quarta-feira, 21 de julho de 2010

A banalização da violência

Hoje, quando tomava meu café, assisti por alguns minutos ao programa "Mais você", que repetia uma entrevista feita ontem em que a apresentadora Ana Maria Braga chorava copiosamente ao entrevistar o pai do menino Wesley  Gilbert Rodrigues de Andrade, de 11 anos, assassinado por uma bala perdida numa sala de aula no Rio de Janeiro
Acredito que todos já devem estar bem cientes das circunstâncias do ocorrido. Não sou especialmente fã de Ana Maria Braga, mas ela me tocou quando falou do tema da banalização da morte. 
Morreu mais uma vítima de bala perdida? A notícia merece no máximo alguns segundos de pesar da maioria das pessoas. O filho da atriz Cissa Guimarães foi atropelado quando andava de skate num túnel carioca (interditado)? A notícia provoca um pouco mais de comoção e curiosidade pelo fato de o rapaz ser filho de uma atriz global e pelas circunstâncias da morte (ele foi atropelado por um carro que supostamente participava de um pega na via interditada).
Mas minutos depois a vida segue ... A gente ri, a gente chora, a gente se aborrece por motivos banais (ou não). 
Ora, não é normal que estudantes morram em salas de aula por obra de balas perdidas durante operações policiais de combate ao tráfico! Fala-se tanto em qualidade de educação, em melhoria das condições do ensino público! Porém em muitas escolas o buraco é mais embaixo: a questão é proteger os alunos durante tiroteios e ações policiais. 
Há dezenas de anos fiquei extremamente chocada com a notícia sobre o linchamento de um homem em Agudos, na baixada fluminense. Hoje uma notícia como essa seria praticamente banal.
Minha filha de 18 anos me contou que assistiu há poucos dias ao filme "O silêncio dos inocentes", de 1991, que conta a história de um serial killer, Hannibal, o canibal. Na época, o filme - que continua muito bom - era chocante. Para Marina, da geração "Jogos mortais", não pareceu tão chocante. Sei que minha filha é uma pessoa sensível e incapaz de fazer mal a uma mosca, mas me preocupo com a nossa capacidade crescente de nos tornarmos imunes à dor e à violência que parecem distantes até o momento em que elas nos tocam de perto.

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