que eu iria ficar do lado de fora do apartamento porque morria de medo.
Ainda bem que ela permaneceu quietinha na parede.
O porteiro me pediu um chinelo. Eu me recusei a emprestar o meu e entrei para buscar outro chinelo na área de serviço e um inseticida em spray para o caso dela voar.
O Fernando continuou de olho no bicho.
Entreguei um lado de chinelo e o Detefon. Ele deu uma chinelada certeira na barata,  que, felizmente, não deixou nenhuma marca na parede. Pediu então uma pá para recolher o bicho. Eu peguei, mas pedi para ele levar a barata embora com medo de que não estivesse bem mortinha ou ressuscitasse no meio da noite, atormentando meu sono.
Dei-lhe um saco plástico que veio com as compras e ele se foi levando o cadáver no saco.
Tudo aconteceu muito rápido e ele foi embora rapidamente porque já tinha um carro esperando que o porteiro abrisse o portão eletrônico.
Serei eternamente grata ao Fernando. Vi que é um porteiro de valor que não se nega a ajudar moradores com medo de baratas.
Não sei o que acontece comigo. Meu medo de barata é insano e descomunal. Às vezes acho que ele está mais dominado, mas quando surge uma situação real de perigo vejo que não.
O curioso é que está fazendo 10 anos que me mudei para esse apartamento em Cuiabá e, salvo engano, é a segunda vez que enfrento uma situação semelhante. Da outra vez, pedi socorro ao vizinho.
Fiquei até tentada a buscar significados ocultos para esse episódio.
Uma lição ficou clara para mim: acho que posso confiar mais nas pessoas.
Apesar do contrasenso, de alguma forma eu me senti protegida.

terça-feira, 8 de janeiro de 2013

Perdidos e achados

Uma pessoa muito querida me deu um toque de que preciso falar também de coisas boas que me acontecem no dia a dia.
Resolvi contar então sobre duas experiências interessantes e recentes e que me fazem pensar que não posso me queixar de falta de sorte.
Há algumas semanas perdi meu celular. Fui buscar mnhas filhas num shopping perto da minha casa e me lembrava de ter combinado o encontro por telefone quando saía de casa. Depois que nos encontramos e nos sentamos no bar de um casal de amigos, procurei o celular na bolsa e não o encontrei. Minha filha mais velha me disse que eu estava ligando para ela. Impossível! Ela ligou para mim e atendeu um rapaz dizendo que tinha encontrado meu celular na rua São Sebastião (onde descemos). Ele queria saber onde estávamos para devolver o aparelho. Em menos de cinco minutos, o rapaz, um entregador do Choppão, um restaurante tradicional de Cuiabá, me entregou o celular. Fiquei agradecida e surpresa com tudo.
Alguns dias depois, já no Rio de Janeiro, fui à praia e coloquei minha câmera numa bolsinha a tiracolo. Passamos - minha irmã e eu - na farmácia e numa pequena mercearia para comprar água. Quando cheguei à praia, não encontrei a máquina e fiquei com a esperança de tê-la deixado em casa. Não tinha. Fiquei triste, mas não me conformei com a ideia de que teria sido roubada. Resolvi refazer o caminho de ida para a praia e minha primeira parada foi na Droga Raia. Mal falei com uma moça que se ofereceu para me atender e ela falou "ah, uma máquina fotográfica?" Recuperei minha câmera que tinha sido deixada no balcão. Não me lembrava sequer de tê-la tirado da bolsa.
Enfim, dois descuidos que quase me custaram dois equipamentos que me fariam falta.
Ainda bem que há muita gente honesta - verdadeiros anjos da guarda - que zela pelos distraídos.

sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Hipocrisia e descaso

Todos os anos, nos meses de janeiro e fevereiro, principalmente, repetem-se as tragédias provocadas pelas enchentes no Brasil, em geral nos Estados do Rio, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e outros.
Mas, até que ponto, são tragédias inevitáveis?
Ontem e hoje, assistindo ao noticiário de TV, fiquei com o coração cortado de ver lágrimas, revolta e medo nos depoimentos colhidos em Xerém, município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e Teresópolis. Apareceu uma mãe de 10 (!) filhos, dizendo que não tem para aonde ir. Pensei naqueles garotos criados totalmente marginalizados, no sentido literal da palavra, de estar à margem de uma sociedade que tem um mínimo de direitos assegurados (à saúde, à moradia, etc).
Fiquei comovida também com o exemplo do sambista Zeca Pagodinho que, apesar do sucesso, não abandonou suas raízes e a comunidade onde cresceu*.
O que choca é sobretudo o descaso das autoridades: governadores, secretários e prefeitos que não cumprem as promessas de ajuda feita em meio a lágrimas de crocodilo no auge da última tragédia e diante de microfones e holofotes da mídia. Não têm o menor puder de mentir ou será que, como disse o poeta Afonso Romano de Sant'Anna num poema maravilhoso, mentem tanto que até acreditam em suas mentiras?
Há uma semana o jornal O Globo estampava fotos do lixo acumulado nas calçadas de Duque de Caxias. O prefeito que estava saindo não pagou a conta da companhia de limpeza, como aconteceu em tantas cidades brasileiras onde houve troca de prefeito.
Mas também não podemos deixar de mencionar a nossa culpa como habitantes de um País que fala tanto em educação ambiental, sustentabilidade, porém é tão inoperante na destinação dos resíduos sólidos - o lixo nosso de cada dia.
Estive no Rio de Janeiro há poucos dias e fiquei chocada de ver a quantidade de lixo deixada na areia da praia. Antes que os garis venham recolher latas, garrafas, plásticos e cocos, boa parte do lixo já foi levada pelo mar. É lamentável!
Já vi que o governo fluminense já anunciou benesses para as vítimas das chuvas. Será que as pessoas que realmente precisam de ajuda como a família citada acima serão beneficiadas? Duvido.

