Acabei de ler sobre a pesquisa feita pelo Ibope por encomenda da CNA em assentamentos rurais, segundo a qual 40% dos assentados pela reforma agrária vivem em situação de extrema pobreza (para maiores detalhes, conferir o site www.cna.org.br). O MDA e o MST já tiveram a reação esperada: a de desqualificar a pesquisa por ter sido encomendada por uma entidade ligada a grandes produtores.
É engraçado esse lance de pesquisa: elas só são dignas de credibilidade quando mostram a verdade que a gente quer.
Não vou entrar nessa discussão; quero dizer que desde que vim para Mato Grosso há 21 anos mudei muito a minha concepção sobre MST, reforma agrária, etc. Isso não aconteceu porque trabalho numa revista da Famato. A sede do Incra ficava pertíssimo da minha casa em Cáceres e tive o desprazer de ter um acampamento do MST na minha rua dias a fio. Alguém há de dizer que os sem-terra pertubaram a minha comodidade pequeno burguesa. Não nego, mas percebi naquele momento que muita gente estava ali não porque tinha perfil de agricultor e sim por falta de opção. Muitos homens ficavam jogando cartas o dia inteiro e era impossível para as mulheres passarem pelo acampamento sem serem assediadas de forma grosseira.
Na mesma época fui percebendo que havia uma baita corrupção em torno da desapropriação de terras. Muitas fazendas desapropriadas não ofereciam a mínima condição de sobrevivência aos assentados (como recursos hídricos), que eram jogados lá sem qualquer assistência por parte do governo. Havia supervalorização das terras para que alguns ganhassem fortunas em detrimento da execução da reforma agrária.
Tudo isso foi me fazendo ficar descrente do MST. Como em qualquer movimento, há pessoas bem intencionadas, mas muita gente ganhava lote e vendia: alguns por não conseguirem tirar o sustento da terra obtida; outros por falta de vocação para lidar com a terra mesmo.
Após seis anos trabalhando na revista Produtor Rural, eu tiro meu chapéu para o agricultor, seja ele pequeno ou grande. Nos últimos meses, visitei assentamentos no norte de Mato Grosso e vi com meus próprios olhos o que já imaginava: tem muita gente boa assentada, que quer plantar, viver da terra, mas poucos assentados obtêm o mínimo de recursos necessários. Eles reclamam do governo e principalmente do Incra, órgão que, na minha modesta opinião, deveria ser detonado. Os próprios assentados que querem trabalhar na terra reclamam que muitos de seus vizinhos não trabalham. Um agricultor da Gleba Mercedes, um assentamento antigo de Sinop, chegou a me dizer que se admira de vender seus ovos e seus frangos para os vizinhos. Se ele pode criar galinhas, tirar leite, cultivar verduras, por que os outros não podem?
Provavelmente, porque não têm vocação para lidar com a terra e não conseguem tirar o mínimo para sua sobrevivência. Ou seja, muitos assentamentos viraram favelas rurais. O governo fica "bonito" na foto porque distribuiu não sei quantos hectares de terra, mas na verdade apenas tirou da cidade (em termos, já que muitos assentados trabalham nas cidades próximas) alguns ativistas do MST e outros movimentos semelhantes.
É engraçado esse lance de pesquisa: elas só são dignas de credibilidade quando mostram a verdade que a gente quer.
Não vou entrar nessa discussão; quero dizer que desde que vim para Mato Grosso há 21 anos mudei muito a minha concepção sobre MST, reforma agrária, etc. Isso não aconteceu porque trabalho numa revista da Famato. A sede do Incra ficava pertíssimo da minha casa em Cáceres e tive o desprazer de ter um acampamento do MST na minha rua dias a fio. Alguém há de dizer que os sem-terra pertubaram a minha comodidade pequeno burguesa. Não nego, mas percebi naquele momento que muita gente estava ali não porque tinha perfil de agricultor e sim por falta de opção. Muitos homens ficavam jogando cartas o dia inteiro e era impossível para as mulheres passarem pelo acampamento sem serem assediadas de forma grosseira.
Na mesma época fui percebendo que havia uma baita corrupção em torno da desapropriação de terras. Muitas fazendas desapropriadas não ofereciam a mínima condição de sobrevivência aos assentados (como recursos hídricos), que eram jogados lá sem qualquer assistência por parte do governo. Havia supervalorização das terras para que alguns ganhassem fortunas em detrimento da execução da reforma agrária.
Tudo isso foi me fazendo ficar descrente do MST. Como em qualquer movimento, há pessoas bem intencionadas, mas muita gente ganhava lote e vendia: alguns por não conseguirem tirar o sustento da terra obtida; outros por falta de vocação para lidar com a terra mesmo.
Após seis anos trabalhando na revista Produtor Rural, eu tiro meu chapéu para o agricultor, seja ele pequeno ou grande. Nos últimos meses, visitei assentamentos no norte de Mato Grosso e vi com meus próprios olhos o que já imaginava: tem muita gente boa assentada, que quer plantar, viver da terra, mas poucos assentados obtêm o mínimo de recursos necessários. Eles reclamam do governo e principalmente do Incra, órgão que, na minha modesta opinião, deveria ser detonado. Os próprios assentados que querem trabalhar na terra reclamam que muitos de seus vizinhos não trabalham. Um agricultor da Gleba Mercedes, um assentamento antigo de Sinop, chegou a me dizer que se admira de vender seus ovos e seus frangos para os vizinhos. Se ele pode criar galinhas, tirar leite, cultivar verduras, por que os outros não podem?
Provavelmente, porque não têm vocação para lidar com a terra e não conseguem tirar o mínimo para sua sobrevivência. Ou seja, muitos assentamentos viraram favelas rurais. O governo fica "bonito" na foto porque distribuiu não sei quantos hectares de terra, mas na verdade apenas tirou da cidade (em termos, já que muitos assentados trabalham nas cidades próximas) alguns ativistas do MST e outros movimentos semelhantes.
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