terça-feira, 30 de novembro de 2010

Papo de salão

Não sou uma grande frequentadora de salões de beleza, mas vou a um desses estabelecimentos três vezes por mês, em média, para fazer as unhas, ser depilada e, mais eventualmente, cortar os cabelos.
Sou fiel aos meus hábitos e, uma vez escolhido o fornecedor de serviços e/ou produtos, dificilmente deixo de frequentar o lugar, a menos que aconteça alguma coisa ruim. Com isso vou me tornando "amiga" das pessoas que trabalham no local, embora não faça o gênero super simpática, daquelas pessoas que chegam agitando o salão com fofocas e risadas.
De modo geral gosto de ouvir as conversas e folhear as revistas (Caras, Contigo e outras do gênero) enquanto espero. Hoje, o salão estava vazio de manhã e a conversa girou em torno dos últimos acontecimentos da novela "Passione".
Quem me conhece sabe que sou chegada numa novela. Gosto das artimanhas criadas pelos autores para prender a atenção dos telespectadores, me afeiçoo a alguns personagens e admiro a evolução da teledramaturgia desde que me entendo por gente. Mas não chego a ser uma maníaca por novelas, ainda mais que hoje sempre se pode assistir ao último capítulo no youtube.
A novela "Passione", com todo respeito ao autor Sílvio de Abreu, cujo trabalho acompanho desde "Jogo da Vida" no início dos anos 80, anda me irritando. Acho que tem boas interpretações, grandes cenas (como a do encontro do Gérson/ Marcelo Anthony com a filha), mas a maldade exagerada de alguns personagens (como a avó cafetina) e a ingenuidade/bondade de outros me irritam.
Ontem mesmo desliguei a TV logo após Gérson revelar a seu terapeuta que é viciado em sexo extremo (ele gostava de assistir a cenas de sexo sujo e/ou pervertido ao vivo e na internet) e preferi trabalhar num projeto que estou desenvolvendo com um amigo (cujo tema prefiro manter em segredo, por enquanto). Eu me senti aliviada. A TV escraviza a gente.
Mas, voltando ao salão: hoje eu já estava ficando irritada de ouvir as pessoas discutindo a novela e seus desdobramentos como se fosse uma coisa realmente séria. "Eu cheguei a acreditar que a Clara (personagem de Mariana Ximenes) era boa" - afirmou uma funcionária. "Eu sempre soube que ela nunca deixou de ser má"- retrucou a outra.
O assunto começou por causa da revelação do "segredo" de Gérson ontem durante a sessão de terapia. De modo geral, todas ficaram decepcionadas, pois imaginavam uma coisa mais chocante, do tipo pedofilia ou então gostar de fazer sexo com animais.
A discussão central evoluiu para o tema quem deve ficar com quem ou quem "merece" ficar com quem. "Não, ela não ama o Totó. Ela ama o Gérson" - argumentou uma moça referindo-se à personagem de Larissa Maciel (a eterna Maísa).
Tive vontade de dizer: "Gente, é tudo mentira!" É impressionante como as pessoas se deixam levar pelas emoções das telenovelas. Felizmente o assunto mudou para a vida real e aí minhas amigas do salão começaram a falar de suas expectativas em relação ao amor. Só então voltei a me envolver na conversa, embora ainda me preservando um pouco.

4 comentários:

Roça de Livros disse...

Oi Martha,
eu me lembro de um tempo, aí pelo começo dos anos 70, em que quem amava cinema (como eu)também falava de tramas e personagens como se fossem verdadeiros. Discutíamos as "motivações" dos personagens em filmes de diretores como Goddard, Truffaut e Antonioni. E "brincávamos de Deus", discutindo como as tramas poderiam ser modificadas se tal personagem agisse "assim", em vez de "assado".
Era só um pouquinho mais intelectualizado que o papo de manicure, mas no fundo é tudo a mesma coisa, né? Talvez tenha a ver com uma necessidade humana de projetar fantasias na realidade - ou vice-versa, sei lá.
Bjs.
Terezinha

Martha disse...

Muito bem observado, Terezinha. Talvez eu sinta um pouco de falta de discutir os filmes de diretores de cinema que fizeram a cabeça de minha geração. Aqui em Cuiabá praticamente não passam filmes alternativos ou que fujam ao padrão cinemão, por isso há pouco a se discutir em termos de cinema. Sobra a telenovela.
Bjs

Unknown disse...

Saudades das telenovelas... Diria a minha avó :)
Adorei o post,parabéns.

Martha disse...

Obrigada, Tamara!