segunda-feira, 28 de abril de 2008

Mundo Cão

Quando eu era pequena e morava no Rio ficava impressionada quando via escrito "Mundo Cão" no painel luminoso do Cine Odeon, na Cinelândia. Hoje, o Odeon, repaginado, virou um cinema cult, mas na época, acho que atravessava um período de vacas magras e exibia filmes de quinta categoria. Nunca assisti a nenhuma dessas películas, mas o título "Mundo Cão" mexia com minha imaginação infantil. Alguém me contou que esse tipo de filme mostrava excentricidades e/ou barbaridades, todo aquele lixo que se costumava chamar de "mundo cão". Eu achava injusto: sempre adorei cachorros e achava (e ainda acho) que eles não mereciam ser associados a coisas feias ou bizarras.
Com a internet e a profusão de notícias instantâneas via todos os tipos de mídia não é preciso mais ir ao cinema para ter acesso a imagens do "mundo cão". Ele está bem mais acessível, basta um movimento no mouse ou no controle remoto da TV. É impressionante a quantidade de vídeos e manchetes bizarras exibidas diariamente, alimentando a sede por violência, pelo sangue e pelo bizarro do ser humano. São vídeos de brigas nas ruas e às vezes histórias reais que conseguem chocar pelo absurdo. Hoje, por exemplo, li duas notícias que me chocaram excepcionalmente: a história do pai austríaco que manteve a filha prisioneira por 24 anos e ainda teve sete filhos com ela, dos quais três foram mantidos no porão sem qualquer contato com a luz; a outra manchete é a descoberta de 29 frascos com fetos e embriões humanos encontrados num lixão na cidade de Várzea Grande (MT).
Em outra vertente, mas igualmente chocante, temos o escândalo do esquema de fraudes com verbas do BNDES. "Além do desvio de até 4% do valor do financiamento aprovado, a organização indicava a empresa que deveria elaborar o projeto a ser enviado ao BNDES e determinava a empreiteira ligada ao grupo que deveria ser contratada para executar as obras", informa o jornalista Thomas Traumann em seu boletim eletrônico "O Filtro".
Com notícias assim fica difícil manter a minha mente elevada e cultuar a fé no destino da humanidade.

2 comentários:

Unknown disse...

Martha, esse talvez seja o mal maior da globalização da mídia. Se antes a gente tinha informação do que acontecia no nosso quintal, agora essa informação vem multiplicada por fatos do mundo inteiro. E os meios de comunicação, você sabe melhor do que ninguém, são ávidos por notícia ruim. Lei do mercado, é assim que eles (se) vendem. Mas imagine se fosse o contrário, se a mídia valorizasse os exemplos de solidariedade que acontecem e que ninguém fica sabendo. Será que a nossa fé na humanidade e no futuro dela não seria maior? Ou será que a gente já pode desistir, que esses exemplos não existem mesmo?

Martha disse...

Eugênio, coincidentemente li ontem à noite um artigo da Ruth de Aquino, editora da revista Época, criticando a avidez da mídia por notícias ruins. É engraçado que no tempo em que me afastei do jornalismo nasceu em mim o desejo por notícias boas, exemplos legais de solidariedade, mas de alguma forma desqualifiquei esse meu desejo, como uma coisa meio infantil, meio Pollyana ... Agora vejo que mais pessoas compartilham esse desejo de achar alguma coisa de valor no meio do lixão que se tornou a nossa sociedade.