Toda mulher da minha geração leu um livrinho na adolescência chamado "Pollyana". Acabo de ler na internet que ele foi lançado em 1913 por Eleanor Porter. O livro conta a história de uma menina de 11 anos que fazia o "jogo do contente", ou seja, sempre procurava ver o lado bom das coisas.
Hoje de manhã eu me lembrei do comentário de uma sobrinha minha sobre um post recente em que falo sobre o meu estado de espírito, meio down. Ela disse pra mim que eu não precisava dar uma de Pollyana. De repente, essa observação me veio à cabeça e fiquei pensando como esse livro me afetou. Não consegui aplicar o "jogo do contente" com a mesma maestria que nossa heroína, o que me causou remorso e frustração, e, ao mesmo tempo, cresci com a sensação de que é proibido ficar triste. Como se fosse um pecado ... É como se alguém me questionasse "como você ousa ficar triste se tem comida na mesa, um teto sobre a cabeça e tem tanta gente pior que você?" Então eu fico triste por eles, posso responder.
Enfim, como já disse antes, temos 800 motivos para ficar triste ou alegre. Posso ficar triste por causa das mortes em Gaza (ou das que acontecem bem mais perto de mim); posso ficar alegre porque não estou em Gaza.
Acho que a questão não é ficar triste. Até porque a tristeza não leva a nada. A raiva sim! Ela provoca movimento, geralmente uma reação, que pode ser perigosa. Acho que muitas vezes fiquei triste porque não me permitia sentir raiva, que é um sentimento igualmente feio para uma mocinha cristã.
Mas, às vezes, a gente tem o direito de ficar triste simplesmente. Deixar as lágrimas rolarem pelo rosto, abrir a torneirinha.
Portanto, abaixo Polyanna e seu jogo bobo, enganador e manipulador de sentimentos! Na verdade, esse livro é meio emblemático de uma ilusão do mundo ocidental de que é possível ser feliz o tempo todo, o que faz com que muita gente não aprenda a lidar com a decepção, a desilusão e a traição.
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