quinta-feira, 29 de outubro de 2009

Leitura

Aproveito esta quinta-feira preguiçosa - tempo nublado, com cara de chuva iminente - para resolver o problema do vidro do meu carro que não quer saber de descer há algumas semanas. Decido procurar o profissional indicado pelo mecânico do meu carro - em quem confio cegamente, no mecânico e não no carro. Ele trabalha no bairro Morada do Ouro a cerca de 1 km do meu trabalho.
Enquanto ele desmonta a porta para verificar a origem do problema, saco da minha bolsa o livro "O último conhaque", do mineiro Carlos Herculano Lopes. Fico tão absorvida pelas primeiras páginas do romance - indicado como leitura obrigatória pela UEMG, para qual minha filha mais velha vai prestar vestibular - que quase nem me dou conta do que se passa ao redor. Um rapaz, bem vestido, aproxima-se e me pede R$ 0,25 começando a contar uma história que minha intuição diz ser mentira. Sem pestanejar, digo a ele que não tenho. O borracheiro que estava dentro do seu estabelecimento aparece e faz um comentário do tipo "homem forte, podia estar trabalhando". Afirma que o rapaz estava drogado (será?) e conta que outro dia deu "um tapa no pé do ouvido de um negão" que lhe pediu um real no açougue. Ele se recusou a dar e o cara tomou o dinheiro que ia usar para pagar a carne, daí a confusão. Depois do tapa, o borracheiro pegou seu dinheiro de volta e só não bateu mais no cara porque ...
Fiquei impressionada com o relato (ainda mais detalhado) que, de uma certa forma, misturou-se à história relatada no romance, que conta a história de um sujeito estranho, tipo fracassado, que retorna à cidade natal para o enterro da mãe, apesar desta sempre ter insistido para que nunca voltasse mesmo que ela morresse. É claro que o leitor sente que está caminhando para um final trágico e pressupõe um embate entre o protagonista e o mandante do assassinato de seu pai.
O moço do conserto interrompe minha leitura para dizer que tem más notícias. O motor, que faz o vidro subir, está quebrado. Se for comprar um novo custa R$ 180, mas dá para arrumar por R$ 90. Com a mão de obra de instalação fica tudo por R$ 110. Com preguiça de ir atrás de outros orçamentos, aceito o trato. Ele remonta a porta e calça o vidro para que não desabe até amanhã quando levarei o carro para terminar o conserto.
Não consegui terminar o capítulo, o que me incomoda muito. Vou almoçar e, como o restaurante está vazio, acredito que vou conseguir conclui-lo assim que acabar de comer. Ledo engano ... Um conhecido chega e se senta comigo. O jeito é conversar ... Vou embora pensando em terminar a leitura na copa do prédio onde trabalho enquanto tomo um café. De novo, decepção. Tem um almoço da diretoria no local e eu entro rapidinho só pra pegar meu café.
Volto à minha sala e consigo terminar o capítulo 5. Eu me permito ler mais um, morrendo de medo de ter que parar no meio de novo. Estou adorando o livro. É incrível como tem escritores tão talentosos que a gente desconhece. Fico morrendo de vontade de escrever um romance. Quem sabe um dia ???

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