quinta-feira, 22 de outubro de 2009

A violência nossa de cada dia

Desde anteontem quero comentar uma cena da novela "Caras e bocas", exibida no "horário das sete" da Rede Globo. Em geral, gosto das novelas das sete por sua irreverência e falta de compromisso com qualquer coisa. O objetivo é distrair - o que é uma meta e tanto para autores. Algumas conseguem seu objetivo, outras nem tanto.
A atual trama das sete, apesar de muitos personagens inacreditáveis, caiu no gosto do público por causa do macaco Chico (ou melhor, macaca), do personagem gay que virou bofe e uma história cheia de reviravoltas. Mas tudo isso não vem ao caso. O que me "chocou" foi a cena de pugilato entre a suposta protagonista - Dafne, interpretada por Flávia Alessandra - e a antagonista (intepretada por Deborah Evelyn) e seus acompanhantes. Foram alguns minutos de tapas, socos, objetos arremessados, etc. No final todos se levantaram normalmente, sem uma gota de sangue, um olho roxo, e continuaram ainda discutindo. Ah, a vilã, que apanhou mais, teve que ir ao dentista corrigir uma ponte deslocada.
O que questiono é a necessidade de tanta pancadaria, que está ficando banal em novelas da Globo. Não tem uma sem a clássica surra da mocinha na vilã. O público vai ao delírio com a vingança dos personagens do bem. Mesmo que tudo seja ficção não gosto disso. É como se a dramaturgia de TV passasse a mensagem ao público de que vale tudo e que as diferenças devem ser resolvidas mesmo na base da "porrada" (como dizia o personagem do Casseta e Planeta).
Será que eu vivo num outro mundo e estou sonhando em achar que as pessoas (principalmente adultas) deveriam resolver suas desavenças apenas com palavras, recorrendo ao bom senso e à inteligência? Não seria isso a tal da civilização?
Tudo isso que eu falei acima talvez fique até sem sentido depois que a gente vê as imagens de dois policiais militares do Rio pegando objetos do coordenador do Afroreggae, assassinado com um tiro há dois ou três dias. É chocante demais ver aqueles que deveriam proteger, inibir o crime sendo cúmplices e ainda deixando a vítima agonizante no chão. Os dois acusados (flagrados por câmeras) estão detidos por 72 horas. E depois, o que vai acontecer? Vão voltar para as ruas? Com policiais desse naipe, é melhor ficar apenas com os ladrões.

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