quarta-feira, 1 de dezembro de 2010

Profissão repórter

Gosto muito do programa "Profissão Repórter", exibido pela Rede Globo depois de "Casseta & Planeta" e do seriado da vez (no momento "As Cariocas" - diga-se de passagem que o episódio de ontem foi um dos mais fracos da série).
Quase sempre o programa me comove e me faz recordar do meu primeiro impulso para ser jornalista: eu tinha pouco mais de 10 anos e lia na revista "Realidade" (Editora Abril) reportagens extensas e comoventes sobre realidades bem distantes da minha, de menina de classe média, criada num apartamento confortável do bairro carioca do Flamengo e que sempre estudou em bons colégios particulares e católicos.
"Realidade" me abria as portas para um outro mundo, sofrido, escuro (eu me lembro de que algumas reportagens barra-pesadas eram ilustradas com fotos p&b, contrastando com o colorido das matérias mais alto astral) e no qual eu pretendia mergulhar quando ficasse adulta para denunciar as mazelas e injustiças do mundo.
Que ironia ... Hoje estou bem longe desse perfil revolucionário. Será que me acomodei, desacraditei ou simplesmente esse não era o meu verdadeiro perfil?
Mas voltando ao "Profissão Repórter", acho bacana o trabalho de Caco Barcelos, um jornalista bem coerente, e acho especialmente interessante essa proposta de trabalhar a reportagem com profissionais jovens. É como se fosse uma aula de jornalismo.
Às vezes, confesso, eu meio que me pergunto ao final de um programa mais barra pesada: "E daí? O que vai acontecer agora com essas pessoas? Elas vão continuar mergulhadas em seus problemas e buscando soluções sozinhas".
Sei que isso é uma posiçào niilista que, por isso mesmo, não leva a nada. Caco e seus pupilos fizeram sua parte: revelam para o grande público (que poderia ser maior se o programa fosse exibido mais cedo) um outro lado de realidade, mostram e dão voz a pessoas (heróicas ou não) que fazem parte dessa realidade e vão sobrevivendo nela, ou apesar dela (alguns não sobreviverão por muito tempo).
Ontem, por exemplo, fui me deitar incomodada com a realidade daquelas famílias despejadas de um hotel abandonado em São Paulo. Gente tão comum, mães com recém nascidos, idosos, mulheres e homens que trabalham, ex-moradores de lugares de risco. O programa acabou com eles acampados debaixo de chuva em frente à Câmara Municipal. Fui dormir meio triste e consciente de que deveria dar mais valor à minha cama confortável, mas e hoje?


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