Hoje, um dia cinzento, vou pegar carona no Dr. Gabriel (o médico e blogueiro Gabriel Novis Neves), que escreveu uma bela crônica sobre a primeira noite de sua mulher em Cuiabá (A barata voadora). Confesso que fiquei com os olhos cheios de lágrima quando li.
Tenho verdadeiro fascínio e horror a tudo que diz respeito a baratas, voadoras ou não. Tenho algumas boas histórias envolvendo esse inseto repugnante, mas vou me ater agora a um episódio muito parecido com o que foi vivido por Gabriel e sua esposa Regina.
Quando vim morar em Mato Grosso em 1988, depois de passar boa parte da minha vida no Rio de Janeiro, meu destino era a fazenda Recreio, que pertencia ao meu então marido. Foi um momento único na minha vida: eu estava apaixonada a ponto de largar minha carreira de jornalista no Rio (muito bem encaminhada, a propósito) para vir morar no extremo sudoeste de Mato Grosso.
Depois de uma viagem de dia inteiro, feita parte de caminhonete e parte numa carreta puxada por trator, chegamos empoeirados à casa da fazenda, que era enorme e pouquíssimo habitada. Detalhe: não tinha luz elétrica e a iluminação era feita à base de lampião a gás, vela e lanterna.
Quando nos preparávamos para dormir, vi uma barata enorme no chão, do tipo pré-histórica. Entrei em pânico e comecei a chorar. Meu ex-marido, muito solícito e apaixonado, tentou me consolar e até se prontificou a ir embora no dia seguinte. Eu pensei nas pessoas que, provavelmente, diriam: "Tá vendo... Eu falei que não ia dar certo. Uma "carioca" jamais vai se acostumar no Pantanal". Decidi ficar e o episódio serviu para nos aproximar mais naquele momento. Deu até a ilusão de que nosso relacionamento seria para sempre.
O curioso é que até hoje não perdi o medo de baratas, mas acredito que algo me proteja delas. Naquele momento específico, meu ex-marido era meu anjo protetor. Um anjo pragmático, é verdade, que levou um dedetizador de Cáceres quando retornamos ao Recreio. Por muito tempo ficamos livres das baratas. Tinha os ratos, os morcegos, as cobras, um carneiro que me perseguia, mas tudo isso faz parte de uma outra história, que se eu tiver coragem vou contar num livro um dia.
2 comentários:
Ai Martha, conta num livro sim. Suas estórias de fazenda devem ser fantásticas
Valeu a força!
Quem sabe uma hora eu me animo ...
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