quarta-feira, 3 de novembro de 2010

Questão de preço

Há alguns dias surgiu um vazamento na pia da cozinha. Chamei o encanador que presta serviços no prédio, ele olhou, detectou a origem do problema, trocou uma peça (cujo valor não sei) e me cobrou R$ 70 por um serviço feito em menos de uma hora.
Eu cheguei a dizer a ele que tinha que dar mais de duas horas de aula de inglês num curso de língua para ganhar isso. O encanador sorriu meio amarelo, pegou seu dinheiro e foi embora.
É impressionante como tenho dificuldade para dar valor, ou melhor, dar preço ao meu trabalho.  E isso se torna mais complicado ainda quando se está trabalhando como free-lancer. Cada orçamento, cada negociação é um parto e sempre fico com a sensação de que poderia ter pedido mais, assim como tenho a sensação de que poderia ter pechinchado mais em casos como o do encanador.
Sou filha de um comerciante, de um mascate que subia e descia o rio Paraguai no início do século passado levando sua mercadoria. Por que não herdei de meu pai o tino comercial? Por que é tão difícil para mim negociar, pechinchar? Por que o trabalho do outro - seja ele um encanador, pintor, mecânico, uma costureira, manicure, cabelereira, etc - sempre parece ter mais valor?
Dizem que o valor é dado pela necessidade do serviço prestado ou da mercadoria adquirida. Talvez seja isso: como não sei fazer aquele serviço, pago o que a pessoa me pedir. 
Se você precisa interromper um vazamento vai pagar o que o primeiro encanador pedir até porque é um saco ficar recebendo em casa e fazendo orçamento com um monte de encanadores. Diga-se de passagem que não é tão fácil conseguir que um encanador vá à sua casa com a presteza necessária. 
 Se seu carro está quebrado e o mecânico lhe cobra um xis pelo serviço, você vai acabar cedendo se confiar nele ou então vai ter que correr atrás do outro, ficar mais tempo sem o veículo e ainda se arriscar a ter um aborrecimento.
Enfim, hoje não tenho soluções, apenas angústias e divagações. Não tenho espírito de funcionário público, mas cresci num tempo em que o objetivo do jovem recém saído de uma faculdade de jornalismo era conseguir um emprego num jornal ou uma revista legal. Se você fosse competente (e eu fui), conseguia fazer uma carreira em função de novas propostas de trabalho que iam surgindo. Ou seja, se alguém queria te contratar tinha que oferecer no mínimo algo a mais que o seu patrão atual para te cativar.
Nos últimos 20 anos - período em que troquei o Rio de Janeiro por Mato Grosso - o mundo mudou muito e o setor das comunicações foi um dos que mais sofreram os reflexos dessas mudanças. Hoje, exige-se outro perfil do profissional de comunicação: ele precisa ser ainda mais versátil, empreendedor, dominar as novas tecnologias e isso implica saber ditar o seu valor num contexto altamente competitivo.
Eu estou aprendendo e tentando manter uma atitude positiva, mas juro que tem horas que me dá uma inveja da tranquilidade do meu encanador. Acho que preciso tomar umas aulas com ele.



Um comentário:

Osvaldo Tancredo disse...

Não acho que você deseje pechinchar.
É uma questão de respeito e reconhecimento inconsciente.
Firmeza!