terça-feira, 29 de abril de 2008

Título de eleitor

Hoje vivi uma experiência singular e cheia de significados. Fui com minha filha mais velha tirar o seu título eleitoral. Entre a minha experiência de tirar o meu título e a dela lá se vão 34 anos!
Quanta coisa mudou. Eu era louca para tirar o título e me lembro até hoje da minha estréia como eleitora. Ainda vivíamos sob o governo militar e votar na oposição, no antigo MDB, era votar contra a tortura, a falta de liberdade, a perseguição a artistas, intelectuais e jornalistas. Era cultivar a esperança de um país melhor, mais democrático.
Meu primeiro voto foi para o Lisâneas Maciel, um pastor que mais tarde ingressaria no PT. Acho que votei também para senador (no Saturnino Brito, acho que esse era o seu nome), não me recordo exatamente. Só me recordo da sensação boa, de poder me posicionar, de dar mais um passo em direção à maturidade.
Ah, hoje o sentimento da minha filha é tão diferente. E não é só ela. Conversei na fila com outra mocinha que tirava o seu primeiro título e a resposta dela só comprovou o que eu imaginava. Hoje, muitos jovens tiram o título porque é obrigação. Eles não têm a ilusão de que seu voto vá mudar alguma coisa, tão grande é o descrédito com os políticos e a política partidária em geral.
Não vou cair no lugar comum de culpar os políticos por isso. Na minha opinião, os políticos que temos são reflexo da nossa sociedade: egoísta, imediatista, facilmente manipulável e ávida por salvadores da pátria. Disse a minha filha que ela precisa usar seu título para tentar votar num candidato que seja menos pior. Infelizmente, é o que posso dizer a ela. Acho que Congresso, Assembléia, Câmara, enfim, todos as esferas legislativas estão tão corrompidas, tão burocratizadas, corroídas pela inércia, pelo corporativismo e compadrismo que, sinceramente, não acredito muito que alguém com boas intenções possa fazer grandes coisas uma vez eleito. Porém conheço o suficiente da ditadura para não querer um retrocesso.
Acho que nós, cidadãos, temos que mudar, ser menos passivos e complacentes com a hipocrisia da nossa sociedade.

Um comentário:

Jornalista na Itália, que mudou para a Inglaterra disse...

Marthinha, tenho acompanhado o teu blog e fico feliz que a escrita está sendo quase diária. Não saber votar não é uma prerrogativa brasileira. Aqui na Itália o Berlusconi, que das suas passagens pelo poder terminou apenas um mandato, está lá de novo. Fiquei louco de vontade de votar no Valter Veltroni, candidato da esquerda, mas o meu título não ficou pronto a tempo. Interessante como aqui a tevê é chapa branca, e apenas alguns programas e pessoas põem o dedo na ferida. Continue inspirada. Beijo grande do Glauco