Volta e meia eu me sinto (com um sentimento dúbio de orgulho e pesar) como uma peça de museu.
Tive essa sensação há algumas semanas num almoço com jovens colegas de trabalho. O assunto era futebol e, naturalmente, Copa do Mundo. Comecei a falar do livro que estou lendo ("Quem derrubou João Saldanha" do meu colega da ECO-UFRJ Carlos Ferreira Vilarinho), da Copa de 70 e do contexto político da época. Todos me ouviram com cara da espanto. Nunca tinham ouvido falar em João Saldanha e quando mencionei o livro de Fernando Gabeira ("O que é isso companheiro?") para falar da pressão da esquerda para que torcêssemos contra o Brasil por medo do uso político da vitória brasileira pela ditadura só compliquei mais a cabeça dos meus ouvintes. Resolvi fechar a boca e comer.
Há poucos dias em Paragominas (PA) voltei a ter a mesma sensação: visitei um museu muito bacana numa indústria local e vi catalogados - para espanto das novas e futuras gerações - objetos que já usei: telefone discado (ai que saudade ...), máquinas de escrever, ferro de brasa (esse fui conhecer na minha passagem pelo Pantanal de Cáceres no final dos anos 1980), revistas Cruzeiro, etc.
Ao mesmo tempo que dá um certo sufoco sentir que o tempo passou, dá uma alegria imensa recordar tudo que vivenciei.
A gente só vira peça de museu se botar uma âncora no passado e não perceber o momento de calar a boca e deixar que os jovens descubram as coisas sozinhos.
A gente só vira peça de museu se botar uma âncora no passado e não perceber o momento de calar a boca e deixar que os jovens descubram as coisas sozinhos.
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