domingo, 27 de agosto de 2017

Traz pra cá pra Raspá

Foto de Gilberto Nasser
Num momento em que os mato-grossenses - especialmente, os cuiabanos - estão com autoestima tão baixa por conta dos últimos acontecimentos exibidos em rede nacional, é um bálsamo assistir ao show "Traz pra cá pra Raspá" do sexteto vocal Mesa pra seis.
O trabalho de vozes acappella apresentado na noite de sábado no palco do Teatro Zulmira Canavarros é fantástico. 
Embora conviva semanalmente com o regente, arranjador, barítono Jefferson Neves e três cantoras do grupo Mesa pra seis, não sabia muito o que iria encontrar.
Foi uma surpresa muito agradável assistir a um desfile de compositores que, se não são nativos da terra, viveram ou vivem aqui. A seleção musical foi absolutamente eclética: de Zulmira Canavarros à Vanguart, passando por Vera & Zuleika (presentes na plateia), a Habel dy Anjos e Anthony Brito (do saudoso Triêro).
Muita gente ficou de fora, o que demonstra a riqueza da música de Mato Grosso.
O toque especial da noite foi a finalização com o lambadão, produto da terra, com clássicos de Chico Gil, compositor poconeano. Senti falta de canções de Paulo Monarco e outros compositores locais, mas como disse Raul Fortes, integrante do grupo, foi difícil selecionar músicas entre tantas opções.
A proposta do Mesa pra seis de valorizar a música local é maravilhosa, sobretudo num momento em que o moço que responde pela Prefeitura de Cuiabá (aquele mesmo do paletó cheio de maços de dinheiro) se orgulha de ir buscar nos EUA um artista (brasileiro, porém não mato-grossense) para definir a cara visual das comemorações dos 300 anos de Cuiabá. É pra acabar!
Só posso dar meus parabéns a Jefferson, Raul, Klauber, Tuanny, Laís Epifânio e Thainá (que fez um solo acompanhada ao violão por André Coruja) pelo presente que nos deram.
E também lamentar pelos que não puderam assistir. E torcer para que esse "Traz pra cá pra Raspá" seja reapresentado muitas e muitas vezes.  Inclusive, nas comemorações dos 300 anos de Cuiabá!

segunda-feira, 7 de agosto de 2017

O poder do canto



Foto Protásio de Morais

Há poucos dias, fiz um post bem triste, tão triste que nem tive coragem de compartilhar com muitas pessoas para não deixá-las mais tristes.
Desde esse dia, venho planejando um post falando sobre o que tenho feito para lidar com o baixo astral provocado pela situação geral do país (e do mundo).
Em meados de abril, embora não tivesse um problema em especial, eu estava muito desanimada e aí li um anúncio (acho que foi no Facebook) sobre um novo coral que estava se formando em Cuiabá: o Coro Experimental, ligado à Orquestra do Estado de Mato Grosso. 
O dia e horário de ensaios eram perfeitos e o regente, Jefferson Neves, não poderia ser melhor. 
Fiz minha inscrição e no dia 27 de abril, numa quinta-feira de muito frio, fui até o Palácio da Instrução, no Centro de Cuiabá, para um primeiro encontro do coro. Nesse mesmo dia, quase caí para trás quando soube que faríamos nossa estreia oficial no dia 9 de junho num concerto em homenagem a Villa-Lobos com a OEMT. 
Ensaiamos arduamente duas peças - "Trenzinho do Caipira" e "Melodia Sentimental" - e nos apresentamos com êxito total nos dias 9, 10 e 11 no Cine Teatro Cuiabá. 
O grupo numeroso e heterogêneo se entrosou e, na semana seguinte, já estávamos nos confraternizando num churrasco na casa da soprano Vera Capilé.  Um mês depois, novo encontro social numa festa "julina" no mesmo local.
Estamos novamente ensaiando arduamente para uma apresentação marcada para o dia 9 de outubro, quando subiremos ao palco do Cine Teatro, sem a OEMT, num espetáculo que vai misturar canções de diversos estilos e épocas, unidas por um tema que será o fio condutor e sobre o qual prefiro manter segredo (segredo este compartilhado com aproximadamente 60 pessoas, hahaha). Será um tremendo desafio para o grupo, que fará jus ao seu nome de batismo: Experimental, não no sentido de algo que está em experiência e sim de algo aberto a experiências.
Acabei fazendo um resumão de tudo que aconteceu em pouco mais de três meses e ainda não falei o essencial.
Sempre soube que cantar me faz muito bem (para falar a verdade, quando eu era criança meu primeiro desejo foi ser cantora). Dizem que ativa o chacra do coração. 
Para mim, cantar funciona como uma espécie de terapia: me ajuda a soltar as emoções que ficam engasgadas. Fora que o tempo do ensaio representa um desligamento total da realidade, já que não consigo pensar em mais nada a não ser nas notinhas e nas letras que preciso cantar. 
Mas existe um aspecto muito interessante do qual somente me dei conta na semana passada: à medida em que a gente vai ficando mais velha vai crescendo uma sensação de invisibilidade, de desimportância. Mesmo que a gente seja economicamente ativa e saudável, percebe que as oportunidades vão diminuindo. É uma sensação difícil de explicar e que é confirmada em estudos sobre a fase que se convencionou chamar de "melhor idade" (melhor para quem, cara pálida?) 
Pois cantar no Coro Experimental também contribuiu para melhorar minha autoestima. Eu me sinto valorizada pelo grupo, pelo regente e até pelo público (amigos ou apenas conhecidos) que me assistiram no palco. 
E tem mais um aspecto: adoro cantar em grupo. Acho que não tenho perfil (nem qualidades vocais suficientes) para ser solista, por isso eu me sinto tão realizada cantando em corais. 
Por isso, neste momento, o maior poder que existe para mim é o do canto, que me faz sentir viva, me emociona e me dá muita esperança. Vontade de resistir, de viver, de estar presente.
No próximo post, que virá em breve, falarei sobre outra experiência redentora: praticar Yôga.






quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O poder da palavra

Faz muito tempo que não frequento este espaço, mas hoje acordei chateada, triste, deprimida, e resolvi que precisava botar um pouco do que sinto para fora num espaço que é quase só meu.
Ontem à noite, assisti alguns minutos ao triste espetáculo que se desenrolou no Congresso, que livrou a cara de Temer.  Eu revivi sentimentos horríveis do dia 17 de abril de 2016, quando praticamente a mesma corja votou a favor do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff.
Nunca acreditei naquela conversa pra boi dormir de que o que estava em jogo era combater a corrupção no país e me admiro cada vez mais que tanta gente (de boa índole) tenha acreditado nessa lorota. 
Várias pessoas indagaram após a votação: você realmente acreditava que esse Congresso iria votar a favor de que Temer fosse investigado? Não devia, né? Mas, no fundo a gente sempre tem esperança num "final feliz", acreditando que boa parte dos deputados pudesse seguir a vontade da maioria da população. Tá bom, tirar Temer não seria um final e, tampouco, feliz, mas, pelo menos seria mais coerente com "a cruzada contra os corruptos" iniciada no momento em que Dilma foi reeleita. Como conviver com um presidente que recebe empresários na calada da noite para tratar de assuntos que estão longe de serem lícitos?
Estou tão desolada que preciso me segurar em alguma coisa para não desabar. 
Assisto quando posso à série "Os dias eram assim" na TV e fico me lembrando de tudo que nosso país passou nas últimas décadas. Choro diante da esperança que nos alimentou no período pós-ditadura em torno do sonho da democracia, de um governo justo em que não houvesse corrupção, discriminação, violência, tortura. 
Realmente tudo isso parece utopia num país marcado pela exuberância, mas também pela desigualdade, uma nação de coronéis, de puxa-sacos e de pessoas que sonham subir na vida sem esforço. 
Alguém há de dizer que estou sendo muito negativa e que há muita gente boa, batalhando honestamente por seu ganha-pão. Ok, mas então por que temos tantos parlamentares (em todos os níveis de representação) tão desonestos, tão venais? 
Outros irão dizer que tudo é uma questão de evolução, de educação, que nossa democracia é muito jovem. Tá, mas como ter educação e cultura se são essas as maiores e primeiras vítimas dos cortes orçamentários?
Enfim, hoje não tenho boas notícias para dar. Lamento. 
Assisti esta semana ao documentário "O Poder da Palavra", do diretor João Manteufel, que traz vários depoimentos de escritores, letristas, jornalistas, editores acerca do poder da palavra. Eu gostei do filme, me emocionei bastante com alguns depoimentos, principalmente com o do jornalista Lorenzo Falcão, que disse acreditar no poder da palavra. Ele contou uma linda história sobre uma reportagem que fez sobre um orfanato e um menino negro com poucas chances de ser adotado. Sua matéria motivou um colega jornalista a adotar esse menino e, anos depois, o pai adotivo pediu ao Lorenzo para contar a história ao filho adotado. 
"Minha palavra mudou a vida de uma pessoa, pelo menos", disse Lorenzo no filme.
Após a exibição, ele me disse ter certeza de que minha palavra, através do jornalismo, já mudou a vida de outras pessoas. Será? Quantas palavras já escrevi em livros, sites, reportagens publicadas em jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e, mais recentemente, de Mato Grosso? Será que elas mudaram a vida de alguém como sonhei na minha infância?
Sei que a palavra fere, traumatiza, machuca; ela tem o poder de manchar reputações, criar inimizades, mas hoje, sinceramente, estou acreditando mais no poder das atitudes. 
Um abraço diz muito mais que qualquer palavra. 
Um olhar pode transmitir mais reprovação, ódio ou desprezo do que uma palavra. 
Para mim, é mais fácil mentir (ou no mínimo, faltar com a verdade) quando escrevo do que quando olho no olho de meu interlocutor. 
E o que falar do dinheiro, o grande poder dessa nossa sociedade onde a aparência e o poder da compra estão acima de quaisquer valores?
Digo tudo isso para mim mesma para entender o que espero de mim e da minha vida aos 61 anos. É hora de continuar mentindo para mim mesma, me agarrando às pequenas mentiras do cotidiano ou será o momento de fazer algo em que acredito, por menor que seja?