quinta-feira, 24 de abril de 2008

Cemitérios

Nunca gostei de cemitério. Desde pequena acompanhava minha mãe em suas visitas ao túmulo do meu pai no Cemitério do Caju e não conseguia compartilhar a sua dor, nem a das minhas irmãs mais velhas. Confesso que me sentia um pouco culpada por não sofrer tcomo elas com a ausência do meu pai. Eu ficava imaginando como deveria ser horrível ser enterrado vivo por engano e me lembrava do caso de um santo que tinha passado por esse desespero. Imaginava a escuridão, os bichos me roendo até que não me sobrasse mais um pingo de oxigênio.
Mas a experiência mais traumática que tive ocorreu no Cemitério do Catumbi quando acompanhei minha mãe no enterro de um primo: era final de tarde e tinha muita barata. Eu tenho pavor de baratas! Eu me lembro de que chegava a subir nos túmulos para evitá-las e não via a hora de sair dali.
De tudo isso me sobrou o desejo de ser cremada. Aliás, preciso deixar isso por escrito em algum lugar para o caso de uma morte súbita: por favor, não me enterrem, não me visitem no cemitério; se possível, doem meus órgãos, cremem o que sobrar e façam o que quiser com as cinzas.
Mas mesmo que eu não freqüente cemitérios (nunca senti vontade de visitar o túmulo dos meus pais quando vou ao Rio), fiquei deveras comovida com o desespero de um amigo que reclamou esta semana da insegurança dos cemitérios em Cuiabá. Pensei com meus botões: no Rio é a mesma coisa. Segundo meu amigo, como não há segurança os túmulos são roubados, assim como há assaltos às pessoas que visitam seus parentes e amigos. A cidade que não respeita seus mortos não tem respeito pelos vivos, queixou-se ele. Concordo que as pessoas deveriam ter tranqüilidade para prantear seus mortos e deveriam ter preservado o direito de homenageá-los com cruzes, flores, etc. Em cidades como Barcelona, na Espanha, e Buenos Aires, na Argentina, cemitérios são pontos turísticos, como igrejas e museus, porque contam não só a história de um país, como também revelam sua cultura na forma de velar os mortos.

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