PS.* Aproveito para fazer um reparo ao meu texto graças à informação de Alexandre Fernandes, blogueiro http://facaamoladafecega.blogspot.com.br/ e ex-colega do Colégio Santo Inácio:
"O Zeca Pagodinho, na verdade o Jessé, cresceu em Del Castilho, passando a infância e a adolescência junto comigo. Ele só foi para Xerém adulto e casado, onde criou seus filhos e morou até pouco tempo. Daí a integração com aquela região e com seus moradores, que o veneram, pela simplicidade e solidariedade desde sempre. É um cara do bem, asseguro."
 

quarta-feira, 2 de janeiro de 2013

Assalto no aeroporto

Conversei com um amigo e fã do meu blog na virada do ano e ele foi categórico: um blog só vinga se for atualizado constantemente. De que outra forma poderemos cativar e fidelizar leitores?
Sei que andei perdendo muito de meus leitores com meu sumiço.
É uma pena, por um lado, mas, por outro, talvez seja necessário perder algumas posições conquistadas para avançar mais à frente.
O fato é que andei de mal com meu blog.
Hoje, ao longo do dia, tive vontade de escrever várias vezes e falar sobre tantos assuntos que me vieram à mente.
Talvez eu precise ser disciplinada e traçar uma pequena pauta, do tipo: hoje, falar sobre viagem; amanhã, falar sobre o novo prefeito de Cuiabá; depois de amanhã, falar sobre os filmes que vi durante minha breve ida ao Rio de Janeiro; em seguida, falar sobre o livro que li; depois falar sobre planos para 2013, etc, etc, etc.
Então, vamos começar pela viagem. Estive no Rio de Janeiro entre os dias 21 de dezembro (esse praticamete não conta, já que cheguei ao Galeão depois das 2 horas da madrugada) e 1º de janeiro.
Viajei de Gol graças aos pontos emprestados por um de meus sobrinhos de Brasília e os voos foram bastante tranquilos. Fiquei o tempo todo concentrada nas minhas leituras: a revista da Gol, que estava deliciosa, e dois livros (comecei a ler um na ida, mas troquei sua leitura por outro na volta, que pretendo comentar brevemente).
Tenho a observar algumas coisas como turista:
1- Eu contava pegar o ônibus do Galeão para a Zona Sul como já fiz em viagens anteriores e pegar um táxi num trajeto menor para chegar à casa da minha irmã em Ipanema, economizando alguns reais para gastar durante a minha estadia no Rio. Não teve jeito: o ônibus que liga o aeroporto à Zona Sul, passando pelo Centro, não circula de madrugada, embora os voos não parem de chegar no período. Segundo me informaram, o último ônibus sai às 23h e o próximo só sai às 5h30m. Resultado: como cheguei por volta de 2h, ou eu ficava três horas morgando no aeroporto ou pegava um táxi. Optei por pegar um táxi comum, que me custou R$ 61 entre o Galeão (na Ilha do Governador) e Ipanema. Até que não foi tão caro comparado à tarifa de táxi em Cuiabá, que é caríssima. Acabei viajando praticamente "de graça" de avião e gastando R$ 106 de táxi!
2- Na volta, peguei o avião no Aeroporto Santos Dumont e gastei R$ 40 entre Ipanema e o aereporto (como era feriado, peguei bandeira 2). Mas, como saí de casa meio correndo (para variar), acabei tendo que gastar com lanche no aeroporto. Um detalhe: a Gol não oferece nada aos passageiros no trecho entre São Paulo e Cuiabá. No trecho Rio-SP,  como não dá tempo para eles cobrarem pelo lanchinho, eles dão amendoim (ou um pacote de salgadinho) e bebidas. Acabei comendo um sanduíche no Aeroporto de Congonhas. Sabe quanto paguei por um Panini insosso e praticamente sem recheio (queijo e peito de peru)? Dezoito reais! Um verdadeiro assalto, já que você não tem a opção de escolher entre várias lanchonetes e empresas!  Juro que da próxima vez vou levar lanche de casa!
Hoje, só deu para falar dos gastos da viagem. Amanhã, prometo falar sobre algumas impressões da viagem em si.
Esqueci de contar quanto paguei pelo táxi do Aeroporto Marechal Rondon, em Várzea Grande, até minha casa, no bairro Popular (ou Goiabeiras): R$ 38! Isso porque eu "fugi" dos táxis oficiais do aeroporto e peguei um táxi comum (que cobra por taxímetro) no ponto que fica do outro lado do estacionamento. Portanto, foram R$ 106 de táxi na viagem de ida e R$ 78 na volta, mas vale lembrar que os trajetos no Rio foram feitos a partir de aeroportos diferentes.
No total foram R$ 184 de táxi, sendo que eu gostaria de optar por um transporte mais barato. Em Cuiabá, por enquanto, nem pensar em transporte coletivo até o aeroporto. Daqui a dois anos, quem sabe? No Rio, uma cidade mais cosmopolita, você até pode optar por ônibus (tenho feito isso nas últimas viagens) desde que não chegue de madrugada ou não seja do tipo que sai de casa em cima da hora.