Uma coisa que me irritou em Belém foi o assédio dos flanelinhas. Em qualquer lugar que você encoste o carro sempre aparece um "tiozinho" (como disse o Sol) com sua flanelinha na mão. Não são meninos, nem jovens, em geral, e sim homens que aparentam mais de 40 anos. A gente estacionou o carro numa ruazinha sem movimento perto de uma das avenidas principais e, pronto, rapidinho apareceu o "guardador" com sua flanelinha.
Outro detalhe que estranhei foi o tamanho das valas junto ao meio-fio de algumas ruas. Será que é para dar vazão à água da chuva? Confesso que me deu um pouco de medo quando percorremos alguns quarteirões a pé à noite em busca de um restaurante perto do hotel.
A paraense que conheci no aeroporto me disse que Belém é uma cidade ótima para passear, mas não para viver. Segundo ela, lá falta emprego. Até em shoppings, é difícil encontrar trabalho, acrescentou a moça, que mora e trabalha em Brasília, assim como sua mãe e irmãs.
Belém é uma cidade com uma culinária e uma história fantásticas, e muitos produtos turísticos: parques, jardins botânicos, igrejas, museus, monumentos e praias. Tem duas universidades públicas. Mas, a exemplo do que ocorre no Rio de Janeiro, Salvador e outras cidades históricas, há uma linha tênue separando o belo do decadente, o atraente do repulsivo, o pitoresco do deprimente.
Se você fica poucos dias, prevalece o sabor dos sorvetes, a lembrança da comida gostosa e a simpatia da maioria das pessoas, mas dá para sentir que a vida lá não é fácil para a maioria delas. É uma capital que desafia a capacidade dos administradores e cujo futuro não me atrevo a prever.
Lendo as informações expostas ao público na Estação das Docas descobri que Percival Farquhar, aquele da Estrada de Ferro Madeira-Mamoré e da fazenda Descalvados (no município mato-grossense de Cáceres), teve uma participação importantíssima na construção do Porto de Belém. Que personagem fascinante esse Percival! Para quem não assistiu à minissérie global "Mad Maria" (o personagem em questão foi interpretado pelo ator Toni Ramos), o norte-americano Farquhar foi um daqueles "malucos" que saem pelo mundo participando de projetos grandiosos. Um empreendedor e tanto! Eu me atrevo a dizer que é muito tênue também a linha que separa os empreendedores dos malucos.
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