sexta-feira, 26 de novembro de 2010

Violência no Rio

Desde que cheguei do Rio algumas pessoas demonstram preocupação comigo por causa dos últimos acontecimentos na cidade, fartamente noticiados pela mídia.
Vendo de longe também me sinto aliviada por ter deixado o Rio na terça-feira, quando o conflito se agravou, mas não acredito que eu deixaria de fazer as coisas que fiz. Talvez faria tudo com um pouco mais de medo. Além disso, meus amigos e parentes continuam lá, tocando suas vidas normalmente até onde sei
O medo já fazia parte da rotina dos cariocas no final dos anos 80, quando troquei o Estado do Rio por Mato Grosso, mas, sem dúvida, a sensação de insegurança só se acentuou nos últimos 20 anos.
Percebo isso quando vou lá através das expressões de medo de amigos e parentes. Todo mundo está mais prudente e algumas pessoas certamente mudaram seus hábitos, principalmente noturnos.
Nos últimos dias que passei lá dois motoristas de táxi comentaram que a noite estava mais vazia. Um deles, que pegamos a caminho da Lapa,  contou que ganhou muito dinheiro na noite, porém agora tudo está bem mais parado.
Percebi isso quando o samba acabou no Carioca da Gema por volta de 1 hora da madrugada da última terça-feira e vi sendo fechadas as portas do Nova Capela - restaurante tradicional onde eu ia com a turma do JB depois do "pescoção" de sexta-feira (um trabalho mais puxado para fechar a edição de domingo).
Na saída do bar, pegamos um táxi para a Zona Sul e um amigo pegou outro para a Tijuca. Só fiquei mais tranquila quando consegui me comunicar com ele por email ontem.
Mas essa é a rotina do Centro e da Zona Sul, tensa, porém nada comparável a de quem mora perto da Penha, do Complexo do Alemão e da tão falada Vila do Cruzeiro, ou mais próximo dos morros onde o tráfico tem seus redutos.
Acho que os filmes "Tropa de Elite" têm um papel fundamental na tomada de consciência das pessoas sobre o que acontece no Rio.
Eu me arrepio quando ouço pessoas (como ouvi ontem em Cuiabá) dizendo "tem que jogar uma bomba atômica e acabar com todos esses bandidos". Mas e os verdadeiros cabeças, os chefões e  todo tipo de autoridade que fizeram e fazem fortuna graças ao tráfico, à corrupção, às milícias e ao crime organizado em geral? Será que não vão arregimentar novos soldados entre essa juventude sem rumo e ideais que não teme a violência e acredita piamente na impunidade? Os verdadeiros cabeças têm que ser punidos.
Será que o Rio de Janeiro (e o Brasil) está preparado para um novo tipo de sociedade? O crime, a violência sempre vão existir infelizmente, mas não é justo que comunidades se tornem reféns da bandidagem (de todos os escalões).
Cidades bem menores que o Rio como Cuiabá também estão se tornando reféns do medo e aqui a insegurança e a violência estão cada vez mais generalizadas. É preciso que o País como um todo se recrie. Tem que mudar leis, melhorar o sistema penitenciário (essa eterna fábrica de bandidos), remunerar e estruturar melhor a polícia, investir recursos públicos onde deveriam ser aplicados (educação, saúde e saneamento básico). Não adianta só reprimir, mas também não se pode deixar de reprimir.
É um longo e árduo caminho, mas que precisa ser trilhado.

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