sexta-feira, 10 de dezembro de 2010

Curto circuito

Acabei de sair de uma reunião de trabalho onde as pessoas falaram de Deus com tanta intimidade. Vocês não fazem ideia como isso mexe comigo. Fiquei com vontade de chorar. De repente eu me senti uma criancinha morrendo de medo de que essas pessoas se virassem para mim e me perguntassem: "E você, também se sente assim, íntima da Deus? Você pratica uma religião?"
Uma das pessoas chegou a dizer que a mulher que não tem fé em Deus não consegue levar sua família adiante. Eu me senti péssima e responsável por todos os erros e dificuldades enfrentadas por minhas filhas e, naturalmente, por não ter colocado meu ex-marido num bom caminho.
Menos, Martha - dirão provavelmente as pessoas que me conhecem. Ok, mas estou aqui falando de sentimentos e não de razão.
Como deve ser menos pesada a vida quando a gente realmente acredita que Deus está ao nosso lado!
O que acho mais estranho é que já tive fé, frequentei a igreja católica, fiz primeira comunhão, encontro de jovens, tudo que tinha direito, e, de repente, como num passe de mágica (ou feitiço), tudo foi tirado de mim. Não houve um acontecimento especial que eu me lembre; eu simplesmente cansei da falta de explicação, deixei de acreditar que vivia um momento único e mágico quando recebia a hóstia. Perdi a fé.
Isso não me tornou uma pessoa pior. Continuei agindo da mesma forma, guiada pelos princípios que herdei de minha família: honestidade, ética, leadade, sinceridade ... Mas deixei de me sentir amparada por Deus e de frequentar a igreja.
Nesse meio tempo, busquei o espiritismo porque achei que a doutrina espírita me traria respostas para algumas perguntas que me incomodavam, mas sempre com o pé atrás, meio cética.
É isso o que tenho para dizer hoje. Ontem eu falei que queria só trazer notícias boas. Hoje eu me rendo à minha pequenez e à minha dificuldade para compreender os mistérios da fé e da vida.

2 comentários:

Dete disse...

Como você, também perdi minha fé um dia – acho que deixei-a nos internatos onde vivi e onde a hipocrisia era a norma. Mais tarde, nos tempos da ditadura do Brasil, ser de esquerda era não ter religião, considerada o ópio do povo, e eu me afastei mais ainda da Igreja. Quando meus filhos nasceram, não quis nem batizá-los já que não saberia explicar quem era Deus... Mas com a idade, descobri que o materialismo não era tudo na vida. Agora que sou espírita, me sinto em paz. Não busco responder as grandes perguntas da vida. Busco apenas viver dignamente, esperando que, como diz uma prece indígena, “quando a vida desaparecer, como um lindo pôr-do-sol, o meu espírito possa ir até Deus sem se envergonhar pelo que fui”.

Martha disse...

Nossa trajetória é parecida. Não passei pelos internatos, mas estudei em colegios católicos, estudei muita História e tinha contato com a turma do internato - tudo isso em doses suficientes para questionar o dogmatismo católico e a sinceridade dos representantes da Igreja Católica na Terra.
Espero conseguir encontrar a paz como você.